O PT é único no Brasil. Nasceu com apoio popular e sindical, além de contar com milhares de ativistas, intelectuais e até setores da Igreja, especialmente das comunidades eclesiais de base. Também sempre contou com milhares de ativistas engajados e a simpatia de intelectuais e jornalistas. Ganhou mais eleições à Presidência do que todos os outros partidos somados, inclusive ganhando a última após a crise da Lava Jato. Mas seu futuro pode estar em risco. Com uma base reduzida a Estados do Nordeste, um único prefeito em capital e pouca renovação interna, o PT segue, fortemente, dependente da figura de Lula, e a sucessão de sua liderança ainda é questão em aberto.
O PT também já viveu melhores dias. Embora já tenha dominado a Presidência, Estados e prefeituras, hoje o PT se assemelha a partidos menores, como o PSDB. A maior diferença, claro, é que o PT tem Lula. Abundantes pitacos de analistas sugerem que o problema do PT é a mensagem muito focada em temas identitários. Outros apontam que o partido está fora da rodinha das emendas parlamentares, e, sem esses recursos, é difícil fazer campanhas locais competitivas. Além disso, as centrais sindicais não têm mais os recursos para mobilizar milhões. Todos pontos válidos. Mas há algo mais: a figura de Lula ainda é importante demais para o PT.
Renovação de liderança é essencial para sobrevivência política, mas não é simples. Monarquias terminaram por falta de sucessores, e empresas se tornaram irrelevantes por herdeiros incapazes. O partido fez, sim, uma escolha ao levar o “Lula livre” adiante, colocando todo o partido em prol do seu líder. De certo modo, como sabemos, deu certo. Mas, ao fazê-lo, prejudicou a possibilidade de se renovar. De todos os potenciais herdeiros de Lula, nenhum saiu da sua sombra, muito menos se provaram capazes de liderar o partido para a inevitável adaptação.
O cemitério de partidos está repleto de partidos que, em algum momento, foram dominantes, porque adaptação partidária é difícil. Partidos trabalhistas do Peru e da Venezuela já se foram há tempos. O Partido Revolucionário Institucional do México, hegemônico desde a década de 1930 e que esteve na presidência até 2018, está na lona. Em comum, esses partidos falharam em se adaptar a novos tempos.
Em retrospecto, o PT já teve sucesso em se readaptar. No começo dos anos 2000, moveu-se ao centro, um movimento marcado pela “Carta ao povo brasileiro”. Mas isso já faz tempo. Sem nenhum governador fora do Nordeste, somente com um prefeito em uma capital, sem prefeituras para sustentar a sua bancada legislativa, o que vai ser do PT caso Lula perca a eleição de 2026?
Esta coluna foi escrita em colaboração com Lucas Novaes, professor associado do Insper.