Uma eventual perda da autonomia do Banco Central será culpa exclusiva do presidente do banco, Roberto Campos Neto. A afirmação foi feita nesta terça-feira, 30, pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva. Ele ressaltou, no entanto, não acreditar que isso venha a acontecer.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um crítico contumaz da autonomia do BC, e já chegou a dizer que pretendia reavaliar essa situação ao final do mandato de Campos Neto.
De acordo com Josué, foi o próprio presidente do BC que pediu para ser criticado quando foi votar com a camisa da cor que representava a campanha política de um dos concorrentes (Jair Bolsonaro) na eleição de 2022. “Ele politiza quando aceita ser homenageado (por adversários do governo) estando ainda no cargo de presidente do BC”, disse Josué, durante encontro com jornalistas na sede da Fiesp. Em junho, Campos Neto compareceu a um jantar em sua homenagem oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Ainda, de acordo com o presidente da Fiesp, Roberto Campos Neto politiza quando vai a um evento no exterior e sinaliza que vai aumentar a taxa de juro, desmontando o “forward guidance” (a definição dos passos futuros da política monetária) sem combinar com seus diretores, ao ponto de assustar um deles, que estava ao seu lado.
Josué disse também que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, politiza a questão relacionada aos juros quando faz críticas públicas ao banqueiro central. Mas diz entender a iniciativa de Lula de criticar a política monetária, já que não tem ao seu lado alguém como o ex-vice-presidente da República José Alencar, que assumia o papel de debater o juro no Brasil. “Acho que falta um José Alencar do lado do presidente Lula”, disse Josué ao se referir ao seu pai, falecido em 2011.
Procurado, o Banco Central não se manifestou sobre as declarações.
Indústria sem força política
Segundo o presidente da Fiesp, a indústria da transformação não tem e nunca teve força política para defender seus pleitos. “(A indústria) Só tem prédio bonito, o que para mim é um desperdício”, disse.
Josué reforçou sua defesa da redução da taxa de juros, que na opinião dele, está entre as variáveis que mais contribuem para o baixo crescimento da indústria, ao lado da elevada carga tributária que incide sobre a atividade do setor.
Segundo o executivo, a briga para que o Brasil possa ter uma taxa de juro e uma carga tributária igual para todos os setores não pode ser apenas na indústria, mas de toda a sociedade. Ele lembrou que o Plano Real só foi bem sucedido porque a sociedade à época se uniu para combater a hiperinflação.