Economista

Opinião|Economistas só se preocupam com ‘crescer e dividir o bolo’?


Passei anos vivendo um sentimento paradoxal sobre o que era estudar Economia; demorou até que eu fosse apresentada a outra agenda de pesquisas

Por Laura Karpuska
Atualização:

Quando entrei na Faculdade de Economia da USP, em 2005, tive uma aula inaugural com o ex-ministro Delfim Netto. Lembro de estar sentada no auditório da faculdade, as cadeiras vermelhas, e Delfim com seus característicos óculos de armação grossa e suspensórios. Não lembro de tudo que ele disse, mas recordo uma de suas célebres frases: “Temos de fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Eu, uma jovem mulher, que trabalhava durante o dia e estudava à noite – uma das belezas inclusivas dos cursos noturnos da USP –, me sentia desconectada daquele discurso. Pensei: será que Economia é para mim?

Passei anos na faculdade vivendo um sentimento paradoxal sobre o que era estudar Economia e o que ela significava para mim. Adorava os modelos matemáticos e estatísticos, adorava nossa história sob a perspectiva econômica. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma desconexão com aquilo que eu realmente considerava importante.

Demorou anos até que eu fosse apresentada a uma “outra” Economia. Uma economia que se importava com desigualdade, com diferenças de raça, gênero, representatividade. Uma agenda de pesquisa que, para mim, era nova. Por que as mulheres ganham menos do que os homens? Quais são os efeitos do adiamento da maternidade? Eram tantas perguntas novas que eu nem sabia que a Economia abordava isso. E essa “outra” Economia é, na verdade, a vanguarda nos melhores departamentos do mundo – algo que também se manifesta hoje nos departamentos do Brasil.

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Delfim Netto afirmava que era preciso 'fazer o bolo crescer para depois dividi-lo', ou seja, fazer a economia crescer para depois reduzir as desigualdades Foto: Werther Santana/Estadão

Para mim, economistas se preocupavam com inflação, desemprego – e com não repartir bolos. Minha agenda de pesquisa, hoje, é focada em Economia política. Toco, apenas de relance e com certo receio, em questões de gênero, mas ainda com foco em política: por que votamos, ou não votamos, em mulheres?

Na próxima semana, vamos receber no Insper o 5.º Encontro do Gefam, a Sociedade de Economia da Família e do Gênero. O evento contará com mais de 100 participantes do Brasil e do mundo, apresentando artigos que abordam questões fundamentais para a Economia: gênero, família, representatividade, desigualdades, discriminação, violência de gênero, normas sociais e muito mais. Marianne Bertrand, professora da Universidade de Chicago, e Lise Vesterlund, professora da Universidade de Pittsburgh, serão as palestrantes principais. Enquanto organizávamos o evento, não pude deixar de pensar no que eu, aos 19 anos, pensaria ao acompanhar uma aula inaugural com Marianne Bertrand falando sobre polarização, normas sociais e socialização de gênero em crianças. Penso também que, em Marianne, suspensórios ficariam ótimos.

Quando entrei na Faculdade de Economia da USP, em 2005, tive uma aula inaugural com o ex-ministro Delfim Netto. Lembro de estar sentada no auditório da faculdade, as cadeiras vermelhas, e Delfim com seus característicos óculos de armação grossa e suspensórios. Não lembro de tudo que ele disse, mas recordo uma de suas célebres frases: “Temos de fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Eu, uma jovem mulher, que trabalhava durante o dia e estudava à noite – uma das belezas inclusivas dos cursos noturnos da USP –, me sentia desconectada daquele discurso. Pensei: será que Economia é para mim?

Passei anos na faculdade vivendo um sentimento paradoxal sobre o que era estudar Economia e o que ela significava para mim. Adorava os modelos matemáticos e estatísticos, adorava nossa história sob a perspectiva econômica. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma desconexão com aquilo que eu realmente considerava importante.

Demorou anos até que eu fosse apresentada a uma “outra” Economia. Uma economia que se importava com desigualdade, com diferenças de raça, gênero, representatividade. Uma agenda de pesquisa que, para mim, era nova. Por que as mulheres ganham menos do que os homens? Quais são os efeitos do adiamento da maternidade? Eram tantas perguntas novas que eu nem sabia que a Economia abordava isso. E essa “outra” Economia é, na verdade, a vanguarda nos melhores departamentos do mundo – algo que também se manifesta hoje nos departamentos do Brasil.

