O outro lado do noticiário

Opinião|Ida de Mantega para o conselho da Vale revela inconformismo de Lula com privatização da empresa


Como ocorreu no passado, governo considera a companhia “estratégica” e quer dar um jeito de interferir na sua gestão

Por José Fucs
Atualização:

A notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para indicar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para ocupar uma cadeira no Conselho de Administração da Vale revela de forma emblemática a visão petista sobre a condução da economia do País e a administração de empresas que foram privatizadas, mas nas quais o governo ainda tem alguma influência, como é o caso da mineradora, desestatizada em 1997.

Inconformado até hoje com o fato de a Vale ter passado para o controle privado, o governo quer mais uma vez dar um jeito de interferir na sua gestão – assim como na Eletrobrás, privatizada em junho de 2022 – e colocá-la a serviço de sua política econômica, como já aconteceu no passado, com resultados desastrosos para as companhias e seus acionistas.

Sob a gestão privada, a Vale se tornou uma das maiores e mais respeitadas empresas de mineração do mundo, cujo valor de mercado alcança hoje R$ 307 bilhões, o segundo maior da B3, a Bolsa brasileira, atrás apenas da Petrobras, de acordo com dados da Elos Ayta Consultoria.

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No ano passado, Lula já havia tentado emplacar sem sucesso o nome de Mantega para a presidência da Vale Foto: Clayton de Souza/Estadão 

Lula, porém, cultiva a pretensão de interferir nos rumos da mineradora, considerada por ele como “estratégica”, acomodando seus apaniguados no conselho de administração, depois de tentar emplacar – sem sucesso – o próprio Mantega no comando da companhia no ano passado. Tudo indica que a possível ida de Mantega para o conselho foi a forma que o petista encontrou para tentar alcançar seu objetivo mais à frente, influenciando por dentro os conselheiros a colocar na presidência um nome alinhado com a cartilha do governo e do PT.

“Eu não acho adequada (a participação do ex-ministro no conselho da Vale). Entendo como uma interferência política do setor público em uma empresa privada”, diz o economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho de administração da Jive Investments, uma empresa de gestão de recursos. “Se ele tivesse o que é necessário, já poderia estar lá.”

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O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, colunista do Estadão, tem uma percepção semelhante sobre a questão. “O presidente Lula sente que precisa fazer algum tipo de carinho para o ex-ministro da Fazenda, mas eu acho que essa interferência é muito ruim para a Vale e muito ruim para o Brasil”, afirma. “Em 2023, houve uma queda de cerca de 40% no investimento direto estrangeiro no País em relação a 2022, e acredito que uma parte disso tem a ver com essa tentativa do governo de interferir na Vale, na Eletrobrás, no marco temporal (das terras indígenas), no marco do saneamento, na autonomia do Banco Central. Isso tudo traz muita incerteza para os investidores.”

Embora possa parecer estranho que Lula consiga emplacar a participação de Mantega no conselho de uma companhia privada como a Vale, ele nem precisará fazer muito esforço para isso. Basta que um dos principais acionistas da empresa substitua um dos atuais conselheiros pelo ex-ministro – e tal possibilidade está ao alcance de suas mãos.

Ainda que a Vale não tenha um bloco controlador desde 2019 e seja hoje uma corporation, com ações pulverizadas no mercado e grandes acionistas globais, como a japonesa Mitsui e a empresa de investimentos americana BlackRock, que detêm 6,31% e 5,83% do capital, respectivamente, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil – hoje dirigida pelo ex-sindicalista João Luiz Fukunaga, um quadro do PT que tem boa relação com Lula – ainda possui uma fatia de 8,71% na companhia, a maior entre todos os sócios.

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A Previ pode, portanto, indicar Mantega a qualquer momento, dentro das regras do jogo, para substituir um dos dois representantes que tem no conselho – o presidente do órgão, Daniel Stieler, ex-comandante do fundo do BB, indicado para a instituição no governo Bolsonaro, e o próprio Fukunaga. Mas, ao que se sabe, se isso realmente se concretizar, só deverá ocorrer depois de o conselho, composto por 13 integrantes, oito dos quais considerados “independentes”, decidir se vai renovar ou não por mais um ano, até abril de 2025, o mandato do atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo – um processo que já está em andamento e deve ser concluído até o fim do mês.

