Lucro da Eletrobras tem alta de 21% em 2023; empresa propõe pagar R$ 1,29 bi em dividendos


Resultados mostram companhia no ‘caminho certo’, segundo analistas; simplificação de estrutura iniciada em 2023 deve continuar neste ano, segundo companhia, que não prevê novo programa de demissões

Por Redação
Atualização:

A Eletrobras teve lucro de R$ 4,395 bilhões em 2023, resultado 21% maior que o registrado no ano anterior. A empresa encerrou o quarto trimestre do ano passado com lucro líquido de R$ 893 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 479 milhões apurado no mesmo intervalo de 2022, mesmo ano em que a empresa foi privatizada, num modelo que vem sendo contestado pelo governo Lula.

A administração da Eletrobras vai propor a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023, segundo seu relatório de resultados. “Nossa disciplina financeira e de alocação de capital possibilitou a proposta de distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023″, diz o texto, sem dar outros detalhes.

O governo tenta na Justiça reverter a privatização da companhia para retomar seu controle por meio do conselho de administração. Atualmente, segundo o modelo conhecido como corporation, nenhum investidor pode ter mais de 10% do poder de voto na empresa, independentemente do número de ações que detenha, o que garante que a administração tenha de responder a todos os sócios.

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Em maio do ano passado, a União moveu uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona essa regra do limite do poder de voto, uma vez que a União detém 43% da companhia. Na prática, o governo tenta uma reestatização, uma vez que, se o poder de voto volta a ser equivalente ao número de ações, seria ele novamente quem daria as cartas na companhia. O movimento incluiria a indicação das diretorias e dos presidentes das subsidiárias, como a Chesf, Furnas e Eletronorte — cargos sempre disputados por políticos.

Resultados

Segundo o balanço divulgado nesta quinta, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) da Eletrobras somou R$ 17,020 bilhões no ano, o que representa uma alta de 49% ante o ano anterior. No quarto trimestre, o Ebitda foi de R$ 1,055 bilhão, uma queda de 26% ante o apurado um ano antes.

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Já o Ebitda regulatório recorrente em 2023 somou R$ 21,522 bilhões, um avanço de 19% ante 2022, e ficou em R$ 5,642 bilhões entre outubro e dezembro, uma alta de 5% ante um ano.

Eletrobras tem crescimento nos lucros Foto: Marcos de Paula / Estadão

No fechado do ano, a receita operacional líquida totalizou R$ 37,159 bilhões, um crescimento de 9% ante o ano de 2022. No quarto trimestre, ela cresceu 10% ante igual período do ano anterior para R$ 9,922 bilhões, refletindo principalmente o aumento das receitas de transmissão.

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O resultado financeiro ajustado ficou negativo em R$ 2,269 bilhões nos últimos três meses do ano, principalmente pelos maiores encargos de dívidas, pelos encargos e atualização monetária das obrigações com a CDE e com a revitalização de bacias hidrográficas.

A dívida bruta da Eletrobras alcançou R$ 60,8 bilhões no quatro trimestre do ano passado, redução de R$ 9,7 bilhões em relação ao terceiro trimestre e aumento de R$ 1,7 bilhão em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior. A dívida líquida ficou em R$ 41,763 bilhões ao final de dezembro, ante dívida líquida de R$ 39,107 bilhões apurada ao final do terceiro trimestre.

No ano, os investimentos da Eletrobras totalizaram R$ 9,018 bilhões, um crescimento de 60% em relação a 2022. Nos últimos três meses de 2023, os eles totalizaram R$ 4,632 bilhões, montante 148% superior ao investido no trimestre anterior.

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Participação em leilões

A Eletrobras estuda os leilões de transmissão e de reserva de capacidade que estão previstos para este ano, e planeja participar do certame agendado para o final deste mês, disse o vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Élio Wolf.

“Estamos trabalhando para o leilão do fim de março, assim como já começamos a trabalhar para o leilão de setembro”, comentou ele durante teleconferência de resultados.

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Em relação ao leilão de reserva de capacidade, ele afirmou que a empresa também analisa uma participação, e que vem trabalhando nisso desde o ano passado. E também comentou que tem uma leitura positiva da consulta pública aberta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para tratar do tema. “Pela primeira vez se inclui hidrelétricas. Temos capacidade, estamos trabalhando e analisando os projetos para serem competitivos”, afirmou.

Estrutura da empresa

O presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou que não é esperado que a empresa anuncie novos Programas de Demissão Voluntária (PDV) e que a simplificação de estrutura da companhia, realizada em 2023 e que continua neste ano, influenciou o resultado em PMSO (Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outras despesas).

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Ele disse também que a redução dos custos com PMSO continuará ao longo de 2024 e confirmou ainda o guidance em relação ao orçamento para este ano nessa rubrica que é de R$ 7 bilhões. “Essa redução continuará nos anos vindouros, mas essa é a nossa melhor previsão no momento”, disse. Ele afirmou ainda que, embora haja uma redução de funcionários, o foco está em diminuir PMSO como um todo.

“A companhia tem um cuidado muito grande e especial no segmento de operações, porque a segurança é o bem maior dessa empresa, e em nenhum momento a gente quer colocar em risco qualquer procedimento no dia a dia da operação no segmento da companhia”, afirmou.

O executivo disse ainda que, ao longo de 2024, será finalizado o acordo coletivo de trabalho. “Devemos ter uma nova interlocução com os sindicatos sobre esse tema”, completou.

