O outro lado do noticiário

Opinião|Apelo ao ‘racismo’ para justificar renúncia da presidente de Harvard expõe distorções do ‘wokerismo’


Embora o desligamento de Claudine Gay da instituição nada tenha a ver com o fato de ser uma pessoa negra, tanto ela como seus apoiadores procuraram colocar a questão identitária no centro dos acontecimentos

Por José Fucs
Atualização:

O pedido de demissão de Claudine Gay, ex-presidente da Universidade Harvard, no dia 2 de janeiro, e a reação de boa parte de seus apoiadores à sua renúncia revelam muito sobre as distorções geradas pelo wokerismo que tomou conta da academia e das grandes corporações nos Estados Unidos e em outros países, inclusive no Brasil, nos últimos anos.

Embora o desligamento de Claudine nada tenha a ver com o fato de ela ter sido a primeira pessoa negra e a segunda mulher a dirigir a universidade americana, tanto ela como seus apoiadores procuraram colocar a questão identitária no centro dos acontecimentos, realçando sua posição de vítima e minimizando os fatores que realmente a fizeram deixar o posto.

 
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Como se sabe, Claudine já vinha sofrendo fortes críticas em decorrência da resposta condescendente dada às manifestações antissemitas que proliferaram em Harvard após o ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro, e se enrolou ainda mais no depoimento prestado em 5 de dezembro ao Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara dos Deputados, que convocou os presidentes de algumas das principais universidades americanas para apurar o crescimento dos atos antijudaicos nos campi.

Na ocasião, ao ser pressionada a dizer se a defesa do genocídio de judeus no campus de Harvard violava ou não os códigos de conduta da instituição em relação a bullying e assédio, Claudine evitou dar uma resposta direta à questão. Assim como suas colegas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e da Universidade da Pensilvânia, também convocadas a depor, ela afirmou várias vezes que “dependeria do contexto”, para indignação de parlamentares presentes à sessão e de muitos doadores de Harvard, que passaram a pedir sua cabeça à universidade. Até a Casa Branca criticou a posição que elas sustentaram em seus depoimentos.

‘Posições racistas’

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Depois, nas semanas que se seguiram, Claudine ainda se tornou alvo de denúncias de plágio em sua produção acadêmica, por ter reproduzido trechos extensos do trabalho de terceiros sem citar as fontes, o que acabou tornando insustentável sua situação no comando da universidade e levando-a a deixar o posto.

Mas, mesmo diante de tudo isso, a questão identitária veio à tona, para justificar sua renúncia. “Tem sido angustiante ver dúvidas surgirem em relação aos meus compromissos de combater o ódio e defender o rigor acadêmico – dois valores fundamentais de quem eu sou – e assustador ser submetida a ataques pessoais e ameaças impulsionadas por posições racistas”, disse Claudine, que liderou a implantação da política de diversidade, equidade e inclusão (DEI) de Harvard antes de assumir a presidência, em sua carta de demissão.

“Quando uma turba ataca uma pessoa preta, ela encontra uma razão aparentemente legítima para que o ataque lhe permita obter apoio popular e credibilidade para negar que a está atacando porque a pessoa é preta”, afirmou o escritor, historiador e ativista Ibram Xolani Kendi, diretor do Centro para Pesquisa Antirracista, em publicação no X (ex-Twitter), reforçando a ideia de que Claudine teria sido alvo de preconceito racial. “A turba racista não vai parar até derrubar todos as pessoas pretas de posições de poder e influência que não estão reforçando a estrutura do racismo.”

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Para Khalil Gibran Muhammad, professor de história, raça e políticas públicas na Harvard Kennedy School e diretor do Projeto Institucional de Antiracismo e Responsabilidade, a universidade cedeu a um “ataque de estilo macartista” e a uma “caça às bruxas de caráter político”, ao aceitar a renúncia de Claudine, segundo reportagem publicada pelo The Washington Post. De acordo com o jornal, Muhammad se disse preocupado com o fato de outra pessoa preta se tornar presidente de Harvard e “ter de carregar o peso de acusações injustas e assassinato de reputação ligado à sua identidade racial”.

