‘Se não subsidiarmos agenda verde, vamos apenas exportar matéria-prima’, diz diretora do BNDES


Segundo Luciana da Costa, da área de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do banco, Brasil deve ter ambição de ser primeira grande economia a se descarbonizar

Por Beatriz Bulla
Atualização:
Foto: Marcelo Chello
Entrevista comLuciana da Costa Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES

Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana da Costa é uma defensora do papel do banco e do governo na indução de uma agenda de economia verde no País. Para isso, ela diz que é preciso usar subsídios, como outros países têm feito, sob risco de o Brasil se tornar um mero exportador de matéria-prima se não acelerar sua transição energética. “Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido”, diz a diretora, em entrevista ao Estadão.

Ela diz que o Brasil precisa trabalhar para ser a primeira grande economia a conseguir se descarbonizar e afirma que o Ministério da Fazenda está alinhado com a posição do banco. “Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões”, afirma. A diretora também voltou a defender a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo na chamada Margem Equatorial - uma posição que divide o governo Lula. “Acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama”, diz.

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Luciana da Costa fez a carreira em bancos, no setor privado. Antes do convite para integrar a diretoria do BNDES, era a presidente do banco francês Natixis no Brasil. Formada em economia pela Unicamp, a diretora chegou a ser aluna de Aloizio Mercadante, atual presidente do banco, na graduação. Só foi ter novo contato com ele, no entanto, durante a campanha eleitoral no ano passado, quando passou a organizar em sua casa conversas com políticos e pensadores para debater o cenário político. Em um desses encontros, conversou com Mercadante sobre o cenário de transição energética.

Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia, diz Luciana da Costa Foto: Marcelo Chello/Estadão

A sra. tem defendido o uso de subsídios para impulsionar a agenda de transição energética do País. Por quê?

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O Brasil tem uma janela, está um pouco atrasado na regulação. Quando eu estava no mercado, a agenda do outro governo não era uma agenda de descarbonização, de combate ao desmatamento, de nada disso. Então, não adiantava falar ‘vamos fazer um green bond (título verde) para a República’. Agora aumentou a credibilidade e, com isso, aumenta a quantidade de dinheiro que pode vir para o País. Mas temos de fazer a nossa lição de casa. Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia e nem que ela vai acontecer sem subsídio, porque os Estados Unidos estão subsidiando a transição energética. A Europa está subsidiando. Austrália, subsidiando. Não vamos ter a quantidade de subsídio que eles têm, mas vamos ter de ser mais eficientes, mais criativos. Só que temos vantagens comparativas. O custo da energia eólica, solar, no Brasil é um dos mais baratos do mundo. Tem estudos que mostram que o hidrogênio verde no Brasil vai ser um dos mais baratos do mundo. Então, tem tudo para dar certo, mas temos de fazer dar mais certo, sim. E se a gente não regular, se a gente não organizar, a gente perde o bonde.

Hoje o BNDES tem o Fundo Clima. A ideia é ampliá-lo?

Se a gente não fizer, isso vai ser feito no resto do mundo. E aí vamos exportar óleo de soja, folha de macaúba, óleo de palma. E vamos replicar o modelo agrário exportador. Então, pensamos o tempo inteiro em como fazer isso e como a gente pode discutir com o governo o subsídio. A gente tem o Fundo Clima, um fundo que já tem recurso subsidiado, que na média custa 4%, utilizado para financiar a descarbonização. Esse fundo vai receber agora R$ 600 milhões, mas é um fundo de cerca de R$ 3 bilhões. Temos ambição de ter R$ 50 bilhões. Não precisa pôr tudo de uma vez. Precisa criar esse espaço fiscal. Conforme os projetos vão amadurecendo, vamos usando esse dinheiro para financiar biogás, para financiar combustível sustentável de avião, por exemplo.

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Temos essas vantagens comparativas, mas há especialistas que dizem que já estamos ficando para trás nessa agenda. A sra. compartilha dessa visão?

Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido. A agenda da transição energética é irreversível. Só que ela ela não vai ser uma linha reta, não vai ser contínua. Vai ter idas e vindas. E o mundo está em estágios diferentes da transição. A Europa está muito mais avançada, com políticas mais bem estabelecidas do que aqui na América Latina. O Chile está na nossa frente. Mas não tem nenhum país do tamanho do Brasil que tenha todas as vantagens comparativas que o Brasil tem em custo de energia eólica e solar, um litoral enorme, com uma capacidade gigantesca para desenvolvimento offshore. A gente tem capacidade de biogás, de biocombustível, com a nossa capacidade de biomassa. Já temos uma indústria de etanol estabelecida, capacidade de produção de óleo de macaúba, de óleo de palma, que é o tipo de estoque de matéria-prima que vai ser fundamental para a produção de combustível sustentável de avião. As rotas de descarbonização da economia são várias e o Brasil tem vantagens comparativas em todas. O Brasil tem 13% da água do mundo. Fizemos opções corretas no passado, que é a nossa matriz elétrica. O custo de descarbonização do Brasil vem de desmatamento e do uso da terra. Descarbonizar desmatamento e uso da terra é muito mais barato do que descarbonizar processo industrial ou descarbonizar a matriz elétrica e matriz energética. O custo de descarbonização do Brasil é menor. Então, o Brasil tem de ter ambição de ser a primeira grande economia a se descarbonizar. E a gente acredita que o Brasil tem condições de ser negativo em carbono. Em 2050, temos de estar exportando crédito de carbono.

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Como tem sido o diálogo com a Fazenda?

A Fazenda vai lançar o Plano de Transição Ecológica. Temos levado as nossas ideias para serem incorporadas, e o diálogo é ótimo. Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões. De repente, a Fazenda pode emitir um green bond e passar o dinheiro para a gente. Alternativas estão sendo discutidas.

Como seria o subsídio para hidrogênio verde, por exemplo?

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Temos de discutir se vamos pagar, por exemplo, US$ 3 por quilo de hidrogênio verde para as primeiras 10 milhões de toneladas que o Brasil produzir. É esse tipo de discussão que temos atualmente com a Fazenda. E por que eu fico feliz? Porque essa é uma prioridade da Fazenda, eles estão super focados nisso. Estou positiva. Defendo que tem de ter algum subsídio, não precisa ser pra sempre. E a gente vai precisar do dinheiro do BNDES, do dinheiro de outros bancos de fomento, do dinheiro de mercado, de capitais, dinheiro de banco, dinheiro internacional, dinheiro local, e o BNDES pode ser o catalisador disso tudo.

Diretora do BNDES defende a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial Foto: Marcelo Chello/Estadão

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, falou em junho que a produção de combustível de avião sustentável SAF está mais perto de acontecer. Como está a discussão desses projetos no banco?

