Economista

Opinião|Quem paga a conta quando há aumento de impostos?


Se a ideia era taxar as plataformas de vendas, teríamos outras infinitas formas de arrecadar

Por Laura Karpuska

Quem paga a conta de um aumento de imposto depende da estrutura de competição e do comportamento dos consumidores nesse mercado. Quando o mercado é competitivo e os consumidores reagem bastante a aumento de preços, o maior fardo fica com as empresas. Quando os consumidores reagem pouco aos aumentos de preços, as empresas conseguem repassar esse aumento de tributo.

Quando os mercados não são competitivos – poucas firmas atuantes, que conseguem exercer poder de mercado –, a coisa fica mais complicada. Mas a intuição é parecida: não é porque a taxação incide sobre as empresas que os consumidores não pagarão a conta.

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Na semana passada, houve uma discussão sobre taxar plataformas de venda de produtos chineses, bastante populares no Brasil. A discussão não parece ter sido iniciada pelo Ministério da Fazenda, trazendo uma certa confusão sobre quem dita prioridades da agenda econômica. De toda forma, fica evidente a importância de que políticas públicas sejam feitas com técnica e evidência.

Mesmo na ignorância sobre essa dinâmica econômica de incidência de tributo versus repasse de custos, existe uma dimensão do debate que é sobre a motivação da medida. Se a ideia era taxar essas plataformas por um motivo “apenas” arrecadatório, teríamos outras infinitas formas de arrecadar. Formas, inclusive, mais eficientes e promotoras de equidade social. O Brasil é um dos países com tributação mais regressiva do mundo, e seria melhor discutirmos aumento da taxa marginal de tributação de pessoas físicas ou ainda como evitar que profissionais liberais não paguem o imposto devido como ocorre hoje.

Shein, Shopee e Aliexpress são principais sites que seriam taxados em proposta que foi retirada Foto: REUTERS/Chen Lin/File Photo
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O motivo do debate pode não ser arrecadatório, mas protecionista. O protecionismo costuma ser justificado a partir da visão de que empresas brasileiras estão sofrendo com uma competição exagerada externa e, por isso, gerando menos empregos do que poderiam supostamente gerar. Implicitamente, considera-se que é melhor fazer os consumidores pagarem mais caro por produtos – substituindo pelo nacional ou pagando mais pelo importado, porque isso supostamente geraria mais empregos no País.

Esta é uma forma de defender pequenos grupos de interesse sem analisar se, de fato, sua proteção se justifica. Mas resta a dúvida final: mesmo que mais empregos fossem gerados, seria a melhor política econômica para este momento? Existe alguma justificativa para fomentarmos pequenos grupos de interesse?

Quem paga a conta de um aumento de imposto depende da estrutura de competição e do comportamento dos consumidores nesse mercado. Quando o mercado é competitivo e os consumidores reagem bastante a aumento de preços, o maior fardo fica com as empresas. Quando os consumidores reagem pouco aos aumentos de preços, as empresas conseguem repassar esse aumento de tributo.

Quando os mercados não são competitivos – poucas firmas atuantes, que conseguem exercer poder de mercado –, a coisa fica mais complicada. Mas a intuição é parecida: não é porque a taxação incide sobre as empresas que os consumidores não pagarão a conta.

Na semana passada, houve uma discussão sobre taxar plataformas de venda de produtos chineses, bastante populares no Brasil. A discussão não parece ter sido iniciada pelo Ministério da Fazenda, trazendo uma certa confusão sobre quem dita prioridades da agenda econômica. De toda forma, fica evidente a importância de que políticas públicas sejam feitas com técnica e evidência.

Mesmo na ignorância sobre essa dinâmica econômica de incidência de tributo versus repasse de custos, existe uma dimensão do debate que é sobre a motivação da medida. Se a ideia era taxar essas plataformas por um motivo “apenas” arrecadatório, teríamos outras infinitas formas de arrecadar. Formas, inclusive, mais eficientes e promotoras de equidade social. O Brasil é um dos países com tributação mais regressiva do mundo, e seria melhor discutirmos aumento da taxa marginal de tributação de pessoas físicas ou ainda como evitar que profissionais liberais não paguem o imposto devido como ocorre hoje.

Shein, Shopee e Aliexpress são principais sites que seriam taxados em proposta que foi retirada Foto: REUTERS/Chen Lin/File Photo

O motivo do debate pode não ser arrecadatório, mas protecionista. O protecionismo costuma ser justificado a partir da visão de que empresas brasileiras estão sofrendo com uma competição exagerada externa e, por isso, gerando menos empregos do que poderiam supostamente gerar. Implicitamente, considera-se que é melhor fazer os consumidores pagarem mais caro por produtos – substituindo pelo nacional ou pagando mais pelo importado, porque isso supostamente geraria mais empregos no País.

Esta é uma forma de defender pequenos grupos de interesse sem analisar se, de fato, sua proteção se justifica. Mas resta a dúvida final: mesmo que mais empregos fossem gerados, seria a melhor política econômica para este momento? Existe alguma justificativa para fomentarmos pequenos grupos de interesse?

Quem paga a conta de um aumento de imposto depende da estrutura de competição e do comportamento dos consumidores nesse mercado. Quando o mercado é competitivo e os consumidores reagem bastante a aumento de preços, o maior fardo fica com as empresas. Quando os consumidores reagem pouco aos aumentos de preços, as empresas conseguem repassar esse aumento de tributo.

Quando os mercados não são competitivos – poucas firmas atuantes, que conseguem exercer poder de mercado –, a coisa fica mais complicada. Mas a intuição é parecida: não é porque a taxação incide sobre as empresas que os consumidores não pagarão a conta.

Na semana passada, houve uma discussão sobre taxar plataformas de venda de produtos chineses, bastante populares no Brasil. A discussão não parece ter sido iniciada pelo Ministério da Fazenda, trazendo uma certa confusão sobre quem dita prioridades da agenda econômica. De toda forma, fica evidente a importância de que políticas públicas sejam feitas com técnica e evidência.

Mesmo na ignorância sobre essa dinâmica econômica de incidência de tributo versus repasse de custos, existe uma dimensão do debate que é sobre a motivação da medida. Se a ideia era taxar essas plataformas por um motivo “apenas” arrecadatório, teríamos outras infinitas formas de arrecadar. Formas, inclusive, mais eficientes e promotoras de equidade social. O Brasil é um dos países com tributação mais regressiva do mundo, e seria melhor discutirmos aumento da taxa marginal de tributação de pessoas físicas ou ainda como evitar que profissionais liberais não paguem o imposto devido como ocorre hoje.

Shein, Shopee e Aliexpress são principais sites que seriam taxados em proposta que foi retirada Foto: REUTERS/Chen Lin/File Photo

O motivo do debate pode não ser arrecadatório, mas protecionista. O protecionismo costuma ser justificado a partir da visão de que empresas brasileiras estão sofrendo com uma competição exagerada externa e, por isso, gerando menos empregos do que poderiam supostamente gerar. Implicitamente, considera-se que é melhor fazer os consumidores pagarem mais caro por produtos – substituindo pelo nacional ou pagando mais pelo importado, porque isso supostamente geraria mais empregos no País.

Esta é uma forma de defender pequenos grupos de interesse sem analisar se, de fato, sua proteção se justifica. Mas resta a dúvida final: mesmo que mais empregos fossem gerados, seria a melhor política econômica para este momento? Existe alguma justificativa para fomentarmos pequenos grupos de interesse?

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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