Qual o custo da insegurança? Consumidor paulistano paga em média até R$ 4.540 por ano


Investimentos em segurança feito pelas lojas acaba elevando os custos dos produtos; em São Paulo, as empresas gastam quase R$ 60 bilhões ao ano apenas com segurança direta

Por Lílian Cunha
Atualização:

Quando o consumidor compra um celular, por exemplo, ou qualquer outro produto, ele pode ter certeza: pelo menos 5% do valor que está pagando são os custos que o lojista teve para se defender da insegurança pública.

A estimativa é do economista Fábio Pina, assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo, a FecomércioSP. Com base em estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ele calculou que, ao fazer compras, cada consumidor no Estado de São Paulo paga em média, por ano, R$ 1.360 para subsidiar os custos diretos que o lojista teve com segurança. Se contados os custos indiretos, o valor pula para R$ 4.540.

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“Os custos diretos são os gastos dos lojistas com aparatos de segurança, como câmeras, portas eletrônicas, e também com vigias e outros recursos para tentar evitar a violência”, explica o economista. Supermercados, materiais de construção, boutiques e lojas em geral repassam essa despesa para o preço dos produtos.

Os gastos indiretos são os investimentos que deixam de ser feitos pela falta de segurança. “Se esse dinheiro não estivesse sendo investido em sistemas de proteção, o valor estaria sendo aplicado em melhorias, como o aumento do mix de produtos, em mais conforto nas lojas, em prestação de serviço, em mais empregos. Como esse investimento deixa de ser feito, o resultado é uma perda de faturamento, uma venda que deixa de ser feita. E o consumidor também paga, de uma forma indireta, por isso”, diz Pina.

Lauro Pimenta, dono de loja e diretor da associação de lojistas do Brás, critica insegurança que sobe custos para todos Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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Em São Paulo, as empresas gastam quase R$ 60 bilhões ao ano com segurança direta, conforme o estudo. O custo social — ou seja, as perdas que esse investimento em segurança provocam — chegam a R$ 200 bilhões. “Nossa economia poderia ter investimentos de melhor qualidade e alcançar um patamar bem mais alto se esses recursos não estivessem sendo aplicados em segurança de forma tão ostensiva”, explica Pina.

A conta seria ainda maior se fossem somados o total de roubos de carga nas rodovias e as perdas por furtos nos estabelecimentos, diz o especialista. Ele cita que, conforme os dados da CNI, o PIB — o Produto Interno Bruto — é 5,5% menor do que seria por conta da insegurança. “Por isso, cada cidadão brasileiro deixa de ganhar R$ 2,680 mil por ano e um paulista perde em PIB algo como R$ 4,160 mil todos os anos”, diz Pina.

Essa conta fica mais fácil de entender quando se analisa, por exemplo, os gastos com segurança de um condomínio. A radialista e influenciadora Carol Goes, por exemplo, paga mensalmente R$ 1 mil de condomínio no prédio em que mora, no centro de São Paulo. Pouco mais de 40% da taxa condominial é destinada ao pagamento da empresa de segurança que presta serviço de portaria 24 horas para o prédio. No ano, Carol gasta, então, R$ 4,8 mil com segurança. “Daria para fazer uma bela de uma viagem”, lamenta ela.

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Ameaças externas e internas

Apenas com investimentos em aparelhos e assinaturas de serviços de segurança, como empresas de alarme monitorado, Lauro Pimenta, dono de duas lojas de rua e conselheiro executivo da Associação de Lojistas do Brás (AloBrás) diz que gasta pelo menos R$ 40 mil ao ano. Isso sem contar os funcionários que ele paga mensalmente que têm a função exclusiva de vigiar as lojas internamente.

“Existem ameaças externas, que são os ladrões que podem invadir a loja quando ela está fechada. Mas também há as internas, ou seja, os que entram no estabelecimento para roubar.” Ele conta que, se não tiver um funcionário controlando os provadores, de cada dez clientes que usam o recinto, três roubam peças de roupas à venda. “A gente precisa ter vigilância em todos os locais, a todo tempo. Mesmo assim, não é garantia de nada”, afirma.

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Como conselheiro da AloBrás, ele conta que até mesmo lojas fechadas para reforma precisam de segurança, já que na região vem agindo agora o que os lojistas estão chamando de “gangue do telhado”.