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O SAF tem um risco. Se atrasarmos, serão fechados contratos de longo prazo para levar a nossa matéria-prima para fazer combustível sustentável de avião na Europa e Estados Unidos. Então, sim, estamos olhando para o combustível sustentável de avião. Ele pode vir da reforma do etanol ou pode vir pela rota de biomassa - pegar óleo de macaúba, o óleo de palma.

Como a agenda de neoindustrialização, termo cunhado por Lula e Alckmin em um artigo publicado no Estadão, acompanha a de transição energética?

Se atrasarmos a transição, também estaremos condenados a replicar o modelo agrário exportador. Temos 107 mil ônibus no Brasil e uma tradição de produzir ônibus. O Brasil exporta ônibus, já exportou mais para Europa, Estados Unidos, mas hoje exportamos muito para América Latina. Hoje, China e Brasil têm condições de fazer ônibus elétrico. Se acelerarmos a transição energética, aceleramos a carbonização dos grandes centros, substituindo a frota, geramos demanda para essa indústria que a gente já tem. Quem sai na frente ganha escala primeiro. Depois, dificilmente alguém consegue ir atrás. A China, quando ela decidiu que seria campeã em energia renovável, começou a produzir painel solar. Ela conseguiu ganhar tanta escala tanto que ela exporta para o mundo inteiro, com preço tão baixo que é difícil produzir painel solar fora da China e competir com preço de painel solar chinês. Precisamos ganhar escala logo, começar a exportar, por exemplo, o equipamento que transforma energia solar, elétrica, eólica em hidrogênio verde.

Estamos falando de alguns projetos de longo prazo na agenda de transição energética e reindustrialização. Mas existe um governo que quer entregar resultados a curto prazo, de sensação de melhora na economia e de melhora na vida das pessoas. Como isso vai caminhar junto?

Vai ser junto. Tem de ser junto. É por isso que a transição tem de ser rápida. Por exemplo, a nossa indústria já consegue entregar ônibus elétrico. E ônibus elétrico é descarbonização da economia, é a industrialização verde, e o cidadão comum consegue perceber o benefício quando vai andar em um ônibus que polui menos, que não faz barulho. Tem projeto de troca da frota nas grandes capitais e o BNDES está avaliando o maior projeto de troca de frotas do Brasil, que é na cidade de São Paulo. SAF também vai ser daqui a pouco. A produção de macaúba é feita por pequeno produtor. Então, o governo vai lá e, se fomentar isso, também vai ser sentido rapidamente na vida do cidadão comum. É um desafio a curto, médio e longo prazos. Hidrogênio verde será mais longo, sim.

Em um artigo no Estadão, a sra. defendeu que a exploração de petróleo na Margem Equatorial pode levar a Petrobras à transição energética justa. Segue com essa avaliação? Qual acredita que será a decisão do governo?

Sigo. E estou otimista, acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama. A Petrobras está cumprindo o que o Ibama pediu. Eles fizeram um centro para tratar animais, caso tenha vazamento, eles desviaram algumas rotas de avião, de helicóptero que estavam em cima de uma reserva indígena. Aquilo vai ser vitrine para o mundo. E a Petrobras já perfurou mais de três mil poços de água profundas, ultra profundas. Se tem uma empresa que tem tecnologia para fazer essa pesquisa exploratória com toda a segurança, é a Petrobras. A Petrobras não tem no currículo acidentes que a BP tem, por exemplo. Então, na minha opinião, a empresa certa para fazer é a Petrobras, porque é comprometida com o Brasil e tem expertise. O Brasil, sem o pré-sal, hoje estaria importando petróleo. O que vai determinar a redução do consumo de petróleo? Redução da demanda, não é a redução da oferta. Se a gente não produzir, outro vai produzir, e vamos acabar importando da Guiana. Se a gente para de produzir petróleo hoje, o avião fica no chão. Nós é que precisamos mudar, fazer essa revolução. Pegar o ônibus a diesel e substituir por elétrico e reduzir a demanda de consumo de diesel. Pegar a legislação de avião e exigir que um porcentual maior de combustível sustentável de avião seja utilizado para reduzir o consumo de querosene a base de petróleo.

Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana da Costa é uma defensora do papel do banco e do governo na indução de uma agenda de economia verde no País. Para isso, ela diz que é preciso usar subsídios, como outros países têm feito, sob risco de o Brasil se tornar um mero exportador de matéria-prima se não acelerar sua transição energética. “Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido”, diz a diretora, em entrevista ao Estadão.

Ela diz que o Brasil precisa trabalhar para ser a primeira grande economia a conseguir se descarbonizar e afirma que o Ministério da Fazenda está alinhado com a posição do banco. “Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões”, afirma. A diretora também voltou a defender a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo na chamada Margem Equatorial - uma posição que divide o governo Lula. “Acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama”, diz.

Luciana da Costa fez a carreira em bancos, no setor privado. Antes do convite para integrar a diretoria do BNDES, era a presidente do banco francês Natixis no Brasil. Formada em economia pela Unicamp, a diretora chegou a ser aluna de Aloizio Mercadante, atual presidente do banco, na graduação. Só foi ter novo contato com ele, no entanto, durante a campanha eleitoral no ano passado, quando passou a organizar em sua casa conversas com políticos e pensadores para debater o cenário político. Em um desses encontros, conversou com Mercadante sobre o cenário de transição energética.

Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia, diz Luciana da Costa Foto: Marcelo Chello/Estadão

A sra. tem defendido o uso de subsídios para impulsionar a agenda de transição energética do País. Por quê?

O Brasil tem uma janela, está um pouco atrasado na regulação. Quando eu estava no mercado, a agenda do outro governo não era uma agenda de descarbonização, de combate ao desmatamento, de nada disso. Então, não adiantava falar ‘vamos fazer um green bond (título verde) para a República’. Agora aumentou a credibilidade e, com isso, aumenta a quantidade de dinheiro que pode vir para o País. Mas temos de fazer a nossa lição de casa. Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia e nem que ela vai acontecer sem subsídio, porque os Estados Unidos estão subsidiando a transição energética. A Europa está subsidiando. Austrália, subsidiando. Não vamos ter a quantidade de subsídio que eles têm, mas vamos ter de ser mais eficientes, mais criativos. Só que temos vantagens comparativas. O custo da energia eólica, solar, no Brasil é um dos mais baratos do mundo. Tem estudos que mostram que o hidrogênio verde no Brasil vai ser um dos mais baratos do mundo. Então, tem tudo para dar certo, mas temos de fazer dar mais certo, sim. E se a gente não regular, se a gente não organizar, a gente perde o bonde.