Direção correta

O resultado operacional da Eletrobras no quarto trimestre de 2024 foi considerado fraco pela equipe de análise do Safra, que citou que itens não recorrentes, como provisões e impairment (deterioração de ativos), “obscureceram” o desempenho. Os analistas Daniel Carabolante Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto citaram, porém, que a companhia “segue na direção correta, embora ainda sofra com problemas do passado”.

Na visão dos profissionais, os números ajustados foram bons, beneficiados por iniciativas de controle de custos, programas de demissão voluntária e novas negociações para redução de passivos, com destaque para a diminuição do estoque relacionado aos empréstimos compulsórios.

Eles citaram que excluindo construção e a depreciação e amortização, os custos e despesas totais cresceram 2,8% na comparação anual e ficaram 58,1% acima das estimativas do Safra, como resultado de grandes provisões e vários itens negativos não recorrentes, como despesas com distribuição na participação nos lucros para funcionários e despesas adicionais ao programa de desligamento; despesas de consultoria na holding; redução do valor recuperável de ativos; baixas de contratos onerosos; ajuste no valor de ativos à venda; provisão para inadimplência e outras contingências.

“Se excluíssemos esses itens não recorrentes, os custos administráveis ajustados e outras despesas teriam ficado 11% abaixo da nossa estimativa”, disseram.

Os profissionais também comentaram que os resultados foram impactados negativamente pelo menor resultado de equivalência patrimonial, devido a paradas operacionais em algumas unidades, mas os resultados foram alimentados por créditos fiscais após a integração de Santo Antonio e o anúncio de juros sobre capital próprio.

Por outro lado, os analistas destacaram a negociação de novos contratos para o portfólio de energia. A Eletrobras publicou um portfólio de energia atualizado apresentando um aumento médio de 645 megawatts (MW) na energia vendida de 2024 a 2027. Após considerado o hedge, a energia não contratada foi revisada para 29% em 2025, ante os 33% anteriores, e 40% em 2026, frente aos 40% anteriores.

“A empresa deverá aproveitar o bom momento dos preços de energia resultante da hidrologia mais fraca”, disseram.

Os analistas do Citi, Antonio Junqueira e Guilherme Bosso destacaram em relatório que os desenvolvimentos da companhia parecem estar na direção certa e pontuaram que ainda há questões positivas que podem gerar valor à empresa, em áreas como gestão de ativos e passivos, recuperação de custos e processo de simplificação fiscal e organizacional.

Em relatório, eles destacam que, na linha dos custos gerenciáveis com PMSO, itens como custo com a compra de combustíveis estão atrelados às usinas térmicas, que estão à venda. O item pesou no PMSO da Eletrobras no quarto trimestre deste ano devido ao aumento no custo dos combustíveis.

Os analistas afirmam também que, no último trimestre do ano passado, o portfólio de energia da empresa cresceu, principalmente pela incorporação de três usinas: Teles Pires, Baguari e Retiro. “Assim, os dados sobre ‘recursos próprios’ aumentaram, tornando a comparação imperfeita”.

Junqueira e Bosso relataram, ainda, que a Eletrobras teve um bom desempenho principalmente em dois indicadores: as despesas gerenciais (Opex), que foram R$ 200 milhões melhores do que o estimado pela equipe, e conseguiram realizar alguns contratos para venda de energia no longo prazo (PPAs, da sigla em inglês)./Beth Moreira, Wilian Miron, Ludmylla Rocha e Luciana Collet

A Eletrobras teve lucro de R$ 4,395 bilhões em 2023, resultado 21% maior que o registrado no ano anterior. A empresa encerrou o quarto trimestre do ano passado com lucro líquido de R$ 893 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 479 milhões apurado no mesmo intervalo de 2022, mesmo ano em que a empresa foi privatizada, num modelo que vem sendo contestado pelo governo Lula.

A administração da Eletrobras vai propor a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023, segundo seu relatório de resultados. “Nossa disciplina financeira e de alocação de capital possibilitou a proposta de distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023″, diz o texto, sem dar outros detalhes.

O governo tenta na Justiça reverter a privatização da companhia para retomar seu controle por meio do conselho de administração. Atualmente, segundo o modelo conhecido como corporation, nenhum investidor pode ter mais de 10% do poder de voto na empresa, independentemente do número de ações que detenha, o que garante que a administração tenha de responder a todos os sócios.

Em maio do ano passado, a União moveu uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona essa regra do limite do poder de voto, uma vez que a União detém 43% da companhia. Na prática, o governo tenta uma reestatização, uma vez que, se o poder de voto volta a ser equivalente ao número de ações, seria ele novamente quem daria as cartas na companhia. O movimento incluiria a indicação das diretorias e dos presidentes das subsidiárias, como a Chesf, Furnas e Eletronorte — cargos sempre disputados por políticos.

Resultados

Segundo o balanço divulgado nesta quinta, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) da Eletrobras somou R$ 17,020 bilhões no ano, o que representa uma alta de 49% ante o ano anterior. No quarto trimestre, o Ebitda foi de R$ 1,055 bilhão, uma queda de 26% ante o apurado um ano antes.

Já o Ebitda regulatório recorrente em 2023 somou R$ 21,522 bilhões, um avanço de 19% ante 2022, e ficou em R$ 5,642 bilhões entre outubro e dezembro, uma alta de 5% ante um ano.

