Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Acabou a vida fácil do Banco Central


Para todos os efeitos práticos, é como se tivéssemos agora um duplo mandato, o que obrigará o Bacen a escolhas muito mais difíceis

Por Luís Eduardo Assis

Para quase tudo na vida existe um lado mau, uma espécie de efeito colateral que torna as decisões mais graves e ponderadas. Muitas vezes, esses dilemas se apresentam na forma de escolhas intertemporais. Não por acaso, os economistas também se metem nesses assuntos (ver, por exemplo, Intertemporal Choice, de Daniel Read, LSE). O raciocínio é direto: diante de uma escolha entre efeitos antagônicos que se espalham no tempo, o agente econômico ponderará o valor presente do benefício e do dano, optando pelo que for mais vantajoso.

É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado Gabriel Galípolo à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado.  Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Benefícios ou danos longínquos são miniaturizados pela taxa de desconto que é arbitrariamente atribuída por quem deve tomar a decisão. Posso escolher pudim como sobremesa porque reputo o dano do excesso de peso, a ser materializado em um futuro distante, menor que o gozo imediato para minhas papilas. Da mesma forma, um empresário ou um político ponderará custos e vantagens em cada uma de suas decisões.

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Até agora, essa angústia na hora de fazer escolhas não atinge o Banco Central (Bacen). Ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, a autoridade monetária brasileira não tem um duplo mandato. Aqui, sua missão na vida terrena é apenas manter o IPCA dentro dos limites determinados pelo Conselho Monetário Nacional. Dentro dos parâmetros conceituais hoje adotados, a única ferramenta para refrear a inflação é a manipulação litúrgica da taxa Selic.

A escolha não é difícil. Juros muito baixos podem ser vistos como atitude populista e tingir a reputação do presidente do Bacen. Juros que escorcham podem provocar desemprego, mas não há efeito colateral para a autoridade monetária. “Opa, foi mal” é o máximo que poderá dizer. As regras do jogo, portanto, favorecem o erro para cima, até porque o benefício imaterial de ser visto como intransigente com a inflação é grande.

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Com a indicação de Gabriel Galípolo para o Bacen os termos dessa equação mudam. É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado o candidato à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado. Espera juros mais baixos, mesmo com a inflação superando o teto da meta. Quer ir para o céu sem precisar morrer (ele também tem suas exigências).

O mercado financeiro, no outro canto do ringue, está pronto para ter um faniquito se algo mudar na condução da política monetária. Está colocado o dilema. Para todos os efeitos práticos, é como se tivéssemos agora um duplo mandato, o que obrigará o Bacen a escolhas muito mais difíceis. Ninguém pode servir a dois senhores, diz um preceito bíblico (Mateus 6, 24). Mas a tentativa de contentar todos é inescapável. Acabou a vida fácil do Banco Central.

Para quase tudo na vida existe um lado mau, uma espécie de efeito colateral que torna as decisões mais graves e ponderadas. Muitas vezes, esses dilemas se apresentam na forma de escolhas intertemporais. Não por acaso, os economistas também se metem nesses assuntos (ver, por exemplo, Intertemporal Choice, de Daniel Read, LSE). O raciocínio é direto: diante de uma escolha entre efeitos antagônicos que se espalham no tempo, o agente econômico ponderará o valor presente do benefício e do dano, optando pelo que for mais vantajoso.

É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado Gabriel Galípolo à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado.  Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Benefícios ou danos longínquos são miniaturizados pela taxa de desconto que é arbitrariamente atribuída por quem deve tomar a decisão. Posso escolher pudim como sobremesa porque reputo o dano do excesso de peso, a ser materializado em um futuro distante, menor que o gozo imediato para minhas papilas. Da mesma forma, um empresário ou um político ponderará custos e vantagens em cada uma de suas decisões.

Até agora, essa angústia na hora de fazer escolhas não atinge o Banco Central (Bacen). Ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, a autoridade monetária brasileira não tem um duplo mandato. Aqui, sua missão na vida terrena é apenas manter o IPCA dentro dos limites determinados pelo Conselho Monetário Nacional. Dentro dos parâmetros conceituais hoje adotados, a única ferramenta para refrear a inflação é a manipulação litúrgica da taxa Selic.

A escolha não é difícil. Juros muito baixos podem ser vistos como atitude populista e tingir a reputação do presidente do Bacen. Juros que escorcham podem provocar desemprego, mas não há efeito colateral para a autoridade monetária. “Opa, foi mal” é o máximo que poderá dizer. As regras do jogo, portanto, favorecem o erro para cima, até porque o benefício imaterial de ser visto como intransigente com a inflação é grande.

Com a indicação de Gabriel Galípolo para o Bacen os termos dessa equação mudam. É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado o candidato à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado. Espera juros mais baixos, mesmo com a inflação superando o teto da meta. Quer ir para o céu sem precisar morrer (ele também tem suas exigências).

O mercado financeiro, no outro canto do ringue, está pronto para ter um faniquito se algo mudar na condução da política monetária. Está colocado o dilema. Para todos os efeitos práticos, é como se tivéssemos agora um duplo mandato, o que obrigará o Bacen a escolhas muito mais difíceis. Ninguém pode servir a dois senhores, diz um preceito bíblico (Mateus 6, 24). Mas a tentativa de contentar todos é inescapável. Acabou a vida fácil do Banco Central.

