RIO - A inflação dos alimentos até arrefeceu no início de janeiro, na comparação com um mês antes, mas a aceleração da alta de preços de outros itens, como os produtos de higiene pessoal, manteve o quadro de aumento das pressões inflacionárias. Com a alta de 0,55% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia do indicador oficial de janeiro, e o reajuste da gasolina nas refinarias da Petrobras, especialistas reforçaram sua percepção de uma inflação mais elevada este ano. Em 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 5,87%.
Na prévia de janeiro, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 24, puxaram a inflação os preços de produtos e serviços de saúde e higiene, de alimentos e de comunicação.
Os preços do grupo classificado como Alimentação e bebidas ficaram 0,55% mais caros, abaixo do ritmo de alta (0,69%) do IPCA-15 de dezembro, mas, ainda assim, tiveram o segundo maior impacto de alta na variação agregada.
A inflação de alimentos foi puxada por produtos in natura. Os itens de maior impacto foram batata-inglesa (15,99%), tomate (5,96%), arroz (3,36%) e frutas (1,74%). O quadro só não foi maior porque caíram os preços da cebola (-15,21%) e do leite longa vida (-2,04%).
O maior impacto positivo na variação agregada do IPCA-15 de janeiro veio dos preços do grupo classificado como Saúde e cuidados pessoais, com alta 1,10%, acima do 0,40% registrado em dezembro. Os principais responsáveis pela aceleração foram os itens de higiene pessoal, com alta média de 1,88% em janeiro, ante apenas 0,04% em dezembro. O preço do perfume subiu 4,24%, e os produtos para pele encareceram, em média, em 3,85%. Os planos de saúde ficaram 1,21% mais caros.
O terceiro maior impacto de alto veio do grupo Comunicação, que subiu 2,36%, após subir 0,18% em dezembro. Segundo o IBGE, o resultado foi influenciado pelas altas de TV por assinatura (11,78%), combo de telefonia, internet e TV por assinatura (3,24%), acesso à internet (2,11%) e aparelho telefônico (1,78%).
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A inflação geral só não foi maior porque os preços dos combustíveis tiveram queda de 0,58%. Isso apesar da alta de 0,51% no etanol. Segundo o IBGE, caíram os preços do óleo diesel (-3,08%), gasolina (-0,59%) e gás veicular (-0,40%). Só que o alívio poderá ser temporário, já que a Petrobras anunciou, também nesta terça-feira, 24, um reajuste de 7,5% no preço da gasolina vendida em suas refinarias. Raramente, o reajuste chega na mesma magnitude para o consumidor final, mas o sinal é de combustíveis mais caros.
“De uma forma geral, temos uma inflação que continua muito pressionada, com os serviços ainda pressionados, sendo negativamente impactado pelo avanço do mercado de trabalho e pelos auxílios fiscais que vêm trazendo certa pressão”, disse o analista de macroeconomia do banco Modal Rafael Rondinelli.
Projeções
O fato de a inflação começar o ano ainda pressionada se soma a perspectivas de mais reajustes de preços. Isso porque faltam sinais mais claros do novo governo federal sobre os rumos das contas públicas. Uma ampliação dos gastos públicos tende a aquecer a demanda, enquanto um aumento do desequilíbrio entre receitas e despesas adiciona incertezas, do ponto de vista do mercado, na sustentabilidade da dívida pública, elevando as cotações do dólar, o que poderá alimentar a inflação.
Para Eduardo Villarim, economista do Banco Original, as incertezas sobre o cenário fiscal, com muitas dúvidas tanto no lado das despesas quanto da arrecadação, contribuem para o cenário de piora nas expectativas de inflação. No mais recente boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central (BC) sobre as estimativas de analistas de mercado, a projeção para o IPCA de 2023 subiu de 5,39% para 5,48%.
“A perspectiva de piora nas condições fiscais jogam a moeda [cotação do real] e o risco fiscal para cima”, afirmou Villarim. “Além disso, há ainda muito dúvida, por exemplo, sobre a reoneração dos combustíveis, o que faz a gente trabalhar em um cenário de incerteza maior”, acrescentou.