RIO - A prévia da inflação oficial no País desacelerou de uma alta de 0,19% em agosto para 0,13% em setembro. Contrariando as expectativas de economistas, a taxa foi a mais branda desde julho de 2023, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) divulgados nesta quarta-feira, 25, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado surpreendeu mesmo os analistas do mercado financeiro mais otimistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma elevação de preços entre 0,18% a 0,33%, com mediana positiva de 0,28%. A taxa acumulada em 12 meses pelo IPCA-15 arrefeceu pelo segundo mês consecutivo, descendo de 4,35% em agosto para 4,12% em setembro.
“O IPCA-15 de setembro veio significativamente abaixo da nossa expectativa e com abertura bem melhor do que a esperada, especialmente em função da surpresa baixista em serviços subjacentes. Parte da surpresa baixista pode ser atribuída à volatilidade de itens específicos, como cinema e seguro de veículos. Por outro lado, os serviços subjacentes ligados à mão de obra e alimentação fora do domicílio seguem comportados, a despeito do mercado de trabalho apertado”, avaliou Luciana Rabelo, em relatório do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco.
Após o IPCA-15 de setembro, a gestora de recursos G5 Partners reduziu sua projeção para o IPCA fechado deste mês, de 0,55% para 0,45%, embora tenha mantido a projeção do ano em 4,40%. A gestora reforçou sua expectativa por novos cortes de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
“Na análise dos dados qualitativos, só tivemos boas notícias boas”, opinou o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, em nota. “Certamente o BC não irá pautar as suas decisões futuras por um resultado pontual, ainda mais sendo este o IPCA-15, índice famoso por seus ‘falsos positivos’, mas, sem dúvida, esse é um resultado que não deverá passar despercebido pelo Copom. Principalmente em um momento em que estamos iniciando um período em que as discussões, sobre se o ritmo de alta dos juros deve ser acelerado ou não, vão se intensificar”, completou.
Em setembro, as famílias gastaram menos com despesas pessoais e com transportes. As passagens aéreas subiram 4,51%, mas a pressão sobre a inflação foi integralmente absorvida pela redução de 0,66% no peço da gasolina. O etanol também ficou mais barato nos postos de combustíveis: -1,22%.
Nos supermercados, o custo da cebola caiu 21,88%, fazendo o item liderar o ranking de alívios sobre a inflação no mês. As famílias também pagaram pela batata-inglesa (-13,45%) e pelo tomate (-10,70%). Por outro lado, houve aumentos em setembro no mamão (30,02%), banana-prata (7,29%) e café moído (3,32%).
Os gastos com o grupo Alimentação e bebidas saíram de uma redução de 0,80% em agosto para uma elevação de 0,05% em setembro. O custo da alimentação no domicílio caiu 0,01% neste mês, mas a alimentação fora do domicílio aumentou 0,22%.
“Esperávamos já efeito maior de secas (sobre preços). Principalmente em frutas veio uma inflação um pouco menor e também em açúcar (do que o previsto), por conta das queimadas”, apontou o economista Alexandre Maluf, da XP Investimentos. “Ainda não apareceu no IPCA de setembro, então ele (impacto das queimadas sobre preços) deve aparecer mais adiante”, previu.
O maior vilão da prévia da inflação de setembro foi a energia elétrica residencial, com alta de 0,84%. O movimento foi impulsionado pela entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha patamar 1, a partir de 1º de setembro, que adiciona uma cobrança extra sobre o consumo nas contas de luz. Também figuraram no ranking de maiores pressões sobre o IPCA-15 do mês os itens mamão, passagem aérea, plano de saúde e hospedagem.
“Para o índice fechado de setembro, é esperada aceleração adicional do IPCA. A perspectiva contempla avanço maior dos itens administrados, com destaque para o impacto decorrente da adoção de bandeira tarifária vermelha sobre a tarifa de energia elétrica residencial, que adicionará cerca de 0,24 ponto porcentual ao IPCA do mês. Além disso, é esperada nova aceleração das cotações de alimentos no levantamento fechado do mês”, estimou Matheus Ferreira, analista da Tendências Consultoria Integrada./Com Anna Scabello