A questão, mais do que a indicação de Mantega para o conselho, é até que ponto sua eventual participação no órgão pode influir nos rumos da Vale e na escolha do nome que assumirá o comando a partir do ano que vem, independentemente de Bartolomeo continuar ou não agora. Se a eventual participação de Mantega levar a um “cavalo de pau” na gestão, o cenário será parecido com o que se desenhou em 2011, no governo Dilma.

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‘Dobradinha’

Na época, o então presidente da empresa, Roger Agnelli (1959-2016), que estava no cargo desde 2001 e fora indicado pela Bradespar, empresa de participações do Grupo Bradesco, que ainda detém uma participação importante na Vale, acabou deixando o comando depois de uma longa campanha desferida contra ele desde o segundo mandato de Lula, sendo substituído pelo executivo Murilo Ferreira, que já trabalhava no grupo.

A realidade hoje na Vale, no entanto, é bem diferente. A BNDESPar, empresa de participações do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que detinha uma participação significativa na companhia e fazia parte do bloco de controle junto com a Previ e outros acionistas relevantes, vendeu todas as suas ações no governo passado, arrecadando um total estimado em R$ 11,2 bilhões. Desta vez, então, a “dobradinha” Previ/BNDES não tem como se repetir, para atuar em favor das pretensões de Lula.

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Ao mesmo tempo, como o fundo de pensão do BB é minoritário e a Vale não tem mais um bloco de controle, tendo melhorado muito sua governança desde que Dilma foi defenestrada em 2016, inclusive para a escolha de seus executivos, ficou bem mais difícil para o governo conseguir colocar um nome de seu interesse na presidência.

Cercadinho de Brasília

É certo que o setor de mineração depende muito do governo de plantão, para obter licenças ambientais e concessões de portos e ferrovias, e é complicado bater de frente com os governantes. Mas o exemplo da Eletrobrás, que acabou de incorporar Furnas à revelia de Lula, do PT e de seus aliados, está aí para mostrar que o governo pode muito, mas não pode tudo.

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Diante disso, só o tempo vai dizer se a Vale deixará sua independência de lado e voltará a atuar como um cercadinho de Brasília, como ocorreu no governo Dilma. O que se pode dizer desde já, sem medo de errar, é que, se puderem, Lula e seus “companheiros” vão tomar conta da Vale, da Eletrobrás e de tudo o mais que possa contribuir para implementar sua política intervencionista na economia e para seu projeto hegemônico de poder.

A notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para indicar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para ocupar uma cadeira no Conselho de Administração da Vale revela de forma emblemática a visão petista sobre a condução da economia do País e a administração de empresas que foram privatizadas, mas nas quais o governo ainda tem alguma influência, como é o caso da mineradora, desestatizada em 1997.

Inconformado até hoje com o fato de a Vale ter passado para o controle privado, o governo quer mais uma vez dar um jeito de interferir na sua gestão – assim como na Eletrobrás, privatizada em junho de 2022 – e colocá-la a serviço de sua política econômica, como já aconteceu no passado, com resultados desastrosos para as companhias e seus acionistas.

Sob a gestão privada, a Vale se tornou uma das maiores e mais respeitadas empresas de mineração do mundo, cujo valor de mercado alcança hoje R$ 307 bilhões, o segundo maior da B3, a Bolsa brasileira, atrás apenas da Petrobras, de acordo com dados da Elos Ayta Consultoria.