Ainda que Claudine tenha admitido seus erros em artigo publicado pelo The New York Times no dia seguinte à sua renúncia e reproduzido pelo Estadão, ao dizer que “deveria ter afirmado de forma mais enfática que o Hamas é uma organização terrorista que quer erradicar o Estado judeu”, ela chamou os críticos de “demagogos” e reafirmou que as críticas que sofreu como primeiro presidente preto de Harvard tiveram motivação racista.

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“Eu fui chamada pela palavra “N” mais vezes do que eu posso contar”, disse Claudine no artigo, intitulado O que acabou de acontecer em Harvard é maior do que eu, em referência ao termo “negro”, considerado ofensivo e de cunho racista nos Estados Unidos. “Minha esperança é de que, ao renunciar, eu negarei aos demagogos a oportunidade de usar minha presidência como arma da campanha para minar os ideais que são a marca de Harvard desde a sua fundação: excelência, abertura, independência e verdade.”

Escudo identitário

De acordo com Claudine, a campanha contra ela “foi apenas batalha numa guerra mais ampla” para minar a fé nos pilares da sociedade americana. “Campanhas desse tipo com frequência começam com ataques à educação e ao conhecimento, porque são as ferramentas que melhor municiam as comunidades a ver além da propaganda”, disse. “Mas essas campanhas não terminam aqui. Instituições confiáveis de todos os tipos – de agências de saúde a organizações jornalísticas – continuarão a ser vítimas de tentativas coordenadas de arruinar sua legitimidade e a credibilidade de seus líderes. Para os oportunistas que impulsionam o cinismo a respeito das nossas instituições, nenhuma vitória isolada ou líder tombado vai exaurir sua disposição.”

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Hoje, como mostra o caso de Claudine, as questões identitárias muitas vezes acabam servindo de escudo para justificar qualquer coisa, mesmo diante de evidências que sustentam críticas e decisões que não têm relação com raça ou comportamento sexual, como uma atitude relapsa em relação a manifestações antissemitas em universidades e o plágio em teses acadêmicas por parte de quem deveria ser um exemplo de integridade para seus pupilos.

O pedido de demissão de Claudine Gay, ex-presidente da Universidade Harvard, no dia 2 de janeiro, e a reação de boa parte de seus apoiadores à sua renúncia revelam muito sobre as distorções geradas pelo wokerismo que tomou conta da academia e das grandes corporações nos Estados Unidos e em outros países, inclusive no Brasil, nos últimos anos.

Embora o desligamento de Claudine nada tenha a ver com o fato de ela ter sido a primeira pessoa negra e a segunda mulher a dirigir a universidade americana, tanto ela como seus apoiadores procuraram colocar a questão identitária no centro dos acontecimentos, realçando sua posição de vítima e minimizando os fatores que realmente a fizeram deixar o posto.

 

Como se sabe, Claudine já vinha sofrendo fortes críticas em decorrência da resposta condescendente dada às manifestações antissemitas que proliferaram em Harvard após o ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro, e se enrolou ainda mais no depoimento prestado em 5 de dezembro ao Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara dos Deputados, que convocou os presidentes de algumas das principais universidades americanas para apurar o crescimento dos atos antijudaicos nos campi.

Na ocasião, ao ser pressionada a dizer se a defesa do genocídio de judeus no campus de Harvard violava ou não os códigos de conduta da instituição em relação a bullying e assédio, Claudine evitou dar uma resposta direta à questão. Assim como suas colegas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e da Universidade da Pensilvânia, também convocadas a depor, ela afirmou várias vezes que “dependeria do contexto”, para indignação de parlamentares presentes à sessão e de muitos doadores de Harvard, que passaram a pedir sua cabeça à universidade. Até a Casa Branca criticou a posição que elas sustentaram em seus depoimentos.

‘Posições racistas’

Depois, nas semanas que se seguiram, Claudine ainda se tornou alvo de denúncias de plágio em sua produção acadêmica, por ter reproduzido trechos extensos do trabalho de terceiros sem citar as fontes, o que acabou tornando insustentável sua situação no comando da universidade e levando-a a deixar o posto.

Mas, mesmo diante de tudo isso, a questão identitária veio à tona, para justificar sua renúncia. “Tem sido angustiante ver dúvidas surgirem em relação aos meus compromissos de combater o ódio e defender o rigor acadêmico – dois valores fundamentais de quem eu sou – e assustador ser submetida a ataques pessoais e ameaças impulsionadas por posições racistas”, disse Claudine, que liderou a implantação da política de diversidade, equidade e inclusão (DEI) de Harvard antes de assumir a presidência, em sua carta de demissão.

