NOVA YORK - A inflação nos Estados Unidos voltou a dar sinais de maior aquecimento em setembro, superando as projeções de Wall Street. Em paralelo, pedidos de auxílio-desemprego semanais vieram acima do esperado, o que voltou a desencadear preocupações com o mercado de trabalho no país, e que deve sofrer novo impacto pelo furacão Milton, na sequência do Helene. Como consequência, o mercado reforçou as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) agirá com mais parcimônia quando for decidir o rumo dos juros em sua próxima reunião, em novembro.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA subiu 0,2% em setembro ante agosto, conforme dados com ajustes sazonais publicados nesta quinta-feira, 10, pelo Departamento do Trabalho. O ritmo veio acima da mediana de 0,1%, conforme esperavam analistas consultados pelo Projeções Broadcast. Na comparação anual, o avanço foi de 2,4%, também acima das expectativas que apontavam alta de 2,3%.
O núcleo do CPI, que exclui itens voláteis como alimentos e energia e é acompanhado de perto por investidores, também surpreendeu para cima. Em setembro, o indicador subiu 0,3% ante agosto, além da previsão de aumento de 0,2%. No ano, o acréscimo foi de 3,3% ante projeção de 3,2%, na mesma base de comparação.
Segundo o economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley, houve uma quantidade “tremenda” de ruídos na inflação de setembro, com uma série de categorias-chave com oscilações surpreendentemente acentuadas, algumas para cima, outras para baixo. “É difícil formular uma leitura fácil desse conjunto de dados”, admite.
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Stanley explica que o núcleo do CPI nos EUA pode estar se movendo na direção certa em uma base de tendência. “Mas está fazendo isso mais lentamente do que a maioria dos diretores do Fed parecem acreditar”, pondera.
Além disso, novos dados laborais nos EUA voltaram a reacender temores em Wall Street. O número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA subiu 33 mil na semana encerrada em 5 de outubro, para 258 mil, no maior patamar desde agosto de 2023. O resultado veio bem acima da expectativa de analistas consultados pela FactSet, que previam 229 mil solicitações.
O banco americano Jefferies diz que parte do aumento nos pedidos pode ter sido causado pelo furacão Helene, que atingiu o sudeste dos EUA recentemente. No entanto, em Estados como Michigan, onde as solicitações aumentaram 9,5 mil, ou Ohio, com a adição de 4,3 mil, há motivos de preocupação. “Parece ser devido a fatores mais permanentes, como fechamentos de fábricas”, sugere o banco.
E, na sequência do Helene, o Milton pode ser um dos piores furacões que já atingiram a Flórida nos últimos tempos, o que deve ampliar o impacto no mercado de trabalho das regiões atingidas. “Os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA aumentarão ainda mais nas próximas semanas, antes de finalmente diminuírem novamente”, prevê o economista-chefe da Capital Economics para a América do Norte, Paul Ashworth.
O Jefferies diz que é “muito cedo” para tirar conclusões sobre a folha de pagamentos de outubro. Mas, alerta: “Normalmente, quando os pedidos ou a taxa de desemprego começam a aumentar, eles tendem a subir rapidamente”. Além disso, à medida que há um ponto de virada econômico, o mercado de trabalho geralmente conta a “história verdadeira”, dizem Benjamin Tal e Ali Jaffery, do CIBC Economics.
Corte de 0,25 ponto ganha força
A combinação de preços mais fortes e emprego mais fraco causou novo ajuste nas expectativas de investidores quanto ao rumo dos juros no país. As chances de um corte de 0,25 ponto porcentual (p.p.) na reunião de novembro voltaram a disparar, chegando a 88,4% ante 76,2% antes da divulgação, mostra levantamento da plataforma do CME Group. Já a probabilidade de uma manutenção nas taxas foi a 11,6% contra 23,8%, nesta ordem.
O CPI levantou preocupações com o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida preferida do Fed, que será divulgada no fim do mês, antes da próxima reunião do Fed, entre 6 e 7 de novembro. Mas, ainda assim, Wall Street está mais inclinado para um corte de 0,25 p.p..
“Apenas uma leitura (dos preços) muito firme levaria o Fed a considerar uma pausa em novembro com base apenas na inflação”, diz o time de economistas do Bank of America.
O cabo de guerra entre os preços e o desemprego vem na sequência da publicação da ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em setembro, que marcou o início da queda dos juros no país. Na ocasião, a autoridade optou por um corte de 0,50 p.p.. No entanto, o documento mostrou que os membros estavam muito mais divididos do que a decisão apontou, com muitos defendendo uma redução menor, de 0,25 p.p..
Apesar disso, os dirigentes do BC dos EUA têm reforçado o coro de que os riscos da inflação nos EUA se reduziram. O presidente do Fed de Nova York, John Williams, disse hoje que vê as expectativas de inflação bem ancoradas. Para ele, o indicador deve cair a 2,25% no fim deste ano, e encerrar 2025 perto da meta da autoridade, de 2% ao ano.