No ano passado, Lula já havia tentado emplacar sem sucesso o nome de Mantega para a presidência da Vale Foto: Clayton de Souza/Estadão 

Lula, porém, cultiva a pretensão de interferir nos rumos da mineradora, considerada por ele como “estratégica”, acomodando seus apaniguados no conselho de administração, depois de tentar emplacar – sem sucesso – o próprio Mantega no comando da companhia no ano passado. Tudo indica que a possível ida de Mantega para o conselho foi a forma que o petista encontrou para tentar alcançar seu objetivo mais à frente, influenciando por dentro os conselheiros a colocar na presidência um nome alinhado com a cartilha do governo e do PT.

“Eu não acho adequada (a participação do ex-ministro no conselho da Vale). Entendo como uma interferência política do setor público em uma empresa privada”, diz o economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho de administração da Jive Investments, uma empresa de gestão de recursos. “Se ele tivesse o que é necessário, já poderia estar lá.”

O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, colunista do Estadão, tem uma percepção semelhante sobre a questão. “O presidente Lula sente que precisa fazer algum tipo de carinho para o ex-ministro da Fazenda, mas eu acho que essa interferência é muito ruim para a Vale e muito ruim para o Brasil”, afirma. “Em 2023, houve uma queda de cerca de 40% no investimento direto estrangeiro no País em relação a 2022, e acredito que uma parte disso tem a ver com essa tentativa do governo de interferir na Vale, na Eletrobrás, no marco temporal (das terras indígenas), no marco do saneamento, na autonomia do Banco Central. Isso tudo traz muita incerteza para os investidores.”

Embora possa parecer estranho que Lula consiga emplacar a participação de Mantega no conselho de uma companhia privada como a Vale, ele nem precisará fazer muito esforço para isso. Basta que um dos principais acionistas da empresa substitua um dos atuais conselheiros pelo ex-ministro – e tal possibilidade está ao alcance de suas mãos.

Ainda que a Vale não tenha um bloco controlador desde 2019 e seja hoje uma corporation, com ações pulverizadas no mercado e grandes acionistas globais, como a japonesa Mitsui e a empresa de investimentos americana BlackRock, que detêm 6,31% e 5,83% do capital, respectivamente, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil – hoje dirigida pelo ex-sindicalista João Luiz Fukunaga, um quadro do PT que tem boa relação com Lula – ainda possui uma fatia de 8,71% na companhia, a maior entre todos os sócios.

A Previ pode, portanto, indicar Mantega a qualquer momento, dentro das regras do jogo, para substituir um dos dois representantes que tem no conselho – o presidente do órgão, Daniel Stieler, ex-comandante do fundo do BB, indicado para a instituição no governo Bolsonaro, e o próprio Fukunaga. Mas, ao que se sabe, se isso realmente se concretizar, só deverá ocorrer depois de o conselho, composto por 13 integrantes, oito dos quais considerados “independentes”, decidir se vai renovar ou não por mais um ano, até abril de 2025, o mandato do atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo – um processo que já está em andamento e deve ser concluído até o fim do mês.

A questão, mais do que a indicação de Mantega para o conselho, é até que ponto sua eventual participação no órgão pode influir nos rumos da Vale e na escolha do nome que assumirá o comando a partir do ano que vem, independentemente de Bartolomeo continuar ou não agora. Se a eventual participação de Mantega levar a um “cavalo de pau” na gestão, o cenário será parecido com o que se desenhou em 2011, no governo Dilma.

‘Dobradinha’

Na época, o então presidente da empresa, Roger Agnelli (1959-2016), que estava no cargo desde 2001 e fora indicado pela Bradespar, empresa de participações do Grupo Bradesco, que ainda detém uma participação importante na Vale, acabou deixando o comando depois de uma longa campanha desferida contra ele desde o segundo mandato de Lula, sendo substituído pelo executivo Murilo Ferreira, que já trabalhava no grupo.

A realidade hoje na Vale, no entanto, é bem diferente. A BNDESPar, empresa de participações do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que detinha uma participação significativa na companhia e fazia parte do bloco de controle junto com a Previ e outros acionistas relevantes, vendeu todas as suas ações no governo passado, arrecadando um total estimado em R$ 11,2 bilhões. Desta vez, então, a “dobradinha” Previ/BNDES não tem como se repetir, para atuar em favor das pretensões de Lula.