Hoje o BNDES tem o Fundo Clima. A ideia é ampliá-lo?

Se a gente não fizer, isso vai ser feito no resto do mundo. E aí vamos exportar óleo de soja, folha de macaúba, óleo de palma. E vamos replicar o modelo agrário exportador. Então, pensamos o tempo inteiro em como fazer isso e como a gente pode discutir com o governo o subsídio. A gente tem o Fundo Clima, um fundo que já tem recurso subsidiado, que na média custa 4%, utilizado para financiar a descarbonização. Esse fundo vai receber agora R$ 600 milhões, mas é um fundo de cerca de R$ 3 bilhões. Temos ambição de ter R$ 50 bilhões. Não precisa pôr tudo de uma vez. Precisa criar esse espaço fiscal. Conforme os projetos vão amadurecendo, vamos usando esse dinheiro para financiar biogás, para financiar combustível sustentável de avião, por exemplo.

Temos essas vantagens comparativas, mas há especialistas que dizem que já estamos ficando para trás nessa agenda. A sra. compartilha dessa visão?

Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido. A agenda da transição energética é irreversível. Só que ela ela não vai ser uma linha reta, não vai ser contínua. Vai ter idas e vindas. E o mundo está em estágios diferentes da transição. A Europa está muito mais avançada, com políticas mais bem estabelecidas do que aqui na América Latina. O Chile está na nossa frente. Mas não tem nenhum país do tamanho do Brasil que tenha todas as vantagens comparativas que o Brasil tem em custo de energia eólica e solar, um litoral enorme, com uma capacidade gigantesca para desenvolvimento offshore. A gente tem capacidade de biogás, de biocombustível, com a nossa capacidade de biomassa. Já temos uma indústria de etanol estabelecida, capacidade de produção de óleo de macaúba, de óleo de palma, que é o tipo de estoque de matéria-prima que vai ser fundamental para a produção de combustível sustentável de avião. As rotas de descarbonização da economia são várias e o Brasil tem vantagens comparativas em todas. O Brasil tem 13% da água do mundo. Fizemos opções corretas no passado, que é a nossa matriz elétrica. O custo de descarbonização do Brasil vem de desmatamento e do uso da terra. Descarbonizar desmatamento e uso da terra é muito mais barato do que descarbonizar processo industrial ou descarbonizar a matriz elétrica e matriz energética. O custo de descarbonização do Brasil é menor. Então, o Brasil tem de ter ambição de ser a primeira grande economia a se descarbonizar. E a gente acredita que o Brasil tem condições de ser negativo em carbono. Em 2050, temos de estar exportando crédito de carbono.

Como tem sido o diálogo com a Fazenda?

A Fazenda vai lançar o Plano de Transição Ecológica. Temos levado as nossas ideias para serem incorporadas, e o diálogo é ótimo. Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões. De repente, a Fazenda pode emitir um green bond e passar o dinheiro para a gente. Alternativas estão sendo discutidas.

Como seria o subsídio para hidrogênio verde, por exemplo?

Temos de discutir se vamos pagar, por exemplo, US$ 3 por quilo de hidrogênio verde para as primeiras 10 milhões de toneladas que o Brasil produzir. É esse tipo de discussão que temos atualmente com a Fazenda. E por que eu fico feliz? Porque essa é uma prioridade da Fazenda, eles estão super focados nisso. Estou positiva. Defendo que tem de ter algum subsídio, não precisa ser pra sempre. E a gente vai precisar do dinheiro do BNDES, do dinheiro de outros bancos de fomento, do dinheiro de mercado, de capitais, dinheiro de banco, dinheiro internacional, dinheiro local, e o BNDES pode ser o catalisador disso tudo.

Diretora do BNDES defende a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial Foto: Marcelo Chello/Estadão

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, falou em junho que a produção de combustível de avião sustentável SAF está mais perto de acontecer. Como está a discussão desses projetos no banco?

O SAF tem um risco. Se atrasarmos, serão fechados contratos de longo prazo para levar a nossa matéria-prima para fazer combustível sustentável de avião na Europa e Estados Unidos. Então, sim, estamos olhando para o combustível sustentável de avião. Ele pode vir da reforma do etanol ou pode vir pela rota de biomassa - pegar óleo de macaúba, o óleo de palma.

Como a agenda de neoindustrialização, termo cunhado por Lula e Alckmin em um artigo publicado no Estadão, acompanha a de transição energética?

Se atrasarmos a transição, também estaremos condenados a replicar o modelo agrário exportador. Temos 107 mil ônibus no Brasil e uma tradição de produzir ônibus. O Brasil exporta ônibus, já exportou mais para Europa, Estados Unidos, mas hoje exportamos muito para América Latina. Hoje, China e Brasil têm condições de fazer ônibus elétrico. Se acelerarmos a transição energética, aceleramos a carbonização dos grandes centros, substituindo a frota, geramos demanda para essa indústria que a gente já tem. Quem sai na frente ganha escala primeiro. Depois, dificilmente alguém consegue ir atrás. A China, quando ela decidiu que seria campeã em energia renovável, começou a produzir painel solar. Ela conseguiu ganhar tanta escala tanto que ela exporta para o mundo inteiro, com preço tão baixo que é difícil produzir painel solar fora da China e competir com preço de painel solar chinês. Precisamos ganhar escala logo, começar a exportar, por exemplo, o equipamento que transforma energia solar, elétrica, eólica em hidrogênio verde.

Estamos falando de alguns projetos de longo prazo na agenda de transição energética e reindustrialização. Mas existe um governo que quer entregar resultados a curto prazo, de sensação de melhora na economia e de melhora na vida das pessoas. Como isso vai caminhar junto?

Vai ser junto. Tem de ser junto. É por isso que a transição tem de ser rápida. Por exemplo, a nossa indústria já consegue entregar ônibus elétrico. E ônibus elétrico é descarbonização da economia, é a industrialização verde, e o cidadão comum consegue perceber o benefício quando vai andar em um ônibus que polui menos, que não faz barulho. Tem projeto de troca da frota nas grandes capitais e o BNDES está avaliando o maior projeto de troca de frotas do Brasil, que é na cidade de São Paulo. SAF também vai ser daqui a pouco. A produção de macaúba é feita por pequeno produtor. Então, o governo vai lá e, se fomentar isso, também vai ser sentido rapidamente na vida do cidadão comum. É um desafio a curto, médio e longo prazos. Hidrogênio verde será mais longo, sim.

Em um artigo no Estadão, a sra. defendeu que a exploração de petróleo na Margem Equatorial pode levar a Petrobras à transição energética justa. Segue com essa avaliação? Qual acredita que será a decisão do governo?