Eletrobras tem crescimento nos lucros Foto: Marcos de Paula / Estadão

No fechado do ano, a receita operacional líquida totalizou R$ 37,159 bilhões, um crescimento de 9% ante o ano de 2022. No quarto trimestre, ela cresceu 10% ante igual período do ano anterior para R$ 9,922 bilhões, refletindo principalmente o aumento das receitas de transmissão.

O resultado financeiro ajustado ficou negativo em R$ 2,269 bilhões nos últimos três meses do ano, principalmente pelos maiores encargos de dívidas, pelos encargos e atualização monetária das obrigações com a CDE e com a revitalização de bacias hidrográficas.

A dívida bruta da Eletrobras alcançou R$ 60,8 bilhões no quatro trimestre do ano passado, redução de R$ 9,7 bilhões em relação ao terceiro trimestre e aumento de R$ 1,7 bilhão em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior. A dívida líquida ficou em R$ 41,763 bilhões ao final de dezembro, ante dívida líquida de R$ 39,107 bilhões apurada ao final do terceiro trimestre.

No ano, os investimentos da Eletrobras totalizaram R$ 9,018 bilhões, um crescimento de 60% em relação a 2022. Nos últimos três meses de 2023, os eles totalizaram R$ 4,632 bilhões, montante 148% superior ao investido no trimestre anterior.

Participação em leilões

A Eletrobras estuda os leilões de transmissão e de reserva de capacidade que estão previstos para este ano, e planeja participar do certame agendado para o final deste mês, disse o vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Élio Wolf.

“Estamos trabalhando para o leilão do fim de março, assim como já começamos a trabalhar para o leilão de setembro”, comentou ele durante teleconferência de resultados.

Em relação ao leilão de reserva de capacidade, ele afirmou que a empresa também analisa uma participação, e que vem trabalhando nisso desde o ano passado. E também comentou que tem uma leitura positiva da consulta pública aberta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para tratar do tema. “Pela primeira vez se inclui hidrelétricas. Temos capacidade, estamos trabalhando e analisando os projetos para serem competitivos”, afirmou.

Estrutura da empresa

O presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou que não é esperado que a empresa anuncie novos Programas de Demissão Voluntária (PDV) e que a simplificação de estrutura da companhia, realizada em 2023 e que continua neste ano, influenciou o resultado em PMSO (Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outras despesas).

Ele disse também que a redução dos custos com PMSO continuará ao longo de 2024 e confirmou ainda o guidance em relação ao orçamento para este ano nessa rubrica que é de R$ 7 bilhões. “Essa redução continuará nos anos vindouros, mas essa é a nossa melhor previsão no momento”, disse. Ele afirmou ainda que, embora haja uma redução de funcionários, o foco está em diminuir PMSO como um todo.

“A companhia tem um cuidado muito grande e especial no segmento de operações, porque a segurança é o bem maior dessa empresa, e em nenhum momento a gente quer colocar em risco qualquer procedimento no dia a dia da operação no segmento da companhia”, afirmou.

O executivo disse ainda que, ao longo de 2024, será finalizado o acordo coletivo de trabalho. “Devemos ter uma nova interlocução com os sindicatos sobre esse tema”, completou.

Direção correta

O resultado operacional da Eletrobras no quarto trimestre de 2024 foi considerado fraco pela equipe de análise do Safra, que citou que itens não recorrentes, como provisões e impairment (deterioração de ativos), “obscureceram” o desempenho. Os analistas Daniel Carabolante Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto citaram, porém, que a companhia “segue na direção correta, embora ainda sofra com problemas do passado”.

Na visão dos profissionais, os números ajustados foram bons, beneficiados por iniciativas de controle de custos, programas de demissão voluntária e novas negociações para redução de passivos, com destaque para a diminuição do estoque relacionado aos empréstimos compulsórios.

Eles citaram que excluindo construção e a depreciação e amortização, os custos e despesas totais cresceram 2,8% na comparação anual e ficaram 58,1% acima das estimativas do Safra, como resultado de grandes provisões e vários itens negativos não recorrentes, como despesas com distribuição na participação nos lucros para funcionários e despesas adicionais ao programa de desligamento; despesas de consultoria na holding; redução do valor recuperável de ativos; baixas de contratos onerosos; ajuste no valor de ativos à venda; provisão para inadimplência e outras contingências.

“Se excluíssemos esses itens não recorrentes, os custos administráveis ajustados e outras despesas teriam ficado 11% abaixo da nossa estimativa”, disseram.

Os profissionais também comentaram que os resultados foram impactados negativamente pelo menor resultado de equivalência patrimonial, devido a paradas operacionais em algumas unidades, mas os resultados foram alimentados por créditos fiscais após a integração de Santo Antonio e o anúncio de juros sobre capital próprio.

Por outro lado, os analistas destacaram a negociação de novos contratos para o portfólio de energia. A Eletrobras publicou um portfólio de energia atualizado apresentando um aumento médio de 645 megawatts (MW) na energia vendida de 2024 a 2027. Após considerado o hedge, a energia não contratada foi revisada para 29% em 2025, ante os 33% anteriores, e 40% em 2026, frente aos 40% anteriores.

“A empresa deverá aproveitar o bom momento dos preços de energia resultante da hidrologia mais fraca”, disseram.

