As incertezas existentes em relação à política econômica do governo e as posições controvertidas assumidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área externa já estão se refletindo de forma negativa no fluxo de investimentos estrangeiros para o Brasil.
Segundo os dados mais recentes do Banco Central, os investimentos estrangeiros no País (IDP) caíram 28,3% nos primeiros quatro meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado, de US$ 33,9 bilhões líquidos (descontadas as saídas) para US$ 24,3 bilhões. Em abril deste ano, isoladamente, a queda dos aportes externos no setor produtivo chegou a 70,3% em relação ao mesmo mês de 2022, de US$ 11,1 bilhões para R$ 3,3 bilhões.
Os números foram divulgados pelo BC na sexta-feira, 26 de maio, mas houve pouco destaque no noticiário para o tombo ocorrido neste quesito no atual governo. No geral, as informações se concentraram em dados absolutos, sem cálculos de porcentagens e sem comparações entre os resultados obtidos nos governos Lula e Bolsonaro. Os dados acumulados em 12 meses, que englobam as duas gestões, podem ser úteis para sinalizar uma tendência de mais longo prazo, mas acabam mascarando as diferenças entre elas.
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No governo anterior, quando havia qualquer soluço nos investimentos estrangeiros, multiplicavam-se analistas dizendo que o Brasil havia se tornado um “pária do mercado global” e que ninguém queria mais investir aqui. Em 2022, porém, a narrativa predominante se chocou com a realidade, colocando em xeque a credibilidade da turma. Os investimentos líquidos no País alcançaram US$ 91,5 bilhões, de acordo com o BC, o maior volume em dez anos e o terceiro maior em todos os tempos, após a retração ocorrida nos fluxos de investimentos globais durante a pandemia, em 2020 e 2021.
Neste ano, o tombo registrado até agora no IDP coloca em xeque também a narrativa de que os investidores estrangeiros teriam “menos medo de Lula do que de Bolsonaro”, que prosperou na arena empresarial e no mercado financeiro durante a campanha eleitoral – e não dá para fazer vistas grossas em relação à situação. A questão é até que ponto, diante do perfil assumido pelo atual governo na economia e na política externa, o quadro poderá se reverter no futuro.