“Quando uma turba ataca uma pessoa preta, ela encontra uma razão aparentemente legítima para que o ataque lhe permita obter apoio popular e credibilidade para negar que a está atacando porque a pessoa é preta”, afirmou o escritor, historiador e ativista Ibram Xolani Kendi, diretor do Centro para Pesquisa Antirracista, em publicação no X (ex-Twitter), reforçando a ideia de que Claudine teria sido alvo de preconceito racial. “A turba racista não vai parar até derrubar todos as pessoas pretas de posições de poder e influência que não estão reforçando a estrutura do racismo.”

Para Khalil Gibran Muhammad, professor de história, raça e políticas públicas na Harvard Kennedy School e diretor do Projeto Institucional de Antiracismo e Responsabilidade, a universidade cedeu a um “ataque de estilo macartista” e a uma “caça às bruxas de caráter político”, ao aceitar a renúncia de Claudine, segundo reportagem publicada pelo The Washington Post. De acordo com o jornal, Muhammad se disse preocupado com o fato de outra pessoa preta se tornar presidente de Harvard e “ter de carregar o peso de acusações injustas e assassinato de reputação ligado à sua identidade racial”.

Ainda que Claudine tenha admitido seus erros em artigo publicado pelo The New York Times no dia seguinte à sua renúncia e reproduzido pelo Estadão, ao dizer que “deveria ter afirmado de forma mais enfática que o Hamas é uma organização terrorista que quer erradicar o Estado judeu”, ela chamou os críticos de “demagogos” e reafirmou que as críticas que sofreu como primeiro presidente preto de Harvard tiveram motivação racista.

“Eu fui chamada pela palavra “N” mais vezes do que eu posso contar”, disse Claudine no artigo, intitulado O que acabou de acontecer em Harvard é maior do que eu, em referência ao termo “negro”, considerado ofensivo e de cunho racista nos Estados Unidos. “Minha esperança é de que, ao renunciar, eu negarei aos demagogos a oportunidade de usar minha presidência como arma da campanha para minar os ideais que são a marca de Harvard desde a sua fundação: excelência, abertura, independência e verdade.”

Escudo identitário

De acordo com Claudine, a campanha contra ela “foi apenas batalha numa guerra mais ampla” para minar a fé nos pilares da sociedade americana. “Campanhas desse tipo com frequência começam com ataques à educação e ao conhecimento, porque são as ferramentas que melhor municiam as comunidades a ver além da propaganda”, disse. “Mas essas campanhas não terminam aqui. Instituições confiáveis de todos os tipos – de agências de saúde a organizações jornalísticas – continuarão a ser vítimas de tentativas coordenadas de arruinar sua legitimidade e a credibilidade de seus líderes. Para os oportunistas que impulsionam o cinismo a respeito das nossas instituições, nenhuma vitória isolada ou líder tombado vai exaurir sua disposição.”

Hoje, como mostra o caso de Claudine, as questões identitárias muitas vezes acabam servindo de escudo para justificar qualquer coisa, mesmo diante de evidências que sustentam críticas e decisões que não têm relação com raça ou comportamento sexual, como uma atitude relapsa em relação a manifestações antissemitas em universidades e o plágio em teses acadêmicas por parte de quem deveria ser um exemplo de integridade para seus pupilos.

O pedido de demissão de Claudine Gay, ex-presidente da Universidade Harvard, no dia 2 de janeiro, e a reação de boa parte de seus apoiadores à sua renúncia revelam muito sobre as distorções geradas pelo wokerismo que tomou conta da academia e das grandes corporações nos Estados Unidos e em outros países, inclusive no Brasil, nos últimos anos.

Embora o desligamento de Claudine nada tenha a ver com o fato de ela ter sido a primeira pessoa negra e a segunda mulher a dirigir a universidade americana, tanto ela como seus apoiadores procuraram colocar a questão identitária no centro dos acontecimentos, realçando sua posição de vítima e minimizando os fatores que realmente a fizeram deixar o posto.

