The Economist: as lições das empresas indianas, mais conservadoras, para as startups ‘unicórnios’


Enquanto as badaladas e bilionárias startups não param de perder dinheiro, essas empresas continuam a crescer e dar lucros para seus acionistas

Por The Economist

Para investidores estrangeiros, a Índia é um enigma. No lado positivo, é um mercado potencialmente enorme, recentemente ultrapassando a China enquanto país mais populoso do mundo. O FMI prevê que a Índia será o país que crescerá mais rapidamente entre as 20 maiores economias do mundo este ano. Até 2028, a previsão é que seu PIB seja o terceiro do planeta, ultrapassando Japão e Alemanha. O mercado de ações aprecia num ritmo de crescimento inebriante. Ao longo dos cinco anos recentes, as ações indianas superaram as de outras partes do mundo, incluindo as americanas.

Os lados negativos parecem igualmente formidáveis. Apenas 8% dos lares têm carro. No ano passado, o número de investidores individuais nas bolsas indianas era de insignificantes 35 milhões. A revolução do smartphone criou 850 milhões de internautas. A firma de investimentos de risco Blume estima que apenas 45 milhões de indianos são responsáveis por mais da metade de todas as compras online. A gigante do streaming de vídeos Netflix, que entrou na Índia em 2016 e cobra menos dos indianos do que quase todos os outros terráqueos, atraiu apenas 6 milhões de assinantes.

A tensão entre a promessa do amanhã e a realidade atual reflete-se na cena indiana da tecnologia. Ao longo da década passada, projeções de gastos vertiginosos das centenas de milhões de consumidores levaram investidores a despejar dinheiro em jovens empresas de tecnologia. De acordo com a consultoria Bain, entre 2013 e 2021 o montante investido explodiu, de US$ 3 bilhões para US$ 38,5 bilhões. Agora, o dinheiro fácil está se esvaindo. Em 2022, as startups indianas receberam US$ 25,7 bilhões. Na primeira metade desta ano, foram parcos US$ 5,5 bilhões.

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Algumas das mais brilhantes estrelas da tecnologia na Índia viraram estrela cadente. O valor da Byju, uma queridinha da tecnologia em educação, despencou de US$ 22 bilhões para U$ 5,1 bilhões em menos de um ano. A Oyo, uma plataforma de reservas de hotéis, atrasou sua abertura de capital mesmo após os investidores cortarem em três quartos seu valor, para US$ 2,7 bilhões.

A publicação online Moneycontrol estima que, desde 2022, as startups indianas cortaram mais de 30 mil postos de trabalho. Os investidores passaram a se preocupar com a possibilidade das empresas em seu portfólio jamais darem lucro. Perdas pesadas de “unicórnios” indianos (empresas não listadas que valem mais de US$ 1 bilhão) escancaram a situação. De acordo com a firma de dados Tracxn, dos 83 unicórnios que tornaram públicos resultados financeiros de 2022, 63 estão no vermelho, perdendo coletivamente mais de US$ 8 bilhões.

Devotos hindus participam do festival anual Rath Yatra, em Puri, na Índia; país é o mais populoso do mundo, mas ainda tem muitos problemas a resolver Foto: Rout Biswaranjan / AP
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Mas algumas empresas de tecnologia indianas conseguem prosperar. Em vez de prometer fábulas futuras, elas são práticas e tediosas, mas lucrativas. Chamem-nas de camelos. A corretora de ações de baixo valor Zerodha, uma firma de 13 anos, registrou US$ 830 milhões de renda líquida em 2022. Em 2021, ano mais recente com dados disponíveis, a empresa de softwares corporativos Zoho, de Chennai, fundada no fim dos anos 90, registrou uma renda líquida de US$ 450 milhões e vendas de US$ 840 milhões.

A Info Edge, um conglomerado de empresas online de oferta de empregos, namoro e compras de imóveis, tem sido em grande medida lucrativa ao longo de seus 20 anos de existência. Seu sucesso é construído sobre uma ideia que parece exótica para uma geração de fundadores de empresas na Índia mimada por investidores indulgentes: foco no consumidor e contenção no custo.

Considerem primeiramente a receita. Alguns fundadores de empresas queixam-se privadamente que é difícil fazer os consumidores indianos pagarem por qualquer coisa. Mas o fundador da Zerodha, Nithin Kamath, discorda. Ele acredita que, apesar da carteira dos indianos não ser recheada, eles se mostram dispostos a pagar por produtos em que percebem valor. A Zerodha cobra 200 rúpias (cerca de US$ 2,5) para abrir contas novas, enquanto a maioria de suas competidoras não cobra nada. Kamath acredita que mesmo essa pequena quantia força a empresa a garantir que seus usuários considerem sua plataforma suficientemente útil para pagar a taxa extra.

