Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Percepção dos investidores é que o Brasil está à deriva


Sinais de deterioração do cenário da economia brasileira se intensificaram rapidamente nas últimas semanas

Por José Márcio de Camargo

Os sinais de deterioração do cenário da economia brasileira se intensificaram rapidamente nas últimas semanas. O processo teve início com o envio ao Congresso Nacional da Medida Provisória 1202, que acabava com o programa de apoio ao setor de eventos, o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), e reonerava a folha de pagamentos de 17 setores e das prefeituras das cidades pequenas e médias já em 2024, que foi considerado uma afronta pelos parlamentares. O Legislativo reagiu de forma dura, forçando o Executivo a substituir a MP por projetos de lei nos quais o fim do Perse e a desoneração das folhas de pagamentos fossem feitos paulatinamente, com início em 2025.

A MP 1227, que proibia a utilização de créditos de PIS/Cofins para pagar outros impostos, gerou forte reação entre os empresários e fez com que o presidente do Congresso a devolvesse para o Executivo, sem colocá-la em votação.

Esses episódios mostram a mudança no equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo, em favor do Legislativo, que parece ainda não ter sido assimilada pelo governo.

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Neste ínterim, o presidente da Petrobras foi demitido, as metas de superávit primário para 2025/2027 foram afrouxadas, a reunião do Copom decidiu reduzir a Selic em 0,25 ponto de porcentagem, com placar dividido, com quatro votos a favor de queda maior, de -0,5 ponto de porcentagem, dados pelos membros do Copom indicados pelo governo atual, e a tragédia do Rio Grande do Sul tornou o cenário fiscal ainda mais desafiador. Em menos de um mês, o dólar mostrou desvalorização próxima a 10%.

Mudança no equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo, em favor do Legislativo, parece ainda não ter sido assimilada pelo governo Foto: Wilton Júnior/Estadão

Com metas fiscais pouco críveis, arcabouço fiscal questionado e expectativas para a inflação desancoradas, nossas estimativas mostram que a taxa neutra de juros da economia brasileira, a taxa que mantém a inflação constante, atingiu 5,8% ao ano. Com a inflação próxima a 4,0% ao ano, para manter a política monetária contracionista e levar a inflação para a meta, a Selic precisará permanecer em dois dígitos. O atual ciclo de queda se encerrou na última reunião do Copom, em 10,50% ao ano.

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Finalmente, o leilão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) destinado à compra de arroz importado foi cancelado por indícios de corrupção e o ex-secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura e Pecuária, Neri Geller, demitido.

Sem âncoras fiscal e monetária, sem poder para implementar as políticas de aumento de impostos para cobrir o déficit público e um Executivo politicamente fraco, a percepção dos investidores é que o País está à deriva.

Os sinais de deterioração do cenário da economia brasileira se intensificaram rapidamente nas últimas semanas. O processo teve início com o envio ao Congresso Nacional da Medida Provisória 1202, que acabava com o programa de apoio ao setor de eventos, o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), e reonerava a folha de pagamentos de 17 setores e das prefeituras das cidades pequenas e médias já em 2024, que foi considerado uma afronta pelos parlamentares. O Legislativo reagiu de forma dura, forçando o Executivo a substituir a MP por projetos de lei nos quais o fim do Perse e a desoneração das folhas de pagamentos fossem feitos paulatinamente, com início em 2025.

A MP 1227, que proibia a utilização de créditos de PIS/Cofins para pagar outros impostos, gerou forte reação entre os empresários e fez com que o presidente do Congresso a devolvesse para o Executivo, sem colocá-la em votação.

Esses episódios mostram a mudança no equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo, em favor do Legislativo, que parece ainda não ter sido assimilada pelo governo.

