Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Concentração de renda, construída ao longo de gerações, é grande mazela que assombra o Brasil


Desmontar a construção perversa da concentração de renda no País, peça por peça, é trabalho prioritário

Por Luís Eduardo Assis

A concentração de renda no Brasil tem sido construída com muito esmero. Não do dia para a noite, mas ao longo de gerações. Regras, práticas e instituições se justapõem de forma perfeita para provocar um resultado colossal. Nenhum detalhe foi esquecido nesse monólito de encaixe preciso. Essa grande mazela nos assombra e é importante não perdermos a capacidade de nos indignarmos com ela. Os números são poderosos.

O relatório World Inequality Lab 2022, que avalia a concentração de renda em nível mundial, traz o Brasil como destaque negativo. Aqui, os 10% mais ricos detêm 59% da renda total, contra 45% nos EUA, 42% na China e 36% na Europa. Na França, por exemplo, os 10% mais ricos ganham na média sete vezes mais que os 50% mais pobres.

No Brasil, essa proporção é de quase 30 vezes. Se a concentração dos rendimentos é alta, a concentração da riqueza (ou seja, do estoque acumulado de bens) é ainda maior. Em 2021, a metade mais pobre da população detinha apenas 0,4% da riqueza total (na Argentina, essa proporção era 14 vezes maior).

continua após a publicidade

Na outra ponta, o 1% mais rico tinha 48% da riqueza brasileira e os 10% mais abonados eram donos de 80% do patrimônio privado nacional. A tendência recente tem sido de aumento da concentração. Texto primoroso do economista Sergio Gobetti (Concentração de renda no topo: novas revelações pelos dados do IRPF, FGV Ibre, 2024) mostra que entre 2017 e 2022 o crescimento da renda dos muito ricos se deu a um ritmo muito maior do que para a média dos brasileiros.

Para os 95% mais pobres, a renda aumentou 33% em cinco anos, enquanto a fração do 0,1% mais rico viu sua renda aumentar 87% no período.  Foto: JF Diorio/Estadão

Assim, enquanto para os 95% mais pobres a renda no período aumentou 33% (em linha com a inflação média de 31,4%), a renda do 1% mais rico cresceu 67%. Não é só. Os bacanas entre os bacanas, a fração do 0,1% mais rico, viu sua renda aumentar 87%, de uma média mensal de R$ 235,9 mil em 2017 para R$ 441,3 mil mensais em 2022. Isso equivale a nada menos que 120 vezes a renda média do brasileiro. Sim, o que o brasileiro médio ganha em dez anos o felizardo que está nesse cercadinho VIP ganha em um mês.

continua após a publicidade

Esse quadro é resultado de um sistema tributário regressivo (em que os pobres pagam relativamente mais impostos), da concessão de subsídios, isenções e desonerações a quem tem influência política, de um sistema educacional desenhado para magnificar as diferenças que marcam a loteria da vida e de tantos outros caprichos brasileiros. Desmontar essa construção perversa, peça por peça, é trabalho prioritário se quisermos construir uma sociedade mais justa e inclusiva, para o bem de todos.

A concentração de renda no Brasil tem sido construída com muito esmero. Não do dia para a noite, mas ao longo de gerações. Regras, práticas e instituições se justapõem de forma perfeita para provocar um resultado colossal. Nenhum detalhe foi esquecido nesse monólito de encaixe preciso. Essa grande mazela nos assombra e é importante não perdermos a capacidade de nos indignarmos com ela. Os números são poderosos.

O relatório World Inequality Lab 2022, que avalia a concentração de renda em nível mundial, traz o Brasil como destaque negativo. Aqui, os 10% mais ricos detêm 59% da renda total, contra 45% nos EUA, 42% na China e 36% na Europa. Na França, por exemplo, os 10% mais ricos ganham na média sete vezes mais que os 50% mais pobres.

No Brasil, essa proporção é de quase 30 vezes. Se a concentração dos rendimentos é alta, a concentração da riqueza (ou seja, do estoque acumulado de bens) é ainda maior. Em 2021, a metade mais pobre da população detinha apenas 0,4% da riqueza total (na Argentina, essa proporção era 14 vezes maior).

Na outra ponta, o 1% mais rico tinha 48% da riqueza brasileira e os 10% mais abonados eram donos de 80% do patrimônio privado nacional. A tendência recente tem sido de aumento da concentração. Texto primoroso do economista Sergio Gobetti (Concentração de renda no topo: novas revelações pelos dados do IRPF, FGV Ibre, 2024) mostra que entre 2017 e 2022 o crescimento da renda dos muito ricos se deu a um ritmo muito maior do que para a média dos brasileiros.