Os analistas do Citi, Antonio Junqueira e Guilherme Bosso destacaram em relatório que os desenvolvimentos da companhia parecem estar na direção certa e pontuaram que ainda há questões positivas que podem gerar valor à empresa, em áreas como gestão de ativos e passivos, recuperação de custos e processo de simplificação fiscal e organizacional.

Em relatório, eles destacam que, na linha dos custos gerenciáveis com PMSO, itens como custo com a compra de combustíveis estão atrelados às usinas térmicas, que estão à venda. O item pesou no PMSO da Eletrobras no quarto trimestre deste ano devido ao aumento no custo dos combustíveis.

Os analistas afirmam também que, no último trimestre do ano passado, o portfólio de energia da empresa cresceu, principalmente pela incorporação de três usinas: Teles Pires, Baguari e Retiro. “Assim, os dados sobre ‘recursos próprios’ aumentaram, tornando a comparação imperfeita”.

Junqueira e Bosso relataram, ainda, que a Eletrobras teve um bom desempenho principalmente em dois indicadores: as despesas gerenciais (Opex), que foram R$ 200 milhões melhores do que o estimado pela equipe, e conseguiram realizar alguns contratos para venda de energia no longo prazo (PPAs, da sigla em inglês)./Beth Moreira, Wilian Miron, Ludmylla Rocha e Luciana Collet

A Eletrobras teve lucro de R$ 4,395 bilhões em 2023, resultado 21% maior que o registrado no ano anterior. A empresa encerrou o quarto trimestre do ano passado com lucro líquido de R$ 893 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 479 milhões apurado no mesmo intervalo de 2022, mesmo ano em que a empresa foi privatizada, num modelo que vem sendo contestado pelo governo Lula.

A administração da Eletrobras vai propor a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023, segundo seu relatório de resultados. “Nossa disciplina financeira e de alocação de capital possibilitou a proposta de distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023″, diz o texto, sem dar outros detalhes.

O governo tenta na Justiça reverter a privatização da companhia para retomar seu controle por meio do conselho de administração. Atualmente, segundo o modelo conhecido como corporation, nenhum investidor pode ter mais de 10% do poder de voto na empresa, independentemente do número de ações que detenha, o que garante que a administração tenha de responder a todos os sócios.

Em maio do ano passado, a União moveu uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona essa regra do limite do poder de voto, uma vez que a União detém 43% da companhia. Na prática, o governo tenta uma reestatização, uma vez que, se o poder de voto volta a ser equivalente ao número de ações, seria ele novamente quem daria as cartas na companhia. O movimento incluiria a indicação das diretorias e dos presidentes das subsidiárias, como a Chesf, Furnas e Eletronorte — cargos sempre disputados por políticos.

Resultados

Segundo o balanço divulgado nesta quinta, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) da Eletrobras somou R$ 17,020 bilhões no ano, o que representa uma alta de 49% ante o ano anterior. No quarto trimestre, o Ebitda foi de R$ 1,055 bilhão, uma queda de 26% ante o apurado um ano antes.

Já o Ebitda regulatório recorrente em 2023 somou R$ 21,522 bilhões, um avanço de 19% ante 2022, e ficou em R$ 5,642 bilhões entre outubro e dezembro, uma alta de 5% ante um ano.

Eletrobras tem crescimento nos lucros Foto: Marcos de Paula / Estadão

No fechado do ano, a receita operacional líquida totalizou R$ 37,159 bilhões, um crescimento de 9% ante o ano de 2022. No quarto trimestre, ela cresceu 10% ante igual período do ano anterior para R$ 9,922 bilhões, refletindo principalmente o aumento das receitas de transmissão.

O resultado financeiro ajustado ficou negativo em R$ 2,269 bilhões nos últimos três meses do ano, principalmente pelos maiores encargos de dívidas, pelos encargos e atualização monetária das obrigações com a CDE e com a revitalização de bacias hidrográficas.

A dívida bruta da Eletrobras alcançou R$ 60,8 bilhões no quatro trimestre do ano passado, redução de R$ 9,7 bilhões em relação ao terceiro trimestre e aumento de R$ 1,7 bilhão em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior. A dívida líquida ficou em R$ 41,763 bilhões ao final de dezembro, ante dívida líquida de R$ 39,107 bilhões apurada ao final do terceiro trimestre.

No ano, os investimentos da Eletrobras totalizaram R$ 9,018 bilhões, um crescimento de 60% em relação a 2022. Nos últimos três meses de 2023, os eles totalizaram R$ 4,632 bilhões, montante 148% superior ao investido no trimestre anterior.

Participação em leilões

A Eletrobras estuda os leilões de transmissão e de reserva de capacidade que estão previstos para este ano, e planeja participar do certame agendado para o final deste mês, disse o vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Élio Wolf.

“Estamos trabalhando para o leilão do fim de março, assim como já começamos a trabalhar para o leilão de setembro”, comentou ele durante teleconferência de resultados.

Em relação ao leilão de reserva de capacidade, ele afirmou que a empresa também analisa uma participação, e que vem trabalhando nisso desde o ano passado. E também comentou que tem uma leitura positiva da consulta pública aberta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para tratar do tema. “Pela primeira vez se inclui hidrelétricas. Temos capacidade, estamos trabalhando e analisando os projetos para serem competitivos”, afirmou.