Para quase tudo na vida existe um lado mau, uma espécie de efeito colateral que torna as decisões mais graves e ponderadas. Muitas vezes, esses dilemas se apresentam na forma de escolhas intertemporais. Não por acaso, os economistas também se metem nesses assuntos (ver, por exemplo, Intertemporal Choice, de Daniel Read, LSE). O raciocínio é direto: diante de uma escolha entre efeitos antagônicos que se espalham no tempo, o agente econômico ponderará o valor presente do benefício e do dano, optando pelo que for mais vantajoso.

É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado Gabriel Galípolo à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado.  Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Benefícios ou danos longínquos são miniaturizados pela taxa de desconto que é arbitrariamente atribuída por quem deve tomar a decisão. Posso escolher pudim como sobremesa porque reputo o dano do excesso de peso, a ser materializado em um futuro distante, menor que o gozo imediato para minhas papilas. Da mesma forma, um empresário ou um político ponderará custos e vantagens em cada uma de suas decisões.

Até agora, essa angústia na hora de fazer escolhas não atinge o Banco Central (Bacen). Ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, a autoridade monetária brasileira não tem um duplo mandato. Aqui, sua missão na vida terrena é apenas manter o IPCA dentro dos limites determinados pelo Conselho Monetário Nacional. Dentro dos parâmetros conceituais hoje adotados, a única ferramenta para refrear a inflação é a manipulação litúrgica da taxa Selic.

A escolha não é difícil. Juros muito baixos podem ser vistos como atitude populista e tingir a reputação do presidente do Bacen. Juros que escorcham podem provocar desemprego, mas não há efeito colateral para a autoridade monetária. “Opa, foi mal” é o máximo que poderá dizer. As regras do jogo, portanto, favorecem o erro para cima, até porque o benefício imaterial de ser visto como intransigente com a inflação é grande.

Com a indicação de Gabriel Galípolo para o Bacen os termos dessa equação mudam. É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado o candidato à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado. Espera juros mais baixos, mesmo com a inflação superando o teto da meta. Quer ir para o céu sem precisar morrer (ele também tem suas exigências).

O mercado financeiro, no outro canto do ringue, está pronto para ter um faniquito se algo mudar na condução da política monetária. Está colocado o dilema. Para todos os efeitos práticos, é como se tivéssemos agora um duplo mandato, o que obrigará o Bacen a escolhas muito mais difíceis. Ninguém pode servir a dois senhores, diz um preceito bíblico (Mateus 6, 24). Mas a tentativa de contentar todos é inescapável. Acabou a vida fácil do Banco Central.

Para quase tudo na vida existe um lado mau, uma espécie de efeito colateral que torna as decisões mais graves e ponderadas. Muitas vezes, esses dilemas se apresentam na forma de escolhas intertemporais. Não por acaso, os economistas também se metem nesses assuntos (ver, por exemplo, Intertemporal Choice, de Daniel Read, LSE). O raciocínio é direto: diante de uma escolha entre efeitos antagônicos que se espalham no tempo, o agente econômico ponderará o valor presente do benefício e do dano, optando pelo que for mais vantajoso.

É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado Gabriel Galípolo à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado.  Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Benefícios ou danos longínquos são miniaturizados pela taxa de desconto que é arbitrariamente atribuída por quem deve tomar a decisão. Posso escolher pudim como sobremesa porque reputo o dano do excesso de peso, a ser materializado em um futuro distante, menor que o gozo imediato para minhas papilas. Da mesma forma, um empresário ou um político ponderará custos e vantagens em cada uma de suas decisões.

Até agora, essa angústia na hora de fazer escolhas não atinge o Banco Central (Bacen). Ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, a autoridade monetária brasileira não tem um duplo mandato. Aqui, sua missão na vida terrena é apenas manter o IPCA dentro dos limites determinados pelo Conselho Monetário Nacional. Dentro dos parâmetros conceituais hoje adotados, a única ferramenta para refrear a inflação é a manipulação litúrgica da taxa Selic.

A escolha não é difícil. Juros muito baixos podem ser vistos como atitude populista e tingir a reputação do presidente do Bacen. Juros que escorcham podem provocar desemprego, mas não há efeito colateral para a autoridade monetária. “Opa, foi mal” é o máximo que poderá dizer. As regras do jogo, portanto, favorecem o erro para cima, até porque o benefício imaterial de ser visto como intransigente com a inflação é grande.

Com a indicação de Gabriel Galípolo para o Bacen os termos dessa equação mudam. É quase certo que o presidente Lula tenha sabatinado o candidato à exaustão antes de indicar seu nome ao Senado. Espera juros mais baixos, mesmo com a inflação superando o teto da meta. Quer ir para o céu sem precisar morrer (ele também tem suas exigências).

O mercado financeiro, no outro canto do ringue, está pronto para ter um faniquito se algo mudar na condução da política monetária. Está colocado o dilema. Para todos os efeitos práticos, é como se tivéssemos agora um duplo mandato, o que obrigará o Bacen a escolhas muito mais difíceis. Ninguém pode servir a dois senhores, diz um preceito bíblico (Mateus 6, 24). Mas a tentativa de contentar todos é inescapável. Acabou a vida fácil do Banco Central.

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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