O Estadão noticiou neste domingo, 7, que a Faria Lima passou a ver o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como “voz moderada do governo contra o PT gastador”.
Diante dos pendores perdulários demonstrados até agora por Lula e seus aliados, dá até para entender que a turma do mercado procure se apegar ao que lhe parece ser uma voz mais sensata no que se refere à economia e em especial às contas públicas. Em meio às adversidades, na vida ou na política, é comum a gente ficar mais suscetível ao autoengano e se iludir com tudo o que nos parece representar uma esperança para a superação dos problemas.
Boa parte da militância petista também parece ver o ministro e ex-prefeito de São Paulo como um obstáculo para a realização de gastos públicos sem lastro, que caracterizou os governos petistas no passado, principalmente no segundo mandato de Lula e nos dois mandatos de Dilma, e para a implementação de outras políticas controvertidas defendidas pelo PT e pela esquerda.
Haddad, porém, representa uma espécie de alter ego de Lula na economia e não propõe nada que não tenha a aprovação do chefe e que esteja em desacordo com as ideias heterodoxas do presidente na área. Por isso mesmo, goza da total confiança de Lula e foi nomeado por ele para o cargo.
Foi por isso também que Lula indicou Haddad para representá-lo como candidato do PT à Presidência em 2018, quando estava preso em Curitiba e impedido de participar do pleito, e para ajudá-lo na disputa de 2022 no principal colégio eleitoral do País, como candidato do partido ao governo de São Paulo.
Ainda que seja o responsável direto pela apresentação do novo arcabouço fiscal que o governo pretende implementar para substituir o teto de gastos, Haddad centrou sua proposta no aumento de receitas e pouco ou nada propôs para reduzir as despesas, apesar de a carga tributária, de 35% do PIB (Produto Interno Bruto), já ser a mais alta entre os países emergentes.
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Quando o grupo de transição propôs a PEC da Gastança ainda antes da posse de Lula, para liberar R$ 200 bilhões fora do Orçamento de 2023, Haddad assinou embaixo, sem qualquer constrangimento. Ele também faz coro às críticas de Lula à política monetária praticada pelo Banco Central e apoia, “com a fiscalização adequada”, o fim da Lei das Estatais e a volta da nomeação de políticos para a direção das empresas públicas. Só recuou da taxação de produtos de até US$ 50, dominada por plataformas chinesas como Shein e Alibaba, em razão da repercussão negativa da medida junto à opinião pública, em especial à classe média.
Embora tenha silenciado sobre as mudanças propostas pelo governo no novo marco do saneamento, derrubadas na Câmara, e sobre a revisão da reforma trabalhista, defendida pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, Haddad já se manifestou favoravelmente às medidas no passado e nada indica que tenha mudado de opinião. Também se comprometeu com sindicalistas, na campanha de 2018, a não privatizar a Eletrobras, que acabou repassada à iniciativa privada em 2022, e provavelmente apoia também a iniciativa do governo para tentar reestatizar a companhia.
Como se pode observar, Haddad traz no sangue o DNA do PT. Apesar de fazer o estilo cool e de conquistar admiradores entre executivos do mercado financeiro, assina embaixo das bruxarias defendidas por Lula para a economia. Imaginar que ele é uma espécie de “dissidente” dentro do PT e uma voz conflitante com a de Lula é ignorar sua proximidade com o presidente e seu papel de protagonista na legenda e no governo. Só dá para cair nessa na base do “me engana que eu gosto”, como diz a expressão popular.