Para os 95% mais pobres, a renda aumentou 33% em cinco anos, enquanto a fração do 0,1% mais rico viu sua renda aumentar 87% no período.  Foto: JF Diorio/Estadão

Assim, enquanto para os 95% mais pobres a renda no período aumentou 33% (em linha com a inflação média de 31,4%), a renda do 1% mais rico cresceu 67%. Não é só. Os bacanas entre os bacanas, a fração do 0,1% mais rico, viu sua renda aumentar 87%, de uma média mensal de R$ 235,9 mil em 2017 para R$ 441,3 mil mensais em 2022. Isso equivale a nada menos que 120 vezes a renda média do brasileiro. Sim, o que o brasileiro médio ganha em dez anos o felizardo que está nesse cercadinho VIP ganha em um mês.

Esse quadro é resultado de um sistema tributário regressivo (em que os pobres pagam relativamente mais impostos), da concessão de subsídios, isenções e desonerações a quem tem influência política, de um sistema educacional desenhado para magnificar as diferenças que marcam a loteria da vida e de tantos outros caprichos brasileiros. Desmontar essa construção perversa, peça por peça, é trabalho prioritário se quisermos construir uma sociedade mais justa e inclusiva, para o bem de todos.

A concentração de renda no Brasil tem sido construída com muito esmero. Não do dia para a noite, mas ao longo de gerações. Regras, práticas e instituições se justapõem de forma perfeita para provocar um resultado colossal. Nenhum detalhe foi esquecido nesse monólito de encaixe preciso. Essa grande mazela nos assombra e é importante não perdermos a capacidade de nos indignarmos com ela. Os números são poderosos.

O relatório World Inequality Lab 2022, que avalia a concentração de renda em nível mundial, traz o Brasil como destaque negativo. Aqui, os 10% mais ricos detêm 59% da renda total, contra 45% nos EUA, 42% na China e 36% na Europa. Na França, por exemplo, os 10% mais ricos ganham na média sete vezes mais que os 50% mais pobres.

No Brasil, essa proporção é de quase 30 vezes. Se a concentração dos rendimentos é alta, a concentração da riqueza (ou seja, do estoque acumulado de bens) é ainda maior. Em 2021, a metade mais pobre da população detinha apenas 0,4% da riqueza total (na Argentina, essa proporção era 14 vezes maior).

Na outra ponta, o 1% mais rico tinha 48% da riqueza brasileira e os 10% mais abonados eram donos de 80% do patrimônio privado nacional. A tendência recente tem sido de aumento da concentração. Texto primoroso do economista Sergio Gobetti (Concentração de renda no topo: novas revelações pelos dados do IRPF, FGV Ibre, 2024) mostra que entre 2017 e 2022 o crescimento da renda dos muito ricos se deu a um ritmo muito maior do que para a média dos brasileiros.

Para os 95% mais pobres, a renda aumentou 33% em cinco anos, enquanto a fração do 0,1% mais rico viu sua renda aumentar 87% no período.  Foto: JF Diorio/Estadão

Assim, enquanto para os 95% mais pobres a renda no período aumentou 33% (em linha com a inflação média de 31,4%), a renda do 1% mais rico cresceu 67%. Não é só. Os bacanas entre os bacanas, a fração do 0,1% mais rico, viu sua renda aumentar 87%, de uma média mensal de R$ 235,9 mil em 2017 para R$ 441,3 mil mensais em 2022. Isso equivale a nada menos que 120 vezes a renda média do brasileiro. Sim, o que o brasileiro médio ganha em dez anos o felizardo que está nesse cercadinho VIP ganha em um mês.

Esse quadro é resultado de um sistema tributário regressivo (em que os pobres pagam relativamente mais impostos), da concessão de subsídios, isenções e desonerações a quem tem influência política, de um sistema educacional desenhado para magnificar as diferenças que marcam a loteria da vida e de tantos outros caprichos brasileiros. Desmontar essa construção perversa, peça por peça, é trabalho prioritário se quisermos construir uma sociedade mais justa e inclusiva, para o bem de todos.

A concentração de renda no Brasil tem sido construída com muito esmero. Não do dia para a noite, mas ao longo de gerações. Regras, práticas e instituições se justapõem de forma perfeita para provocar um resultado colossal. Nenhum detalhe foi esquecido nesse monólito de encaixe preciso. Essa grande mazela nos assombra e é importante não perdermos a capacidade de nos indignarmos com ela. Os números são poderosos.

O relatório World Inequality Lab 2022, que avalia a concentração de renda em nível mundial, traz o Brasil como destaque negativo. Aqui, os 10% mais ricos detêm 59% da renda total, contra 45% nos EUA, 42% na China e 36% na Europa. Na França, por exemplo, os 10% mais ricos ganham na média sete vezes mais que os 50% mais pobres.

