Economista

Opinião|Como Odorico Paraguaçu: populistas têm criado realidades alternativas


Recente decisão da Meta de interromper programas de checagem de fatos nos EUA mostra que aceitamos realidades fabricadas

Por Laura Karpuska

Odorico Paraguaçu, o prefeito da fictícia Sucupira, sempre de paletó impecável e discurso inflamado, era obcecado por inaugurar um cemitério. A promessa gerava desconfiança, mas também muitos aplausos. O cemitério, contudo, nunca ficava pronto. Entre anúncios e cerimônias frustradas, Odorico mantinha o povo enredado em uma realidade distorcida.

Sucupira, a cidade fictícia de Dias Gomes em O Bem-Amado, é um presságio das dinâmicas que hoje emergem nas redes sociais e suas hipérboles. Anne Applebaum, na revista The Atlantic, ilustrou esse fenômeno com o caso de Calin Georgescu, um ambientalista romeno que trocou o ativismo por uma narrativa populista e conspiratória.

Com vídeos nadando em lagos gelados e invocando Deus, Georgescu alimenta o imaginário do povo romeno. Alegando que a Romênia estava sob controle de potências estrangeiras e elites secretas, galvanizou seguidores que se sentiam marginalizados, transformando-se em um símbolo de resistência contra uma opressão fabricada. Sua força, como a de Odorico, residia em oferecer uma visão alternativa da realidade.

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O uso de promessas vazias e narrativas alternativas não apenas perpetuava a liderança de Odorico, mas criava uma realidade paralela que mantinha seu domínio político. Nem precisamos nos perguntar qual seria o estrago de Odorico hoje, tendo acesso às redes sociais. Estamos sentindo o estrago na pele.

Calin Georgescu era ambientalista, mas trocou ativismo por teorias conspiratórias Foto: Alexandru Dobre/AP

Líderes populistas criam realidades alternativas para deslegitimar elites intelectuais e se blindar da responsabilização política. Nessas realidades, as críticas da mídia ou do Judiciário não corroem sua popularidade. Ao contrário, servem como prova de autenticidade para seus seguidores. Essa inversão de lógica fortalece o líder, enquanto a propaganda amplifica crenças equivocadas, resultando em políticas públicas prejudiciais e corroendo a confiança nas instituições.

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Em Sucupira, Odorico utilizava a promessa do cemitério como elemento central dessa mesma estratégia: críticas não o enfraqueciam, mas reforçavam seu domínio. A ficção de Sucupira e a realidade de Georgescu convergem para mostrar como líderes transformam o que deveria ser crítica em ferramenta de autenticidade, substituindo fatos por fantasia e fortalecendo suas posições em um cenário cada vez mais distorcido.

A recente decisão da Meta de interromper programas de checagem de fatos nos EUA mostra que aceitamos realidades fabricadas. Sem checagem de fatos, o realismo fantástico político continuará a florescer.

Odorico Paraguaçu, o prefeito da fictícia Sucupira, sempre de paletó impecável e discurso inflamado, era obcecado por inaugurar um cemitério. A promessa gerava desconfiança, mas também muitos aplausos. O cemitério, contudo, nunca ficava pronto. Entre anúncios e cerimônias frustradas, Odorico mantinha o povo enredado em uma realidade distorcida.

Sucupira, a cidade fictícia de Dias Gomes em O Bem-Amado, é um presságio das dinâmicas que hoje emergem nas redes sociais e suas hipérboles. Anne Applebaum, na revista The Atlantic, ilustrou esse fenômeno com o caso de Calin Georgescu, um ambientalista romeno que trocou o ativismo por uma narrativa populista e conspiratória.

Com vídeos nadando em lagos gelados e invocando Deus, Georgescu alimenta o imaginário do povo romeno. Alegando que a Romênia estava sob controle de potências estrangeiras e elites secretas, galvanizou seguidores que se sentiam marginalizados, transformando-se em um símbolo de resistência contra uma opressão fabricada. Sua força, como a de Odorico, residia em oferecer uma visão alternativa da realidade.