Sigo. E estou otimista, acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama. A Petrobras está cumprindo o que o Ibama pediu. Eles fizeram um centro para tratar animais, caso tenha vazamento, eles desviaram algumas rotas de avião, de helicóptero que estavam em cima de uma reserva indígena. Aquilo vai ser vitrine para o mundo. E a Petrobras já perfurou mais de três mil poços de água profundas, ultra profundas. Se tem uma empresa que tem tecnologia para fazer essa pesquisa exploratória com toda a segurança, é a Petrobras. A Petrobras não tem no currículo acidentes que a BP tem, por exemplo. Então, na minha opinião, a empresa certa para fazer é a Petrobras, porque é comprometida com o Brasil e tem expertise. O Brasil, sem o pré-sal, hoje estaria importando petróleo. O que vai determinar a redução do consumo de petróleo? Redução da demanda, não é a redução da oferta. Se a gente não produzir, outro vai produzir, e vamos acabar importando da Guiana. Se a gente para de produzir petróleo hoje, o avião fica no chão. Nós é que precisamos mudar, fazer essa revolução. Pegar o ônibus a diesel e substituir por elétrico e reduzir a demanda de consumo de diesel. Pegar a legislação de avião e exigir que um porcentual maior de combustível sustentável de avião seja utilizado para reduzir o consumo de querosene a base de petróleo.

Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana da Costa é uma defensora do papel do banco e do governo na indução de uma agenda de economia verde no País. Para isso, ela diz que é preciso usar subsídios, como outros países têm feito, sob risco de o Brasil se tornar um mero exportador de matéria-prima se não acelerar sua transição energética. “Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido”, diz a diretora, em entrevista ao Estadão.

Ela diz que o Brasil precisa trabalhar para ser a primeira grande economia a conseguir se descarbonizar e afirma que o Ministério da Fazenda está alinhado com a posição do banco. “Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões”, afirma. A diretora também voltou a defender a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo na chamada Margem Equatorial - uma posição que divide o governo Lula. “Acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama”, diz.

Luciana da Costa fez a carreira em bancos, no setor privado. Antes do convite para integrar a diretoria do BNDES, era a presidente do banco francês Natixis no Brasil. Formada em economia pela Unicamp, a diretora chegou a ser aluna de Aloizio Mercadante, atual presidente do banco, na graduação. Só foi ter novo contato com ele, no entanto, durante a campanha eleitoral no ano passado, quando passou a organizar em sua casa conversas com políticos e pensadores para debater o cenário político. Em um desses encontros, conversou com Mercadante sobre o cenário de transição energética.

Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia, diz Luciana da Costa Foto: Marcelo Chello/Estadão

A sra. tem defendido o uso de subsídios para impulsionar a agenda de transição energética do País. Por quê?

O Brasil tem uma janela, está um pouco atrasado na regulação. Quando eu estava no mercado, a agenda do outro governo não era uma agenda de descarbonização, de combate ao desmatamento, de nada disso. Então, não adiantava falar ‘vamos fazer um green bond (título verde) para a República’. Agora aumentou a credibilidade e, com isso, aumenta a quantidade de dinheiro que pode vir para o País. Mas temos de fazer a nossa lição de casa. Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia e nem que ela vai acontecer sem subsídio, porque os Estados Unidos estão subsidiando a transição energética. A Europa está subsidiando. Austrália, subsidiando. Não vamos ter a quantidade de subsídio que eles têm, mas vamos ter de ser mais eficientes, mais criativos. Só que temos vantagens comparativas. O custo da energia eólica, solar, no Brasil é um dos mais baratos do mundo. Tem estudos que mostram que o hidrogênio verde no Brasil vai ser um dos mais baratos do mundo. Então, tem tudo para dar certo, mas temos de fazer dar mais certo, sim. E se a gente não regular, se a gente não organizar, a gente perde o bonde.

Hoje o BNDES tem o Fundo Clima. A ideia é ampliá-lo?

Se a gente não fizer, isso vai ser feito no resto do mundo. E aí vamos exportar óleo de soja, folha de macaúba, óleo de palma. E vamos replicar o modelo agrário exportador. Então, pensamos o tempo inteiro em como fazer isso e como a gente pode discutir com o governo o subsídio. A gente tem o Fundo Clima, um fundo que já tem recurso subsidiado, que na média custa 4%, utilizado para financiar a descarbonização. Esse fundo vai receber agora R$ 600 milhões, mas é um fundo de cerca de R$ 3 bilhões. Temos ambição de ter R$ 50 bilhões. Não precisa pôr tudo de uma vez. Precisa criar esse espaço fiscal. Conforme os projetos vão amadurecendo, vamos usando esse dinheiro para financiar biogás, para financiar combustível sustentável de avião, por exemplo.

Temos essas vantagens comparativas, mas há especialistas que dizem que já estamos ficando para trás nessa agenda. A sra. compartilha dessa visão?

Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido. A agenda da transição energética é irreversível. Só que ela ela não vai ser uma linha reta, não vai ser contínua. Vai ter idas e vindas. E o mundo está em estágios diferentes da transição. A Europa está muito mais avançada, com políticas mais bem estabelecidas do que aqui na América Latina. O Chile está na nossa frente. Mas não tem nenhum país do tamanho do Brasil que tenha todas as vantagens comparativas que o Brasil tem em custo de energia eólica e solar, um litoral enorme, com uma capacidade gigantesca para desenvolvimento offshore. A gente tem capacidade de biogás, de biocombustível, com a nossa capacidade de biomassa. Já temos uma indústria de etanol estabelecida, capacidade de produção de óleo de macaúba, de óleo de palma, que é o tipo de estoque de matéria-prima que vai ser fundamental para a produção de combustível sustentável de avião. As rotas de descarbonização da economia são várias e o Brasil tem vantagens comparativas em todas. O Brasil tem 13% da água do mundo. Fizemos opções corretas no passado, que é a nossa matriz elétrica. O custo de descarbonização do Brasil vem de desmatamento e do uso da terra. Descarbonizar desmatamento e uso da terra é muito mais barato do que descarbonizar processo industrial ou descarbonizar a matriz elétrica e matriz energética. O custo de descarbonização do Brasil é menor. Então, o Brasil tem de ter ambição de ser a primeira grande economia a se descarbonizar. E a gente acredita que o Brasil tem condições de ser negativo em carbono. Em 2050, temos de estar exportando crédito de carbono.

Como tem sido o diálogo com a Fazenda?

A Fazenda vai lançar o Plano de Transição Ecológica. Temos levado as nossas ideias para serem incorporadas, e o diálogo é ótimo. Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões. De repente, a Fazenda pode emitir um green bond e passar o dinheiro para a gente. Alternativas estão sendo discutidas.

