Quais os municípios com melhor e pior acesso à internet no Brasil? Veja ranking


Levantamento feito com todos os municípios brasileiro mostrou que há locais que ainda vivem no século passado, com a qualidade de internet semelhante à discada, dos anos 90

Por Lílian Cunha

A distância entre Uiramutã, em Roraima, e Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro, é muito maior que os 5,5 mil km que as separam. Enquanto o município fluminense tem a melhor internet do Brasil, Uiramutã ainda está praticamente no século passado, com internet equivalente à discada, dos anos 90, quando o assunto é conectividade.

É isso o que mostra o novo recorte do Índice de Progresso Social do Brasil (IPS Brasil), um levantamento feito em parceria pelas entidades Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Fundação Avina, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, iniciativa Amazônia 2030, Anattá - Pesquisa e Desenvolvimento e o Social Progress Imperative.

Esse indicador, que analisa vários componentes de desenvolvimento social nos 5.570 municípios do País, mediu agora como está a cobertura de internet móvel (4G/5G), segundo a densidade de banda larga fixa, de telefonia móvel e a qualidade da rede móvel. O indicador de qualidade expressa a capacidade da rede de entregar os pacotes de dados ao destino sem ocorrência de perdas.

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Os números deixam clara a desigualdade regional. Os municípios que tiveram o melhor desempenho estão exatamente nas regiões consideradas mais desenvolvidas economicamente, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.

Armação dos Búzios (RJ) foi o campeão, com nota 91,02 (numa escala que vai de zero a 100), seguido por Roseira (SP) e Agudos do Sul (PR), que pontuaram 90,85 e 89,91, respectivamente. “A comparação considera a melhor qualidade de internet no Brasil. Não é um ranking com parâmetros de conectividade internacionais”, diz Beto Veríssimo, coordenador geral do IPS Brasil. A metodologia da pesquisa foi desenvolvida pela Universidade Harvard e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

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No outro extremo, a região Nordeste e, sobretudo, a Amazônia Legal apresentaram os piores resultados. Uiramutã (RR) teve a pior nota: 12,39 pontos. Em seguida vêm Santa Terezinha (MT), com 13,26 pontos, e Vereda (BA), com 14,58.

Dos 5.570 municípios brasileiros, só 84 tiveram nota igual ou maior que 80. Na rabeira, com nota abaixo de 51, estão 1.199 cidades.

A média do Brasil ficou em 69,77. A maioria dos municípios brasileiros (4.287) ficou com nota entre 51 e 80 pontos.

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Por que Búzios?

Além de estar na região Sudeste - o mercado de internet mais importante do País -, existe uma razão peculiar para que a cidade praiana do Rio esteja liderando o ranking. Búzios é um dos destinos turísticos mais luxuosos do País. A população de 40 mil habitantes quase triplica com a vinda de turistas. Só em 2023, foram mais de 900 mil visitantes nacionais e internacionais, segundo o Conselho de Turismo da Costa do Sol, do Ministério do Turismo.

“Os hotéis, pousadas e o poder público fizeram um investimento grande para a cidade ter uma internet forte que segurasse a demanda dessa população flutuante tão grande”, explica Jesaias Arruda, vice-presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet).

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O empresário Giovani Lopes, de Búzios, dono de uma grife de moda praia, a Soul, Sal e Sol, e Pollyanna Morais, sua esposa e sócia Foto: Laisa Agostine

O empresário Giovani Lopes, de Búzios, não tem do que reclamar. Dono de uma grife de moda praia, a Soul, Sal e Sol, ele se mudou de Minas Gerais para o balneário fluminense há dez anos. A maior parte de seu faturamento vem das vendas no atacado. Mas ele não tem nenhum vendedor que viaja visitando lojistas. “É tudo pela internet. Fazemos todo o marketing pelas redes e nunca ficamos mais que alguns minutos sem rede, e isso é muito esporádico”, conta ele.

Com a gerente da Pousada Uiramutã, em Uiramutã, Sandy Felix, a realidade era outra. Ela chegou a perder hóspedes de tão ruim que era a conexão. “Temos cachoeiras lindas aqui e as pessoas vêm à cidade para conhecê-las. Mas quando o hóspede chegava do passeio e queria postar as fotos nas redes sociais, ele não conseguia. Era só reclamação”, lembra.

