Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Banco Central precisa que o desemprego aumente brutalmente para que a inflação de serviços caia


O governo não gosta da ideia, o que o estimula a colocar em marcha medidas que estimulam o crescimento do emprego, mas isso apenas protela a queda dos juros

Por Luis Eduardo Assis

Depois de muita lufa-lufa, o Brasil acabou por criar um sistema invulgar de combate à inflação. Quase a totalidade da variação anual do IPCA pode ser explicada pelo comportamento de três grupos de preços, com características muito distintas: preços de bens comercializáveis, preços monitorados e preços de serviços.

É intuitivo imaginar que os preços de produtos comercializáveis flutuem ao sabor da variação das commodities e da taxa cambial. Uma guerra aqui e uma seca acolá e os preços disparam. Nada a ver com a taxa Selic, única ferramenta que temos hoje para combater a inflação. Considerando os efeitos diretos e indiretos dessa categoria de preços, pouco mais de 40% da variação anual do IPCA nos últimos dez anos decorre do comportamento dos bens comercializáveis. Em maio de 2022, a inflação anual desse grupo bateu em 13,7%, mas caiu mês a mês até voltar para 5,8% no mês passado. Ninguém dirá que isso foi efeito da diligência do Banco Central.

A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9% Foto: Nilton Fukuda/Estadão
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O segundo grupo – preços monitorados – também pouco depende da demanda corrente e está mais afeito às regras e caprichos das autoridades reguladoras. A trajetória aqui é diferente. Em 2021, a variação desses preços atingiu 16,9%, mas a inflação desse grupo mergulhou no segundo semestre de 2022 – no rastro das manipulações desesperadas feitas para melhorar as chances eleitorais de Jair Bolsonaro – e fechou o ano com uma variação negativa de 3,8%. Esse grupo, considerando efeitos diretos e indiretos, explica 24% da variação anual e, não, certamente não tem nenhum parentesco com a trajetória da taxa Selic.

Sobra a inflação de serviços, que explica 35% da flutuação do IPCA. Aqui, sim, existe relação com juros. Não diretamente, mas por meio da taxa de desemprego. A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9%, o que significa elevar o número de desocupados de 9,4 milhões para aproximadamente 13,8 milhões.

Então ficamos assim: o Banco Central precisa que o desemprego aumente brutalmente para que a inflação de serviços caia. O governo não gosta da ideia, o que o estimula a colocar em marcha medidas que estimulam o crescimento do emprego, mas isso apenas protela a queda dos juros. Ganham os investidores, o que concentra ainda mais a riqueza, e perdem os devedores, a começar pelo próprio governo. Enquanto isso, ficamos todos acendendo velas para que os preços que não têm nenhuma relação com a taxa Selic se comportem bem. Alguma coisa está fora da ordem. É preciso rediscutir a política anti-inflacionária.

Depois de muita lufa-lufa, o Brasil acabou por criar um sistema invulgar de combate à inflação. Quase a totalidade da variação anual do IPCA pode ser explicada pelo comportamento de três grupos de preços, com características muito distintas: preços de bens comercializáveis, preços monitorados e preços de serviços.

É intuitivo imaginar que os preços de produtos comercializáveis flutuem ao sabor da variação das commodities e da taxa cambial. Uma guerra aqui e uma seca acolá e os preços disparam. Nada a ver com a taxa Selic, única ferramenta que temos hoje para combater a inflação. Considerando os efeitos diretos e indiretos dessa categoria de preços, pouco mais de 40% da variação anual do IPCA nos últimos dez anos decorre do comportamento dos bens comercializáveis. Em maio de 2022, a inflação anual desse grupo bateu em 13,7%, mas caiu mês a mês até voltar para 5,8% no mês passado. Ninguém dirá que isso foi efeito da diligência do Banco Central.

A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9% Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O segundo grupo – preços monitorados – também pouco depende da demanda corrente e está mais afeito às regras e caprichos das autoridades reguladoras. A trajetória aqui é diferente. Em 2021, a variação desses preços atingiu 16,9%, mas a inflação desse grupo mergulhou no segundo semestre de 2022 – no rastro das manipulações desesperadas feitas para melhorar as chances eleitorais de Jair Bolsonaro – e fechou o ano com uma variação negativa de 3,8%. Esse grupo, considerando efeitos diretos e indiretos, explica 24% da variação anual e, não, certamente não tem nenhum parentesco com a trajetória da taxa Selic.

Sobra a inflação de serviços, que explica 35% da flutuação do IPCA. Aqui, sim, existe relação com juros. Não diretamente, mas por meio da taxa de desemprego. A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9%, o que significa elevar o número de desocupados de 9,4 milhões para aproximadamente 13,8 milhões.

Então ficamos assim: o Banco Central precisa que o desemprego aumente brutalmente para que a inflação de serviços caia. O governo não gosta da ideia, o que o estimula a colocar em marcha medidas que estimulam o crescimento do emprego, mas isso apenas protela a queda dos juros. Ganham os investidores, o que concentra ainda mais a riqueza, e perdem os devedores, a começar pelo próprio governo. Enquanto isso, ficamos todos acendendo velas para que os preços que não têm nenhuma relação com a taxa Selic se comportem bem. Alguma coisa está fora da ordem. É preciso rediscutir a política anti-inflacionária.