Como seria o subsídio para hidrogênio verde, por exemplo?

Temos de discutir se vamos pagar, por exemplo, US$ 3 por quilo de hidrogênio verde para as primeiras 10 milhões de toneladas que o Brasil produzir. É esse tipo de discussão que temos atualmente com a Fazenda. E por que eu fico feliz? Porque essa é uma prioridade da Fazenda, eles estão super focados nisso. Estou positiva. Defendo que tem de ter algum subsídio, não precisa ser pra sempre. E a gente vai precisar do dinheiro do BNDES, do dinheiro de outros bancos de fomento, do dinheiro de mercado, de capitais, dinheiro de banco, dinheiro internacional, dinheiro local, e o BNDES pode ser o catalisador disso tudo.

Diretora do BNDES defende a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial Foto: Marcelo Chello/Estadão

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, falou em junho que a produção de combustível de avião sustentável SAF está mais perto de acontecer. Como está a discussão desses projetos no banco?

O SAF tem um risco. Se atrasarmos, serão fechados contratos de longo prazo para levar a nossa matéria-prima para fazer combustível sustentável de avião na Europa e Estados Unidos. Então, sim, estamos olhando para o combustível sustentável de avião. Ele pode vir da reforma do etanol ou pode vir pela rota de biomassa - pegar óleo de macaúba, o óleo de palma.

Como a agenda de neoindustrialização, termo cunhado por Lula e Alckmin em um artigo publicado no Estadão, acompanha a de transição energética?

Se atrasarmos a transição, também estaremos condenados a replicar o modelo agrário exportador. Temos 107 mil ônibus no Brasil e uma tradição de produzir ônibus. O Brasil exporta ônibus, já exportou mais para Europa, Estados Unidos, mas hoje exportamos muito para América Latina. Hoje, China e Brasil têm condições de fazer ônibus elétrico. Se acelerarmos a transição energética, aceleramos a carbonização dos grandes centros, substituindo a frota, geramos demanda para essa indústria que a gente já tem. Quem sai na frente ganha escala primeiro. Depois, dificilmente alguém consegue ir atrás. A China, quando ela decidiu que seria campeã em energia renovável, começou a produzir painel solar. Ela conseguiu ganhar tanta escala tanto que ela exporta para o mundo inteiro, com preço tão baixo que é difícil produzir painel solar fora da China e competir com preço de painel solar chinês. Precisamos ganhar escala logo, começar a exportar, por exemplo, o equipamento que transforma energia solar, elétrica, eólica em hidrogênio verde.

Estamos falando de alguns projetos de longo prazo na agenda de transição energética e reindustrialização. Mas existe um governo que quer entregar resultados a curto prazo, de sensação de melhora na economia e de melhora na vida das pessoas. Como isso vai caminhar junto?

Vai ser junto. Tem de ser junto. É por isso que a transição tem de ser rápida. Por exemplo, a nossa indústria já consegue entregar ônibus elétrico. E ônibus elétrico é descarbonização da economia, é a industrialização verde, e o cidadão comum consegue perceber o benefício quando vai andar em um ônibus que polui menos, que não faz barulho. Tem projeto de troca da frota nas grandes capitais e o BNDES está avaliando o maior projeto de troca de frotas do Brasil, que é na cidade de São Paulo. SAF também vai ser daqui a pouco. A produção de macaúba é feita por pequeno produtor. Então, o governo vai lá e, se fomentar isso, também vai ser sentido rapidamente na vida do cidadão comum. É um desafio a curto, médio e longo prazos. Hidrogênio verde será mais longo, sim.

Em um artigo no Estadão, a sra. defendeu que a exploração de petróleo na Margem Equatorial pode levar a Petrobras à transição energética justa. Segue com essa avaliação? Qual acredita que será a decisão do governo?

Sigo. E estou otimista, acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama. A Petrobras está cumprindo o que o Ibama pediu. Eles fizeram um centro para tratar animais, caso tenha vazamento, eles desviaram algumas rotas de avião, de helicóptero que estavam em cima de uma reserva indígena. Aquilo vai ser vitrine para o mundo. E a Petrobras já perfurou mais de três mil poços de água profundas, ultra profundas. Se tem uma empresa que tem tecnologia para fazer essa pesquisa exploratória com toda a segurança, é a Petrobras. A Petrobras não tem no currículo acidentes que a BP tem, por exemplo. Então, na minha opinião, a empresa certa para fazer é a Petrobras, porque é comprometida com o Brasil e tem expertise. O Brasil, sem o pré-sal, hoje estaria importando petróleo. O que vai determinar a redução do consumo de petróleo? Redução da demanda, não é a redução da oferta. Se a gente não produzir, outro vai produzir, e vamos acabar importando da Guiana. Se a gente para de produzir petróleo hoje, o avião fica no chão. Nós é que precisamos mudar, fazer essa revolução. Pegar o ônibus a diesel e substituir por elétrico e reduzir a demanda de consumo de diesel. Pegar a legislação de avião e exigir que um porcentual maior de combustível sustentável de avião seja utilizado para reduzir o consumo de querosene a base de petróleo.

Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana da Costa é uma defensora do papel do banco e do governo na indução de uma agenda de economia verde no País. Para isso, ela diz que é preciso usar subsídios, como outros países têm feito, sob risco de o Brasil se tornar um mero exportador de matéria-prima se não acelerar sua transição energética. “Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido”, diz a diretora, em entrevista ao Estadão.

Ela diz que o Brasil precisa trabalhar para ser a primeira grande economia a conseguir se descarbonizar e afirma que o Ministério da Fazenda está alinhado com a posição do banco. “Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões”, afirma. A diretora também voltou a defender a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo na chamada Margem Equatorial - uma posição que divide o governo Lula. “Acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama”, diz.

Luciana da Costa fez a carreira em bancos, no setor privado. Antes do convite para integrar a diretoria do BNDES, era a presidente do banco francês Natixis no Brasil. Formada em economia pela Unicamp, a diretora chegou a ser aluna de Aloizio Mercadante, atual presidente do banco, na graduação. Só foi ter novo contato com ele, no entanto, durante a campanha eleitoral no ano passado, quando passou a organizar em sua casa conversas com políticos e pensadores para debater o cenário político. Em um desses encontros, conversou com Mercadante sobre o cenário de transição energética.

Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia, diz Luciana da Costa Foto: Marcelo Chello/Estadão

A sra. tem defendido o uso de subsídios para impulsionar a agenda de transição energética do País. Por quê?