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Isso acontece em toda região Norte e também em partes do Nordeste. Quanto mais difícil o acesso, menos investimentos as empresas fazem para expandir a rede por fibra ou cabos. Distância também conta. No Mato Grosso, por exemplo, as cidades são pequenas (com em média 30 mil habitantes) e muito distantes entre si – no mínimo 300 quilômetros. Isso encarece a expansão da rede. “A floresta, no Amazonas, é uma barreira para a expansão a cabo”, diz Veríssimo.

Isso acaba limitando o progresso social dessas regiões. Sem internet, a atividade econômica não tem como se expandir. A população tem pouco acesso a serviços bancários e de informação.

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Há um ano, Sandy, a dona da pousada em Uiramutã, se cansou dessa vida e resolveu investir na internet por satélite. Pagou cerca de R$ 2 mil pelo equipamento e todo mês tem uma mensalidade de R$ 200. “Mas agora a rede funciona. Os hóspedes postam o que quiserem, mesmo que os 20 quartos estejam ocupados. E agora também fazemos o marketing da pousada nas redes, o que era impossível antes. Nosso número de ocupação até aumentou uns 20%”, diz.

Sandy tornou-se cliente da Starlink - a única empresa privada nesse ramo no Brasil -, de propriedade do bilionário Elon Musk. Segundo a Abranet, já são 215 mil pontos de internet via satélite no País. Além da Starlink, há apenas redes via satélite das Forças Armadas ou do poder público, para algumas escolas e autarquias.

No Brasil, muitos moradores de áreas distantes e remotas usam a internet da Starlink, por satélite  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Esse cenário, entretanto, deve mudar no ano que vem, com a chegada de mais uma concorrente, o Projeto Kuiper, da Amazon, com investimentos globais de US$ 10 bilhões (R$ 56,9 bilhões pelo dólar de terça-feira, 22). A empresa promete oferecer acesso via satélite por menos de US$ 400 (R$ 2,2 mil) com “um equipamento mais leve e mais rápido do que as antenas tradicionais” do concorrente, segundo nota da companhia ao Estadão.

“O número de pontos de acesso vai quadruplicar”, diz Arruda, da Abranet. Mesmo que chegue a quase 1 milhão de pontos de acesso, ainda assim a cobertura não vai ser suficiente, uma vez que a população da Amazônia Legal é de aproximadamente 28,4 milhões de habitantes.

“Quando a Amazônia se conectar com o mundo, haverá mudanças sociais, econômicas e ambientais”, diz o diretor do IPS. Cidades que hoje têm sua economia baseada na exploração da madeira, por exemplo, poderão criar outras possibilidades de renda – o que diminuiria o desmatamento. Por isso, governos e iniciativa privada, segundo Veríssimo, precisam se unir para conectar essas partes isoladas do País.

A distância entre Uiramutã, em Roraima, e Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro, é muito maior que os 5,5 mil km que as separam. Enquanto o município fluminense tem a melhor internet do Brasil, Uiramutã ainda está praticamente no século passado, com internet equivalente à discada, dos anos 90, quando o assunto é conectividade.

É isso o que mostra o novo recorte do Índice de Progresso Social do Brasil (IPS Brasil), um levantamento feito em parceria pelas entidades Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Fundação Avina, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, iniciativa Amazônia 2030, Anattá - Pesquisa e Desenvolvimento e o Social Progress Imperative.

Esse indicador, que analisa vários componentes de desenvolvimento social nos 5.570 municípios do País, mediu agora como está a cobertura de internet móvel (4G/5G), segundo a densidade de banda larga fixa, de telefonia móvel e a qualidade da rede móvel. O indicador de qualidade expressa a capacidade da rede de entregar os pacotes de dados ao destino sem ocorrência de perdas.

Os números deixam clara a desigualdade regional. Os municípios que tiveram o melhor desempenho estão exatamente nas regiões consideradas mais desenvolvidas economicamente, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.