O uso de promessas vazias e narrativas alternativas não apenas perpetuava a liderança de Odorico, mas criava uma realidade paralela que mantinha seu domínio político. Nem precisamos nos perguntar qual seria o estrago de Odorico hoje, tendo acesso às redes sociais. Estamos sentindo o estrago na pele.

Calin Georgescu era ambientalista, mas trocou ativismo por teorias conspiratórias Foto: Alexandru Dobre/AP

Líderes populistas criam realidades alternativas para deslegitimar elites intelectuais e se blindar da responsabilização política. Nessas realidades, as críticas da mídia ou do Judiciário não corroem sua popularidade. Ao contrário, servem como prova de autenticidade para seus seguidores. Essa inversão de lógica fortalece o líder, enquanto a propaganda amplifica crenças equivocadas, resultando em políticas públicas prejudiciais e corroendo a confiança nas instituições.

Em Sucupira, Odorico utilizava a promessa do cemitério como elemento central dessa mesma estratégia: críticas não o enfraqueciam, mas reforçavam seu domínio. A ficção de Sucupira e a realidade de Georgescu convergem para mostrar como líderes transformam o que deveria ser crítica em ferramenta de autenticidade, substituindo fatos por fantasia e fortalecendo suas posições em um cenário cada vez mais distorcido.

A recente decisão da Meta de interromper programas de checagem de fatos nos EUA mostra que aceitamos realidades fabricadas. Sem checagem de fatos, o realismo fantástico político continuará a florescer.

Odorico Paraguaçu, o prefeito da fictícia Sucupira, sempre de paletó impecável e discurso inflamado, era obcecado por inaugurar um cemitério. A promessa gerava desconfiança, mas também muitos aplausos. O cemitério, contudo, nunca ficava pronto. Entre anúncios e cerimônias frustradas, Odorico mantinha o povo enredado em uma realidade distorcida.

Sucupira, a cidade fictícia de Dias Gomes em O Bem-Amado, é um presságio das dinâmicas que hoje emergem nas redes sociais e suas hipérboles. Anne Applebaum, na revista The Atlantic, ilustrou esse fenômeno com o caso de Calin Georgescu, um ambientalista romeno que trocou o ativismo por uma narrativa populista e conspiratória.

Com vídeos nadando em lagos gelados e invocando Deus, Georgescu alimenta o imaginário do povo romeno. Alegando que a Romênia estava sob controle de potências estrangeiras e elites secretas, galvanizou seguidores que se sentiam marginalizados, transformando-se em um símbolo de resistência contra uma opressão fabricada. Sua força, como a de Odorico, residia em oferecer uma visão alternativa da realidade.

O uso de promessas vazias e narrativas alternativas não apenas perpetuava a liderança de Odorico, mas criava uma realidade paralela que mantinha seu domínio político. Nem precisamos nos perguntar qual seria o estrago de Odorico hoje, tendo acesso às redes sociais. Estamos sentindo o estrago na pele.

Calin Georgescu era ambientalista, mas trocou ativismo por teorias conspiratórias Foto: Alexandru Dobre/AP

Líderes populistas criam realidades alternativas para deslegitimar elites intelectuais e se blindar da responsabilização política. Nessas realidades, as críticas da mídia ou do Judiciário não corroem sua popularidade. Ao contrário, servem como prova de autenticidade para seus seguidores. Essa inversão de lógica fortalece o líder, enquanto a propaganda amplifica crenças equivocadas, resultando em políticas públicas prejudiciais e corroendo a confiança nas instituições.

Em Sucupira, Odorico utilizava a promessa do cemitério como elemento central dessa mesma estratégia: críticas não o enfraqueciam, mas reforçavam seu domínio. A ficção de Sucupira e a realidade de Georgescu convergem para mostrar como líderes transformam o que deveria ser crítica em ferramenta de autenticidade, substituindo fatos por fantasia e fortalecendo suas posições em um cenário cada vez mais distorcido.

A recente decisão da Meta de interromper programas de checagem de fatos nos EUA mostra que aceitamos realidades fabricadas. Sem checagem de fatos, o realismo fantástico político continuará a florescer.

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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