Por que a mais longa seca de IPOs na Bolsa brasileira em 25 anos deve se manter em 2025


Bancos projetam mais um ano sem oferta inicial de ações no País devido ao cenário de juros altos e crise de confiança com o governo; listagem de ações em Nova York é opção para empresas

Por Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt
Atualização:

Ainda sob o choque do pacote de corte de gastos anunciado no final de novembro pelo governo, e com a taxa de juros em alta, a aposta maior da Faria Lima é a de que 2025 deverá repetir os últimos três anos e, provavelmente, nenhuma nova oferta inicial de ações (IPO, em inglês) seja feita na Bolsa brasileira, na maior seca em mais de 25 anos.

Esse quadro acontece após o boom de entradas em 2020 e 2021, quando 74 empresas protagonizaram uma corrida rumo à B3. Os últimos IPOs registrados pela Bolsa local foram em agosto de 2021. Nesse ambiente, as bolsas dos Estados Unidos podem ser uma opção e já há relatos de empresas sondando bancos interessadas em listar ações em Nova York.

No Brasil, uma das condições essenciais para haver uma oferta, é de alguma expectativa de corte de juros, o que para economistas pode só começar a ocorrer no final do ano, a depender do cenário fiscal. Pesquisa do Bank of America com gestores latino-americanos mostra que a maioria ainda vê a Selic acima de 12,5% em dezembro de 2025, com parte acreditando em taxa até acima de 15%.

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“Taxa de juros para cima e IPO são duas coisas que não combinam”, afirma o chefe do banco de investimento do Santander Brasil, Leonardo Cabral. Em uma virada de ano marcada pela incerteza, o banco não arrisca fazer uma previsão de quando as ofertas devem voltar em 2025, mas prevê que se acontecerem, serão limitadas a poucas companhias.

Para um IPO sair do papel, precisa ser de ao menos R$ 3 bilhões Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Tampouco se arrisca o Bradesco. “As chances de algum IPO em 2025 estão reduzidas”, disse o vice-presidente do Bradesco, Bruno Boetger. Segundo ele, no momento, não há sinais de que alguma nova listagem ocorra no ano.

De qualquer forma, a visão nos bancos de investimento é de que grandes companhias seguem tendo a maior chance de emplacar um IPO. Nomes como Votorantim Cimentos, CSN Cimentos e a gigante de saneamento Aegea são apontados como candidatos com maior potencial, em uma lista que já tem mais de 60 nomes.

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Empresas exportadoras, grandes, lucrativas, sem maiores problemas de endividamento e que tenham fluxo de caixa mais previsível são apontadas pelos banqueiros como as que teriam capacidade de emplacar uma oferta, se a janela fechada em agosto de 2021 se reabrir mais para o final de 2025. Não à toa, ações de empresas com esse perfil, como Embraer, Klabin, Weg e Suzano estão entre as com melhor desempenho na B3 no ano.

Oferta de R$ 3 bi

Para um IPO sair do papel, precisa ser de ao menos US$ 500 milhões (R$ 3 bilhões), valor que permitiria a entrada de investidores estrangeiros, que no último ciclo de ofertas, em 2020 e 2021, responderam por cerca de 30% a 40% da demanda. “Quanto maior a oferta, maior o interesse do estrangeiro”, afirma o responsável pela área de Mercado de Capitais de Ações do Santander Brasil, Pedro Costa.

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“A situação atual implica um potencial atraso na abertura do mercado de capitais brasileiro para IPOs”, avalia a executiva responsável pela área de ofertas de ações do UBS-BB, Teodora Barone, citando ambiente de juros elevados e incerteza com a situação fiscal do Brasil.

Esse ambiente deve levar companhias brasileiras a avaliar o mercado americano como alternativa, ressalta a executiva do UBS. “O Trump trouxe uma perspectiva positiva da reabertura de mercado para IPOs”, afirma Barone. A economia americana mostrando atividade resistente, bolsas batendo recordes e IPOs bem-sucedidos em 2024 apontam para um 2025 ainda melhor, na visão da executiva.

Nos bancos da Faria Lima, o relato é que não há sondagens ou conversas de empresas para tentar um IPO no Brasil em 2025. Alguns nomes estão sondando uma possível oferta lá fora. “Temos conversas sim para IPO nos EUA”, afirma Costa, do Santander, citando que é uma empresa com parte da receita em dólar.