Ao mesmo tempo, como o fundo de pensão do BB é minoritário e a Vale não tem mais um bloco de controle, tendo melhorado muito sua governança desde que Dilma foi defenestrada em 2016, inclusive para a escolha de seus executivos, ficou bem mais difícil para o governo conseguir colocar um nome de seu interesse na presidência.

Cercadinho de Brasília

É certo que o setor de mineração depende muito do governo de plantão, para obter licenças ambientais e concessões de portos e ferrovias, e é complicado bater de frente com os governantes. Mas o exemplo da Eletrobrás, que acabou de incorporar Furnas à revelia de Lula, do PT e de seus aliados, está aí para mostrar que o governo pode muito, mas não pode tudo.

Diante disso, só o tempo vai dizer se a Vale deixará sua independência de lado e voltará a atuar como um cercadinho de Brasília, como ocorreu no governo Dilma. O que se pode dizer desde já, sem medo de errar, é que, se puderem, Lula e seus “companheiros” vão tomar conta da Vale, da Eletrobrás e de tudo o mais que possa contribuir para implementar sua política intervencionista na economia e para seu projeto hegemônico de poder.

A notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para indicar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para ocupar uma cadeira no Conselho de Administração da Vale revela de forma emblemática a visão petista sobre a condução da economia do País e a administração de empresas que foram privatizadas, mas nas quais o governo ainda tem alguma influência, como é o caso da mineradora, desestatizada em 1997.

Inconformado até hoje com o fato de a Vale ter passado para o controle privado, o governo quer mais uma vez dar um jeito de interferir na sua gestão – assim como na Eletrobrás, privatizada em junho de 2022 – e colocá-la a serviço de sua política econômica, como já aconteceu no passado, com resultados desastrosos para as companhias e seus acionistas.

Sob a gestão privada, a Vale se tornou uma das maiores e mais respeitadas empresas de mineração do mundo, cujo valor de mercado alcança hoje R$ 307 bilhões, o segundo maior da B3, a Bolsa brasileira, atrás apenas da Petrobras, de acordo com dados da Elos Ayta Consultoria.

No ano passado, Lula já havia tentado emplacar sem sucesso o nome de Mantega para a presidência da Vale Foto: Clayton de Souza/Estadão 

Lula, porém, cultiva a pretensão de interferir nos rumos da mineradora, considerada por ele como “estratégica”, acomodando seus apaniguados no conselho de administração, depois de tentar emplacar – sem sucesso – o próprio Mantega no comando da companhia no ano passado. Tudo indica que a possível ida de Mantega para o conselho foi a forma que o petista encontrou para tentar alcançar seu objetivo mais à frente, influenciando por dentro os conselheiros a colocar na presidência um nome alinhado com a cartilha do governo e do PT.

“Eu não acho adequada (a participação do ex-ministro no conselho da Vale). Entendo como uma interferência política do setor público em uma empresa privada”, diz o economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho de administração da Jive Investments, uma empresa de gestão de recursos. “Se ele tivesse o que é necessário, já poderia estar lá.”

O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, colunista do Estadão, tem uma percepção semelhante sobre a questão. “O presidente Lula sente que precisa fazer algum tipo de carinho para o ex-ministro da Fazenda, mas eu acho que essa interferência é muito ruim para a Vale e muito ruim para o Brasil”, afirma. “Em 2023, houve uma queda de cerca de 40% no investimento direto estrangeiro no País em relação a 2022, e acredito que uma parte disso tem a ver com essa tentativa do governo de interferir na Vale, na Eletrobrás, no marco temporal (das terras indígenas), no marco do saneamento, na autonomia do Banco Central. Isso tudo traz muita incerteza para os investidores.”

Embora possa parecer estranho que Lula consiga emplacar a participação de Mantega no conselho de uma companhia privada como a Vale, ele nem precisará fazer muito esforço para isso. Basta que um dos principais acionistas da empresa substitua um dos atuais conselheiros pelo ex-ministro – e tal possibilidade está ao alcance de suas mãos.

