É absolutamente correta a hipótese básica de Jorge Caldeira (autor de Brasil - Paraíso Restaurável) de que a busca da meta de carbono zero no mundo abre uma oportunidade gigante para o Brasil, em pelo menos quatro aspectos.
A energia renovável (eólica, solar e biomassa) pode crescer de forma extraordinária tanto em determinadas regiões, como parques eólicos no Nordeste, quanto de forma descentralizada em telhados, propriedades agrícolas e sobre as águas. A rigor, o Brasil inteiro se presta a isso. Em relação ao mundo, nosso potencial é muito maior que nossa participação na população ou no PIB globais.
A energia nova é mais barata, sem efeitos ambientais negativos e irá rapidamente derrubar o sistema velho, especialmente as térmicas mais caras.
Em consequência, é indispensável uma revisão da regulação do setor elétrico, sob pena da implosão do sistema.
Isso envolverá reduzir vários dos subsídios existentes, muitos pagos pela CDE, que mantém uma persistente elevação das tarifas do mercado cativo, tornando-as inviáveis. É preciso também dar fim ao projeto das “térmicas jabutis” (até porque a disponibilidade de gás natural no Brasil é limitada) e de outros produtores de alto custo, sob o falso argumento de que só assim a intermitência de eólica e solar pode ser superada.
Hidroeletricidade, transmissão e o desenvolvimento da tecnologia de baterias permitirão à nova energia sustentável entrar na base do sistema elétrico, barateando as tarifas com benefícios óbvios para a produção de bens e para as famílias.
Os financiamentos em investimentos ESG globais são muito grandes perto da demanda potencial do mercado brasileiro, e irão acelerar os novos projetos, especialmente quando os juros caírem nos EUA e no Brasil.
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A demanda internacional por energéticos novos será enorme e vai criar oportunidades de exportação, que em poucos anos crescerão muito. Falamos aqui de amônia, hidrogênio verde, SAF e etanol. Metais e outros materiais com reduzidos teores de carbono também terão um papel. Alguns produtos serão carbono negativo.
Juntos com as commodities agrícolas, esses vetores trarão crescimento econômico e darão oportunidades mais sólidas para a indústria.
Para tanto, será indispensável, no mínimo, atingirmos desmatamento ilegal zero na Amazônia e um avanço decisivo da pauta ESG.
Esse movimento reforçará o crescimento do interior, mas tornará a situação dos grandes aglomerados urbanos mais difícil ainda. Mas isso é assunto para outro dia.