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Já para Boetger, do Bradesco, mesmo para os IPOs no exterior, o cenário local complica. “As empresas continuam sendo brasileiras, e com exceção de um caso ou outro, as incertezas no mercado local deixam o investidor com menor apetite para investir, tendo a oportunidade de alocar seus recursos em outros emergentes”, diz. Segundo ele, a Bolsa brasileira está barata e pode permanecer assim por mais tempo, o que deve levar o investidor estrangeiro a aguardar um pouco mais para decidir voltar.

Sangria nos fundos

No Brasil, os fundos, principais compradores de ações nas ofertas, perderam bilhões em saques em 2024. Só nos multimercados, a fuga bateu em R$ 325 bilhões. Já nos fundos de ações, somaram R$ 9,5 bilhões até novembro, segundo os dados mais recentes da Anbima. Grande parte desse dinheiro migrou para a renda fixa.

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“A seca de IPO vai continuar”, avalia Daniel Celano, diretor presidente da Schroders Brasil, uma das gestoras mais ativas na bolsa. Com juros muito altos e uma crise de confiança com o governo, não há apetite por papéis de empresas novatas, e nem para comprar ações na B3, que estão baratas, mas com o risco de ficarem ainda mais baratas.

“A prancha está quebrada e o Brasil não está surfando a onda do mercado global”, ressalta Celano. Ele observa que a situação fiscal complicada do Brasil, com a dívida aumentando, fez as expectativas de inflação ficarem desancoradas aqui, enquanto no exterior a inflação recua e os juros caem.

Ainda sob o choque do pacote de corte de gastos anunciado no final de novembro pelo governo, e com a taxa de juros em alta, a aposta maior da Faria Lima é a de que 2025 deverá repetir os últimos três anos e, provavelmente, nenhuma nova oferta inicial de ações (IPO, em inglês) seja feita na Bolsa brasileira, na maior seca em mais de 25 anos.

Esse quadro acontece após o boom de entradas em 2020 e 2021, quando 74 empresas protagonizaram uma corrida rumo à B3. Os últimos IPOs registrados pela Bolsa local foram em agosto de 2021. Nesse ambiente, as bolsas dos Estados Unidos podem ser uma opção e já há relatos de empresas sondando bancos interessadas em listar ações em Nova York.

No Brasil, uma das condições essenciais para haver uma oferta, é de alguma expectativa de corte de juros, o que para economistas pode só começar a ocorrer no final do ano, a depender do cenário fiscal. Pesquisa do Bank of America com gestores latino-americanos mostra que a maioria ainda vê a Selic acima de 12,5% em dezembro de 2025, com parte acreditando em taxa até acima de 15%.

“Taxa de juros para cima e IPO são duas coisas que não combinam”, afirma o chefe do banco de investimento do Santander Brasil, Leonardo Cabral. Em uma virada de ano marcada pela incerteza, o banco não arrisca fazer uma previsão de quando as ofertas devem voltar em 2025, mas prevê que se acontecerem, serão limitadas a poucas companhias.

Para um IPO sair do papel, precisa ser de ao menos R$ 3 bilhões Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Tampouco se arrisca o Bradesco. “As chances de algum IPO em 2025 estão reduzidas”, disse o vice-presidente do Bradesco, Bruno Boetger. Segundo ele, no momento, não há sinais de que alguma nova listagem ocorra no ano.

De qualquer forma, a visão nos bancos de investimento é de que grandes companhias seguem tendo a maior chance de emplacar um IPO. Nomes como Votorantim Cimentos, CSN Cimentos e a gigante de saneamento Aegea são apontados como candidatos com maior potencial, em uma lista que já tem mais de 60 nomes.

Empresas exportadoras, grandes, lucrativas, sem maiores problemas de endividamento e que tenham fluxo de caixa mais previsível são apontadas pelos banqueiros como as que teriam capacidade de emplacar uma oferta, se a janela fechada em agosto de 2021 se reabrir mais para o final de 2025. Não à toa, ações de empresas com esse perfil, como Embraer, Klabin, Weg e Suzano estão entre as com melhor desempenho na B3 no ano.