Ainda que a Vale não tenha um bloco controlador desde 2019 e seja hoje uma corporation, com ações pulverizadas no mercado e grandes acionistas globais, como a japonesa Mitsui e a empresa de investimentos americana BlackRock, que detêm 6,31% e 5,83% do capital, respectivamente, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil – hoje dirigida pelo ex-sindicalista João Luiz Fukunaga, um quadro do PT que tem boa relação com Lula – ainda possui uma fatia de 8,71% na companhia, a maior entre todos os sócios.

A Previ pode, portanto, indicar Mantega a qualquer momento, dentro das regras do jogo, para substituir um dos dois representantes que tem no conselho – o presidente do órgão, Daniel Stieler, ex-comandante do fundo do BB, indicado para a instituição no governo Bolsonaro, e o próprio Fukunaga. Mas, ao que se sabe, se isso realmente se concretizar, só deverá ocorrer depois de o conselho, composto por 13 integrantes, oito dos quais considerados “independentes”, decidir se vai renovar ou não por mais um ano, até abril de 2025, o mandato do atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo – um processo que já está em andamento e deve ser concluído até o fim do mês.

A questão, mais do que a indicação de Mantega para o conselho, é até que ponto sua eventual participação no órgão pode influir nos rumos da Vale e na escolha do nome que assumirá o comando a partir do ano que vem, independentemente de Bartolomeo continuar ou não agora. Se a eventual participação de Mantega levar a um “cavalo de pau” na gestão, o cenário será parecido com o que se desenhou em 2011, no governo Dilma.

‘Dobradinha’

Na época, o então presidente da empresa, Roger Agnelli (1959-2016), que estava no cargo desde 2001 e fora indicado pela Bradespar, empresa de participações do Grupo Bradesco, que ainda detém uma participação importante na Vale, acabou deixando o comando depois de uma longa campanha desferida contra ele desde o segundo mandato de Lula, sendo substituído pelo executivo Murilo Ferreira, que já trabalhava no grupo.

A realidade hoje na Vale, no entanto, é bem diferente. A BNDESPar, empresa de participações do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que detinha uma participação significativa na companhia e fazia parte do bloco de controle junto com a Previ e outros acionistas relevantes, vendeu todas as suas ações no governo passado, arrecadando um total estimado em R$ 11,2 bilhões. Desta vez, então, a “dobradinha” Previ/BNDES não tem como se repetir, para atuar em favor das pretensões de Lula.

Ao mesmo tempo, como o fundo de pensão do BB é minoritário e a Vale não tem mais um bloco de controle, tendo melhorado muito sua governança desde que Dilma foi defenestrada em 2016, inclusive para a escolha de seus executivos, ficou bem mais difícil para o governo conseguir colocar um nome de seu interesse na presidência.

Cercadinho de Brasília

É certo que o setor de mineração depende muito do governo de plantão, para obter licenças ambientais e concessões de portos e ferrovias, e é complicado bater de frente com os governantes. Mas o exemplo da Eletrobrás, que acabou de incorporar Furnas à revelia de Lula, do PT e de seus aliados, está aí para mostrar que o governo pode muito, mas não pode tudo.

Diante disso, só o tempo vai dizer se a Vale deixará sua independência de lado e voltará a atuar como um cercadinho de Brasília, como ocorreu no governo Dilma. O que se pode dizer desde já, sem medo de errar, é que, se puderem, Lula e seus “companheiros” vão tomar conta da Vale, da Eletrobrás e de tudo o mais que possa contribuir para implementar sua política intervencionista na economia e para seu projeto hegemônico de poder.

Opinião por José Fucs

É repórter especial do Estadão. Jornalista desde 1983, foi repórter especial e editor de Economia da revista Época, editor-chefe da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, editor-executivo da Exame e repórter do Estadão, da Gazeta Mercantil e da Folha. Leia publicações anteriores a 18/4/23 em www.estadao.com.br/politica/blog-do-fucs/

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