O Brasil tem uma janela, está um pouco atrasado na regulação. Quando eu estava no mercado, a agenda do outro governo não era uma agenda de descarbonização, de combate ao desmatamento, de nada disso. Então, não adiantava falar ‘vamos fazer um green bond (título verde) para a República’. Agora aumentou a credibilidade e, com isso, aumenta a quantidade de dinheiro que pode vir para o País. Mas temos de fazer a nossa lição de casa. Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia e nem que ela vai acontecer sem subsídio, porque os Estados Unidos estão subsidiando a transição energética. A Europa está subsidiando. Austrália, subsidiando. Não vamos ter a quantidade de subsídio que eles têm, mas vamos ter de ser mais eficientes, mais criativos. Só que temos vantagens comparativas. O custo da energia eólica, solar, no Brasil é um dos mais baratos do mundo. Tem estudos que mostram que o hidrogênio verde no Brasil vai ser um dos mais baratos do mundo. Então, tem tudo para dar certo, mas temos de fazer dar mais certo, sim. E se a gente não regular, se a gente não organizar, a gente perde o bonde.

Hoje o BNDES tem o Fundo Clima. A ideia é ampliá-lo?

Se a gente não fizer, isso vai ser feito no resto do mundo. E aí vamos exportar óleo de soja, folha de macaúba, óleo de palma. E vamos replicar o modelo agrário exportador. Então, pensamos o tempo inteiro em como fazer isso e como a gente pode discutir com o governo o subsídio. A gente tem o Fundo Clima, um fundo que já tem recurso subsidiado, que na média custa 4%, utilizado para financiar a descarbonização. Esse fundo vai receber agora R$ 600 milhões, mas é um fundo de cerca de R$ 3 bilhões. Temos ambição de ter R$ 50 bilhões. Não precisa pôr tudo de uma vez. Precisa criar esse espaço fiscal. Conforme os projetos vão amadurecendo, vamos usando esse dinheiro para financiar biogás, para financiar combustível sustentável de avião, por exemplo.

Temos essas vantagens comparativas, mas há especialistas que dizem que já estamos ficando para trás nessa agenda. A sra. compartilha dessa visão?

Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido. A agenda da transição energética é irreversível. Só que ela ela não vai ser uma linha reta, não vai ser contínua. Vai ter idas e vindas. E o mundo está em estágios diferentes da transição. A Europa está muito mais avançada, com políticas mais bem estabelecidas do que aqui na América Latina. O Chile está na nossa frente. Mas não tem nenhum país do tamanho do Brasil que tenha todas as vantagens comparativas que o Brasil tem em custo de energia eólica e solar, um litoral enorme, com uma capacidade gigantesca para desenvolvimento offshore. A gente tem capacidade de biogás, de biocombustível, com a nossa capacidade de biomassa. Já temos uma indústria de etanol estabelecida, capacidade de produção de óleo de macaúba, de óleo de palma, que é o tipo de estoque de matéria-prima que vai ser fundamental para a produção de combustível sustentável de avião. As rotas de descarbonização da economia são várias e o Brasil tem vantagens comparativas em todas. O Brasil tem 13% da água do mundo. Fizemos opções corretas no passado, que é a nossa matriz elétrica. O custo de descarbonização do Brasil vem de desmatamento e do uso da terra. Descarbonizar desmatamento e uso da terra é muito mais barato do que descarbonizar processo industrial ou descarbonizar a matriz elétrica e matriz energética. O custo de descarbonização do Brasil é menor. Então, o Brasil tem de ter ambição de ser a primeira grande economia a se descarbonizar. E a gente acredita que o Brasil tem condições de ser negativo em carbono. Em 2050, temos de estar exportando crédito de carbono.

Como tem sido o diálogo com a Fazenda?

A Fazenda vai lançar o Plano de Transição Ecológica. Temos levado as nossas ideias para serem incorporadas, e o diálogo é ótimo. Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões. De repente, a Fazenda pode emitir um green bond e passar o dinheiro para a gente. Alternativas estão sendo discutidas.

Como seria o subsídio para hidrogênio verde, por exemplo?

Temos de discutir se vamos pagar, por exemplo, US$ 3 por quilo de hidrogênio verde para as primeiras 10 milhões de toneladas que o Brasil produzir. É esse tipo de discussão que temos atualmente com a Fazenda. E por que eu fico feliz? Porque essa é uma prioridade da Fazenda, eles estão super focados nisso. Estou positiva. Defendo que tem de ter algum subsídio, não precisa ser pra sempre. E a gente vai precisar do dinheiro do BNDES, do dinheiro de outros bancos de fomento, do dinheiro de mercado, de capitais, dinheiro de banco, dinheiro internacional, dinheiro local, e o BNDES pode ser o catalisador disso tudo.

Diretora do BNDES defende a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial Foto: Marcelo Chello/Estadão

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, falou em junho que a produção de combustível de avião sustentável SAF está mais perto de acontecer. Como está a discussão desses projetos no banco?

O SAF tem um risco. Se atrasarmos, serão fechados contratos de longo prazo para levar a nossa matéria-prima para fazer combustível sustentável de avião na Europa e Estados Unidos. Então, sim, estamos olhando para o combustível sustentável de avião. Ele pode vir da reforma do etanol ou pode vir pela rota de biomassa - pegar óleo de macaúba, o óleo de palma.

Como a agenda de neoindustrialização, termo cunhado por Lula e Alckmin em um artigo publicado no Estadão, acompanha a de transição energética?

Se atrasarmos a transição, também estaremos condenados a replicar o modelo agrário exportador. Temos 107 mil ônibus no Brasil e uma tradição de produzir ônibus. O Brasil exporta ônibus, já exportou mais para Europa, Estados Unidos, mas hoje exportamos muito para América Latina. Hoje, China e Brasil têm condições de fazer ônibus elétrico. Se acelerarmos a transição energética, aceleramos a carbonização dos grandes centros, substituindo a frota, geramos demanda para essa indústria que a gente já tem. Quem sai na frente ganha escala primeiro. Depois, dificilmente alguém consegue ir atrás. A China, quando ela decidiu que seria campeã em energia renovável, começou a produzir painel solar. Ela conseguiu ganhar tanta escala tanto que ela exporta para o mundo inteiro, com preço tão baixo que é difícil produzir painel solar fora da China e competir com preço de painel solar chinês. Precisamos ganhar escala logo, começar a exportar, por exemplo, o equipamento que transforma energia solar, elétrica, eólica em hidrogênio verde.

Estamos falando de alguns projetos de longo prazo na agenda de transição energética e reindustrialização. Mas existe um governo que quer entregar resultados a curto prazo, de sensação de melhora na economia e de melhora na vida das pessoas. Como isso vai caminhar junto?