“Houve um caso recente de uma loja em reforma que foi invadida pelo telhado. Os assaltantes quebraram a parede para invadir a loja vizinha e roubar roupas do estoque e aparelhos eletrônicos”, conta.

Tem também a modalidade de roubo “controle chupa cabra”. Disponível em marketplace famosos, qualquer pessoa pode comprar por R$ 26 mais frete um controle remoto que copia e clona, por proximidade, qualquer portão eletrônico. “Eles ficam esperando o comerciante fechar a loja, clonam o controle, entram e fazem a limpa”, relata Pimenta.

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Se não tivesse de investir tanto em segurança, Pimenta, que tem uma grife de jeans, a Lupepper, garante que contrataria pelo menos mais três funcionários para fazer o negócio crescer.

Fechando lojas

No bairro da Santa Ifigênia, em São Paulo, muitos lojistas estão fechando as portas por problemas de violência causados pela proximidade com a cracolândia. Em outras áreas do estado, segundo Pina, isso também acontece e é negativo, mesmo que a loja faça uma migração para continuar funcionando apenas online.

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Aumento da violência fez diminuir o número de pessoas circulando na região da Santa Ifigênia Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O comércio online é ‘comoditizado’. O consumidor compra produtos que ele conhece, que são iguais em qualquer loja. Mas quando ele precisa de algo específico, uma assistência, uma curadoria, esse é o papel da loja física. Eu mesmo precisei dessa ajudo quando necessitei comprar revestimento para uma reforma. Então, a loja física não pode deixar de existir por conta da violência”, diz Pina.

Mas nem mesmo a digitalização da economia afasta a violência. Com os consumidores usando mais meios de pagamento eletrônicos e menos dinheiro em espécie, seria de se esperar que os roubos diminuíssem. Mas não é o que acontece, segundo Fábio Pina. “Os bandidos investiram em meios eletrônicos de golpe e fraudes. E os comerciantes tiveram de correr atrás e gastar também com segurança cibernética”, diz ele.

Uma boutique no Shopping Galleria, de Campinas, na semana passada, por exemplo, fez o alerta por mensagens a seus 2 mil clientes sobre um golpe. Por redes sociais, os fraudadores divulgaram uma liquidação da marca com descontos de 90%. Quem clicava no link caía num site da loja clonada. Quase todos os aspectos eram iguais aos do site original. A diferença estava no preço. Vestidos de R$ 500 estavam por R$ 100. “Mesmo assim, teve cliente que caiu”, conta a vendedora, que não quis se identificar.

Quando o consumidor compra um celular, por exemplo, ou qualquer outro produto, ele pode ter certeza: pelo menos 5% do valor que está pagando são os custos que o lojista teve para se defender da insegurança pública.

A estimativa é do economista Fábio Pina, assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo, a FecomércioSP. Com base em estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ele calculou que, ao fazer compras, cada consumidor no Estado de São Paulo paga em média, por ano, R$ 1.360 para subsidiar os custos diretos que o lojista teve com segurança. Se contados os custos indiretos, o valor pula para R$ 4.540.

“Os custos diretos são os gastos dos lojistas com aparatos de segurança, como câmeras, portas eletrônicas, e também com vigias e outros recursos para tentar evitar a violência”, explica o economista. Supermercados, materiais de construção, boutiques e lojas em geral repassam essa despesa para o preço dos produtos.

Os gastos indiretos são os investimentos que deixam de ser feitos pela falta de segurança. “Se esse dinheiro não estivesse sendo investido em sistemas de proteção, o valor estaria sendo aplicado em melhorias, como o aumento do mix de produtos, em mais conforto nas lojas, em prestação de serviço, em mais empregos. Como esse investimento deixa de ser feito, o resultado é uma perda de faturamento, uma venda que deixa de ser feita. E o consumidor também paga, de uma forma indireta, por isso”, diz Pina.

Lauro Pimenta, dono de loja e diretor da associação de lojistas do Brás, critica insegurança que sobe custos para todos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em São Paulo, as empresas gastam quase R$ 60 bilhões ao ano com segurança direta, conforme o estudo. O custo social — ou seja, as perdas que esse investimento em segurança provocam — chegam a R$ 200 bilhões. “Nossa economia poderia ter investimentos de melhor qualidade e alcançar um patamar bem mais alto se esses recursos não estivessem sendo aplicados em segurança de forma tão ostensiva”, explica Pina.