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As empresas camelos também são implacavelmente eficientes em relação ao capital. A Zerodha e a Zoho não levantaram nenhum dinheiro de investidores. A Info Edge foi autofinanciada por cinco anos antes de levantar uma quantia pequena em seu único financiamento exterior antes de abrir o capital, em 2006. O fundador da Info Edge, Sanjeev Bikhchandani, aconselha colegas fundadores a tratar cada rodada de financiamento “como se fosse a última”.

Uma maneira de estender o tapete vermelho (já que os modelos de investimento de risco definem o tempo que a firma tem até precisar de novos fundos) é mantendo os custos baixos. Considerem os salários dos funcionários. Startups ricamente financiadas despejam dinheiro sobre desenvolvedores com pedigree, oriundos das melhores universidades. Já a Zoho arregimenta estudantes de faculdades pouco conhecidas e os treina rigorosamente antes de trazê-los ao jogo. A empresa afirma que sua estratégia resulta em um pool de talentos mais amplo e funcionários mais leais.

A Zerodha, em outro contraste à libertinagem dos unicórnios, não gasta nenhum dinheiro em publicidade ou descontos e outros brindes para seduzir consumidores. E também usa alternativas gratuitas de código livre em vez de softwares pagos em sua infraestrutura tecnológica. O sistema de apoio em tecnologia para seus mais de mil funcionários custa apenas algumas centenas de dólares ao mês para operar; uma ferramenta externa faria o gasto voltar a alguns milhões. Apesar de ser uma plataforma de corretagem pesadamente tecnológica, a Zerodha gasta apenas 2% de sua receita em software. Manter baixas as despesas gerais tem o bônus acrescido de permitir a empresas como a Zerodha vender seus produtos lucrativamente a preços menores, alcançando muito mais clientes no subcontinente sensível a preços altos.

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A estratégia vagarosa e comedida adotada pelos camelos é oposta à cartilha do Vale do Silício, de capturar participação no mercado primeiro e se preocupar com os lucros depois. Karthik Reddy, da Blume, argumenta que esse modelo pode ser mais adequado para a Índia, onde empresas podem demorar anos para encontrar o rumo.

Uma dificuldade para as empresas que optam por lucros graduais em vez de crescimento vertiginoso continua a mesma: os próprios investidores. Quem investe capital opera tipicamente em um calendário de dez anos, injetando dinheiro em startups no primeiro quinquênio e lucrando com suas jogadas no segundo. Isso incentiva os investidores a pressionar as empresas de seu portfólio a perseguir lucro a qualquer custo.

O diretor da Zoho, Sridhar Vembu, compara investimentos de risco a esteroides — capazes de incrementar o desempenho a curto prazo mas danificar a empresa ao longo dos anos. Sua visão pode ser extrema. Ainda assim, se os investidores quiserem retornos altos de suas apostas indianas, melhor eles apoiarem camelos robustos do que unicórnios sensuais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Para investidores estrangeiros, a Índia é um enigma. No lado positivo, é um mercado potencialmente enorme, recentemente ultrapassando a China enquanto país mais populoso do mundo. O FMI prevê que a Índia será o país que crescerá mais rapidamente entre as 20 maiores economias do mundo este ano. Até 2028, a previsão é que seu PIB seja o terceiro do planeta, ultrapassando Japão e Alemanha. O mercado de ações aprecia num ritmo de crescimento inebriante. Ao longo dos cinco anos recentes, as ações indianas superaram as de outras partes do mundo, incluindo as americanas.

Os lados negativos parecem igualmente formidáveis. Apenas 8% dos lares têm carro. No ano passado, o número de investidores individuais nas bolsas indianas era de insignificantes 35 milhões. A revolução do smartphone criou 850 milhões de internautas. A firma de investimentos de risco Blume estima que apenas 45 milhões de indianos são responsáveis por mais da metade de todas as compras online. A gigante do streaming de vídeos Netflix, que entrou na Índia em 2016 e cobra menos dos indianos do que quase todos os outros terráqueos, atraiu apenas 6 milhões de assinantes.