Estrutura da empresa

O presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou que não é esperado que a empresa anuncie novos Programas de Demissão Voluntária (PDV) e que a simplificação de estrutura da companhia, realizada em 2023 e que continua neste ano, influenciou o resultado em PMSO (Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outras despesas).

Ele disse também que a redução dos custos com PMSO continuará ao longo de 2024 e confirmou ainda o guidance em relação ao orçamento para este ano nessa rubrica que é de R$ 7 bilhões. “Essa redução continuará nos anos vindouros, mas essa é a nossa melhor previsão no momento”, disse. Ele afirmou ainda que, embora haja uma redução de funcionários, o foco está em diminuir PMSO como um todo.

“A companhia tem um cuidado muito grande e especial no segmento de operações, porque a segurança é o bem maior dessa empresa, e em nenhum momento a gente quer colocar em risco qualquer procedimento no dia a dia da operação no segmento da companhia”, afirmou.

O executivo disse ainda que, ao longo de 2024, será finalizado o acordo coletivo de trabalho. “Devemos ter uma nova interlocução com os sindicatos sobre esse tema”, completou.

Direção correta

O resultado operacional da Eletrobras no quarto trimestre de 2024 foi considerado fraco pela equipe de análise do Safra, que citou que itens não recorrentes, como provisões e impairment (deterioração de ativos), “obscureceram” o desempenho. Os analistas Daniel Carabolante Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto citaram, porém, que a companhia “segue na direção correta, embora ainda sofra com problemas do passado”.

Na visão dos profissionais, os números ajustados foram bons, beneficiados por iniciativas de controle de custos, programas de demissão voluntária e novas negociações para redução de passivos, com destaque para a diminuição do estoque relacionado aos empréstimos compulsórios.

Eles citaram que excluindo construção e a depreciação e amortização, os custos e despesas totais cresceram 2,8% na comparação anual e ficaram 58,1% acima das estimativas do Safra, como resultado de grandes provisões e vários itens negativos não recorrentes, como despesas com distribuição na participação nos lucros para funcionários e despesas adicionais ao programa de desligamento; despesas de consultoria na holding; redução do valor recuperável de ativos; baixas de contratos onerosos; ajuste no valor de ativos à venda; provisão para inadimplência e outras contingências.

“Se excluíssemos esses itens não recorrentes, os custos administráveis ajustados e outras despesas teriam ficado 11% abaixo da nossa estimativa”, disseram.

Os profissionais também comentaram que os resultados foram impactados negativamente pelo menor resultado de equivalência patrimonial, devido a paradas operacionais em algumas unidades, mas os resultados foram alimentados por créditos fiscais após a integração de Santo Antonio e o anúncio de juros sobre capital próprio.

Por outro lado, os analistas destacaram a negociação de novos contratos para o portfólio de energia. A Eletrobras publicou um portfólio de energia atualizado apresentando um aumento médio de 645 megawatts (MW) na energia vendida de 2024 a 2027. Após considerado o hedge, a energia não contratada foi revisada para 29% em 2025, ante os 33% anteriores, e 40% em 2026, frente aos 40% anteriores.

“A empresa deverá aproveitar o bom momento dos preços de energia resultante da hidrologia mais fraca”, disseram.

Os analistas do Citi, Antonio Junqueira e Guilherme Bosso destacaram em relatório que os desenvolvimentos da companhia parecem estar na direção certa e pontuaram que ainda há questões positivas que podem gerar valor à empresa, em áreas como gestão de ativos e passivos, recuperação de custos e processo de simplificação fiscal e organizacional.

Em relatório, eles destacam que, na linha dos custos gerenciáveis com PMSO, itens como custo com a compra de combustíveis estão atrelados às usinas térmicas, que estão à venda. O item pesou no PMSO da Eletrobras no quarto trimestre deste ano devido ao aumento no custo dos combustíveis.

Os analistas afirmam também que, no último trimestre do ano passado, o portfólio de energia da empresa cresceu, principalmente pela incorporação de três usinas: Teles Pires, Baguari e Retiro. “Assim, os dados sobre ‘recursos próprios’ aumentaram, tornando a comparação imperfeita”.

Junqueira e Bosso relataram, ainda, que a Eletrobras teve um bom desempenho principalmente em dois indicadores: as despesas gerenciais (Opex), que foram R$ 200 milhões melhores do que o estimado pela equipe, e conseguiram realizar alguns contratos para venda de energia no longo prazo (PPAs, da sigla em inglês)./Beth Moreira, Wilian Miron, Ludmylla Rocha e Luciana Collet

A Eletrobras teve lucro de R$ 4,395 bilhões em 2023, resultado 21% maior que o registrado no ano anterior. A empresa encerrou o quarto trimestre do ano passado com lucro líquido de R$ 893 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 479 milhões apurado no mesmo intervalo de 2022, mesmo ano em que a empresa foi privatizada, num modelo que vem sendo contestado pelo governo Lula.

A administração da Eletrobras vai propor a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023, segundo seu relatório de resultados. “Nossa disciplina financeira e de alocação de capital possibilitou a proposta de distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023″, diz o texto, sem dar outros detalhes.

O governo tenta na Justiça reverter a privatização da companhia para retomar seu controle por meio do conselho de administração. Atualmente, segundo o modelo conhecido como corporation, nenhum investidor pode ter mais de 10% do poder de voto na empresa, independentemente do número de ações que detenha, o que garante que a administração tenha de responder a todos os sócios.