A conta seria ainda maior se fossem somados o total de roubos de carga nas rodovias e as perdas por furtos nos estabelecimentos, diz o especialista. Ele cita que, conforme os dados da CNI, o PIB — o Produto Interno Bruto — é 5,5% menor do que seria por conta da insegurança. “Por isso, cada cidadão brasileiro deixa de ganhar R$ 2,680 mil por ano e um paulista perde em PIB algo como R$ 4,160 mil todos os anos”, diz Pina.

Essa conta fica mais fácil de entender quando se analisa, por exemplo, os gastos com segurança de um condomínio. A radialista e influenciadora Carol Goes, por exemplo, paga mensalmente R$ 1 mil de condomínio no prédio em que mora, no centro de São Paulo. Pouco mais de 40% da taxa condominial é destinada ao pagamento da empresa de segurança que presta serviço de portaria 24 horas para o prédio. No ano, Carol gasta, então, R$ 4,8 mil com segurança. “Daria para fazer uma bela de uma viagem”, lamenta ela.

Ameaças externas e internas

Apenas com investimentos em aparelhos e assinaturas de serviços de segurança, como empresas de alarme monitorado, Lauro Pimenta, dono de duas lojas de rua e conselheiro executivo da Associação de Lojistas do Brás (AloBrás) diz que gasta pelo menos R$ 40 mil ao ano. Isso sem contar os funcionários que ele paga mensalmente que têm a função exclusiva de vigiar as lojas internamente.

“Existem ameaças externas, que são os ladrões que podem invadir a loja quando ela está fechada. Mas também há as internas, ou seja, os que entram no estabelecimento para roubar.” Ele conta que, se não tiver um funcionário controlando os provadores, de cada dez clientes que usam o recinto, três roubam peças de roupas à venda. “A gente precisa ter vigilância em todos os locais, a todo tempo. Mesmo assim, não é garantia de nada”, afirma.

Como conselheiro da AloBrás, ele conta que até mesmo lojas fechadas para reforma precisam de segurança, já que na região vem agindo agora o que os lojistas estão chamando de “gangue do telhado”.

“Houve um caso recente de uma loja em reforma que foi invadida pelo telhado. Os assaltantes quebraram a parede para invadir a loja vizinha e roubar roupas do estoque e aparelhos eletrônicos”, conta.

Tem também a modalidade de roubo “controle chupa cabra”. Disponível em marketplace famosos, qualquer pessoa pode comprar por R$ 26 mais frete um controle remoto que copia e clona, por proximidade, qualquer portão eletrônico. “Eles ficam esperando o comerciante fechar a loja, clonam o controle, entram e fazem a limpa”, relata Pimenta.

Se não tivesse de investir tanto em segurança, Pimenta, que tem uma grife de jeans, a Lupepper, garante que contrataria pelo menos mais três funcionários para fazer o negócio crescer.

Fechando lojas

No bairro da Santa Ifigênia, em São Paulo, muitos lojistas estão fechando as portas por problemas de violência causados pela proximidade com a cracolândia. Em outras áreas do estado, segundo Pina, isso também acontece e é negativo, mesmo que a loja faça uma migração para continuar funcionando apenas online.

Aumento da violência fez diminuir o número de pessoas circulando na região da Santa Ifigênia Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O comércio online é ‘comoditizado’. O consumidor compra produtos que ele conhece, que são iguais em qualquer loja. Mas quando ele precisa de algo específico, uma assistência, uma curadoria, esse é o papel da loja física. Eu mesmo precisei dessa ajudo quando necessitei comprar revestimento para uma reforma. Então, a loja física não pode deixar de existir por conta da violência”, diz Pina.

Mas nem mesmo a digitalização da economia afasta a violência. Com os consumidores usando mais meios de pagamento eletrônicos e menos dinheiro em espécie, seria de se esperar que os roubos diminuíssem. Mas não é o que acontece, segundo Fábio Pina. “Os bandidos investiram em meios eletrônicos de golpe e fraudes. E os comerciantes tiveram de correr atrás e gastar também com segurança cibernética”, diz ele.

Uma boutique no Shopping Galleria, de Campinas, na semana passada, por exemplo, fez o alerta por mensagens a seus 2 mil clientes sobre um golpe. Por redes sociais, os fraudadores divulgaram uma liquidação da marca com descontos de 90%. Quem clicava no link caía num site da loja clonada. Quase todos os aspectos eram iguais aos do site original. A diferença estava no preço. Vestidos de R$ 500 estavam por R$ 100. “Mesmo assim, teve cliente que caiu”, conta a vendedora, que não quis se identificar.