 

Como se sabe, Claudine já vinha sofrendo fortes críticas em decorrência da resposta condescendente dada às manifestações antissemitas que proliferaram em Harvard após o ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro, e se enrolou ainda mais no depoimento prestado em 5 de dezembro ao Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara dos Deputados, que convocou os presidentes de algumas das principais universidades americanas para apurar o crescimento dos atos antijudaicos nos campi.

Na ocasião, ao ser pressionada a dizer se a defesa do genocídio de judeus no campus de Harvard violava ou não os códigos de conduta da instituição em relação a bullying e assédio, Claudine evitou dar uma resposta direta à questão. Assim como suas colegas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e da Universidade da Pensilvânia, também convocadas a depor, ela afirmou várias vezes que “dependeria do contexto”, para indignação de parlamentares presentes à sessão e de muitos doadores de Harvard, que passaram a pedir sua cabeça à universidade. Até a Casa Branca criticou a posição que elas sustentaram em seus depoimentos.

‘Posições racistas’

Depois, nas semanas que se seguiram, Claudine ainda se tornou alvo de denúncias de plágio em sua produção acadêmica, por ter reproduzido trechos extensos do trabalho de terceiros sem citar as fontes, o que acabou tornando insustentável sua situação no comando da universidade e levando-a a deixar o posto.

Mas, mesmo diante de tudo isso, a questão identitária veio à tona, para justificar sua renúncia. “Tem sido angustiante ver dúvidas surgirem em relação aos meus compromissos de combater o ódio e defender o rigor acadêmico – dois valores fundamentais de quem eu sou – e assustador ser submetida a ataques pessoais e ameaças impulsionadas por posições racistas”, disse Claudine, que liderou a implantação da política de diversidade, equidade e inclusão (DEI) de Harvard antes de assumir a presidência, em sua carta de demissão.

“Quando uma turba ataca uma pessoa preta, ela encontra uma razão aparentemente legítima para que o ataque lhe permita obter apoio popular e credibilidade para negar que a está atacando porque a pessoa é preta”, afirmou o escritor, historiador e ativista Ibram Xolani Kendi, diretor do Centro para Pesquisa Antirracista, em publicação no X (ex-Twitter), reforçando a ideia de que Claudine teria sido alvo de preconceito racial. “A turba racista não vai parar até derrubar todos as pessoas pretas de posições de poder e influência que não estão reforçando a estrutura do racismo.”

Para Khalil Gibran Muhammad, professor de história, raça e políticas públicas na Harvard Kennedy School e diretor do Projeto Institucional de Antiracismo e Responsabilidade, a universidade cedeu a um “ataque de estilo macartista” e a uma “caça às bruxas de caráter político”, ao aceitar a renúncia de Claudine, segundo reportagem publicada pelo The Washington Post. De acordo com o jornal, Muhammad se disse preocupado com o fato de outra pessoa preta se tornar presidente de Harvard e “ter de carregar o peso de acusações injustas e assassinato de reputação ligado à sua identidade racial”.

Ainda que Claudine tenha admitido seus erros em artigo publicado pelo The New York Times no dia seguinte à sua renúncia e reproduzido pelo Estadão, ao dizer que “deveria ter afirmado de forma mais enfática que o Hamas é uma organização terrorista que quer erradicar o Estado judeu”, ela chamou os críticos de “demagogos” e reafirmou que as críticas que sofreu como primeiro presidente preto de Harvard tiveram motivação racista.

“Eu fui chamada pela palavra “N” mais vezes do que eu posso contar”, disse Claudine no artigo, intitulado O que acabou de acontecer em Harvard é maior do que eu, em referência ao termo “negro”, considerado ofensivo e de cunho racista nos Estados Unidos. “Minha esperança é de que, ao renunciar, eu negarei aos demagogos a oportunidade de usar minha presidência como arma da campanha para minar os ideais que são a marca de Harvard desde a sua fundação: excelência, abertura, independência e verdade.”

