Edemar Cid Ferreira, o ex-banqueiro fundador do Banco Santos, morreu neste sábado, 13, aos 80 anos, em São Paulo. O empresário, que chegou a ser preso três vezes e foi acusado de crimes financeiros, lavagem de dinheiro e associação criminosa, experimentou uma drástica reversão financeira, com bens como sua icônica mansão no bairro Morumbi e de sua vasta coleção de obras de arte levados a leilão por determinação da Justiça.
No início dos anos 2000, o então presidente do Banco Santos Edemar Cid Ferreira teve seu nome envolvido nos noticiários econômicos e policiais do País, com a decisão do Banco Central do Brasil, em 2005, de liquidar extrajudicialmente o patrimônio do empresário para pagar aproximadamente R$ 2,6 bilhões em passivos da instituição.
Como resultado da liquidação, os bens materiais de Edemar Cid Ferreira que foram apreendidos pela Justiça chegaram a somar milhões. Juntamente de outros imóveis, as obras de arte, com ação revocatória, crédito securitizado, ação indenizatória, ações, locações e veículos arrecadaram, até 2020, R$ 319,1 milhões.
A mansão
Desde que o processo de falência do antigo Banco Santos foi iniciado, o imóvel da antiga mansão de Edemar Cid Ferreira esteve em meio a incontáveis processos judiciais. Um dos primeiros problemas foi o fato de o imóvel pertencer à Atalanta Participações, empresa da mulher de Ferreira que estava atrelado ao banco. Só depois que o pedido de extensão de falência foi aceito na Justiça é que o imóvel pode ser vendido, contudo, um contrato de locação da propriedade que durou até 2011 postergou ainda mais esse processo.
O imóvel do bilionário chegou a ser avaliado no processo de leilão em R$ 110 milhões, valor esse que foi judicialmente questionado por um grupo de credores que acreditavam que a propriedade teria sido subavaliada. Mais tarde, outro inventariante avaliou a propriedade de mais de 12 mil metros quadrados em R$ 70 milhões, o que mais uma vez gerou questionamentos na Justiça sobre o preço.
Depois de vários leilões fracassados, incluindo um arremate de R$ 23,3 milhões que não foi pago, a mansão de Edemar Cid Ferreira foi oficialmente arrematada em fevereiro de 2020 por $ 27,5 milhões. O lance foi dado pelo empresário Janguiê Diniz, do grupo Ser Educacional, que inicialmente tinha planos de transformar o imóvel em uma instituição de ensino de alto padrão. Porém, em maio de 2023, foi divulgado que o proprietário do imóvel contratou um escritório de arquitetura para estudar a viabilidade da construção de um empreendimento de casas de luxo.
As obras de arte
Obras como esculturas de Victor Brecheret e quadros de Tarsila do Amaral e Jean-Michel Basquiat integravam o acervo de mais de 1,5 mil peças do ex-banqueiro, que era notoriamente conhecido por sua paixão pela arte. A grande coleção mostrou-se muito valiosa e ajudou a garantir pagamentos a credores da instituição financeira.
Em setembro de 2020, ele chegou a pedir o cancelamento do leilão de parte de sua coleção, justificando que séries vintage de fotografias clássicas (Man Ray e outros), por exemplo, não poderiam ser desmembradas para não desvalorizar o conjunto – argumento usado anteriormente pela curadora de fotografia do MAC, Helouise Costa.
Em outubro de 2020, o total trazido com quadros, esculturas, fotografias e esboços de artistas famosos chegou a R$ 151 milhões. Foi, portanto, mais do que o dobro do que o angariado com imóveis e mais de cinco vezes o valor de venda da mansão de 4,5 mil m².
Uma das obras mais caras foi The Founding #6, do americano Frank Stella, vendida por R$ 4,2 milhões. Segundo o leiloeiro James Lisboa, responsável pela venda do último grande lote de obras de Edemar Cid Ferreira, o valor só não foi maior porque a peça trazia desafios logísticos. “É um quadro de 4,5 metros por 16 metros. E muita gente teria de fazer reformas para exibi-lo. Porque, no fim das contas, todo mundo que compra quer mostrar”, declarou, ao Estadão, em 2020./Colaboraram Wesley Gonsalves e Lucas Agrela.