Quando o consumidor compra um celular, por exemplo, ou qualquer outro produto, ele pode ter certeza: pelo menos 5% do valor que está pagando são os custos que o lojista teve para se defender da insegurança pública.

A estimativa é do economista Fábio Pina, assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo, a FecomércioSP. Com base em estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ele calculou que, ao fazer compras, cada consumidor no Estado de São Paulo paga em média, por ano, R$ 1.360 para subsidiar os custos diretos que o lojista teve com segurança. Se contados os custos indiretos, o valor pula para R$ 4.540.

“Os custos diretos são os gastos dos lojistas com aparatos de segurança, como câmeras, portas eletrônicas, e também com vigias e outros recursos para tentar evitar a violência”, explica o economista. Supermercados, materiais de construção, boutiques e lojas em geral repassam essa despesa para o preço dos produtos.

Os gastos indiretos são os investimentos que deixam de ser feitos pela falta de segurança. “Se esse dinheiro não estivesse sendo investido em sistemas de proteção, o valor estaria sendo aplicado em melhorias, como o aumento do mix de produtos, em mais conforto nas lojas, em prestação de serviço, em mais empregos. Como esse investimento deixa de ser feito, o resultado é uma perda de faturamento, uma venda que deixa de ser feita. E o consumidor também paga, de uma forma indireta, por isso”, diz Pina.

Lauro Pimenta, dono de loja e diretor da associação de lojistas do Brás, critica insegurança que sobe custos para todos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em São Paulo, as empresas gastam quase R$ 60 bilhões ao ano com segurança direta, conforme o estudo. O custo social — ou seja, as perdas que esse investimento em segurança provocam — chegam a R$ 200 bilhões. “Nossa economia poderia ter investimentos de melhor qualidade e alcançar um patamar bem mais alto se esses recursos não estivessem sendo aplicados em segurança de forma tão ostensiva”, explica Pina.

A conta seria ainda maior se fossem somados o total de roubos de carga nas rodovias e as perdas por furtos nos estabelecimentos, diz o especialista. Ele cita que, conforme os dados da CNI, o PIB — o Produto Interno Bruto — é 5,5% menor do que seria por conta da insegurança. “Por isso, cada cidadão brasileiro deixa de ganhar R$ 2,680 mil por ano e um paulista perde em PIB algo como R$ 4,160 mil todos os anos”, diz Pina.

Essa conta fica mais fácil de entender quando se analisa, por exemplo, os gastos com segurança de um condomínio. A radialista e influenciadora Carol Goes, por exemplo, paga mensalmente R$ 1 mil de condomínio no prédio em que mora, no centro de São Paulo. Pouco mais de 40% da taxa condominial é destinada ao pagamento da empresa de segurança que presta serviço de portaria 24 horas para o prédio. No ano, Carol gasta, então, R$ 4,8 mil com segurança. “Daria para fazer uma bela de uma viagem”, lamenta ela.

Ameaças externas e internas

Apenas com investimentos em aparelhos e assinaturas de serviços de segurança, como empresas de alarme monitorado, Lauro Pimenta, dono de duas lojas de rua e conselheiro executivo da Associação de Lojistas do Brás (AloBrás) diz que gasta pelo menos R$ 40 mil ao ano. Isso sem contar os funcionários que ele paga mensalmente que têm a função exclusiva de vigiar as lojas internamente.

“Existem ameaças externas, que são os ladrões que podem invadir a loja quando ela está fechada. Mas também há as internas, ou seja, os que entram no estabelecimento para roubar.” Ele conta que, se não tiver um funcionário controlando os provadores, de cada dez clientes que usam o recinto, três roubam peças de roupas à venda. “A gente precisa ter vigilância em todos os locais, a todo tempo. Mesmo assim, não é garantia de nada”, afirma.

Como conselheiro da AloBrás, ele conta que até mesmo lojas fechadas para reforma precisam de segurança, já que na região vem agindo agora o que os lojistas estão chamando de “gangue do telhado”.

“Houve um caso recente de uma loja em reforma que foi invadida pelo telhado. Os assaltantes quebraram a parede para invadir a loja vizinha e roubar roupas do estoque e aparelhos eletrônicos”, conta.

