Por Andréa Nery
O ambiente corporativo enfrenta desafios cada vez mais complexos e imprevisíveis. Nesse cenário, compreender o estado de "saúde vital" de equipes e indivíduos torna-se essencial para promover ambientes saudáveis, colaborativos e de alta performance. Há cerca de três anos, na We Holon, começamos a avaliar três indicadores subjetivos -- otimismo, energia e coragem -- em workshops, facilitações e processos de coaching de equipe. Embora inicialmente pareçam uma análise individual, esses indicadores[i] revelam importantes padrões coletivos quando interpretados sob a ótica de um sistema vivo.
Um sistema vivo é aquele que se adapta, evolui e se sustenta através da interação de suas partes. Em grupos, família, equipes, organizações, os indicadores representam fluxos essenciais de vitalidade e conexão.
Otimismo reflete a esperança do sistema em relação ao futuro, indicando a capacidade coletiva de vislumbrar futuros possíveis e desejáveis e orientar ações e recursos para busca de soluções mesmo em cenários desafiadores.
Energia representa o fluxo vital necessário para as operações diárias, refletindo o nível de engajamento e capacidade regenerativa. Através dele observamos se há energia suficiente sendo gerada e distribuída para sustentar processos críticos e inovadores.
Coragem aponta para a capacidade de enfrentar incertezas e desafios, movida pela confiança no próprio sistema e nas conexões de suas partes. É o fluxo de ação consciente frente à incerteza. Este indicador está diretamente ligado à segurança psicológica e à confiança mútua.
A análise consistente desses indicadores fornece um retrato não apenas da saúde individual, mas também das dinâmicas relacionais e das áreas que necessitam de atenção. Por exemplo, em uma série de workshops realizados recentemente, identificamos que o tema da autonomia gerava quedas nos indicadores de otimismo e energia. Por outro lado, uma dinâmica estruturada de resolução de problemas elevou os três indicadores, revelando pontos de aprimoramento e alavancagem no grupo.
Os indicadores se interconectam como fluxos essenciais de informação, energia e ação.
Ao longo desses três anos, temos observado que equipes que vivenciam intervenções voltadas à troca e à conexão apresentam resultados significativamente melhores. Também, como no exemplo, percebemos que temas sensíveis afetam a saúde do sistema quando não há coerência entre discurso e prática. Isso reforça como a qualidade das relações impacta diretamente a percepção individual e a vitalidade coletiva.
Mais do que um indicador, essa avaliação é um ponto de partida para o autoconhecimento e para a reflexão coletiva. Em alguns casos, resultados mostraram altos níveis de energia combinados a baixos níveis de coragem, sugerindo que o sistema estava mobilizado, mas hesitante em tomar ação. Essas percepções são valiosas tanto para lideranças quanto para colaboradores, pois promovem um espaço de diálogo e de reorganização das dinâmicas internas.
Os indicadores de otimismo, energia e coragem funcionam como uma linguagem comum, permitindo que indivíduos e equipes reconheçam reflitam sobre sua vitalidade e como utilizá-la para engajar em projetos e enfrentar desafios. Essa observação consistente estimula uma consciência coletiva que pode transformar ambientes de trabalho em ecossistemas mais saudáveis e sustentáveis.
Convido você a refletir sobre seus próprios indicadores. Como está seu otimismo em relação ao futuro? Sua energia para as demandas do dia a dia? E sua coragem para enfrentar desafios e incertezas? Pense sobre como fortalecer essas dimensões em sua vida e como isso pode contribuir para um ambiente de trabalho mais equilibrado, com maior segurança psicológica e colaboração genuína. Afinal, a qualidade de um sistema vivo depende diretamente da vitalidade de suas partes e da conexão entre elas.
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[i] Estes indicadores são mensurados em uma escala Likert de 1 a 5, onde 1 representa nível muito baixo e 5 representa nível muito alto. Os participantes recebem breve explicação sobre os indicadores e são convidados a avaliar seu estado interno e perceber qual o nível que eles se encontram no momento utilizando a escala. Observamos a média dos resultados e o gráfico de distribuição, no início e fim da atividade, para entender a dinâmica e movimentação dos indicadores.