Armação dos Búzios (RJ) foi o campeão, com nota 91,02 (numa escala que vai de zero a 100), seguido por Roseira (SP) e Agudos do Sul (PR), que pontuaram 90,85 e 89,91, respectivamente. “A comparação considera a melhor qualidade de internet no Brasil. Não é um ranking com parâmetros de conectividade internacionais”, diz Beto Veríssimo, coordenador geral do IPS Brasil. A metodologia da pesquisa foi desenvolvida pela Universidade Harvard e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

No outro extremo, a região Nordeste e, sobretudo, a Amazônia Legal apresentaram os piores resultados. Uiramutã (RR) teve a pior nota: 12,39 pontos. Em seguida vêm Santa Terezinha (MT), com 13,26 pontos, e Vereda (BA), com 14,58.

Dos 5.570 municípios brasileiros, só 84 tiveram nota igual ou maior que 80. Na rabeira, com nota abaixo de 51, estão 1.199 cidades.

A média do Brasil ficou em 69,77. A maioria dos municípios brasileiros (4.287) ficou com nota entre 51 e 80 pontos.

Por que Búzios?

Além de estar na região Sudeste - o mercado de internet mais importante do País -, existe uma razão peculiar para que a cidade praiana do Rio esteja liderando o ranking. Búzios é um dos destinos turísticos mais luxuosos do País. A população de 40 mil habitantes quase triplica com a vinda de turistas. Só em 2023, foram mais de 900 mil visitantes nacionais e internacionais, segundo o Conselho de Turismo da Costa do Sol, do Ministério do Turismo.

“Os hotéis, pousadas e o poder público fizeram um investimento grande para a cidade ter uma internet forte que segurasse a demanda dessa população flutuante tão grande”, explica Jesaias Arruda, vice-presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet).

O empresário Giovani Lopes, de Búzios, dono de uma grife de moda praia, a Soul, Sal e Sol, e Pollyanna Morais, sua esposa e sócia Foto: Laisa Agostine

O empresário Giovani Lopes, de Búzios, não tem do que reclamar. Dono de uma grife de moda praia, a Soul, Sal e Sol, ele se mudou de Minas Gerais para o balneário fluminense há dez anos. A maior parte de seu faturamento vem das vendas no atacado. Mas ele não tem nenhum vendedor que viaja visitando lojistas. “É tudo pela internet. Fazemos todo o marketing pelas redes e nunca ficamos mais que alguns minutos sem rede, e isso é muito esporádico”, conta ele.

Com a gerente da Pousada Uiramutã, em Uiramutã, Sandy Felix, a realidade era outra. Ela chegou a perder hóspedes de tão ruim que era a conexão. “Temos cachoeiras lindas aqui e as pessoas vêm à cidade para conhecê-las. Mas quando o hóspede chegava do passeio e queria postar as fotos nas redes sociais, ele não conseguia. Era só reclamação”, lembra.

Isso acontece em toda região Norte e também em partes do Nordeste. Quanto mais difícil o acesso, menos investimentos as empresas fazem para expandir a rede por fibra ou cabos. Distância também conta. No Mato Grosso, por exemplo, as cidades são pequenas (com em média 30 mil habitantes) e muito distantes entre si – no mínimo 300 quilômetros. Isso encarece a expansão da rede. “A floresta, no Amazonas, é uma barreira para a expansão a cabo”, diz Veríssimo.

Isso acaba limitando o progresso social dessas regiões. Sem internet, a atividade econômica não tem como se expandir. A população tem pouco acesso a serviços bancários e de informação.

Há um ano, Sandy, a dona da pousada em Uiramutã, se cansou dessa vida e resolveu investir na internet por satélite. Pagou cerca de R$ 2 mil pelo equipamento e todo mês tem uma mensalidade de R$ 200. “Mas agora a rede funciona. Os hóspedes postam o que quiserem, mesmo que os 20 quartos estejam ocupados. E agora também fazemos o marketing da pousada nas redes, o que era impossível antes. Nosso número de ocupação até aumentou uns 20%”, diz.