Em maio do ano passado, a União moveu uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona essa regra do limite do poder de voto, uma vez que a União detém 43% da companhia. Na prática, o governo tenta uma reestatização, uma vez que, se o poder de voto volta a ser equivalente ao número de ações, seria ele novamente quem daria as cartas na companhia. O movimento incluiria a indicação das diretorias e dos presidentes das subsidiárias, como a Chesf, Furnas e Eletronorte — cargos sempre disputados por políticos.

Resultados

Segundo o balanço divulgado nesta quinta, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) da Eletrobras somou R$ 17,020 bilhões no ano, o que representa uma alta de 49% ante o ano anterior. No quarto trimestre, o Ebitda foi de R$ 1,055 bilhão, uma queda de 26% ante o apurado um ano antes.

Já o Ebitda regulatório recorrente em 2023 somou R$ 21,522 bilhões, um avanço de 19% ante 2022, e ficou em R$ 5,642 bilhões entre outubro e dezembro, uma alta de 5% ante um ano.

Eletrobras tem crescimento nos lucros Foto: Marcos de Paula / Estadão

No fechado do ano, a receita operacional líquida totalizou R$ 37,159 bilhões, um crescimento de 9% ante o ano de 2022. No quarto trimestre, ela cresceu 10% ante igual período do ano anterior para R$ 9,922 bilhões, refletindo principalmente o aumento das receitas de transmissão.

O resultado financeiro ajustado ficou negativo em R$ 2,269 bilhões nos últimos três meses do ano, principalmente pelos maiores encargos de dívidas, pelos encargos e atualização monetária das obrigações com a CDE e com a revitalização de bacias hidrográficas.

A dívida bruta da Eletrobras alcançou R$ 60,8 bilhões no quatro trimestre do ano passado, redução de R$ 9,7 bilhões em relação ao terceiro trimestre e aumento de R$ 1,7 bilhão em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior. A dívida líquida ficou em R$ 41,763 bilhões ao final de dezembro, ante dívida líquida de R$ 39,107 bilhões apurada ao final do terceiro trimestre.

No ano, os investimentos da Eletrobras totalizaram R$ 9,018 bilhões, um crescimento de 60% em relação a 2022. Nos últimos três meses de 2023, os eles totalizaram R$ 4,632 bilhões, montante 148% superior ao investido no trimestre anterior.

Participação em leilões

A Eletrobras estuda os leilões de transmissão e de reserva de capacidade que estão previstos para este ano, e planeja participar do certame agendado para o final deste mês, disse o vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Élio Wolf.

“Estamos trabalhando para o leilão do fim de março, assim como já começamos a trabalhar para o leilão de setembro”, comentou ele durante teleconferência de resultados.

Em relação ao leilão de reserva de capacidade, ele afirmou que a empresa também analisa uma participação, e que vem trabalhando nisso desde o ano passado. E também comentou que tem uma leitura positiva da consulta pública aberta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para tratar do tema. “Pela primeira vez se inclui hidrelétricas. Temos capacidade, estamos trabalhando e analisando os projetos para serem competitivos”, afirmou.

Estrutura da empresa

O presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou que não é esperado que a empresa anuncie novos Programas de Demissão Voluntária (PDV) e que a simplificação de estrutura da companhia, realizada em 2023 e que continua neste ano, influenciou o resultado em PMSO (Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outras despesas).

Ele disse também que a redução dos custos com PMSO continuará ao longo de 2024 e confirmou ainda o guidance em relação ao orçamento para este ano nessa rubrica que é de R$ 7 bilhões. “Essa redução continuará nos anos vindouros, mas essa é a nossa melhor previsão no momento”, disse. Ele afirmou ainda que, embora haja uma redução de funcionários, o foco está em diminuir PMSO como um todo.

“A companhia tem um cuidado muito grande e especial no segmento de operações, porque a segurança é o bem maior dessa empresa, e em nenhum momento a gente quer colocar em risco qualquer procedimento no dia a dia da operação no segmento da companhia”, afirmou.

O executivo disse ainda que, ao longo de 2024, será finalizado o acordo coletivo de trabalho. “Devemos ter uma nova interlocução com os sindicatos sobre esse tema”, completou.

Direção correta

O resultado operacional da Eletrobras no quarto trimestre de 2024 foi considerado fraco pela equipe de análise do Safra, que citou que itens não recorrentes, como provisões e impairment (deterioração de ativos), “obscureceram” o desempenho. Os analistas Daniel Carabolante Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto citaram, porém, que a companhia “segue na direção correta, embora ainda sofra com problemas do passado”.

Na visão dos profissionais, os números ajustados foram bons, beneficiados por iniciativas de controle de custos, programas de demissão voluntária e novas negociações para redução de passivos, com destaque para a diminuição do estoque relacionado aos empréstimos compulsórios.

Eles citaram que excluindo construção e a depreciação e amortização, os custos e despesas totais cresceram 2,8% na comparação anual e ficaram 58,1% acima das estimativas do Safra, como resultado de grandes provisões e vários itens negativos não recorrentes, como despesas com distribuição na participação nos lucros para funcionários e despesas adicionais ao programa de desligamento; despesas de consultoria na holding; redução do valor recuperável de ativos; baixas de contratos onerosos; ajuste no valor de ativos à venda; provisão para inadimplência e outras contingências.

“Se excluíssemos esses itens não recorrentes, os custos administráveis ajustados e outras despesas teriam ficado 11% abaixo da nossa estimativa”, disseram.

