Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Cenário se mostra desafiador no mercado financeiro


Eventos podem gerar pressão sobre as taxas de juros e de câmbio, aumento da inflação e volta do aperto monetário

Por José Márcio de Camargo

Os preços dos ativos financeiros no Brasil mostraram forte deterioração desde o início de agosto: desvalorização do real, aumento das taxas de juros dos títulos longos, queda dos preços das ações. O que está por trás deste movimento e quais suas consequências?

Em primeiro lugar, existe grande incerteza quanto à capacidade e à vontade política de cumprir as metas do arcabouço fiscal. Em especial, uma ala importante do governo e do Partido dos Trabalhadores tenta convencer o presidente Lula da Silva de que atingir a meta de déficit zero exigirá forte contingenciamento de gastos em 2024, um ano eleitoral, e, por essa razão, a meta deveria ser afrouxada. O Executivo não mostra ter compromisso com redução de gastos e o Legislativo começa a ter um comportamento similar, o que aumenta a percepção de que será difícil aprovar a agenda de aumento de impostos necessária para atingir a meta. Mudar a meta antes de que ela seja atingida seria particularmente negativo. Afinal, para que serve a meta se ela é flexível?

Segundo, o cenário internacional é bastante desafiador. Apesar do forte aumento das taxas de juros pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, a economia americana tem se mostrado particularmente resiliente e o mercado de trabalho continua muito apertado, com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos e aumentos de salários incompatíveis com a meta de 2,0% de inflação. Apesar de as taxas de juros estarem em níveis historicamente elevados (entre 5,25% e 5,50% ao ano), vários diretores do banco central têm sugerido mais aumentos de juros.

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Ministério da Fazenda tem meta de zerar rombo fiscal em 2024; no entanto, alas do PT demonstram pouca vontade política de cumpri-la Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Terceiro, o déficit primário do governo americano deverá atingir 3% do PIB em 2024, o Federal Reserve está vendendo títulos do Tesouro acumulados durante a pandemia, o aumento de juros no Japão tem gerado venda de títulos americanos pelos investidores japoneses e os problemas geopolíticos entre Estados Unidos e China levaram o governo chinês a reduzir suas reservas em títulos do governo americano. Estes eventos tendem a gerar pressão altista sobre a taxa de juros, e deslocamento dos investidores de títulos e ações de países emergentes para títulos do Tesouro americano, gerando forte pressão sobre as taxas de juros e as taxas de câmbio nos emergentes, aumento da taxa de inflação e, no limite, volta do aperto monetário. A manutenção da Selic em dois dígitos no final do processo está se tornando o cenário mais provável.

Os preços dos ativos financeiros no Brasil mostraram forte deterioração desde o início de agosto: desvalorização do real, aumento das taxas de juros dos títulos longos, queda dos preços das ações. O que está por trás deste movimento e quais suas consequências?

Em primeiro lugar, existe grande incerteza quanto à capacidade e à vontade política de cumprir as metas do arcabouço fiscal. Em especial, uma ala importante do governo e do Partido dos Trabalhadores tenta convencer o presidente Lula da Silva de que atingir a meta de déficit zero exigirá forte contingenciamento de gastos em 2024, um ano eleitoral, e, por essa razão, a meta deveria ser afrouxada. O Executivo não mostra ter compromisso com redução de gastos e o Legislativo começa a ter um comportamento similar, o que aumenta a percepção de que será difícil aprovar a agenda de aumento de impostos necessária para atingir a meta. Mudar a meta antes de que ela seja atingida seria particularmente negativo. Afinal, para que serve a meta se ela é flexível?

Segundo, o cenário internacional é bastante desafiador. Apesar do forte aumento das taxas de juros pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, a economia americana tem se mostrado particularmente resiliente e o mercado de trabalho continua muito apertado, com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos e aumentos de salários incompatíveis com a meta de 2,0% de inflação. Apesar de as taxas de juros estarem em níveis historicamente elevados (entre 5,25% e 5,50% ao ano), vários diretores do banco central têm sugerido mais aumentos de juros.

Ministério da Fazenda tem meta de zerar rombo fiscal em 2024; no entanto, alas do PT demonstram pouca vontade política de cumpri-la Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Terceiro, o déficit primário do governo americano deverá atingir 3% do PIB em 2024, o Federal Reserve está vendendo títulos do Tesouro acumulados durante a pandemia, o aumento de juros no Japão tem gerado venda de títulos americanos pelos investidores japoneses e os problemas geopolíticos entre Estados Unidos e China levaram o governo chinês a reduzir suas reservas em títulos do governo americano. Estes eventos tendem a gerar pressão altista sobre a taxa de juros, e deslocamento dos investidores de títulos e ações de países emergentes para títulos do Tesouro americano, gerando forte pressão sobre as taxas de juros e as taxas de câmbio nos emergentes, aumento da taxa de inflação e, no limite, volta do aperto monetário. A manutenção da Selic em dois dígitos no final do processo está se tornando o cenário mais provável.

Os preços dos ativos financeiros no Brasil mostraram forte deterioração desde o início de agosto: desvalorização do real, aumento das taxas de juros dos títulos longos, queda dos preços das ações. O que está por trás deste movimento e quais suas consequências?

Em primeiro lugar, existe grande incerteza quanto à capacidade e à vontade política de cumprir as metas do arcabouço fiscal. Em especial, uma ala importante do governo e do Partido dos Trabalhadores tenta convencer o presidente Lula da Silva de que atingir a meta de déficit zero exigirá forte contingenciamento de gastos em 2024, um ano eleitoral, e, por essa razão, a meta deveria ser afrouxada. O Executivo não mostra ter compromisso com redução de gastos e o Legislativo começa a ter um comportamento similar, o que aumenta a percepção de que será difícil aprovar a agenda de aumento de impostos necessária para atingir a meta. Mudar a meta antes de que ela seja atingida seria particularmente negativo. Afinal, para que serve a meta se ela é flexível?

Segundo, o cenário internacional é bastante desafiador. Apesar do forte aumento das taxas de juros pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, a economia americana tem se mostrado particularmente resiliente e o mercado de trabalho continua muito apertado, com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos e aumentos de salários incompatíveis com a meta de 2,0% de inflação. Apesar de as taxas de juros estarem em níveis historicamente elevados (entre 5,25% e 5,50% ao ano), vários diretores do banco central têm sugerido mais aumentos de juros.

Ministério da Fazenda tem meta de zerar rombo fiscal em 2024; no entanto, alas do PT demonstram pouca vontade política de cumpri-la Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Terceiro, o déficit primário do governo americano deverá atingir 3% do PIB em 2024, o Federal Reserve está vendendo títulos do Tesouro acumulados durante a pandemia, o aumento de juros no Japão tem gerado venda de títulos americanos pelos investidores japoneses e os problemas geopolíticos entre Estados Unidos e China levaram o governo chinês a reduzir suas reservas em títulos do governo americano. Estes eventos tendem a gerar pressão altista sobre a taxa de juros, e deslocamento dos investidores de títulos e ações de países emergentes para títulos do Tesouro americano, gerando forte pressão sobre as taxas de juros e as taxas de câmbio nos emergentes, aumento da taxa de inflação e, no limite, volta do aperto monetário. A manutenção da Selic em dois dígitos no final do processo está se tornando o cenário mais provável.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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