Economista e sócio da MB Associados

Opinião|Cautela em excesso também mata


O BC ficou atrás da curva até fevereiro de 2022; temo que estejamos agora na situação inversa

Por José Roberto Mendonça de Barros

Cautela é um conceito relativo e escorregadio. A mesma decisão é cautelosa para uns e ousada para outros. Falo, naturalmente, da decisão do Banco Central sobre os juros.

Lembro que, em agosto de 2020, o BC reduziu a Selic para 2% no exato momento em que a formidável política expansionista em resposta à emergência da covid-19 avançava, e a inflação em 12 meses estava em 2,4%. A taxa básica de juros ficou então estável até fevereiro de 2021, quando a inflação já estava em 4,9%.

O BC ficou atrás da curva até fevereiro de 2022. Temo que estejamos agora na situação inversa. Me parece que o Banco Central perdeu o timing para reconhecer que temos uma enorme deflação de bens (é só olhar os preços de bens agrícolas e industriais no atacado) e uma lenta e segura desinflação de serviços. Além disso, o dólar caiu para abaixo de R$ 5 e, dado o robusto fluxo cambial esperado, lá deve ficar.

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Também há uma subestimação de o que representa o arcabouço fiscal, ponto finamente apreendido por Sergio Abranches: trata-se de uma regra fiscal apresentada e defendida por um veterano militante petista, um verdadeiro “breakthrough”.

Finalmente, para os analistas que mencionaram como escusa para qualquer sinal sobre o curso futuro dos juros a questão da fixação da nova meta fiscal, seria útil lembrar que a reunião do Conselho Monetário Nacional já está combinada entre seus participantes.A cautela tem muitos custos, na ida e na volta.

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* * *

Consolidou-se um cenário muito mais construtivo a partir da notável safra deste ano, que poderá chegar perto de 320 milhões de toneladas. De um lado, apenas o efeito direto e indireto dessa produção já elevou as estimativas do PIB para a faixa de 2% ao ano.

As exportações estão muito aceleradas, incrementando muito o correspondente fluxo de divisas, que reduziu o valor do dólar.

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Mesmo assim, os preços no atacado ficaram muito pressionados e a inflação de alimentos acelerou sua queda. Com isso, o IPCA deve crescer na faixa de 5%.

A aprovação da regra fiscal e o avanço da reforma tributária completam a melhora do ambiente para novos investimentos. Há uma mudança da percepção das agências de classificação de riscos.

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Tudo resolvido, então? Certamente que não. Ainda não temos todas as condições para um crescimento sustentável. Temos um governo politicamente fraco, desorganizado e sem estratégia. Um governo no qual política local de Bahia, Alagoas e Amapá se sobrepõe à visão nacional. Um governo que sonha em reproduzir o passado. Não virá daí a sustentabilidade de nosso crescimento

Cautela é um conceito relativo e escorregadio. A mesma decisão é cautelosa para uns e ousada para outros. Falo, naturalmente, da decisão do Banco Central sobre os juros.

Lembro que, em agosto de 2020, o BC reduziu a Selic para 2% no exato momento em que a formidável política expansionista em resposta à emergência da covid-19 avançava, e a inflação em 12 meses estava em 2,4%. A taxa básica de juros ficou então estável até fevereiro de 2021, quando a inflação já estava em 4,9%.

O BC ficou atrás da curva até fevereiro de 2022. Temo que estejamos agora na situação inversa. Me parece que o Banco Central perdeu o timing para reconhecer que temos uma enorme deflação de bens (é só olhar os preços de bens agrícolas e industriais no atacado) e uma lenta e segura desinflação de serviços. Além disso, o dólar caiu para abaixo de R$ 5 e, dado o robusto fluxo cambial esperado, lá deve ficar.

Também há uma subestimação de o que representa o arcabouço fiscal, ponto finamente apreendido por Sergio Abranches: trata-se de uma regra fiscal apresentada e defendida por um veterano militante petista, um verdadeiro “breakthrough”.

