Rio e São Paulo - Apesar da pressão dos reajustes de medicamentos e de novo aumento nos alimentos, a inflação oficial no País desacelerou de 0,71% em março para 0,61% em abril, mostram os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta sexta-feira, 12, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, o resultado ficou próximo ao teto das estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Broadcast/Estadão, que esperavam uma inflação entre 0,43% e 0,65%, com mediana positiva de 0,55%.
“O processo de desinflação e a direção desinflacionária vêm acontecendo, mas, além de volátil, o processo deve ser gradual”, avaliou o economista João Fernandes, da gestora de investimentos Quantitas, que espera o começo do ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic, apenas em novembro deste ano, descendo dos atuais 13,75% ao ano para 12,50% no fim de 2023.
Há uma resistência no processo de desinflação do País, especialmente na inflação de serviços, afirmou o economista Alexandre Maluf, da XP Investimentos. A XP espera que a inflação acumulada em 12 meses atinja um piso de 4,0% em junho, voltando a subir nos meses seguintes. Entretanto, a projeção da gestora de que o IPCA encerre o ano de 2023 com elevação de 6,2% tem viés de baixa, “pela valorização recente do real e pela queda no preço do petróleo”, além de leituras benignas dos preços das commodities e de alimentos no atacado. A corretora também está reavaliando seu prospecto sobre os preços dos combustíveis ao longo do ano. “Por enquanto, não estamos considerando cortes na gasolina, por exemplo”, escreveu Alexandre Maluf, em comentário.
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A taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses desceu de 4,65% em março para 4,18% em abril, a mais baixa desde outubro de 2020. A meta de inflação para este ano perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, que tem teto de tolerância de 4,75%.
Todos os nove grupos que integram o IPCA registraram altas de preços no mês de abril: Alimentação e bebidas (0,71%), Transportes (0,56%), Saúde e cuidados pessoais (1,49%), Despesas pessoais (0,18%), Educação (0,09%), Habitação (0,48%), Comunicação (0,08%), Artigos de residência (0,17%) e Vestuário (0,79%).
O aumento nos gastos com saúde respondeu por praticamente um terço da inflação do mês. O resultado foi puxado pela alta de 3,55% nos produtos farmacêuticos, após a autorização do reajuste de até 5,60% no preço dos medicamentos, a partir de 31 de março. O plano de saúde subiu 1,20%, incorporando as frações mensais dos reajustes dos planos novos e antigos para o ciclo de 2022 a 2023.
Já o aumento nos preços dos alimentos foi provocado, principalmente, por uma restrição de oferta, justificou André Almeida, analista do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. Houve alta no tomate (10,64%), leite longa vida (4,96%) e queijo (1,97%). Na direção oposta, ficaram mais baratos a cebola (-7,01%) e o óleo de soja (-4,44%).
Em transportes, a alta de 11,97% nas passagens aéreas impediu um arrefecimento maior na inflação do grupo. Após um repique em março, os combustíveis ficaram mais baratos em abril. Houve redução no óleo diesel (-2,25%), gás veicular (-0,83%) e gasolina (-0,52%), mas o etanol subiu 0,92%.
Embora a expectativa seja de que a taxa do IPCA em 12 meses volte a acelerar no segundo semestre, a perspectiva para a inflação à frente é “relativamente positiva” para os próximos meses, opinou André Cordeiro, economista do Banco Inter.
“Os preços das commodities como um todo vêm caindo e devem contribuir para o processo de desinflação nos próximos meses, e a Petrobras também está em vias de anunciar um novo corte nos preços da gasolina”, previu Cordeiro, que mantém projeção de 5,6% para o IPCA de 2023.
Mais produtos com aumentos
O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 60% em março para 66% em abril.
“A difusão aumenta influenciada, principalmente, por itens alimentícios, e também influenciada pela alta dos produtos farmacêuticos”, disse André Almeida, analista do IBGE. “Todos os subitens que fazem parte dos produtos farmacêuticos tiveram aumento de preços em abril.”
A difusão de itens alimentícios passou de 56% em março para 64% em abril. Já a difusão de itens não alimentícios saiu de 63% em março para 67% em abril.
Apesar da alta na difusão, a magnitude e o impacto dos aumentos foram menores sobre a inflação em abril, frisou Almeida. “O aumento no nível geral de preços foi menor do que no mês anterior”, ponderou.
A inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre os preços – passou de uma elevação de 0,25% em março para 0,52% em abril.
“A alta dos serviços em abril foi influenciada, principalmente, pela alta de quase 12% nas passagens aéreas”, frisou André Almeida. “Diversos fatores podem influenciar nos preços das passagens aéreas. Efeitos sazonais são fatores importantes, o câmbio é fator importante, o preço do querosene de aviação é fator importante. A gente teve em 2022 o preço do querosene de aviação tendo variação expressiva. São diversos fatores influenciando no resultado mês a mês”, completou.
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Os preços de itens monitorados pelo governo saíram de uma elevação de 2,33% em março para 0,86% em abril.
De acordo com o pesquisador do IBGE, não é possível afirmar “categoricamente uma demanda menor”, mas as pressões sobre o IPCA de abril partiram de preços monitorados e de uma oferta menor de alguns alimentos.
“Essa influência no índice (IPCA) do mês veio mais dos monitorados, produtos farmacêuticos, plano de saúde, emplacamento e licença”, apontou Almeida. “Em abril, houve uma questão de oferta mais reduzida que impactou o preço de alimentos”, acrescentou.
No acumulado em 12 meses, a inflação de serviços passou de 7,63% em março para 7,49% em abril. Já a inflação de monitorados em 12 meses saiu de -2,40% em março -2,10% em abril.
Segundo André Almeida, a taxa em 12 meses acumulada pelos serviços ainda é influenciada por resultados passados, mais elevados, quando a demanda estava mais aquecida em meio à flexibilização de medidas de isolamento social adotadas contra a pandemia de covid-19.
“Quando a gente olha para a cesta de serviços, especificamente, a variação em 12 meses teve um pico em julho de 2022, 8,87%, refletindo a retomada da demanda após a flexibilização das medidas de isolamento social. E, depois disso, a gente percebe uma desaceleração do índice de serviços acumulado em 12 meses”, conclui.