No Brasil, essa proporção é de quase 30 vezes. Se a concentração dos rendimentos é alta, a concentração da riqueza (ou seja, do estoque acumulado de bens) é ainda maior. Em 2021, a metade mais pobre da população detinha apenas 0,4% da riqueza total (na Argentina, essa proporção era 14 vezes maior).

Na outra ponta, o 1% mais rico tinha 48% da riqueza brasileira e os 10% mais abonados eram donos de 80% do patrimônio privado nacional. A tendência recente tem sido de aumento da concentração. Texto primoroso do economista Sergio Gobetti (Concentração de renda no topo: novas revelações pelos dados do IRPF, FGV Ibre, 2024) mostra que entre 2017 e 2022 o crescimento da renda dos muito ricos se deu a um ritmo muito maior do que para a média dos brasileiros.

Para os 95% mais pobres, a renda aumentou 33% em cinco anos, enquanto a fração do 0,1% mais rico viu sua renda aumentar 87% no período.  Foto: JF Diorio/Estadão

Assim, enquanto para os 95% mais pobres a renda no período aumentou 33% (em linha com a inflação média de 31,4%), a renda do 1% mais rico cresceu 67%. Não é só. Os bacanas entre os bacanas, a fração do 0,1% mais rico, viu sua renda aumentar 87%, de uma média mensal de R$ 235,9 mil em 2017 para R$ 441,3 mil mensais em 2022. Isso equivale a nada menos que 120 vezes a renda média do brasileiro. Sim, o que o brasileiro médio ganha em dez anos o felizardo que está nesse cercadinho VIP ganha em um mês.

Esse quadro é resultado de um sistema tributário regressivo (em que os pobres pagam relativamente mais impostos), da concessão de subsídios, isenções e desonerações a quem tem influência política, de um sistema educacional desenhado para magnificar as diferenças que marcam a loteria da vida e de tantos outros caprichos brasileiros. Desmontar essa construção perversa, peça por peça, é trabalho prioritário se quisermos construir uma sociedade mais justa e inclusiva, para o bem de todos.

A concentração de renda no Brasil tem sido construída com muito esmero. Não do dia para a noite, mas ao longo de gerações. Regras, práticas e instituições se justapõem de forma perfeita para provocar um resultado colossal. Nenhum detalhe foi esquecido nesse monólito de encaixe preciso. Essa grande mazela nos assombra e é importante não perdermos a capacidade de nos indignarmos com ela. Os números são poderosos.

O relatório World Inequality Lab 2022, que avalia a concentração de renda em nível mundial, traz o Brasil como destaque negativo. Aqui, os 10% mais ricos detêm 59% da renda total, contra 45% nos EUA, 42% na China e 36% na Europa. Na França, por exemplo, os 10% mais ricos ganham na média sete vezes mais que os 50% mais pobres.

No Brasil, essa proporção é de quase 30 vezes. Se a concentração dos rendimentos é alta, a concentração da riqueza (ou seja, do estoque acumulado de bens) é ainda maior. Em 2021, a metade mais pobre da população detinha apenas 0,4% da riqueza total (na Argentina, essa proporção era 14 vezes maior).

Na outra ponta, o 1% mais rico tinha 48% da riqueza brasileira e os 10% mais abonados eram donos de 80% do patrimônio privado nacional. A tendência recente tem sido de aumento da concentração. Texto primoroso do economista Sergio Gobetti (Concentração de renda no topo: novas revelações pelos dados do IRPF, FGV Ibre, 2024) mostra que entre 2017 e 2022 o crescimento da renda dos muito ricos se deu a um ritmo muito maior do que para a média dos brasileiros.

Para os 95% mais pobres, a renda aumentou 33% em cinco anos, enquanto a fração do 0,1% mais rico viu sua renda aumentar 87% no período.  Foto: JF Diorio/Estadão

Assim, enquanto para os 95% mais pobres a renda no período aumentou 33% (em linha com a inflação média de 31,4%), a renda do 1% mais rico cresceu 67%. Não é só. Os bacanas entre os bacanas, a fração do 0,1% mais rico, viu sua renda aumentar 87%, de uma média mensal de R$ 235,9 mil em 2017 para R$ 441,3 mil mensais em 2022. Isso equivale a nada menos que 120 vezes a renda média do brasileiro. Sim, o que o brasileiro médio ganha em dez anos o felizardo que está nesse cercadinho VIP ganha em um mês.

Esse quadro é resultado de um sistema tributário regressivo (em que os pobres pagam relativamente mais impostos), da concessão de subsídios, isenções e desonerações a quem tem influência política, de um sistema educacional desenhado para magnificar as diferenças que marcam a loteria da vida e de tantos outros caprichos brasileiros. Desmontar essa construção perversa, peça por peça, é trabalho prioritário se quisermos construir uma sociedade mais justa e inclusiva, para o bem de todos.

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.