Escudo identitário

De acordo com Claudine, a campanha contra ela “foi apenas batalha numa guerra mais ampla” para minar a fé nos pilares da sociedade americana. “Campanhas desse tipo com frequência começam com ataques à educação e ao conhecimento, porque são as ferramentas que melhor municiam as comunidades a ver além da propaganda”, disse. “Mas essas campanhas não terminam aqui. Instituições confiáveis de todos os tipos – de agências de saúde a organizações jornalísticas – continuarão a ser vítimas de tentativas coordenadas de arruinar sua legitimidade e a credibilidade de seus líderes. Para os oportunistas que impulsionam o cinismo a respeito das nossas instituições, nenhuma vitória isolada ou líder tombado vai exaurir sua disposição.”

Hoje, como mostra o caso de Claudine, as questões identitárias muitas vezes acabam servindo de escudo para justificar qualquer coisa, mesmo diante de evidências que sustentam críticas e decisões que não têm relação com raça ou comportamento sexual, como uma atitude relapsa em relação a manifestações antissemitas em universidades e o plágio em teses acadêmicas por parte de quem deveria ser um exemplo de integridade para seus pupilos.

O pedido de demissão de Claudine Gay, ex-presidente da Universidade Harvard, no dia 2 de janeiro, e a reação de boa parte de seus apoiadores à sua renúncia revelam muito sobre as distorções geradas pelo wokerismo que tomou conta da academia e das grandes corporações nos Estados Unidos e em outros países, inclusive no Brasil, nos últimos anos.

Embora o desligamento de Claudine nada tenha a ver com o fato de ela ter sido a primeira pessoa negra e a segunda mulher a dirigir a universidade americana, tanto ela como seus apoiadores procuraram colocar a questão identitária no centro dos acontecimentos, realçando sua posição de vítima e minimizando os fatores que realmente a fizeram deixar o posto.

 

Como se sabe, Claudine já vinha sofrendo fortes críticas em decorrência da resposta condescendente dada às manifestações antissemitas que proliferaram em Harvard após o ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro, e se enrolou ainda mais no depoimento prestado em 5 de dezembro ao Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara dos Deputados, que convocou os presidentes de algumas das principais universidades americanas para apurar o crescimento dos atos antijudaicos nos campi.

Na ocasião, ao ser pressionada a dizer se a defesa do genocídio de judeus no campus de Harvard violava ou não os códigos de conduta da instituição em relação a bullying e assédio, Claudine evitou dar uma resposta direta à questão. Assim como suas colegas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e da Universidade da Pensilvânia, também convocadas a depor, ela afirmou várias vezes que “dependeria do contexto”, para indignação de parlamentares presentes à sessão e de muitos doadores de Harvard, que passaram a pedir sua cabeça à universidade. Até a Casa Branca criticou a posição que elas sustentaram em seus depoimentos.

‘Posições racistas’

Depois, nas semanas que se seguiram, Claudine ainda se tornou alvo de denúncias de plágio em sua produção acadêmica, por ter reproduzido trechos extensos do trabalho de terceiros sem citar as fontes, o que acabou tornando insustentável sua situação no comando da universidade e levando-a a deixar o posto.

Mas, mesmo diante de tudo isso, a questão identitária veio à tona, para justificar sua renúncia. “Tem sido angustiante ver dúvidas surgirem em relação aos meus compromissos de combater o ódio e defender o rigor acadêmico – dois valores fundamentais de quem eu sou – e assustador ser submetida a ataques pessoais e ameaças impulsionadas por posições racistas”, disse Claudine, que liderou a implantação da política de diversidade, equidade e inclusão (DEI) de Harvard antes de assumir a presidência, em sua carta de demissão.

“Quando uma turba ataca uma pessoa preta, ela encontra uma razão aparentemente legítima para que o ataque lhe permita obter apoio popular e credibilidade para negar que a está atacando porque a pessoa é preta”, afirmou o escritor, historiador e ativista Ibram Xolani Kendi, diretor do Centro para Pesquisa Antirracista, em publicação no X (ex-Twitter), reforçando a ideia de que Claudine teria sido alvo de preconceito racial. “A turba racista não vai parar até derrubar todos as pessoas pretas de posições de poder e influência que não estão reforçando a estrutura do racismo.”

Para Khalil Gibran Muhammad, professor de história, raça e políticas públicas na Harvard Kennedy School e diretor do Projeto Institucional de Antiracismo e Responsabilidade, a universidade cedeu a um “ataque de estilo macartista” e a uma “caça às bruxas de caráter político”, ao aceitar a renúncia de Claudine, segundo reportagem publicada pelo The Washington Post. De acordo com o jornal, Muhammad se disse preocupado com o fato de outra pessoa preta se tornar presidente de Harvard e “ter de carregar o peso de acusações injustas e assassinato de reputação ligado à sua identidade racial”.