Finalmente, para os analistas que mencionaram como escusa para qualquer sinal sobre o curso futuro dos juros a questão da fixação da nova meta fiscal, seria útil lembrar que a reunião do Conselho Monetário Nacional já está combinada entre seus participantes.A cautela tem muitos custos, na ida e na volta.

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Consolidou-se um cenário muito mais construtivo a partir da notável safra deste ano, que poderá chegar perto de 320 milhões de toneladas. De um lado, apenas o efeito direto e indireto dessa produção já elevou as estimativas do PIB para a faixa de 2% ao ano.

As exportações estão muito aceleradas, incrementando muito o correspondente fluxo de divisas, que reduziu o valor do dólar.

Mesmo assim, os preços no atacado ficaram muito pressionados e a inflação de alimentos acelerou sua queda. Com isso, o IPCA deve crescer na faixa de 5%.

A aprovação da regra fiscal e o avanço da reforma tributária completam a melhora do ambiente para novos investimentos. Há uma mudança da percepção das agências de classificação de riscos.

Tudo resolvido, então? Certamente que não. Ainda não temos todas as condições para um crescimento sustentável. Temos um governo politicamente fraco, desorganizado e sem estratégia. Um governo no qual política local de Bahia, Alagoas e Amapá se sobrepõe à visão nacional. Um governo que sonha em reproduzir o passado. Não virá daí a sustentabilidade de nosso crescimento

Cautela é um conceito relativo e escorregadio. A mesma decisão é cautelosa para uns e ousada para outros. Falo, naturalmente, da decisão do Banco Central sobre os juros.

Lembro que, em agosto de 2020, o BC reduziu a Selic para 2% no exato momento em que a formidável política expansionista em resposta à emergência da covid-19 avançava, e a inflação em 12 meses estava em 2,4%. A taxa básica de juros ficou então estável até fevereiro de 2021, quando a inflação já estava em 4,9%.

O BC ficou atrás da curva até fevereiro de 2022. Temo que estejamos agora na situação inversa. Me parece que o Banco Central perdeu o timing para reconhecer que temos uma enorme deflação de bens (é só olhar os preços de bens agrícolas e industriais no atacado) e uma lenta e segura desinflação de serviços. Além disso, o dólar caiu para abaixo de R$ 5 e, dado o robusto fluxo cambial esperado, lá deve ficar.

Também há uma subestimação de o que representa o arcabouço fiscal, ponto finamente apreendido por Sergio Abranches: trata-se de uma regra fiscal apresentada e defendida por um veterano militante petista, um verdadeiro “breakthrough”.

Finalmente, para os analistas que mencionaram como escusa para qualquer sinal sobre o curso futuro dos juros a questão da fixação da nova meta fiscal, seria útil lembrar que a reunião do Conselho Monetário Nacional já está combinada entre seus participantes.A cautela tem muitos custos, na ida e na volta.

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Consolidou-se um cenário muito mais construtivo a partir da notável safra deste ano, que poderá chegar perto de 320 milhões de toneladas. De um lado, apenas o efeito direto e indireto dessa produção já elevou as estimativas do PIB para a faixa de 2% ao ano.

As exportações estão muito aceleradas, incrementando muito o correspondente fluxo de divisas, que reduziu o valor do dólar.

Mesmo assim, os preços no atacado ficaram muito pressionados e a inflação de alimentos acelerou sua queda. Com isso, o IPCA deve crescer na faixa de 5%.

A aprovação da regra fiscal e o avanço da reforma tributária completam a melhora do ambiente para novos investimentos. Há uma mudança da percepção das agências de classificação de riscos.

Tudo resolvido, então? Certamente que não. Ainda não temos todas as condições para um crescimento sustentável. Temos um governo politicamente fraco, desorganizado e sem estratégia. Um governo no qual política local de Bahia, Alagoas e Amapá se sobrepõe à visão nacional. Um governo que sonha em reproduzir o passado. Não virá daí a sustentabilidade de nosso crescimento

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros

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