A tensão entre a promessa do amanhã e a realidade atual reflete-se na cena indiana da tecnologia. Ao longo da década passada, projeções de gastos vertiginosos das centenas de milhões de consumidores levaram investidores a despejar dinheiro em jovens empresas de tecnologia. De acordo com a consultoria Bain, entre 2013 e 2021 o montante investido explodiu, de US$ 3 bilhões para US$ 38,5 bilhões. Agora, o dinheiro fácil está se esvaindo. Em 2022, as startups indianas receberam US$ 25,7 bilhões. Na primeira metade desta ano, foram parcos US$ 5,5 bilhões.

Algumas das mais brilhantes estrelas da tecnologia na Índia viraram estrela cadente. O valor da Byju, uma queridinha da tecnologia em educação, despencou de US$ 22 bilhões para U$ 5,1 bilhões em menos de um ano. A Oyo, uma plataforma de reservas de hotéis, atrasou sua abertura de capital mesmo após os investidores cortarem em três quartos seu valor, para US$ 2,7 bilhões.

A publicação online Moneycontrol estima que, desde 2022, as startups indianas cortaram mais de 30 mil postos de trabalho. Os investidores passaram a se preocupar com a possibilidade das empresas em seu portfólio jamais darem lucro. Perdas pesadas de “unicórnios” indianos (empresas não listadas que valem mais de US$ 1 bilhão) escancaram a situação. De acordo com a firma de dados Tracxn, dos 83 unicórnios que tornaram públicos resultados financeiros de 2022, 63 estão no vermelho, perdendo coletivamente mais de US$ 8 bilhões.

Devotos hindus participam do festival anual Rath Yatra, em Puri, na Índia; país é o mais populoso do mundo, mas ainda tem muitos problemas a resolver Foto: Rout Biswaranjan / AP

Mas algumas empresas de tecnologia indianas conseguem prosperar. Em vez de prometer fábulas futuras, elas são práticas e tediosas, mas lucrativas. Chamem-nas de camelos. A corretora de ações de baixo valor Zerodha, uma firma de 13 anos, registrou US$ 830 milhões de renda líquida em 2022. Em 2021, ano mais recente com dados disponíveis, a empresa de softwares corporativos Zoho, de Chennai, fundada no fim dos anos 90, registrou uma renda líquida de US$ 450 milhões e vendas de US$ 840 milhões.

A Info Edge, um conglomerado de empresas online de oferta de empregos, namoro e compras de imóveis, tem sido em grande medida lucrativa ao longo de seus 20 anos de existência. Seu sucesso é construído sobre uma ideia que parece exótica para uma geração de fundadores de empresas na Índia mimada por investidores indulgentes: foco no consumidor e contenção no custo.

Considerem primeiramente a receita. Alguns fundadores de empresas queixam-se privadamente que é difícil fazer os consumidores indianos pagarem por qualquer coisa. Mas o fundador da Zerodha, Nithin Kamath, discorda. Ele acredita que, apesar da carteira dos indianos não ser recheada, eles se mostram dispostos a pagar por produtos em que percebem valor. A Zerodha cobra 200 rúpias (cerca de US$ 2,5) para abrir contas novas, enquanto a maioria de suas competidoras não cobra nada. Kamath acredita que mesmo essa pequena quantia força a empresa a garantir que seus usuários considerem sua plataforma suficientemente útil para pagar a taxa extra.

As empresas camelos também são implacavelmente eficientes em relação ao capital. A Zerodha e a Zoho não levantaram nenhum dinheiro de investidores. A Info Edge foi autofinanciada por cinco anos antes de levantar uma quantia pequena em seu único financiamento exterior antes de abrir o capital, em 2006. O fundador da Info Edge, Sanjeev Bikhchandani, aconselha colegas fundadores a tratar cada rodada de financiamento “como se fosse a última”.

Uma maneira de estender o tapete vermelho (já que os modelos de investimento de risco definem o tempo que a firma tem até precisar de novos fundos) é mantendo os custos baixos. Considerem os salários dos funcionários. Startups ricamente financiadas despejam dinheiro sobre desenvolvedores com pedigree, oriundos das melhores universidades. Já a Zoho arregimenta estudantes de faculdades pouco conhecidas e os treina rigorosamente antes de trazê-los ao jogo. A empresa afirma que sua estratégia resulta em um pool de talentos mais amplo e funcionários mais leais.