Vai ser junto. Tem de ser junto. É por isso que a transição tem de ser rápida. Por exemplo, a nossa indústria já consegue entregar ônibus elétrico. E ônibus elétrico é descarbonização da economia, é a industrialização verde, e o cidadão comum consegue perceber o benefício quando vai andar em um ônibus que polui menos, que não faz barulho. Tem projeto de troca da frota nas grandes capitais e o BNDES está avaliando o maior projeto de troca de frotas do Brasil, que é na cidade de São Paulo. SAF também vai ser daqui a pouco. A produção de macaúba é feita por pequeno produtor. Então, o governo vai lá e, se fomentar isso, também vai ser sentido rapidamente na vida do cidadão comum. É um desafio a curto, médio e longo prazos. Hidrogênio verde será mais longo, sim.

Em um artigo no Estadão, a sra. defendeu que a exploração de petróleo na Margem Equatorial pode levar a Petrobras à transição energética justa. Segue com essa avaliação? Qual acredita que será a decisão do governo?

Sigo. E estou otimista, acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama. A Petrobras está cumprindo o que o Ibama pediu. Eles fizeram um centro para tratar animais, caso tenha vazamento, eles desviaram algumas rotas de avião, de helicóptero que estavam em cima de uma reserva indígena. Aquilo vai ser vitrine para o mundo. E a Petrobras já perfurou mais de três mil poços de água profundas, ultra profundas. Se tem uma empresa que tem tecnologia para fazer essa pesquisa exploratória com toda a segurança, é a Petrobras. A Petrobras não tem no currículo acidentes que a BP tem, por exemplo. Então, na minha opinião, a empresa certa para fazer é a Petrobras, porque é comprometida com o Brasil e tem expertise. O Brasil, sem o pré-sal, hoje estaria importando petróleo. O que vai determinar a redução do consumo de petróleo? Redução da demanda, não é a redução da oferta. Se a gente não produzir, outro vai produzir, e vamos acabar importando da Guiana. Se a gente para de produzir petróleo hoje, o avião fica no chão. Nós é que precisamos mudar, fazer essa revolução. Pegar o ônibus a diesel e substituir por elétrico e reduzir a demanda de consumo de diesel. Pegar a legislação de avião e exigir que um porcentual maior de combustível sustentável de avião seja utilizado para reduzir o consumo de querosene a base de petróleo.

Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana da Costa é uma defensora do papel do banco e do governo na indução de uma agenda de economia verde no País. Para isso, ela diz que é preciso usar subsídios, como outros países têm feito, sob risco de o Brasil se tornar um mero exportador de matéria-prima se não acelerar sua transição energética. “Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido”, diz a diretora, em entrevista ao Estadão.

Ela diz que o Brasil precisa trabalhar para ser a primeira grande economia a conseguir se descarbonizar e afirma que o Ministério da Fazenda está alinhado com a posição do banco. “Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões”, afirma. A diretora também voltou a defender a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo na chamada Margem Equatorial - uma posição que divide o governo Lula. “Acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama”, diz.

Luciana da Costa fez a carreira em bancos, no setor privado. Antes do convite para integrar a diretoria do BNDES, era a presidente do banco francês Natixis no Brasil. Formada em economia pela Unicamp, a diretora chegou a ser aluna de Aloizio Mercadante, atual presidente do banco, na graduação. Só foi ter novo contato com ele, no entanto, durante a campanha eleitoral no ano passado, quando passou a organizar em sua casa conversas com políticos e pensadores para debater o cenário político. Em um desses encontros, conversou com Mercadante sobre o cenário de transição energética.

Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia, diz Luciana da Costa Foto: Marcelo Chello/Estadão

A sra. tem defendido o uso de subsídios para impulsionar a agenda de transição energética do País. Por quê?

O Brasil tem uma janela, está um pouco atrasado na regulação. Quando eu estava no mercado, a agenda do outro governo não era uma agenda de descarbonização, de combate ao desmatamento, de nada disso. Então, não adiantava falar ‘vamos fazer um green bond (título verde) para a República’. Agora aumentou a credibilidade e, com isso, aumenta a quantidade de dinheiro que pode vir para o País. Mas temos de fazer a nossa lição de casa. Não dá para a gente achar que a transição energética vai cair por inércia e nem que ela vai acontecer sem subsídio, porque os Estados Unidos estão subsidiando a transição energética. A Europa está subsidiando. Austrália, subsidiando. Não vamos ter a quantidade de subsídio que eles têm, mas vamos ter de ser mais eficientes, mais criativos. Só que temos vantagens comparativas. O custo da energia eólica, solar, no Brasil é um dos mais baratos do mundo. Tem estudos que mostram que o hidrogênio verde no Brasil vai ser um dos mais baratos do mundo. Então, tem tudo para dar certo, mas temos de fazer dar mais certo, sim. E se a gente não regular, se a gente não organizar, a gente perde o bonde.

Hoje o BNDES tem o Fundo Clima. A ideia é ampliá-lo?

Se a gente não fizer, isso vai ser feito no resto do mundo. E aí vamos exportar óleo de soja, folha de macaúba, óleo de palma. E vamos replicar o modelo agrário exportador. Então, pensamos o tempo inteiro em como fazer isso e como a gente pode discutir com o governo o subsídio. A gente tem o Fundo Clima, um fundo que já tem recurso subsidiado, que na média custa 4%, utilizado para financiar a descarbonização. Esse fundo vai receber agora R$ 600 milhões, mas é um fundo de cerca de R$ 3 bilhões. Temos ambição de ter R$ 50 bilhões. Não precisa pôr tudo de uma vez. Precisa criar esse espaço fiscal. Conforme os projetos vão amadurecendo, vamos usando esse dinheiro para financiar biogás, para financiar combustível sustentável de avião, por exemplo.

Temos essas vantagens comparativas, mas há especialistas que dizem que já estamos ficando para trás nessa agenda. A sra. compartilha dessa visão?

Não estamos ficando para trás ainda. Estamos atrasados, mas eu acho que dá tempo de recuperar o tempo perdido. A agenda da transição energética é irreversível. Só que ela ela não vai ser uma linha reta, não vai ser contínua. Vai ter idas e vindas. E o mundo está em estágios diferentes da transição. A Europa está muito mais avançada, com políticas mais bem estabelecidas do que aqui na América Latina. O Chile está na nossa frente. Mas não tem nenhum país do tamanho do Brasil que tenha todas as vantagens comparativas que o Brasil tem em custo de energia eólica e solar, um litoral enorme, com uma capacidade gigantesca para desenvolvimento offshore. A gente tem capacidade de biogás, de biocombustível, com a nossa capacidade de biomassa. Já temos uma indústria de etanol estabelecida, capacidade de produção de óleo de macaúba, de óleo de palma, que é o tipo de estoque de matéria-prima que vai ser fundamental para a produção de combustível sustentável de avião. As rotas de descarbonização da economia são várias e o Brasil tem vantagens comparativas em todas. O Brasil tem 13% da água do mundo. Fizemos opções corretas no passado, que é a nossa matriz elétrica. O custo de descarbonização do Brasil vem de desmatamento e do uso da terra. Descarbonizar desmatamento e uso da terra é muito mais barato do que descarbonizar processo industrial ou descarbonizar a matriz elétrica e matriz energética. O custo de descarbonização do Brasil é menor. Então, o Brasil tem de ter ambição de ser a primeira grande economia a se descarbonizar. E a gente acredita que o Brasil tem condições de ser negativo em carbono. Em 2050, temos de estar exportando crédito de carbono.