Ainda que Claudine tenha admitido seus erros em artigo publicado pelo The New York Times no dia seguinte à sua renúncia e reproduzido pelo Estadão, ao dizer que “deveria ter afirmado de forma mais enfática que o Hamas é uma organização terrorista que quer erradicar o Estado judeu”, ela chamou os críticos de “demagogos” e reafirmou que as críticas que sofreu como primeiro presidente preto de Harvard tiveram motivação racista.

“Eu fui chamada pela palavra “N” mais vezes do que eu posso contar”, disse Claudine no artigo, intitulado O que acabou de acontecer em Harvard é maior do que eu, em referência ao termo “negro”, considerado ofensivo e de cunho racista nos Estados Unidos. “Minha esperança é de que, ao renunciar, eu negarei aos demagogos a oportunidade de usar minha presidência como arma da campanha para minar os ideais que são a marca de Harvard desde a sua fundação: excelência, abertura, independência e verdade.”

Escudo identitário

De acordo com Claudine, a campanha contra ela “foi apenas batalha numa guerra mais ampla” para minar a fé nos pilares da sociedade americana. “Campanhas desse tipo com frequência começam com ataques à educação e ao conhecimento, porque são as ferramentas que melhor municiam as comunidades a ver além da propaganda”, disse. “Mas essas campanhas não terminam aqui. Instituições confiáveis de todos os tipos – de agências de saúde a organizações jornalísticas – continuarão a ser vítimas de tentativas coordenadas de arruinar sua legitimidade e a credibilidade de seus líderes. Para os oportunistas que impulsionam o cinismo a respeito das nossas instituições, nenhuma vitória isolada ou líder tombado vai exaurir sua disposição.”

Hoje, como mostra o caso de Claudine, as questões identitárias muitas vezes acabam servindo de escudo para justificar qualquer coisa, mesmo diante de evidências que sustentam críticas e decisões que não têm relação com raça ou comportamento sexual, como uma atitude relapsa em relação a manifestações antissemitas em universidades e o plágio em teses acadêmicas por parte de quem deveria ser um exemplo de integridade para seus pupilos.

O pedido de demissão de Claudine Gay, ex-presidente da Universidade Harvard, no dia 2 de janeiro, e a reação de boa parte de seus apoiadores à sua renúncia revelam muito sobre as distorções geradas pelo wokerismo que tomou conta da academia e das grandes corporações nos Estados Unidos e em outros países, inclusive no Brasil, nos últimos anos.

Embora o desligamento de Claudine nada tenha a ver com o fato de ela ter sido a primeira pessoa negra e a segunda mulher a dirigir a universidade americana, tanto ela como seus apoiadores procuraram colocar a questão identitária no centro dos acontecimentos, realçando sua posição de vítima e minimizando os fatores que realmente a fizeram deixar o posto.

 

Como se sabe, Claudine já vinha sofrendo fortes críticas em decorrência da resposta condescendente dada às manifestações antissemitas que proliferaram em Harvard após o ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro, e se enrolou ainda mais no depoimento prestado em 5 de dezembro ao Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara dos Deputados, que convocou os presidentes de algumas das principais universidades americanas para apurar o crescimento dos atos antijudaicos nos campi.

Na ocasião, ao ser pressionada a dizer se a defesa do genocídio de judeus no campus de Harvard violava ou não os códigos de conduta da instituição em relação a bullying e assédio, Claudine evitou dar uma resposta direta à questão. Assim como suas colegas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e da Universidade da Pensilvânia, também convocadas a depor, ela afirmou várias vezes que “dependeria do contexto”, para indignação de parlamentares presentes à sessão e de muitos doadores de Harvard, que passaram a pedir sua cabeça à universidade. Até a Casa Branca criticou a posição que elas sustentaram em seus depoimentos.

‘Posições racistas’

Depois, nas semanas que se seguiram, Claudine ainda se tornou alvo de denúncias de plágio em sua produção acadêmica, por ter reproduzido trechos extensos do trabalho de terceiros sem citar as fontes, o que acabou tornando insustentável sua situação no comando da universidade e levando-a a deixar o posto.