Depois de muita lufa-lufa, o Brasil acabou por criar um sistema invulgar de combate à inflação. Quase a totalidade da variação anual do IPCA pode ser explicada pelo comportamento de três grupos de preços, com características muito distintas: preços de bens comercializáveis, preços monitorados e preços de serviços.

É intuitivo imaginar que os preços de produtos comercializáveis flutuem ao sabor da variação das commodities e da taxa cambial. Uma guerra aqui e uma seca acolá e os preços disparam. Nada a ver com a taxa Selic, única ferramenta que temos hoje para combater a inflação. Considerando os efeitos diretos e indiretos dessa categoria de preços, pouco mais de 40% da variação anual do IPCA nos últimos dez anos decorre do comportamento dos bens comercializáveis. Em maio de 2022, a inflação anual desse grupo bateu em 13,7%, mas caiu mês a mês até voltar para 5,8% no mês passado. Ninguém dirá que isso foi efeito da diligência do Banco Central.

A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9% Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O segundo grupo – preços monitorados – também pouco depende da demanda corrente e está mais afeito às regras e caprichos das autoridades reguladoras. A trajetória aqui é diferente. Em 2021, a variação desses preços atingiu 16,9%, mas a inflação desse grupo mergulhou no segundo semestre de 2022 – no rastro das manipulações desesperadas feitas para melhorar as chances eleitorais de Jair Bolsonaro – e fechou o ano com uma variação negativa de 3,8%. Esse grupo, considerando efeitos diretos e indiretos, explica 24% da variação anual e, não, certamente não tem nenhum parentesco com a trajetória da taxa Selic.

Sobra a inflação de serviços, que explica 35% da flutuação do IPCA. Aqui, sim, existe relação com juros. Não diretamente, mas por meio da taxa de desemprego. A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9%, o que significa elevar o número de desocupados de 9,4 milhões para aproximadamente 13,8 milhões.

Então ficamos assim: o Banco Central precisa que o desemprego aumente brutalmente para que a inflação de serviços caia. O governo não gosta da ideia, o que o estimula a colocar em marcha medidas que estimulam o crescimento do emprego, mas isso apenas protela a queda dos juros. Ganham os investidores, o que concentra ainda mais a riqueza, e perdem os devedores, a começar pelo próprio governo. Enquanto isso, ficamos todos acendendo velas para que os preços que não têm nenhuma relação com a taxa Selic se comportem bem. Alguma coisa está fora da ordem. É preciso rediscutir a política anti-inflacionária.

Depois de muita lufa-lufa, o Brasil acabou por criar um sistema invulgar de combate à inflação. Quase a totalidade da variação anual do IPCA pode ser explicada pelo comportamento de três grupos de preços, com características muito distintas: preços de bens comercializáveis, preços monitorados e preços de serviços.

É intuitivo imaginar que os preços de produtos comercializáveis flutuem ao sabor da variação das commodities e da taxa cambial. Uma guerra aqui e uma seca acolá e os preços disparam. Nada a ver com a taxa Selic, única ferramenta que temos hoje para combater a inflação. Considerando os efeitos diretos e indiretos dessa categoria de preços, pouco mais de 40% da variação anual do IPCA nos últimos dez anos decorre do comportamento dos bens comercializáveis. Em maio de 2022, a inflação anual desse grupo bateu em 13,7%, mas caiu mês a mês até voltar para 5,8% no mês passado. Ninguém dirá que isso foi efeito da diligência do Banco Central.

A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9% Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O segundo grupo – preços monitorados – também pouco depende da demanda corrente e está mais afeito às regras e caprichos das autoridades reguladoras. A trajetória aqui é diferente. Em 2021, a variação desses preços atingiu 16,9%, mas a inflação desse grupo mergulhou no segundo semestre de 2022 – no rastro das manipulações desesperadas feitas para melhorar as chances eleitorais de Jair Bolsonaro – e fechou o ano com uma variação negativa de 3,8%. Esse grupo, considerando efeitos diretos e indiretos, explica 24% da variação anual e, não, certamente não tem nenhum parentesco com a trajetória da taxa Selic.

Sobra a inflação de serviços, que explica 35% da flutuação do IPCA. Aqui, sim, existe relação com juros. Não diretamente, mas por meio da taxa de desemprego. A estimativa é que para que a inflação de serviços caia para 4%, por exemplo, a taxa de desemprego deva subir para aproximadamente 12,9%, o que significa elevar o número de desocupados de 9,4 milhões para aproximadamente 13,8 milhões.

Então ficamos assim: o Banco Central precisa que o desemprego aumente brutalmente para que a inflação de serviços caia. O governo não gosta da ideia, o que o estimula a colocar em marcha medidas que estimulam o crescimento do emprego, mas isso apenas protela a queda dos juros. Ganham os investidores, o que concentra ainda mais a riqueza, e perdem os devedores, a começar pelo próprio governo. Enquanto isso, ficamos todos acendendo velas para que os preços que não têm nenhuma relação com a taxa Selic se comportem bem. Alguma coisa está fora da ordem. É preciso rediscutir a política anti-inflacionária.

Opinião por Luis Eduardo Assis

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