Delfim Netto afirmava que era preciso 'fazer o bolo crescer para depois dividi-lo', ou seja, fazer a economia crescer para depois reduzir as desigualdades Foto: Werther Santana/Estadão

Para mim, economistas se preocupavam com inflação, desemprego – e com não repartir bolos. Minha agenda de pesquisa, hoje, é focada em Economia política. Toco, apenas de relance e com certo receio, em questões de gênero, mas ainda com foco em política: por que votamos, ou não votamos, em mulheres?

Na próxima semana, vamos receber no Insper o 5.º Encontro do Gefam, a Sociedade de Economia da Família e do Gênero. O evento contará com mais de 100 participantes do Brasil e do mundo, apresentando artigos que abordam questões fundamentais para a Economia: gênero, família, representatividade, desigualdades, discriminação, violência de gênero, normas sociais e muito mais. Marianne Bertrand, professora da Universidade de Chicago, e Lise Vesterlund, professora da Universidade de Pittsburgh, serão as palestrantes principais. Enquanto organizávamos o evento, não pude deixar de pensar no que eu, aos 19 anos, pensaria ao acompanhar uma aula inaugural com Marianne Bertrand falando sobre polarização, normas sociais e socialização de gênero em crianças. Penso também que, em Marianne, suspensórios ficariam ótimos.

Quando entrei na Faculdade de Economia da USP, em 2005, tive uma aula inaugural com o ex-ministro Delfim Netto. Lembro de estar sentada no auditório da faculdade, as cadeiras vermelhas, e Delfim com seus característicos óculos de armação grossa e suspensórios. Não lembro de tudo que ele disse, mas recordo uma de suas célebres frases: “Temos de fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Eu, uma jovem mulher, que trabalhava durante o dia e estudava à noite – uma das belezas inclusivas dos cursos noturnos da USP –, me sentia desconectada daquele discurso. Pensei: será que Economia é para mim?

Passei anos na faculdade vivendo um sentimento paradoxal sobre o que era estudar Economia e o que ela significava para mim. Adorava os modelos matemáticos e estatísticos, adorava nossa história sob a perspectiva econômica. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma desconexão com aquilo que eu realmente considerava importante.

Demorou anos até que eu fosse apresentada a uma “outra” Economia. Uma economia que se importava com desigualdade, com diferenças de raça, gênero, representatividade. Uma agenda de pesquisa que, para mim, era nova. Por que as mulheres ganham menos do que os homens? Quais são os efeitos do adiamento da maternidade? Eram tantas perguntas novas que eu nem sabia que a Economia abordava isso. E essa “outra” Economia é, na verdade, a vanguarda nos melhores departamentos do mundo – algo que também se manifesta hoje nos departamentos do Brasil.

Delfim Netto afirmava que era preciso 'fazer o bolo crescer para depois dividi-lo', ou seja, fazer a economia crescer para depois reduzir as desigualdades Foto: Werther Santana/Estadão

Para mim, economistas se preocupavam com inflação, desemprego – e com não repartir bolos. Minha agenda de pesquisa, hoje, é focada em Economia política. Toco, apenas de relance e com certo receio, em questões de gênero, mas ainda com foco em política: por que votamos, ou não votamos, em mulheres?

Na próxima semana, vamos receber no Insper o 5.º Encontro do Gefam, a Sociedade de Economia da Família e do Gênero. O evento contará com mais de 100 participantes do Brasil e do mundo, apresentando artigos que abordam questões fundamentais para a Economia: gênero, família, representatividade, desigualdades, discriminação, violência de gênero, normas sociais e muito mais. Marianne Bertrand, professora da Universidade de Chicago, e Lise Vesterlund, professora da Universidade de Pittsburgh, serão as palestrantes principais. Enquanto organizávamos o evento, não pude deixar de pensar no que eu, aos 19 anos, pensaria ao acompanhar uma aula inaugural com Marianne Bertrand falando sobre polarização, normas sociais e socialização de gênero em crianças. Penso também que, em Marianne, suspensórios ficariam ótimos.

Quando entrei na Faculdade de Economia da USP, em 2005, tive uma aula inaugural com o ex-ministro Delfim Netto. Lembro de estar sentada no auditório da faculdade, as cadeiras vermelhas, e Delfim com seus característicos óculos de armação grossa e suspensórios. Não lembro de tudo que ele disse, mas recordo uma de suas célebres frases: “Temos de fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Eu, uma jovem mulher, que trabalhava durante o dia e estudava à noite – uma das belezas inclusivas dos cursos noturnos da USP –, me sentia desconectada daquele discurso. Pensei: será que Economia é para mim?

Passei anos na faculdade vivendo um sentimento paradoxal sobre o que era estudar Economia e o que ela significava para mim. Adorava os modelos matemáticos e estatísticos, adorava nossa história sob a perspectiva econômica. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma desconexão com aquilo que eu realmente considerava importante.