Oferta de R$ 3 bi

Para um IPO sair do papel, precisa ser de ao menos US$ 500 milhões (R$ 3 bilhões), valor que permitiria a entrada de investidores estrangeiros, que no último ciclo de ofertas, em 2020 e 2021, responderam por cerca de 30% a 40% da demanda. “Quanto maior a oferta, maior o interesse do estrangeiro”, afirma o responsável pela área de Mercado de Capitais de Ações do Santander Brasil, Pedro Costa.

“A situação atual implica um potencial atraso na abertura do mercado de capitais brasileiro para IPOs”, avalia a executiva responsável pela área de ofertas de ações do UBS-BB, Teodora Barone, citando ambiente de juros elevados e incerteza com a situação fiscal do Brasil.

Esse ambiente deve levar companhias brasileiras a avaliar o mercado americano como alternativa, ressalta a executiva do UBS. “O Trump trouxe uma perspectiva positiva da reabertura de mercado para IPOs”, afirma Barone. A economia americana mostrando atividade resistente, bolsas batendo recordes e IPOs bem-sucedidos em 2024 apontam para um 2025 ainda melhor, na visão da executiva.

Nos bancos da Faria Lima, o relato é que não há sondagens ou conversas de empresas para tentar um IPO no Brasil em 2025. Alguns nomes estão sondando uma possível oferta lá fora. “Temos conversas sim para IPO nos EUA”, afirma Costa, do Santander, citando que é uma empresa com parte da receita em dólar.

Já para Boetger, do Bradesco, mesmo para os IPOs no exterior, o cenário local complica. “As empresas continuam sendo brasileiras, e com exceção de um caso ou outro, as incertezas no mercado local deixam o investidor com menor apetite para investir, tendo a oportunidade de alocar seus recursos em outros emergentes”, diz. Segundo ele, a Bolsa brasileira está barata e pode permanecer assim por mais tempo, o que deve levar o investidor estrangeiro a aguardar um pouco mais para decidir voltar.

Sangria nos fundos

No Brasil, os fundos, principais compradores de ações nas ofertas, perderam bilhões em saques em 2024. Só nos multimercados, a fuga bateu em R$ 325 bilhões. Já nos fundos de ações, somaram R$ 9,5 bilhões até novembro, segundo os dados mais recentes da Anbima. Grande parte desse dinheiro migrou para a renda fixa.

“A seca de IPO vai continuar”, avalia Daniel Celano, diretor presidente da Schroders Brasil, uma das gestoras mais ativas na bolsa. Com juros muito altos e uma crise de confiança com o governo, não há apetite por papéis de empresas novatas, e nem para comprar ações na B3, que estão baratas, mas com o risco de ficarem ainda mais baratas.

“A prancha está quebrada e o Brasil não está surfando a onda do mercado global”, ressalta Celano. Ele observa que a situação fiscal complicada do Brasil, com a dívida aumentando, fez as expectativas de inflação ficarem desancoradas aqui, enquanto no exterior a inflação recua e os juros caem.

Ainda sob o choque do pacote de corte de gastos anunciado no final de novembro pelo governo, e com a taxa de juros em alta, a aposta maior da Faria Lima é a de que 2025 deverá repetir os últimos três anos e, provavelmente, nenhuma nova oferta inicial de ações (IPO, em inglês) seja feita na Bolsa brasileira, na maior seca em mais de 25 anos.

Esse quadro acontece após o boom de entradas em 2020 e 2021, quando 74 empresas protagonizaram uma corrida rumo à B3. Os últimos IPOs registrados pela Bolsa local foram em agosto de 2021. Nesse ambiente, as bolsas dos Estados Unidos podem ser uma opção e já há relatos de empresas sondando bancos interessadas em listar ações em Nova York.

No Brasil, uma das condições essenciais para haver uma oferta, é de alguma expectativa de corte de juros, o que para economistas pode só começar a ocorrer no final do ano, a depender do cenário fiscal. Pesquisa do Bank of America com gestores latino-americanos mostra que a maioria ainda vê a Selic acima de 12,5% em dezembro de 2025, com parte acreditando em taxa até acima de 15%.

“Taxa de juros para cima e IPO são duas coisas que não combinam”, afirma o chefe do banco de investimento do Santander Brasil, Leonardo Cabral. Em uma virada de ano marcada pela incerteza, o banco não arrisca fazer uma previsão de quando as ofertas devem voltar em 2025, mas prevê que se acontecerem, serão limitadas a poucas companhias.