Sandy tornou-se cliente da Starlink - a única empresa privada nesse ramo no Brasil -, de propriedade do bilionário Elon Musk. Segundo a Abranet, já são 215 mil pontos de internet via satélite no País. Além da Starlink, há apenas redes via satélite das Forças Armadas ou do poder público, para algumas escolas e autarquias.

No Brasil, muitos moradores de áreas distantes e remotas usam a internet da Starlink, por satélite  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Esse cenário, entretanto, deve mudar no ano que vem, com a chegada de mais uma concorrente, o Projeto Kuiper, da Amazon, com investimentos globais de US$ 10 bilhões (R$ 56,9 bilhões pelo dólar de terça-feira, 22). A empresa promete oferecer acesso via satélite por menos de US$ 400 (R$ 2,2 mil) com “um equipamento mais leve e mais rápido do que as antenas tradicionais” do concorrente, segundo nota da companhia ao Estadão.

“O número de pontos de acesso vai quadruplicar”, diz Arruda, da Abranet. Mesmo que chegue a quase 1 milhão de pontos de acesso, ainda assim a cobertura não vai ser suficiente, uma vez que a população da Amazônia Legal é de aproximadamente 28,4 milhões de habitantes.

“Quando a Amazônia se conectar com o mundo, haverá mudanças sociais, econômicas e ambientais”, diz o diretor do IPS. Cidades que hoje têm sua economia baseada na exploração da madeira, por exemplo, poderão criar outras possibilidades de renda – o que diminuiria o desmatamento. Por isso, governos e iniciativa privada, segundo Veríssimo, precisam se unir para conectar essas partes isoladas do País.

A distância entre Uiramutã, em Roraima, e Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro, é muito maior que os 5,5 mil km que as separam. Enquanto o município fluminense tem a melhor internet do Brasil, Uiramutã ainda está praticamente no século passado, com internet equivalente à discada, dos anos 90, quando o assunto é conectividade.

É isso o que mostra o novo recorte do Índice de Progresso Social do Brasil (IPS Brasil), um levantamento feito em parceria pelas entidades Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Fundação Avina, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, iniciativa Amazônia 2030, Anattá - Pesquisa e Desenvolvimento e o Social Progress Imperative.

Esse indicador, que analisa vários componentes de desenvolvimento social nos 5.570 municípios do País, mediu agora como está a cobertura de internet móvel (4G/5G), segundo a densidade de banda larga fixa, de telefonia móvel e a qualidade da rede móvel. O indicador de qualidade expressa a capacidade da rede de entregar os pacotes de dados ao destino sem ocorrência de perdas.

Os números deixam clara a desigualdade regional. Os municípios que tiveram o melhor desempenho estão exatamente nas regiões consideradas mais desenvolvidas economicamente, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.

Armação dos Búzios (RJ) foi o campeão, com nota 91,02 (numa escala que vai de zero a 100), seguido por Roseira (SP) e Agudos do Sul (PR), que pontuaram 90,85 e 89,91, respectivamente. “A comparação considera a melhor qualidade de internet no Brasil. Não é um ranking com parâmetros de conectividade internacionais”, diz Beto Veríssimo, coordenador geral do IPS Brasil. A metodologia da pesquisa foi desenvolvida pela Universidade Harvard e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

No outro extremo, a região Nordeste e, sobretudo, a Amazônia Legal apresentaram os piores resultados. Uiramutã (RR) teve a pior nota: 12,39 pontos. Em seguida vêm Santa Terezinha (MT), com 13,26 pontos, e Vereda (BA), com 14,58.

Dos 5.570 municípios brasileiros, só 84 tiveram nota igual ou maior que 80. Na rabeira, com nota abaixo de 51, estão 1.199 cidades.

A média do Brasil ficou em 69,77. A maioria dos municípios brasileiros (4.287) ficou com nota entre 51 e 80 pontos.

Por que Búzios?

Além de estar na região Sudeste - o mercado de internet mais importante do País -, existe uma razão peculiar para que a cidade praiana do Rio esteja liderando o ranking. Búzios é um dos destinos turísticos mais luxuosos do País. A população de 40 mil habitantes quase triplica com a vinda de turistas. Só em 2023, foram mais de 900 mil visitantes nacionais e internacionais, segundo o Conselho de Turismo da Costa do Sol, do Ministério do Turismo.

