Recentemente, a Agência Internacional de Energia divulgou o relatório Oil 2024 - Analysis and Forecast to 2030. O resultado mais importante, e talvez surpreendente para alguns, é que o crescimento da capacidade de produção de petróleo, que será liderada por produtores fora da Opep+, deve ultrapassar a demanda projetada a partir do ano que vem, atingindo em 2030 um espantoso excesso de 8 milhões de barris por dia!
Espera-se naquela data que o consumo global seja de 105,4 milhões de barris/dia, enquanto a capacidade de produção deverá atingir 113,8 milhões, um crescimento de 6 milhões de barris/dia no período.
Esse aumento da oferta será liderado por países que não pertencem ao cartel, especialmente Estados Unidos, Brasil, Guiana, Canadá e Argentina.
A AIE aponta uma forte mudança no aumento de capacidade em direção ao gás natural, que deve responder por 2,7 milhões de barris/dia de elevação ante 2,6 milhões de petróleo. Uma novidade, os biocombustíveis devem contribuir com 0,62 milhão de barris/dia de capacidade.
Do lado da demanda, deve ser registrado um elevado nível de investimento em melhorias tecnológicas, expressas pelo desenvolvimento de carros híbridos e elétricos, pelo início do processo de descarbonização de indústrias velhas, como metais e cimento, e pelo desenvolvimento comercial de novos combustíveis sustentáveis, inclusive aqueles dirigidos ao transporte aéreo e marítimo.
A demanda de petróleo deve crescer apenas 3,2 milhões de barris/dia entre 2023 e 2030, sendo o remanescente coberto, especialmente, por produtos derivados do gás natural e de biocombustíveis.
Não sem surpresa, o crescimento do mercado estará todo concentrado na Ásia, em especial na China e na Índia, enquanto o consumo de petróleo se reduzirá nas economias avançadas de forma cada vez mais rápida.
O relatório mostra que as oportunidades para o Brasil na área de biocombustíveis continuam enormes, especialmente porque o substituto do querosene de aviação tem uma demanda urgente.
Por outro lado, o excesso de capacidade de produção de petróleo sendo construído pelos elevados investimentos recentes (US$ 538 bilhões apenas em 2023) significa uma pressão baixista quase inexorável sobre os preços.
Lidas em conjunto, forte demanda de biocombustíveis e baixos preços futuros de petróleo colocam em dúvida os propostos investimentos pesados na Foz do Amazonas, que parte do governo e a Petrobras estão decididos a fazer.
As declarações do ministro da área de que queremos ser “os últimos produtores de petróleo” não parecem fazer sentido. Aliás, como muitas coincidências no mundo da energia.