A Zerodha, em outro contraste à libertinagem dos unicórnios, não gasta nenhum dinheiro em publicidade ou descontos e outros brindes para seduzir consumidores. E também usa alternativas gratuitas de código livre em vez de softwares pagos em sua infraestrutura tecnológica. O sistema de apoio em tecnologia para seus mais de mil funcionários custa apenas algumas centenas de dólares ao mês para operar; uma ferramenta externa faria o gasto voltar a alguns milhões. Apesar de ser uma plataforma de corretagem pesadamente tecnológica, a Zerodha gasta apenas 2% de sua receita em software. Manter baixas as despesas gerais tem o bônus acrescido de permitir a empresas como a Zerodha vender seus produtos lucrativamente a preços menores, alcançando muito mais clientes no subcontinente sensível a preços altos.

A estratégia vagarosa e comedida adotada pelos camelos é oposta à cartilha do Vale do Silício, de capturar participação no mercado primeiro e se preocupar com os lucros depois. Karthik Reddy, da Blume, argumenta que esse modelo pode ser mais adequado para a Índia, onde empresas podem demorar anos para encontrar o rumo.

Uma dificuldade para as empresas que optam por lucros graduais em vez de crescimento vertiginoso continua a mesma: os próprios investidores. Quem investe capital opera tipicamente em um calendário de dez anos, injetando dinheiro em startups no primeiro quinquênio e lucrando com suas jogadas no segundo. Isso incentiva os investidores a pressionar as empresas de seu portfólio a perseguir lucro a qualquer custo.

O diretor da Zoho, Sridhar Vembu, compara investimentos de risco a esteroides — capazes de incrementar o desempenho a curto prazo mas danificar a empresa ao longo dos anos. Sua visão pode ser extrema. Ainda assim, se os investidores quiserem retornos altos de suas apostas indianas, melhor eles apoiarem camelos robustos do que unicórnios sensuais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Para investidores estrangeiros, a Índia é um enigma. No lado positivo, é um mercado potencialmente enorme, recentemente ultrapassando a China enquanto país mais populoso do mundo. O FMI prevê que a Índia será o país que crescerá mais rapidamente entre as 20 maiores economias do mundo este ano. Até 2028, a previsão é que seu PIB seja o terceiro do planeta, ultrapassando Japão e Alemanha. O mercado de ações aprecia num ritmo de crescimento inebriante. Ao longo dos cinco anos recentes, as ações indianas superaram as de outras partes do mundo, incluindo as americanas.

Os lados negativos parecem igualmente formidáveis. Apenas 8% dos lares têm carro. No ano passado, o número de investidores individuais nas bolsas indianas era de insignificantes 35 milhões. A revolução do smartphone criou 850 milhões de internautas. A firma de investimentos de risco Blume estima que apenas 45 milhões de indianos são responsáveis por mais da metade de todas as compras online. A gigante do streaming de vídeos Netflix, que entrou na Índia em 2016 e cobra menos dos indianos do que quase todos os outros terráqueos, atraiu apenas 6 milhões de assinantes.

A tensão entre a promessa do amanhã e a realidade atual reflete-se na cena indiana da tecnologia. Ao longo da década passada, projeções de gastos vertiginosos das centenas de milhões de consumidores levaram investidores a despejar dinheiro em jovens empresas de tecnologia. De acordo com a consultoria Bain, entre 2013 e 2021 o montante investido explodiu, de US$ 3 bilhões para US$ 38,5 bilhões. Agora, o dinheiro fácil está se esvaindo. Em 2022, as startups indianas receberam US$ 25,7 bilhões. Na primeira metade desta ano, foram parcos US$ 5,5 bilhões.

Algumas das mais brilhantes estrelas da tecnologia na Índia viraram estrela cadente. O valor da Byju, uma queridinha da tecnologia em educação, despencou de US$ 22 bilhões para U$ 5,1 bilhões em menos de um ano. A Oyo, uma plataforma de reservas de hotéis, atrasou sua abertura de capital mesmo após os investidores cortarem em três quartos seu valor, para US$ 2,7 bilhões.

A publicação online Moneycontrol estima que, desde 2022, as startups indianas cortaram mais de 30 mil postos de trabalho. Os investidores passaram a se preocupar com a possibilidade das empresas em seu portfólio jamais darem lucro. Perdas pesadas de “unicórnios” indianos (empresas não listadas que valem mais de US$ 1 bilhão) escancaram a situação. De acordo com a firma de dados Tracxn, dos 83 unicórnios que tornaram públicos resultados financeiros de 2022, 63 estão no vermelho, perdendo coletivamente mais de US$ 8 bilhões.