Como tem sido o diálogo com a Fazenda?

A Fazenda vai lançar o Plano de Transição Ecológica. Temos levado as nossas ideias para serem incorporadas, e o diálogo é ótimo. Eles veem também essa necessidade de aumentar o subsídio e ambicionar, por exemplo, um Fundo Clima de R$ 50 bilhões. De repente, a Fazenda pode emitir um green bond e passar o dinheiro para a gente. Alternativas estão sendo discutidas.

Como seria o subsídio para hidrogênio verde, por exemplo?

Temos de discutir se vamos pagar, por exemplo, US$ 3 por quilo de hidrogênio verde para as primeiras 10 milhões de toneladas que o Brasil produzir. É esse tipo de discussão que temos atualmente com a Fazenda. E por que eu fico feliz? Porque essa é uma prioridade da Fazenda, eles estão super focados nisso. Estou positiva. Defendo que tem de ter algum subsídio, não precisa ser pra sempre. E a gente vai precisar do dinheiro do BNDES, do dinheiro de outros bancos de fomento, do dinheiro de mercado, de capitais, dinheiro de banco, dinheiro internacional, dinheiro local, e o BNDES pode ser o catalisador disso tudo.

Diretora do BNDES defende a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial Foto: Marcelo Chello/Estadão

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, falou em junho que a produção de combustível de avião sustentável SAF está mais perto de acontecer. Como está a discussão desses projetos no banco?

O SAF tem um risco. Se atrasarmos, serão fechados contratos de longo prazo para levar a nossa matéria-prima para fazer combustível sustentável de avião na Europa e Estados Unidos. Então, sim, estamos olhando para o combustível sustentável de avião. Ele pode vir da reforma do etanol ou pode vir pela rota de biomassa - pegar óleo de macaúba, o óleo de palma.

Como a agenda de neoindustrialização, termo cunhado por Lula e Alckmin em um artigo publicado no Estadão, acompanha a de transição energética?

Se atrasarmos a transição, também estaremos condenados a replicar o modelo agrário exportador. Temos 107 mil ônibus no Brasil e uma tradição de produzir ônibus. O Brasil exporta ônibus, já exportou mais para Europa, Estados Unidos, mas hoje exportamos muito para América Latina. Hoje, China e Brasil têm condições de fazer ônibus elétrico. Se acelerarmos a transição energética, aceleramos a carbonização dos grandes centros, substituindo a frota, geramos demanda para essa indústria que a gente já tem. Quem sai na frente ganha escala primeiro. Depois, dificilmente alguém consegue ir atrás. A China, quando ela decidiu que seria campeã em energia renovável, começou a produzir painel solar. Ela conseguiu ganhar tanta escala tanto que ela exporta para o mundo inteiro, com preço tão baixo que é difícil produzir painel solar fora da China e competir com preço de painel solar chinês. Precisamos ganhar escala logo, começar a exportar, por exemplo, o equipamento que transforma energia solar, elétrica, eólica em hidrogênio verde.

Estamos falando de alguns projetos de longo prazo na agenda de transição energética e reindustrialização. Mas existe um governo que quer entregar resultados a curto prazo, de sensação de melhora na economia e de melhora na vida das pessoas. Como isso vai caminhar junto?

Vai ser junto. Tem de ser junto. É por isso que a transição tem de ser rápida. Por exemplo, a nossa indústria já consegue entregar ônibus elétrico. E ônibus elétrico é descarbonização da economia, é a industrialização verde, e o cidadão comum consegue perceber o benefício quando vai andar em um ônibus que polui menos, que não faz barulho. Tem projeto de troca da frota nas grandes capitais e o BNDES está avaliando o maior projeto de troca de frotas do Brasil, que é na cidade de São Paulo. SAF também vai ser daqui a pouco. A produção de macaúba é feita por pequeno produtor. Então, o governo vai lá e, se fomentar isso, também vai ser sentido rapidamente na vida do cidadão comum. É um desafio a curto, médio e longo prazos. Hidrogênio verde será mais longo, sim.

Em um artigo no Estadão, a sra. defendeu que a exploração de petróleo na Margem Equatorial pode levar a Petrobras à transição energética justa. Segue com essa avaliação? Qual acredita que será a decisão do governo?

Sigo. E estou otimista, acho que iremos conseguir chegar em um acordo com o Ministério do Meio Ambiente e com o Ibama. A Petrobras está cumprindo o que o Ibama pediu. Eles fizeram um centro para tratar animais, caso tenha vazamento, eles desviaram algumas rotas de avião, de helicóptero que estavam em cima de uma reserva indígena. Aquilo vai ser vitrine para o mundo. E a Petrobras já perfurou mais de três mil poços de água profundas, ultra profundas. Se tem uma empresa que tem tecnologia para fazer essa pesquisa exploratória com toda a segurança, é a Petrobras. A Petrobras não tem no currículo acidentes que a BP tem, por exemplo. Então, na minha opinião, a empresa certa para fazer é a Petrobras, porque é comprometida com o Brasil e tem expertise. O Brasil, sem o pré-sal, hoje estaria importando petróleo. O que vai determinar a redução do consumo de petróleo? Redução da demanda, não é a redução da oferta. Se a gente não produzir, outro vai produzir, e vamos acabar importando da Guiana. Se a gente para de produzir petróleo hoje, o avião fica no chão. Nós é que precisamos mudar, fazer essa revolução. Pegar o ônibus a diesel e substituir por elétrico e reduzir a demanda de consumo de diesel. Pegar a legislação de avião e exigir que um porcentual maior de combustível sustentável de avião seja utilizado para reduzir o consumo de querosene a base de petróleo.

Entrevista por Beatriz Bulla

Repórter que cobre o poder -- economia, política e internacional. Trabalha hoje em São Paulo. Já passou por Brasília e foi correspondente em Washington (EUA). Formada em jornalismo e em direito, foi também pesquisadora visitante na Universidade Columbia, em Nova York.

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