Demorou anos até que eu fosse apresentada a uma “outra” Economia. Uma economia que se importava com desigualdade, com diferenças de raça, gênero, representatividade. Uma agenda de pesquisa que, para mim, era nova. Por que as mulheres ganham menos do que os homens? Quais são os efeitos do adiamento da maternidade? Eram tantas perguntas novas que eu nem sabia que a Economia abordava isso. E essa “outra” Economia é, na verdade, a vanguarda nos melhores departamentos do mundo – algo que também se manifesta hoje nos departamentos do Brasil.

Delfim Netto afirmava que era preciso 'fazer o bolo crescer para depois dividi-lo', ou seja, fazer a economia crescer para depois reduzir as desigualdades Foto: Werther Santana/Estadão

Para mim, economistas se preocupavam com inflação, desemprego – e com não repartir bolos. Minha agenda de pesquisa, hoje, é focada em Economia política. Toco, apenas de relance e com certo receio, em questões de gênero, mas ainda com foco em política: por que votamos, ou não votamos, em mulheres?

Na próxima semana, vamos receber no Insper o 5.º Encontro do Gefam, a Sociedade de Economia da Família e do Gênero. O evento contará com mais de 100 participantes do Brasil e do mundo, apresentando artigos que abordam questões fundamentais para a Economia: gênero, família, representatividade, desigualdades, discriminação, violência de gênero, normas sociais e muito mais. Marianne Bertrand, professora da Universidade de Chicago, e Lise Vesterlund, professora da Universidade de Pittsburgh, serão as palestrantes principais. Enquanto organizávamos o evento, não pude deixar de pensar no que eu, aos 19 anos, pensaria ao acompanhar uma aula inaugural com Marianne Bertrand falando sobre polarização, normas sociais e socialização de gênero em crianças. Penso também que, em Marianne, suspensórios ficariam ótimos.

Quando entrei na Faculdade de Economia da USP, em 2005, tive uma aula inaugural com o ex-ministro Delfim Netto. Lembro de estar sentada no auditório da faculdade, as cadeiras vermelhas, e Delfim com seus característicos óculos de armação grossa e suspensórios. Não lembro de tudo que ele disse, mas recordo uma de suas célebres frases: “Temos de fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Eu, uma jovem mulher, que trabalhava durante o dia e estudava à noite – uma das belezas inclusivas dos cursos noturnos da USP –, me sentia desconectada daquele discurso. Pensei: será que Economia é para mim?

Passei anos na faculdade vivendo um sentimento paradoxal sobre o que era estudar Economia e o que ela significava para mim. Adorava os modelos matemáticos e estatísticos, adorava nossa história sob a perspectiva econômica. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma desconexão com aquilo que eu realmente considerava importante.

Demorou anos até que eu fosse apresentada a uma “outra” Economia. Uma economia que se importava com desigualdade, com diferenças de raça, gênero, representatividade. Uma agenda de pesquisa que, para mim, era nova. Por que as mulheres ganham menos do que os homens? Quais são os efeitos do adiamento da maternidade? Eram tantas perguntas novas que eu nem sabia que a Economia abordava isso. E essa “outra” Economia é, na verdade, a vanguarda nos melhores departamentos do mundo – algo que também se manifesta hoje nos departamentos do Brasil.

Delfim Netto afirmava que era preciso 'fazer o bolo crescer para depois dividi-lo', ou seja, fazer a economia crescer para depois reduzir as desigualdades Foto: Werther Santana/Estadão

Para mim, economistas se preocupavam com inflação, desemprego – e com não repartir bolos. Minha agenda de pesquisa, hoje, é focada em Economia política. Toco, apenas de relance e com certo receio, em questões de gênero, mas ainda com foco em política: por que votamos, ou não votamos, em mulheres?

Na próxima semana, vamos receber no Insper o 5.º Encontro do Gefam, a Sociedade de Economia da Família e do Gênero. O evento contará com mais de 100 participantes do Brasil e do mundo, apresentando artigos que abordam questões fundamentais para a Economia: gênero, família, representatividade, desigualdades, discriminação, violência de gênero, normas sociais e muito mais. Marianne Bertrand, professora da Universidade de Chicago, e Lise Vesterlund, professora da Universidade de Pittsburgh, serão as palestrantes principais. Enquanto organizávamos o evento, não pude deixar de pensar no que eu, aos 19 anos, pensaria ao acompanhar uma aula inaugural com Marianne Bertrand falando sobre polarização, normas sociais e socialização de gênero em crianças. Penso também que, em Marianne, suspensórios ficariam ótimos.

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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