RIO - A inflação oficial no País voltou a desacelerar em maio, desta vez sob influência das quedas nos preços das passagens aéreas e combustíveis. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) arrefeceu de um avanço de 0,61% em abril para uma alta de 0,23% no mês passado, o menor resultado desde setembro de 2022, informou nesta quarta-feira, 7, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado surpreendeu até mesmo os analistas mais otimistas consultados pelo Estadão/Broadcast, que esperavam uma inflação entre 0,24% e 0,45%, com mediana positiva de 0,33%. O desempenho reduziu a taxa acumulada em 12 meses, que passou de 4,18% em abril para 3,94% em maio, ante uma meta de inflação de 3,25% para este ano perseguida pelo Banco Central, que tem teto de tolerância de 4,75%.
Após a surpresa, alguns economistas diminuíram suas projeções para o IPCA deste ano. A LCA Consultores reduziu sua previsão de uma alta de 5,7% para avanço de 5,4%, enquanto o Banco Original baixou de 5,7% para 5,2%.
“Esses dados podem ajudar positivamente o cenário do Banco Central e, caso a evolução dos dados continue nessa trajetória, a janela para cortes na taxa de juros começa a se abrir”, apontou Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, para quem o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve reduzir a taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano, a partir de agosto.
“A autoridade monetária só dará início ao processo de cortes na taxa de juros quando tiver certeza de que a inflação está em trajetória estável e em direção à meta, as expectativas ancoradas — já vem dando sinais de arrefecimento — e sem grandes choques que o façam mudar a rota no meio do caminho”, afirmou Sung.
Segundo o economista André Perfeito, o IPCA de maio “sacramenta” o corte na taxa básica de juros, a Selic, embora ele também não espere uma redução já na reunião de junho do Copom.
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“O governo tem que ter a sabedoria de ‘dar os parabéns’ ao Banco Central por essa queda da inflação mesmo que saibamos que não foi só a política monetária que está jogando os preços para patamares mais civilizados. A hora é de refazer pontes especialmente porque as notícias são boas e um clima melhor entre as instituições pode ajudar no processo de acomodação das taxas de juros”, defendeu Perfeito, em comentário. “O IPCA de hoje foi uma boa notícia para o Planalto, o BCB, o mercado, mas especialmente para os mais pobres que estão vendo sua renda esvair numa economia que ainda não cresce, mas onde a inflação comia o que sobrava.”
A gestora de recursos Terra Investimentos antecipou sua projeção para o início dos cortes na Selic de novembro para agosto, em decorrência das surpresas baixistas do IPCA.
“Ao mesmo tempo, a alta do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre não indica que a demanda está aquecida, ou seja, não é um obstáculo para que o Banco Central promova esses cortes”, justificou o economista Homero Guizzo, da Terra Investimentos.
Viés de baixa para a inflação
O índice de difusão, que mostra a proporção de itens com aumentos de preços, desceu de 66% em abril para 56% em maio, o menor desde agosto de 2020.
Em maio, os preços das passagens aéreas caíram 17,73%. Houve recuos também no óleo diesel (-5,96%), gasolina (-1,93%) e gás veicular (-1,01%) apesar de o etanol ter subido (0,38%).
Os preços dos alimentos comprados em supermercados ficaram estáveis. As famílias pagaram mais pelo tomate (6,65%), leite longa vida (2,37%) e pão francês (1,40%). Por outro lado, houve quedas nas frutas (-3,48%), óleo de soja (-7,11%) e carnes (-0,74%).
Os itens que mais pressionaram o IPCA em maio foram os jogos de azar (12,18%), taxa de água e esgoto (2,67%), plano de saúde (1,20%), emplacamento e licença (1,61%) e perfume (3,56%).
“No top cinco itens de maior pressão em maio, quatro são itens monitorados (pelo governo). No caso de perfumes, o fator que pode ter influenciado pode ter sido Dia das Mães, que ocorre em maio e movimenta o mercado de perfumes”, disse André Almeida, analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE.
Para as próximas leituras da inflação, está no radar do IBGE o impacto do pacote do governo de redução de preços de automóveis.
“Foi anunciado no dia 5, anteontem, o programa desenvolvido pela Fazenda com objetivo de reduzir preço de carros, caminhões e ônibus”, lembrou Almeida. “Nosso objetivo é medir o movimento de preços para o consumidor final”, frisou.
Segundo ele, o IBGE vai buscar os preços no varejo junto aos informantes, que são as principais concessionárias de automóveis, para verificar se houve efetivamente variação ao consumidor./Colaboraram Daniel Tozzi Mendes e Gustavo Nicoletta