Os profissionais também comentaram que os resultados foram impactados negativamente pelo menor resultado de equivalência patrimonial, devido a paradas operacionais em algumas unidades, mas os resultados foram alimentados por créditos fiscais após a integração de Santo Antonio e o anúncio de juros sobre capital próprio.

Por outro lado, os analistas destacaram a negociação de novos contratos para o portfólio de energia. A Eletrobras publicou um portfólio de energia atualizado apresentando um aumento médio de 645 megawatts (MW) na energia vendida de 2024 a 2027. Após considerado o hedge, a energia não contratada foi revisada para 29% em 2025, ante os 33% anteriores, e 40% em 2026, frente aos 40% anteriores.

“A empresa deverá aproveitar o bom momento dos preços de energia resultante da hidrologia mais fraca”, disseram.

Os analistas do Citi, Antonio Junqueira e Guilherme Bosso destacaram em relatório que os desenvolvimentos da companhia parecem estar na direção certa e pontuaram que ainda há questões positivas que podem gerar valor à empresa, em áreas como gestão de ativos e passivos, recuperação de custos e processo de simplificação fiscal e organizacional.

Em relatório, eles destacam que, na linha dos custos gerenciáveis com PMSO, itens como custo com a compra de combustíveis estão atrelados às usinas térmicas, que estão à venda. O item pesou no PMSO da Eletrobras no quarto trimestre deste ano devido ao aumento no custo dos combustíveis.

Os analistas afirmam também que, no último trimestre do ano passado, o portfólio de energia da empresa cresceu, principalmente pela incorporação de três usinas: Teles Pires, Baguari e Retiro. “Assim, os dados sobre ‘recursos próprios’ aumentaram, tornando a comparação imperfeita”.

Junqueira e Bosso relataram, ainda, que a Eletrobras teve um bom desempenho principalmente em dois indicadores: as despesas gerenciais (Opex), que foram R$ 200 milhões melhores do que o estimado pela equipe, e conseguiram realizar alguns contratos para venda de energia no longo prazo (PPAs, da sigla em inglês)./Beth Moreira, Wilian Miron, Ludmylla Rocha e Luciana Collet

A Eletrobras teve lucro de R$ 4,395 bilhões em 2023, resultado 21% maior que o registrado no ano anterior. A empresa encerrou o quarto trimestre do ano passado com lucro líquido de R$ 893 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 479 milhões apurado no mesmo intervalo de 2022, mesmo ano em que a empresa foi privatizada, num modelo que vem sendo contestado pelo governo Lula.

A administração da Eletrobras vai propor a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023, segundo seu relatório de resultados. “Nossa disciplina financeira e de alocação de capital possibilitou a proposta de distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão referentes aos resultados de 2023″, diz o texto, sem dar outros detalhes.

O governo tenta na Justiça reverter a privatização da companhia para retomar seu controle por meio do conselho de administração. Atualmente, segundo o modelo conhecido como corporation, nenhum investidor pode ter mais de 10% do poder de voto na empresa, independentemente do número de ações que detenha, o que garante que a administração tenha de responder a todos os sócios.

Em maio do ano passado, a União moveu uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona essa regra do limite do poder de voto, uma vez que a União detém 43% da companhia. Na prática, o governo tenta uma reestatização, uma vez que, se o poder de voto volta a ser equivalente ao número de ações, seria ele novamente quem daria as cartas na companhia. O movimento incluiria a indicação das diretorias e dos presidentes das subsidiárias, como a Chesf, Furnas e Eletronorte — cargos sempre disputados por políticos.

Resultados

Segundo o balanço divulgado nesta quinta, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) da Eletrobras somou R$ 17,020 bilhões no ano, o que representa uma alta de 49% ante o ano anterior. No quarto trimestre, o Ebitda foi de R$ 1,055 bilhão, uma queda de 26% ante o apurado um ano antes.

Já o Ebitda regulatório recorrente em 2023 somou R$ 21,522 bilhões, um avanço de 19% ante 2022, e ficou em R$ 5,642 bilhões entre outubro e dezembro, uma alta de 5% ante um ano.

Eletrobras tem crescimento nos lucros Foto: Marcos de Paula / Estadão

No fechado do ano, a receita operacional líquida totalizou R$ 37,159 bilhões, um crescimento de 9% ante o ano de 2022. No quarto trimestre, ela cresceu 10% ante igual período do ano anterior para R$ 9,922 bilhões, refletindo principalmente o aumento das receitas de transmissão.

O resultado financeiro ajustado ficou negativo em R$ 2,269 bilhões nos últimos três meses do ano, principalmente pelos maiores encargos de dívidas, pelos encargos e atualização monetária das obrigações com a CDE e com a revitalização de bacias hidrográficas.

A dívida bruta da Eletrobras alcançou R$ 60,8 bilhões no quatro trimestre do ano passado, redução de R$ 9,7 bilhões em relação ao terceiro trimestre e aumento de R$ 1,7 bilhão em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior. A dívida líquida ficou em R$ 41,763 bilhões ao final de dezembro, ante dívida líquida de R$ 39,107 bilhões apurada ao final do terceiro trimestre.

No ano, os investimentos da Eletrobras totalizaram R$ 9,018 bilhões, um crescimento de 60% em relação a 2022. Nos últimos três meses de 2023, os eles totalizaram R$ 4,632 bilhões, montante 148% superior ao investido no trimestre anterior.

