Professor da FEA-USP e membro da Academia Paulista de Letras, José Pastore escreve mensalmente

Opinião|Tecnologia contribui para encolhimento da classe média e avanço do populismo


Mobilidade social descendente é um processo doloroso e que abre espaço para discursos populista prosperarem

Por José Pastore
Atualização:

O recém-lançado livro de Moisés Naím (A Vingança do Poder, Cultrix, 2023) mostra à exaustão o estrago que o populismo vem provocando nas democracias modernas, da Argentina aos Estados Unidos, passando por Venezuela, Hungria, Turquia, Filipinas e Brasil.

O que explica a ascensão dos populistas em sociedades tão diferentes? Naím atribui o fenômeno à tecnologia, demografia, urbanização, informação e globalização. Não disputo essa etiologia, mas quero me deter no papel das tecnologias nas mudanças das profissões e no mercado de trabalho em geral.

As primeiras tecnologias substituíam o trabalho manual e repetitivo. Mas, de repente, passaram a substituir o trabalho intelectual e criativo. Ao entrar nesse campo, começaram a destruir muitas profissões de classe média. Nos últimos 20 anos, a classe média da Europa encolheu 7,77%; a classe alta aumentou 1,58%; e a baixa, 6,19%. É a chamada polarização do trabalho. Entre nós, 27% dos brasileiros desceram na escala social.

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Tecnologia tem substituído funções cada vez mais complexas e empurrado trabalhadores para a informalidade Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

O que a tecnologia tem que ver com o encolhimento da classe média e com o populismo? Dou como exemplo a entrada da automação no almoxarifado de um grande supermercado e a substituição do trabalho do gerente (de classe média) pelo controle do estoque realizado pelo caixa que registra as vendas. A maioria desses gerentes desce na estrutura ocupacional e na própria estrutura social. Quem nunca tomou um Uber dirigido por um engenheiro?

A mobilidade descendente é um processo doloroso, que gera decepção, desilusão e desgosto. Frustradas, as pessoas são presas fáceis dos populistas que prometem restaurar o mundo perdido e abrir um mundo novo. Mas, com o uso e abuso do assistencialismo, eles arrasam a economia e corroem as instituições.

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Ou seja, a modernização tecnológica impacta a estrutura social ao promover poucos e rebaixar muitos. Com isso, a sociedade vira um caldo de cultura ideal para a propagação do populismo.

É um problema muito complicado, pois a última coisa a fazer é demonizar as tecnologias que promovem o crescimento econômico e melhoram a nossa vida. As soluções terão de ser buscadas numa regulação inteligente e, sobretudo, na melhoria da qualidade da educação. Daqui para a frente, as pessoas terão de se educar a vida toda – fácil de escrever e difícil de fazer.

O recém-lançado livro de Moisés Naím (A Vingança do Poder, Cultrix, 2023) mostra à exaustão o estrago que o populismo vem provocando nas democracias modernas, da Argentina aos Estados Unidos, passando por Venezuela, Hungria, Turquia, Filipinas e Brasil.

O que explica a ascensão dos populistas em sociedades tão diferentes? Naím atribui o fenômeno à tecnologia, demografia, urbanização, informação e globalização. Não disputo essa etiologia, mas quero me deter no papel das tecnologias nas mudanças das profissões e no mercado de trabalho em geral.

As primeiras tecnologias substituíam o trabalho manual e repetitivo. Mas, de repente, passaram a substituir o trabalho intelectual e criativo. Ao entrar nesse campo, começaram a destruir muitas profissões de classe média. Nos últimos 20 anos, a classe média da Europa encolheu 7,77%; a classe alta aumentou 1,58%; e a baixa, 6,19%. É a chamada polarização do trabalho. Entre nós, 27% dos brasileiros desceram na escala social.

Tecnologia tem substituído funções cada vez mais complexas e empurrado trabalhadores para a informalidade Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

O que a tecnologia tem que ver com o encolhimento da classe média e com o populismo? Dou como exemplo a entrada da automação no almoxarifado de um grande supermercado e a substituição do trabalho do gerente (de classe média) pelo controle do estoque realizado pelo caixa que registra as vendas. A maioria desses gerentes desce na estrutura ocupacional e na própria estrutura social. Quem nunca tomou um Uber dirigido por um engenheiro?

A mobilidade descendente é um processo doloroso, que gera decepção, desilusão e desgosto. Frustradas, as pessoas são presas fáceis dos populistas que prometem restaurar o mundo perdido e abrir um mundo novo. Mas, com o uso e abuso do assistencialismo, eles arrasam a economia e corroem as instituições.

Ou seja, a modernização tecnológica impacta a estrutura social ao promover poucos e rebaixar muitos. Com isso, a sociedade vira um caldo de cultura ideal para a propagação do populismo.

É um problema muito complicado, pois a última coisa a fazer é demonizar as tecnologias que promovem o crescimento econômico e melhoram a nossa vida. As soluções terão de ser buscadas numa regulação inteligente e, sobretudo, na melhoria da qualidade da educação. Daqui para a frente, as pessoas terão de se educar a vida toda – fácil de escrever e difícil de fazer.

O recém-lançado livro de Moisés Naím (A Vingança do Poder, Cultrix, 2023) mostra à exaustão o estrago que o populismo vem provocando nas democracias modernas, da Argentina aos Estados Unidos, passando por Venezuela, Hungria, Turquia, Filipinas e Brasil.

O que explica a ascensão dos populistas em sociedades tão diferentes? Naím atribui o fenômeno à tecnologia, demografia, urbanização, informação e globalização. Não disputo essa etiologia, mas quero me deter no papel das tecnologias nas mudanças das profissões e no mercado de trabalho em geral.

As primeiras tecnologias substituíam o trabalho manual e repetitivo. Mas, de repente, passaram a substituir o trabalho intelectual e criativo. Ao entrar nesse campo, começaram a destruir muitas profissões de classe média. Nos últimos 20 anos, a classe média da Europa encolheu 7,77%; a classe alta aumentou 1,58%; e a baixa, 6,19%. É a chamada polarização do trabalho. Entre nós, 27% dos brasileiros desceram na escala social.

Tecnologia tem substituído funções cada vez mais complexas e empurrado trabalhadores para a informalidade Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

O que a tecnologia tem que ver com o encolhimento da classe média e com o populismo? Dou como exemplo a entrada da automação no almoxarifado de um grande supermercado e a substituição do trabalho do gerente (de classe média) pelo controle do estoque realizado pelo caixa que registra as vendas. A maioria desses gerentes desce na estrutura ocupacional e na própria estrutura social. Quem nunca tomou um Uber dirigido por um engenheiro?

A mobilidade descendente é um processo doloroso, que gera decepção, desilusão e desgosto. Frustradas, as pessoas são presas fáceis dos populistas que prometem restaurar o mundo perdido e abrir um mundo novo. Mas, com o uso e abuso do assistencialismo, eles arrasam a economia e corroem as instituições.

Ou seja, a modernização tecnológica impacta a estrutura social ao promover poucos e rebaixar muitos. Com isso, a sociedade vira um caldo de cultura ideal para a propagação do populismo.

É um problema muito complicado, pois a última coisa a fazer é demonizar as tecnologias que promovem o crescimento econômico e melhoram a nossa vida. As soluções terão de ser buscadas numa regulação inteligente e, sobretudo, na melhoria da qualidade da educação. Daqui para a frente, as pessoas terão de se educar a vida toda – fácil de escrever e difícil de fazer.

Opinião por José Pastore

Professor da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP. É membro da Academia Paulista de Letras

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