Uma das jabuticabas (fruta que só dá no Brasil) que tendem a se esvaziar com a queda dos juros é o consórcio. Depois de 30 anos de expansão, o consórcio já havia levado boa paulada quando o crédito cresceu a partir de 2002. Outras já estão contratadas. O consórcio é uma instituição que dificilmente funcionaria satisfatoriamente numa economia moderna. Sua estrutura ainda se baseia em certos pressupostos que não mais se aplicam no Brasil e em outros que ainda são aceitos, mas são de qualidade duvidosa. Um dos pressupostos que não mais se aplicam é o de que o consórcio ajuda o consumidor a poupar. É uma ideia que parte do princípio de que o brasileiro tem um comportamento compulsivo em relação a dinheiro: se algum chega às mãos dele, ele gasta. Como o consórcio cria uma rotina de desembolsos (pagamento mensal da prestação), a poupança destinada à compra já prevista se faz quase compulsoriamente e isso o empurra a conter seu orçamento. A falha do conceito fica clara quando se considera que qualquer compra à prestação também produz esse efeito. Certas lendas apoiaram o crescimento dos consórcios durante algum tempo. Uma delas é a de que se trata de modalidade de compra sem juros. Levem o nome que levarem, os acréscimos pagos pelo consorciados são altos. Um deles é a tarifa de administração, a comissão paga para a empresa que forma os grupos, produz os sorteios mensais e cobra os consorciados. Estatísticas do Banco Central dão conta de que as tarifas médias de administração nos consórcios de veículos nacionais é de 12,2% e no de motos, de 15,2%. E há também a taxa de risco, em geral de 5%, para dar cobertura a calotes. Só aí já existe acréscimo de 20% ou mais sobre o valor do produto comprado por meio de consórcio. Há, também, os acréscimos disfarçados. Num grupo de três anos - digamos 2009, 2010, 2011 -, o consorciado que tira um carro no início do primeiro ano compra um modelo 2009, mas paga por ele o preço médio de um 2010. E, se ele tirar o veículo ao final do período de três anos, terá perdido o rendimento que obteria se o dinheiro tivesse sido aplicado e usado depois para pagamento à vista. Nas operações de financiamento de veículos novos, os juros caíram. Na média, estão em 2,2% ao mês, entre os mais baixos do mercado, porque foram barateados pela qualidade da garantia (reserva de domínio). Os prazos também vêm sendo esticados para além da média praticada nos consórcios, o que derruba o valor das prestações. É o que ajuda a explicar por que o consórcio, que em dezembro de 2001 alcançava fatia de 15% das vendas de veículos, hoje não chega a 7%. Em 2001, havia 9,6 mil grupos de consórcio de veículos em andamento. Em março deste ano, não passavam de 5,2 mil. Ao final dos anos 80, havia no País 520 administradoras de consórcio. Hoje, são pouco mais de 200. À medida que aumentar o crédito e os juros caírem mais, crescerá o desinteresse pelo consórcio. Comprado a crédito, o produto é entregue imediatamente, sem burocracias, sem risco de cair nas mãos de uma administradora desonesta, como tantas no passado.