RIO E SÃO PAULO - Como esperado, a redução de tributos sobre combustíveis e a conta de luz, em uma reação do governo federal à escalada de preços por causa dos choques negativos associados à pandemia de covid-19 e à guerra na Ucrânia, já começou a moderar a inflação de julho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), prévia do principal indicador de preço dos País, divulgado nesta terça-feira, 26, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) teve ligeira alta de 0,13% em julho, abaixo do 0,69% de junho.
Foi a menor variação desde junho de 2020, quando houve alta de apenas 0,02%. A desaceleração reforça a expectativa, demonstrada nas projeções de economistas, de IPCA negativo no balanço completo do mês. Só que o alívio na prévia de julho ficou concentrado nos combustíveis e na conta de luz. Os alimentos voltaram a ficar mais caro, com destaque para o leite e seus derivados.
Em relatório, a equipe de economistas do banco Santander afirmou que os números sugerem que “o pior já passou” na inflação, mas alertou que o avanço nos preços de serviços no IPCA-15 de julho surpreendeu. O economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, ponderou ainda que, apesar dos sinais positivos, a melhora no quadro de inflação mostrada no indicador pode ser transitória. Uma eventual alta na taxa de câmbio pode atrapalhar o processo de moderação nos preços.
“A inflação está em terreno mais tranquilo do que há dois meses. Melhorou de forma importante na margem (de um mês para o outro), mas é uma melhora transitória, às custas de uma piora à frente”, afirmou Vale.
Os efeitos diretos da redução de tributos já apareceram nos dados divulgados pelo IBGE. Os preços médios de combustíveis recuaram 4,88% no IPCA-15 de julho, com destaque para a gasolina (-5,01%) e o etanol (-8,16%). Com isso, os itens do grupo Transportes recuaram 1,08%, o maior impacto negativo sobre a alta de 0,13% no indicador agregado, com contribuição de 0,24 ponto porcentual (p.p.).
Na contramão, o óleo diesel, que tem peso menor na composição do índice, ficou 7,32% mais caro. Além disso, a deflação nos gastos associados aos Transportes só não foi maior por causa das passagens aéreas. Em média, os bilhetes ficaram 8,13% mais caros no IPCA-15 de julho. Sozinho, esse item contribuiu com 0,05 p.p. na variação agregada do índice.
Energia elétrica
Já a conta de luz ficou 4,61% mais barata, na média nacional. Em nota, o IBGE destacou que, em julho, “segue em vigor a bandeira verde, em que não há cobrança adicional na conta de luz”.
“As variações de energia elétrica nas áreas foram desde -12,02% em Goiânia, onde houve redução do ICMS de 29% para 17%, a partir de 23 de junho, até 1,09% no Recife”, diz a nota do IBGE.
Conforme o instituto, “também houve reduções de ICMS em diversas outras regiões, a exemplo de Curitiba (-10,28%), Porto Alegre (-10,19%) e Salvador (-6,90%), na esteira da Lei Complementar 194 e da sua subsequente incorporação no âmbito das legislações estaduais”.
Alimentos
O problema é que os alívios com os combustíveis e a conta de luz podem acabar eclipsados pelos preços dos alimentos. O grupo Alimentação e Bebidas subiu 1,16%, principal impacto de alta em julho.
Os principais vilões dos preços mais altos foram o leite e seus derivados. O leite longa vida ficou 22,27% mais caro, maior impacto individual de alta no índice agregado do mês, com 0,18 p.p. No ano, a variação acumulada do leite longa vida chega a 57,42%. Entre os derivados do leite, também ficaram mais caros em julho o requeijão (4,74%), a manteiga (4,25%) e o queijo (3,22%).
Outros destaques de alta entre os alimentos foram as frutas (4,03%), que haviam tido queda em junho (-2,61%), o feijão-carioca (4,25%) e o pão francês (1,47%). Com isso, segundo o IBGE, a “alimentação no domicílio” teve alta 1,12% no IPCA-15 de julho. Já a “alimentação fora do domicílio”, em bares, restaurantes e lanchonetes, teve alta de 1,27% em julho.