RIO - Apesar da empresa oficialmente negar que está à beira de uma recuperação judicial, a Light entrou de vez no radar das preocupações do mercado e a cada dia que passa aumentam as desconfianças de que algo não vai bem na companhia, o que não é uma grande novidade na avaliação de uma fonte próxima ao assunto, que explica a crise atual como consequência de uma série de decisões equivocadas que começaram com a entrada de novos sócios.
Em 2020, Ronaldo Cesar Coelho, o maior investidor privado da Light, vendeu 5,1% para o investidor Carlos Alberto Sicupira, um dos sócios da gestora 3G Capital, dona de empresas como ABInBev, Burger King e Lojas Americanas, que passou a deter 10% da Light. Após a venda, os dois sócios fizeram uma reestruturação na companhia, mudando o presidente e o Conselho de Administração.
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Na avaliação da fonte, o problema foi ter colocado na direção da companhia executivos que não entendem a situação complicada da Light no Rio de Janeiro, que há anos luta contra as perdas decorrentes de “gatos” (ligações clandestinas) de energia elétrica. Às vésperas da revisão da concessão, a empresa agora luta para organizar sua pesada dívida em meio a desconfianças quanto à sua capacidade de pagamento.
As ações da companhia na época da entrada de Sicupira valorizaram, chegando à cotação de mais de R$ 20, mas foram perdendo valor com a falta de boas notícias e resultados financeiros negativos, e, mais recentemente, derreteram com a informação sobre a contratação da Laplace Finanças, que foi responsável pela recuperação judicial da Oi. A situação foi agravada pela presença do mesmo sócio da Light na crise das Lojas Americanas, o empresário Carlos Alberto Sicupira.
Com os rumores de uma possível recuperação judicial, os papéis da distribuidora derreteram nos últimos pregões. Desde que a notícia da contratação da Laplace, no início de fevereiro, os papéis já caíram 38%. Hoje, os papéis fecharam cotados a R$ 2,66.
Em resposta enviada ao Estadão/Broadcast, a Light negou que esteja próxima de uma recuperação judicial e reafirmou que contratou a consultoria financeira Laplace para assessorá-la “na avaliação de estratégias financeiras que viabilizem a melhoria de sua estrutura de capital e de alternativas para tanto”.
A contratação da assessoria financeira, porém, reforçou a percepção de que a empresa poderia estar enfrentando problemas para rolar as dívidas, tendo em vista a proximidade do fim do prazo de concessão da distribuidora do grupo, que se encerra em 2026.
O cenário levou as agências de avaliação de risco Fitch e Moody’s a baixar as notas de crédito da Light S.A. e suas subsidiárias Light SESA (distribuidora) e Light Energia (geradora). A S&P também rebaixou o rating da Light SESA alegando “maior risco de financiamento”.
Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, quando uma empresa contrata uma consultoria como a Laplace, o problema está mais à frente, e o mercado viu uma possibilidade da Light não honrar seus compromissos. “Mostra que está tendo dificuldade da Light em refinanciar prazos para além de 2026″, avaliou recentemente o analista.
“Tanto na ação da empresa, quanto no crédito, não há dúvida de que as expectativas para os próximos eventos podem não ser das melhores. O mercado está se preparando para tudo”, conclui Arbetman.