Mas, mesmo diante de tudo isso, a questão identitária veio à tona, para justificar sua renúncia. “Tem sido angustiante ver dúvidas surgirem em relação aos meus compromissos de combater o ódio e defender o rigor acadêmico – dois valores fundamentais de quem eu sou – e assustador ser submetida a ataques pessoais e ameaças impulsionadas por posições racistas”, disse Claudine, que liderou a implantação da política de diversidade, equidade e inclusão (DEI) de Harvard antes de assumir a presidência, em sua carta de demissão.

“Quando uma turba ataca uma pessoa preta, ela encontra uma razão aparentemente legítima para que o ataque lhe permita obter apoio popular e credibilidade para negar que a está atacando porque a pessoa é preta”, afirmou o escritor, historiador e ativista Ibram Xolani Kendi, diretor do Centro para Pesquisa Antirracista, em publicação no X (ex-Twitter), reforçando a ideia de que Claudine teria sido alvo de preconceito racial. “A turba racista não vai parar até derrubar todos as pessoas pretas de posições de poder e influência que não estão reforçando a estrutura do racismo.”

Para Khalil Gibran Muhammad, professor de história, raça e políticas públicas na Harvard Kennedy School e diretor do Projeto Institucional de Antiracismo e Responsabilidade, a universidade cedeu a um “ataque de estilo macartista” e a uma “caça às bruxas de caráter político”, ao aceitar a renúncia de Claudine, segundo reportagem publicada pelo The Washington Post. De acordo com o jornal, Muhammad se disse preocupado com o fato de outra pessoa preta se tornar presidente de Harvard e “ter de carregar o peso de acusações injustas e assassinato de reputação ligado à sua identidade racial”.

Ainda que Claudine tenha admitido seus erros em artigo publicado pelo The New York Times no dia seguinte à sua renúncia e reproduzido pelo Estadão, ao dizer que “deveria ter afirmado de forma mais enfática que o Hamas é uma organização terrorista que quer erradicar o Estado judeu”, ela chamou os críticos de “demagogos” e reafirmou que as críticas que sofreu como primeiro presidente preto de Harvard tiveram motivação racista.

“Eu fui chamada pela palavra “N” mais vezes do que eu posso contar”, disse Claudine no artigo, intitulado O que acabou de acontecer em Harvard é maior do que eu, em referência ao termo “negro”, considerado ofensivo e de cunho racista nos Estados Unidos. “Minha esperança é de que, ao renunciar, eu negarei aos demagogos a oportunidade de usar minha presidência como arma da campanha para minar os ideais que são a marca de Harvard desde a sua fundação: excelência, abertura, independência e verdade.”

Escudo identitário

De acordo com Claudine, a campanha contra ela “foi apenas batalha numa guerra mais ampla” para minar a fé nos pilares da sociedade americana. “Campanhas desse tipo com frequência começam com ataques à educação e ao conhecimento, porque são as ferramentas que melhor municiam as comunidades a ver além da propaganda”, disse. “Mas essas campanhas não terminam aqui. Instituições confiáveis de todos os tipos – de agências de saúde a organizações jornalísticas – continuarão a ser vítimas de tentativas coordenadas de arruinar sua legitimidade e a credibilidade de seus líderes. Para os oportunistas que impulsionam o cinismo a respeito das nossas instituições, nenhuma vitória isolada ou líder tombado vai exaurir sua disposição.”

Hoje, como mostra o caso de Claudine, as questões identitárias muitas vezes acabam servindo de escudo para justificar qualquer coisa, mesmo diante de evidências que sustentam críticas e decisões que não têm relação com raça ou comportamento sexual, como uma atitude relapsa em relação a manifestações antissemitas em universidades e o plágio em teses acadêmicas por parte de quem deveria ser um exemplo de integridade para seus pupilos.

Opinião por José Fucs

É repórter especial do Estadão. Jornalista desde 1983, foi repórter especial e editor de Economia da revista Época, editor-chefe da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, editor-executivo da Exame e repórter do Estadão, da Gazeta Mercantil e da Folha. Leia publicações anteriores a 18/4/23 em www.estadao.com.br/politica/blog-do-fucs/

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