Tem também a modalidade de roubo “controle chupa cabra”. Disponível em marketplace famosos, qualquer pessoa pode comprar por R$ 26 mais frete um controle remoto que copia e clona, por proximidade, qualquer portão eletrônico. “Eles ficam esperando o comerciante fechar a loja, clonam o controle, entram e fazem a limpa”, relata Pimenta.

Se não tivesse de investir tanto em segurança, Pimenta, que tem uma grife de jeans, a Lupepper, garante que contrataria pelo menos mais três funcionários para fazer o negócio crescer.

Fechando lojas

No bairro da Santa Ifigênia, em São Paulo, muitos lojistas estão fechando as portas por problemas de violência causados pela proximidade com a cracolândia. Em outras áreas do estado, segundo Pina, isso também acontece e é negativo, mesmo que a loja faça uma migração para continuar funcionando apenas online.

Aumento da violência fez diminuir o número de pessoas circulando na região da Santa Ifigênia Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O comércio online é ‘comoditizado’. O consumidor compra produtos que ele conhece, que são iguais em qualquer loja. Mas quando ele precisa de algo específico, uma assistência, uma curadoria, esse é o papel da loja física. Eu mesmo precisei dessa ajudo quando necessitei comprar revestimento para uma reforma. Então, a loja física não pode deixar de existir por conta da violência”, diz Pina.

Mas nem mesmo a digitalização da economia afasta a violência. Com os consumidores usando mais meios de pagamento eletrônicos e menos dinheiro em espécie, seria de se esperar que os roubos diminuíssem. Mas não é o que acontece, segundo Fábio Pina. “Os bandidos investiram em meios eletrônicos de golpe e fraudes. E os comerciantes tiveram de correr atrás e gastar também com segurança cibernética”, diz ele.

Uma boutique no Shopping Galleria, de Campinas, na semana passada, por exemplo, fez o alerta por mensagens a seus 2 mil clientes sobre um golpe. Por redes sociais, os fraudadores divulgaram uma liquidação da marca com descontos de 90%. Quem clicava no link caía num site da loja clonada. Quase todos os aspectos eram iguais aos do site original. A diferença estava no preço. Vestidos de R$ 500 estavam por R$ 100. “Mesmo assim, teve cliente que caiu”, conta a vendedora, que não quis se identificar.

Quando o consumidor compra um celular, por exemplo, ou qualquer outro produto, ele pode ter certeza: pelo menos 5% do valor que está pagando são os custos que o lojista teve para se defender da insegurança pública.

A estimativa é do economista Fábio Pina, assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo, a FecomércioSP. Com base em estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ele calculou que, ao fazer compras, cada consumidor no Estado de São Paulo paga em média, por ano, R$ 1.360 para subsidiar os custos diretos que o lojista teve com segurança. Se contados os custos indiretos, o valor pula para R$ 4.540.

“Os custos diretos são os gastos dos lojistas com aparatos de segurança, como câmeras, portas eletrônicas, e também com vigias e outros recursos para tentar evitar a violência”, explica o economista. Supermercados, materiais de construção, boutiques e lojas em geral repassam essa despesa para o preço dos produtos.

Os gastos indiretos são os investimentos que deixam de ser feitos pela falta de segurança. “Se esse dinheiro não estivesse sendo investido em sistemas de proteção, o valor estaria sendo aplicado em melhorias, como o aumento do mix de produtos, em mais conforto nas lojas, em prestação de serviço, em mais empregos. Como esse investimento deixa de ser feito, o resultado é uma perda de faturamento, uma venda que deixa de ser feita. E o consumidor também paga, de uma forma indireta, por isso”, diz Pina.

Lauro Pimenta, dono de loja e diretor da associação de lojistas do Brás, critica insegurança que sobe custos para todos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em São Paulo, as empresas gastam quase R$ 60 bilhões ao ano com segurança direta, conforme o estudo. O custo social — ou seja, as perdas que esse investimento em segurança provocam — chegam a R$ 200 bilhões. “Nossa economia poderia ter investimentos de melhor qualidade e alcançar um patamar bem mais alto se esses recursos não estivessem sendo aplicados em segurança de forma tão ostensiva”, explica Pina.

