NOVA YORK - Assim como Nova York e arredores amanheceram cobertas pela neve nesta terça-feira, 13, as expectativas de Wall Street por uma redução dos juros nos Estados Unidos também esfriaram.
Dados mais fortes da inflação em janeiro associados a um mercado de trabalho ainda bastante aquecido no país empurraram as chances do início da flexibilização monetária de maio para junho e podem fazer o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) esperar até o verão no Hemisfério Norte para começar a baixar as taxas.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA avançou 0,3% em janeiro na comparação com dezembro, informou nesta terça o Departamento do Trabalho do país. O desempenho superou a mediana de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que estimavam alta de 0,2%.
Na comparação anual, o CPI dos EUA subiu 3,1% em janeiro, desacelerando frente ao aumento de 3,3% de dezembro, mas também acima das expectativas, de 2,9%. Por sua vez, o núcleo do indicador, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, subiu 0,4% em janeiro frente ao mês anterior e 3,9% no ano.
A surpresa com a inflação americana em janeiro esvaziou o apetite a risco nas bolsas de Nova York e retardou as expectativas pelo primeiro corte de juros nos EUA. As chances de manutenção na próxima reunião do Fed, em março, foram reforçadas e passaram a ser majoritárias também para o encontro em maio, conforme levantamento da plataforma CME Group.
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Com isso, Wall Street passou a precificar o primeiro recuo nas taxas somente em junho. Após o CPI de janeiro, tal probabilidade chegou a 54,4%. “A aceleração [da inflação] será um fator que atrasará a decisão do Fed de começar a cortar taxas para junho deste ano”, reforça o Morgan Stanley, em comentário a clientes.
De acordo com o estrategista-chefe da corretora americana Avenue, William Castro Alves, o índice de moradia continuou sendo o principal vilão da inflação mais elevada em janeiro, aumentando 0,6% e contribuindo com mais de dois terços da alta do mês. Alimentação também teve lá a sua influência enquanto energia atuou na contramão, observa.
Para a consultoria britânica Capital Economics, o desempenho do núcleo do CPI em janeiro serve de combustível para a narrativa de que “a última milha é a mais difícil” no combate à inflação. Os bancos centrais têm alertado os investidores quanto à importância de vencê-la até o fim. E, segundo a Capital Economics, ainda “há muita desinflação na economia americana”.
“Os dados do CPI desta manhã são um lembrete de que o caminho de regresso a uma inflação de 2% ao ano - meta do Fed - provavelmente terá alguns buracos”, dizem os economistas do Wells Fargo, Sarah House e Michael Pugliese. Segundo eles, há riscos de o primeiro corte de juros nos EUA dar as caras somente no verão do Hemisfério Norte, que começa no fim de junho.
Na primeira reunião de 2024, realizada em janeiro, o Fed optou por manter novamente as taxas americanas inalteradas na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Na ocasião, o presidente da instituição, Jerome Powell, cancelou as chances de um corte de juros já em março e reforçou o foco da autoridade em vencer a luta contra a inflação nos EUA. Outros dirigentes têm reforçado o discurso do líder.
“Estamos satisfeitos com o progresso da inflação, com os números abaixo de 3%, mas ainda existem muitos riscos no horizonte. É cedo para prejulgar se isso afetará a economia e não vejo como apropriado cortes no futuro imediato”, disse a diretora do Fed, Michelle Bowman, nesta segunda-feira,12.
Apesar de o CPI mexer nas expectativas do mercado para os juros americanos, a Oxford Economics diz que já não previa um corte em março, mas que espera que a primeira tesourada do Fed ainda aconteça em maio. “O CPI de janeiro não justifica uma alteração na nossa visão quanto à política monetária nos EUA, mas confere algum risco ascendente à previsão de inflação para este trimestre”, explica o seu economista-chefe para os EUA, Ryan Sweet, em nota a clientes.