Para um IPO sair do papel, precisa ser de ao menos R$ 3 bilhões Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Tampouco se arrisca o Bradesco. “As chances de algum IPO em 2025 estão reduzidas”, disse o vice-presidente do Bradesco, Bruno Boetger. Segundo ele, no momento, não há sinais de que alguma nova listagem ocorra no ano.

De qualquer forma, a visão nos bancos de investimento é de que grandes companhias seguem tendo a maior chance de emplacar um IPO. Nomes como Votorantim Cimentos, CSN Cimentos e a gigante de saneamento Aegea são apontados como candidatos com maior potencial, em uma lista que já tem mais de 60 nomes.

Empresas exportadoras, grandes, lucrativas, sem maiores problemas de endividamento e que tenham fluxo de caixa mais previsível são apontadas pelos banqueiros como as que teriam capacidade de emplacar uma oferta, se a janela fechada em agosto de 2021 se reabrir mais para o final de 2025. Não à toa, ações de empresas com esse perfil, como Embraer, Klabin, Weg e Suzano estão entre as com melhor desempenho na B3 no ano.

Oferta de R$ 3 bi

Para um IPO sair do papel, precisa ser de ao menos US$ 500 milhões (R$ 3 bilhões), valor que permitiria a entrada de investidores estrangeiros, que no último ciclo de ofertas, em 2020 e 2021, responderam por cerca de 30% a 40% da demanda. “Quanto maior a oferta, maior o interesse do estrangeiro”, afirma o responsável pela área de Mercado de Capitais de Ações do Santander Brasil, Pedro Costa.

“A situação atual implica um potencial atraso na abertura do mercado de capitais brasileiro para IPOs”, avalia a executiva responsável pela área de ofertas de ações do UBS-BB, Teodora Barone, citando ambiente de juros elevados e incerteza com a situação fiscal do Brasil.

Esse ambiente deve levar companhias brasileiras a avaliar o mercado americano como alternativa, ressalta a executiva do UBS. “O Trump trouxe uma perspectiva positiva da reabertura de mercado para IPOs”, afirma Barone. A economia americana mostrando atividade resistente, bolsas batendo recordes e IPOs bem-sucedidos em 2024 apontam para um 2025 ainda melhor, na visão da executiva.

Nos bancos da Faria Lima, o relato é que não há sondagens ou conversas de empresas para tentar um IPO no Brasil em 2025. Alguns nomes estão sondando uma possível oferta lá fora. “Temos conversas sim para IPO nos EUA”, afirma Costa, do Santander, citando que é uma empresa com parte da receita em dólar.

Já para Boetger, do Bradesco, mesmo para os IPOs no exterior, o cenário local complica. “As empresas continuam sendo brasileiras, e com exceção de um caso ou outro, as incertezas no mercado local deixam o investidor com menor apetite para investir, tendo a oportunidade de alocar seus recursos em outros emergentes”, diz. Segundo ele, a Bolsa brasileira está barata e pode permanecer assim por mais tempo, o que deve levar o investidor estrangeiro a aguardar um pouco mais para decidir voltar.

Sangria nos fundos

No Brasil, os fundos, principais compradores de ações nas ofertas, perderam bilhões em saques em 2024. Só nos multimercados, a fuga bateu em R$ 325 bilhões. Já nos fundos de ações, somaram R$ 9,5 bilhões até novembro, segundo os dados mais recentes da Anbima. Grande parte desse dinheiro migrou para a renda fixa.

“A seca de IPO vai continuar”, avalia Daniel Celano, diretor presidente da Schroders Brasil, uma das gestoras mais ativas na bolsa. Com juros muito altos e uma crise de confiança com o governo, não há apetite por papéis de empresas novatas, e nem para comprar ações na B3, que estão baratas, mas com o risco de ficarem ainda mais baratas.

“A prancha está quebrada e o Brasil não está surfando a onda do mercado global”, ressalta Celano. Ele observa que a situação fiscal complicada do Brasil, com a dívida aumentando, fez as expectativas de inflação ficarem desancoradas aqui, enquanto no exterior a inflação recua e os juros caem.

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