Neste ínterim, o presidente da Petrobras foi demitido, as metas de superávit primário para 2025/2027 foram afrouxadas, a reunião do Copom decidiu reduzir a Selic em 0,25 ponto de porcentagem, com placar dividido, com quatro votos a favor de queda maior, de -0,5 ponto de porcentagem, dados pelos membros do Copom indicados pelo governo atual, e a tragédia do Rio Grande do Sul tornou o cenário fiscal ainda mais desafiador. Em menos de um mês, o dólar mostrou desvalorização próxima a 10%.

Mudança no equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo, em favor do Legislativo, parece ainda não ter sido assimilada pelo governo Foto: Wilton Júnior/Estadão

Com metas fiscais pouco críveis, arcabouço fiscal questionado e expectativas para a inflação desancoradas, nossas estimativas mostram que a taxa neutra de juros da economia brasileira, a taxa que mantém a inflação constante, atingiu 5,8% ao ano. Com a inflação próxima a 4,0% ao ano, para manter a política monetária contracionista e levar a inflação para a meta, a Selic precisará permanecer em dois dígitos. O atual ciclo de queda se encerrou na última reunião do Copom, em 10,50% ao ano.

Finalmente, o leilão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) destinado à compra de arroz importado foi cancelado por indícios de corrupção e o ex-secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura e Pecuária, Neri Geller, demitido.

Sem âncoras fiscal e monetária, sem poder para implementar as políticas de aumento de impostos para cobrir o déficit público e um Executivo politicamente fraco, a percepção dos investidores é que o País está à deriva.

Os sinais de deterioração do cenário da economia brasileira se intensificaram rapidamente nas últimas semanas. O processo teve início com o envio ao Congresso Nacional da Medida Provisória 1202, que acabava com o programa de apoio ao setor de eventos, o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), e reonerava a folha de pagamentos de 17 setores e das prefeituras das cidades pequenas e médias já em 2024, que foi considerado uma afronta pelos parlamentares. O Legislativo reagiu de forma dura, forçando o Executivo a substituir a MP por projetos de lei nos quais o fim do Perse e a desoneração das folhas de pagamentos fossem feitos paulatinamente, com início em 2025.

A MP 1227, que proibia a utilização de créditos de PIS/Cofins para pagar outros impostos, gerou forte reação entre os empresários e fez com que o presidente do Congresso a devolvesse para o Executivo, sem colocá-la em votação.

Esses episódios mostram a mudança no equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo, em favor do Legislativo, que parece ainda não ter sido assimilada pelo governo.

Neste ínterim, o presidente da Petrobras foi demitido, as metas de superávit primário para 2025/2027 foram afrouxadas, a reunião do Copom decidiu reduzir a Selic em 0,25 ponto de porcentagem, com placar dividido, com quatro votos a favor de queda maior, de -0,5 ponto de porcentagem, dados pelos membros do Copom indicados pelo governo atual, e a tragédia do Rio Grande do Sul tornou o cenário fiscal ainda mais desafiador. Em menos de um mês, o dólar mostrou desvalorização próxima a 10%.

Mudança no equilíbrio de poder entre o Legislativo e o Executivo, em favor do Legislativo, parece ainda não ter sido assimilada pelo governo Foto: Wilton Júnior/Estadão

Com metas fiscais pouco críveis, arcabouço fiscal questionado e expectativas para a inflação desancoradas, nossas estimativas mostram que a taxa neutra de juros da economia brasileira, a taxa que mantém a inflação constante, atingiu 5,8% ao ano. Com a inflação próxima a 4,0% ao ano, para manter a política monetária contracionista e levar a inflação para a meta, a Selic precisará permanecer em dois dígitos. O atual ciclo de queda se encerrou na última reunião do Copom, em 10,50% ao ano.

Finalmente, o leilão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) destinado à compra de arroz importado foi cancelado por indícios de corrupção e o ex-secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura e Pecuária, Neri Geller, demitido.

Sem âncoras fiscal e monetária, sem poder para implementar as políticas de aumento de impostos para cobrir o déficit público e um Executivo politicamente fraco, a percepção dos investidores é que o País está à deriva.

Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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