“Os hotéis, pousadas e o poder público fizeram um investimento grande para a cidade ter uma internet forte que segurasse a demanda dessa população flutuante tão grande”, explica Jesaias Arruda, vice-presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet).

O empresário Giovani Lopes, de Búzios, dono de uma grife de moda praia, a Soul, Sal e Sol, e Pollyanna Morais, sua esposa e sócia Foto: Laisa Agostine

O empresário Giovani Lopes, de Búzios, não tem do que reclamar. Dono de uma grife de moda praia, a Soul, Sal e Sol, ele se mudou de Minas Gerais para o balneário fluminense há dez anos. A maior parte de seu faturamento vem das vendas no atacado. Mas ele não tem nenhum vendedor que viaja visitando lojistas. “É tudo pela internet. Fazemos todo o marketing pelas redes e nunca ficamos mais que alguns minutos sem rede, e isso é muito esporádico”, conta ele.

Com a gerente da Pousada Uiramutã, em Uiramutã, Sandy Felix, a realidade era outra. Ela chegou a perder hóspedes de tão ruim que era a conexão. “Temos cachoeiras lindas aqui e as pessoas vêm à cidade para conhecê-las. Mas quando o hóspede chegava do passeio e queria postar as fotos nas redes sociais, ele não conseguia. Era só reclamação”, lembra.

Isso acontece em toda região Norte e também em partes do Nordeste. Quanto mais difícil o acesso, menos investimentos as empresas fazem para expandir a rede por fibra ou cabos. Distância também conta. No Mato Grosso, por exemplo, as cidades são pequenas (com em média 30 mil habitantes) e muito distantes entre si – no mínimo 300 quilômetros. Isso encarece a expansão da rede. “A floresta, no Amazonas, é uma barreira para a expansão a cabo”, diz Veríssimo.

Isso acaba limitando o progresso social dessas regiões. Sem internet, a atividade econômica não tem como se expandir. A população tem pouco acesso a serviços bancários e de informação.

Há um ano, Sandy, a dona da pousada em Uiramutã, se cansou dessa vida e resolveu investir na internet por satélite. Pagou cerca de R$ 2 mil pelo equipamento e todo mês tem uma mensalidade de R$ 200. “Mas agora a rede funciona. Os hóspedes postam o que quiserem, mesmo que os 20 quartos estejam ocupados. E agora também fazemos o marketing da pousada nas redes, o que era impossível antes. Nosso número de ocupação até aumentou uns 20%”, diz.

Sandy tornou-se cliente da Starlink - a única empresa privada nesse ramo no Brasil -, de propriedade do bilionário Elon Musk. Segundo a Abranet, já são 215 mil pontos de internet via satélite no País. Além da Starlink, há apenas redes via satélite das Forças Armadas ou do poder público, para algumas escolas e autarquias.

No Brasil, muitos moradores de áreas distantes e remotas usam a internet da Starlink, por satélite  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Esse cenário, entretanto, deve mudar no ano que vem, com a chegada de mais uma concorrente, o Projeto Kuiper, da Amazon, com investimentos globais de US$ 10 bilhões (R$ 56,9 bilhões pelo dólar de terça-feira, 22). A empresa promete oferecer acesso via satélite por menos de US$ 400 (R$ 2,2 mil) com “um equipamento mais leve e mais rápido do que as antenas tradicionais” do concorrente, segundo nota da companhia ao Estadão.

“O número de pontos de acesso vai quadruplicar”, diz Arruda, da Abranet. Mesmo que chegue a quase 1 milhão de pontos de acesso, ainda assim a cobertura não vai ser suficiente, uma vez que a população da Amazônia Legal é de aproximadamente 28,4 milhões de habitantes.

“Quando a Amazônia se conectar com o mundo, haverá mudanças sociais, econômicas e ambientais”, diz o diretor do IPS. Cidades que hoje têm sua economia baseada na exploração da madeira, por exemplo, poderão criar outras possibilidades de renda – o que diminuiria o desmatamento. Por isso, governos e iniciativa privada, segundo Veríssimo, precisam se unir para conectar essas partes isoladas do País.

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