Devotos hindus participam do festival anual Rath Yatra, em Puri, na Índia; país é o mais populoso do mundo, mas ainda tem muitos problemas a resolver Foto: Rout Biswaranjan / AP

Mas algumas empresas de tecnologia indianas conseguem prosperar. Em vez de prometer fábulas futuras, elas são práticas e tediosas, mas lucrativas. Chamem-nas de camelos. A corretora de ações de baixo valor Zerodha, uma firma de 13 anos, registrou US$ 830 milhões de renda líquida em 2022. Em 2021, ano mais recente com dados disponíveis, a empresa de softwares corporativos Zoho, de Chennai, fundada no fim dos anos 90, registrou uma renda líquida de US$ 450 milhões e vendas de US$ 840 milhões.

A Info Edge, um conglomerado de empresas online de oferta de empregos, namoro e compras de imóveis, tem sido em grande medida lucrativa ao longo de seus 20 anos de existência. Seu sucesso é construído sobre uma ideia que parece exótica para uma geração de fundadores de empresas na Índia mimada por investidores indulgentes: foco no consumidor e contenção no custo.

Considerem primeiramente a receita. Alguns fundadores de empresas queixam-se privadamente que é difícil fazer os consumidores indianos pagarem por qualquer coisa. Mas o fundador da Zerodha, Nithin Kamath, discorda. Ele acredita que, apesar da carteira dos indianos não ser recheada, eles se mostram dispostos a pagar por produtos em que percebem valor. A Zerodha cobra 200 rúpias (cerca de US$ 2,5) para abrir contas novas, enquanto a maioria de suas competidoras não cobra nada. Kamath acredita que mesmo essa pequena quantia força a empresa a garantir que seus usuários considerem sua plataforma suficientemente útil para pagar a taxa extra.

As empresas camelos também são implacavelmente eficientes em relação ao capital. A Zerodha e a Zoho não levantaram nenhum dinheiro de investidores. A Info Edge foi autofinanciada por cinco anos antes de levantar uma quantia pequena em seu único financiamento exterior antes de abrir o capital, em 2006. O fundador da Info Edge, Sanjeev Bikhchandani, aconselha colegas fundadores a tratar cada rodada de financiamento “como se fosse a última”.

Uma maneira de estender o tapete vermelho (já que os modelos de investimento de risco definem o tempo que a firma tem até precisar de novos fundos) é mantendo os custos baixos. Considerem os salários dos funcionários. Startups ricamente financiadas despejam dinheiro sobre desenvolvedores com pedigree, oriundos das melhores universidades. Já a Zoho arregimenta estudantes de faculdades pouco conhecidas e os treina rigorosamente antes de trazê-los ao jogo. A empresa afirma que sua estratégia resulta em um pool de talentos mais amplo e funcionários mais leais.

A Zerodha, em outro contraste à libertinagem dos unicórnios, não gasta nenhum dinheiro em publicidade ou descontos e outros brindes para seduzir consumidores. E também usa alternativas gratuitas de código livre em vez de softwares pagos em sua infraestrutura tecnológica. O sistema de apoio em tecnologia para seus mais de mil funcionários custa apenas algumas centenas de dólares ao mês para operar; uma ferramenta externa faria o gasto voltar a alguns milhões. Apesar de ser uma plataforma de corretagem pesadamente tecnológica, a Zerodha gasta apenas 2% de sua receita em software. Manter baixas as despesas gerais tem o bônus acrescido de permitir a empresas como a Zerodha vender seus produtos lucrativamente a preços menores, alcançando muito mais clientes no subcontinente sensível a preços altos.

A estratégia vagarosa e comedida adotada pelos camelos é oposta à cartilha do Vale do Silício, de capturar participação no mercado primeiro e se preocupar com os lucros depois. Karthik Reddy, da Blume, argumenta que esse modelo pode ser mais adequado para a Índia, onde empresas podem demorar anos para encontrar o rumo.

Uma dificuldade para as empresas que optam por lucros graduais em vez de crescimento vertiginoso continua a mesma: os próprios investidores. Quem investe capital opera tipicamente em um calendário de dez anos, injetando dinheiro em startups no primeiro quinquênio e lucrando com suas jogadas no segundo. Isso incentiva os investidores a pressionar as empresas de seu portfólio a perseguir lucro a qualquer custo.

O diretor da Zoho, Sridhar Vembu, compara investimentos de risco a esteroides — capazes de incrementar o desempenho a curto prazo mas danificar a empresa ao longo dos anos. Sua visão pode ser extrema. Ainda assim, se os investidores quiserem retornos altos de suas apostas indianas, melhor eles apoiarem camelos robustos do que unicórnios sensuais. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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