Participação em leilões

A Eletrobras estuda os leilões de transmissão e de reserva de capacidade que estão previstos para este ano, e planeja participar do certame agendado para o final deste mês, disse o vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Élio Wolf.

“Estamos trabalhando para o leilão do fim de março, assim como já começamos a trabalhar para o leilão de setembro”, comentou ele durante teleconferência de resultados.

Em relação ao leilão de reserva de capacidade, ele afirmou que a empresa também analisa uma participação, e que vem trabalhando nisso desde o ano passado. E também comentou que tem uma leitura positiva da consulta pública aberta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para tratar do tema. “Pela primeira vez se inclui hidrelétricas. Temos capacidade, estamos trabalhando e analisando os projetos para serem competitivos”, afirmou.

Estrutura da empresa

O presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou que não é esperado que a empresa anuncie novos Programas de Demissão Voluntária (PDV) e que a simplificação de estrutura da companhia, realizada em 2023 e que continua neste ano, influenciou o resultado em PMSO (Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outras despesas).

Ele disse também que a redução dos custos com PMSO continuará ao longo de 2024 e confirmou ainda o guidance em relação ao orçamento para este ano nessa rubrica que é de R$ 7 bilhões. “Essa redução continuará nos anos vindouros, mas essa é a nossa melhor previsão no momento”, disse. Ele afirmou ainda que, embora haja uma redução de funcionários, o foco está em diminuir PMSO como um todo.

“A companhia tem um cuidado muito grande e especial no segmento de operações, porque a segurança é o bem maior dessa empresa, e em nenhum momento a gente quer colocar em risco qualquer procedimento no dia a dia da operação no segmento da companhia”, afirmou.

O executivo disse ainda que, ao longo de 2024, será finalizado o acordo coletivo de trabalho. “Devemos ter uma nova interlocução com os sindicatos sobre esse tema”, completou.

Direção correta

O resultado operacional da Eletrobras no quarto trimestre de 2024 foi considerado fraco pela equipe de análise do Safra, que citou que itens não recorrentes, como provisões e impairment (deterioração de ativos), “obscureceram” o desempenho. Os analistas Daniel Carabolante Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto citaram, porém, que a companhia “segue na direção correta, embora ainda sofra com problemas do passado”.

Na visão dos profissionais, os números ajustados foram bons, beneficiados por iniciativas de controle de custos, programas de demissão voluntária e novas negociações para redução de passivos, com destaque para a diminuição do estoque relacionado aos empréstimos compulsórios.

Eles citaram que excluindo construção e a depreciação e amortização, os custos e despesas totais cresceram 2,8% na comparação anual e ficaram 58,1% acima das estimativas do Safra, como resultado de grandes provisões e vários itens negativos não recorrentes, como despesas com distribuição na participação nos lucros para funcionários e despesas adicionais ao programa de desligamento; despesas de consultoria na holding; redução do valor recuperável de ativos; baixas de contratos onerosos; ajuste no valor de ativos à venda; provisão para inadimplência e outras contingências.

“Se excluíssemos esses itens não recorrentes, os custos administráveis ajustados e outras despesas teriam ficado 11% abaixo da nossa estimativa”, disseram.

Os profissionais também comentaram que os resultados foram impactados negativamente pelo menor resultado de equivalência patrimonial, devido a paradas operacionais em algumas unidades, mas os resultados foram alimentados por créditos fiscais após a integração de Santo Antonio e o anúncio de juros sobre capital próprio.

Por outro lado, os analistas destacaram a negociação de novos contratos para o portfólio de energia. A Eletrobras publicou um portfólio de energia atualizado apresentando um aumento médio de 645 megawatts (MW) na energia vendida de 2024 a 2027. Após considerado o hedge, a energia não contratada foi revisada para 29% em 2025, ante os 33% anteriores, e 40% em 2026, frente aos 40% anteriores.

“A empresa deverá aproveitar o bom momento dos preços de energia resultante da hidrologia mais fraca”, disseram.

Os analistas do Citi, Antonio Junqueira e Guilherme Bosso destacaram em relatório que os desenvolvimentos da companhia parecem estar na direção certa e pontuaram que ainda há questões positivas que podem gerar valor à empresa, em áreas como gestão de ativos e passivos, recuperação de custos e processo de simplificação fiscal e organizacional.

Em relatório, eles destacam que, na linha dos custos gerenciáveis com PMSO, itens como custo com a compra de combustíveis estão atrelados às usinas térmicas, que estão à venda. O item pesou no PMSO da Eletrobras no quarto trimestre deste ano devido ao aumento no custo dos combustíveis.

Os analistas afirmam também que, no último trimestre do ano passado, o portfólio de energia da empresa cresceu, principalmente pela incorporação de três usinas: Teles Pires, Baguari e Retiro. “Assim, os dados sobre ‘recursos próprios’ aumentaram, tornando a comparação imperfeita”.

Junqueira e Bosso relataram, ainda, que a Eletrobras teve um bom desempenho principalmente em dois indicadores: as despesas gerenciais (Opex), que foram R$ 200 milhões melhores do que o estimado pela equipe, e conseguiram realizar alguns contratos para venda de energia no longo prazo (PPAs, da sigla em inglês)./Beth Moreira, Wilian Miron, Ludmylla Rocha e Luciana Collet

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