A conta seria ainda maior se fossem somados o total de roubos de carga nas rodovias e as perdas por furtos nos estabelecimentos, diz o especialista. Ele cita que, conforme os dados da CNI, o PIB — o Produto Interno Bruto — é 5,5% menor do que seria por conta da insegurança. “Por isso, cada cidadão brasileiro deixa de ganhar R$ 2,680 mil por ano e um paulista perde em PIB algo como R$ 4,160 mil todos os anos”, diz Pina.

Essa conta fica mais fácil de entender quando se analisa, por exemplo, os gastos com segurança de um condomínio. A radialista e influenciadora Carol Goes, por exemplo, paga mensalmente R$ 1 mil de condomínio no prédio em que mora, no centro de São Paulo. Pouco mais de 40% da taxa condominial é destinada ao pagamento da empresa de segurança que presta serviço de portaria 24 horas para o prédio. No ano, Carol gasta, então, R$ 4,8 mil com segurança. “Daria para fazer uma bela de uma viagem”, lamenta ela.

Ameaças externas e internas

Apenas com investimentos em aparelhos e assinaturas de serviços de segurança, como empresas de alarme monitorado, Lauro Pimenta, dono de duas lojas de rua e conselheiro executivo da Associação de Lojistas do Brás (AloBrás) diz que gasta pelo menos R$ 40 mil ao ano. Isso sem contar os funcionários que ele paga mensalmente que têm a função exclusiva de vigiar as lojas internamente.

“Existem ameaças externas, que são os ladrões que podem invadir a loja quando ela está fechada. Mas também há as internas, ou seja, os que entram no estabelecimento para roubar.” Ele conta que, se não tiver um funcionário controlando os provadores, de cada dez clientes que usam o recinto, três roubam peças de roupas à venda. “A gente precisa ter vigilância em todos os locais, a todo tempo. Mesmo assim, não é garantia de nada”, afirma.

Como conselheiro da AloBrás, ele conta que até mesmo lojas fechadas para reforma precisam de segurança, já que na região vem agindo agora o que os lojistas estão chamando de “gangue do telhado”.

“Houve um caso recente de uma loja em reforma que foi invadida pelo telhado. Os assaltantes quebraram a parede para invadir a loja vizinha e roubar roupas do estoque e aparelhos eletrônicos”, conta.

Tem também a modalidade de roubo “controle chupa cabra”. Disponível em marketplace famosos, qualquer pessoa pode comprar por R$ 26 mais frete um controle remoto que copia e clona, por proximidade, qualquer portão eletrônico. “Eles ficam esperando o comerciante fechar a loja, clonam o controle, entram e fazem a limpa”, relata Pimenta.

Se não tivesse de investir tanto em segurança, Pimenta, que tem uma grife de jeans, a Lupepper, garante que contrataria pelo menos mais três funcionários para fazer o negócio crescer.

Fechando lojas

No bairro da Santa Ifigênia, em São Paulo, muitos lojistas estão fechando as portas por problemas de violência causados pela proximidade com a cracolândia. Em outras áreas do estado, segundo Pina, isso também acontece e é negativo, mesmo que a loja faça uma migração para continuar funcionando apenas online.

Aumento da violência fez diminuir o número de pessoas circulando na região da Santa Ifigênia Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O comércio online é ‘comoditizado’. O consumidor compra produtos que ele conhece, que são iguais em qualquer loja. Mas quando ele precisa de algo específico, uma assistência, uma curadoria, esse é o papel da loja física. Eu mesmo precisei dessa ajudo quando necessitei comprar revestimento para uma reforma. Então, a loja física não pode deixar de existir por conta da violência”, diz Pina.

Mas nem mesmo a digitalização da economia afasta a violência. Com os consumidores usando mais meios de pagamento eletrônicos e menos dinheiro em espécie, seria de se esperar que os roubos diminuíssem. Mas não é o que acontece, segundo Fábio Pina. “Os bandidos investiram em meios eletrônicos de golpe e fraudes. E os comerciantes tiveram de correr atrás e gastar também com segurança cibernética”, diz ele.

Uma boutique no Shopping Galleria, de Campinas, na semana passada, por exemplo, fez o alerta por mensagens a seus 2 mil clientes sobre um golpe. Por redes sociais, os fraudadores divulgaram uma liquidação da marca com descontos de 90%. Quem clicava no link caía num site da loja clonada. Quase todos os aspectos eram iguais aos do site original. A diferença estava no preço. Vestidos de R$ 500 estavam por R$ 100. “Mesmo assim, teve cliente que caiu”, conta a vendedora, que não quis se identificar.

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