Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Caiu a ficha: o governo não gosta de juros altos


Dissenso na decisão do Copom desenha para quem não entendeu

Por Luís Eduardo Assis

O mercado financeiro parece ter sido informado apenas agora, depois da última reunião do Copom, que o PT ganhou as eleições presidenciais de 2022. O Banco Central não dirá quando vai mudar a política monetária, mas haverá sinais. O dissenso na decisão do Copom, provocado justamente pelos votos dos diretores indicados pelo presidente Lula, desenha para quem não entendeu: o governo não gosta de juros altos. Sua prioridade absoluta é o crescimento. O combate à inflação pode até ser importante, mas se subordina ao objetivo do crescimento. Exatamente o inverso do que é a missão do Banco Central, que prioriza o combate à inflação, mesmo que isso provoque a estagnação da economia.

Reduzir a polêmica a um conflito entre decisões técnicas ou políticas é uma simplificação excessiva. Não houve intervenção política no Copom. É muito mais que isso. Seria estranho se o presidente da República escolhesse para o Bacen diretores contrários às suas crenças sobre política monetária – e, sim, ele as tem.

O fato é que criamos um sistema em que a única ferramenta para domar a inflação é a taxa Selic. Exaurimos os estoques reguladores da Conab, não há mais política de crédito através de depósitos compulsórios, a instabilidade do câmbio quase não é controlada e a meta da inflação é o IPCA cheio – e não uma medida de “núcleo” que dilua o impacto de choques de oferta, como acontece em muitos países. Para piorar, vivemos ainda em economia indexada e, o pior de tudo, os gastos públicos tendem a aumentar quando há elevação da Selic. Resulta disso tudo uma política monetária ineficaz.

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A correlação entre a inflação anualizada dos produtos comercializáveis (cujos preços dependem das cotações internacionais) e o IPCA nos últimos20 anos é de 80%. Esses preços não respondem à uma elevação da Selic. Já a inflação de serviços, mais sensível aos juros altos que geram desemprego, tem uma correlação bem mais baixa, 47%.

Combater a inflação apenas através da taxa Selic exige, nas atuais condições, juros estratosféricos sempre que houver um choque de oferta. Os efeitos colaterais da terapia são conhecidos: baixo crescimento e aumento na concentração da renda.

Tudo leva a crer que os juros reais serão mais baixos quanto o Copom tiver a maioria de seus membros indicados pelo presidente Lula. O mercado que se prepare para suas inevitáveis cólicas. Sem ampliar o escopo da política anti-inflacionária isso pode significar apenas mais inflação. É preciso rediscutir os instrumentos de controle inflacionário, a começar por uma política fiscal mais responsável.

O mercado financeiro parece ter sido informado apenas agora, depois da última reunião do Copom, que o PT ganhou as eleições presidenciais de 2022. O Banco Central não dirá quando vai mudar a política monetária, mas haverá sinais. O dissenso na decisão do Copom, provocado justamente pelos votos dos diretores indicados pelo presidente Lula, desenha para quem não entendeu: o governo não gosta de juros altos. Sua prioridade absoluta é o crescimento. O combate à inflação pode até ser importante, mas se subordina ao objetivo do crescimento. Exatamente o inverso do que é a missão do Banco Central, que prioriza o combate à inflação, mesmo que isso provoque a estagnação da economia.

Reduzir a polêmica a um conflito entre decisões técnicas ou políticas é uma simplificação excessiva. Não houve intervenção política no Copom. É muito mais que isso. Seria estranho se o presidente da República escolhesse para o Bacen diretores contrários às suas crenças sobre política monetária – e, sim, ele as tem.

O fato é que criamos um sistema em que a única ferramenta para domar a inflação é a taxa Selic. Exaurimos os estoques reguladores da Conab, não há mais política de crédito através de depósitos compulsórios, a instabilidade do câmbio quase não é controlada e a meta da inflação é o IPCA cheio – e não uma medida de “núcleo” que dilua o impacto de choques de oferta, como acontece em muitos países. Para piorar, vivemos ainda em economia indexada e, o pior de tudo, os gastos públicos tendem a aumentar quando há elevação da Selic. Resulta disso tudo uma política monetária ineficaz.

A correlação entre a inflação anualizada dos produtos comercializáveis (cujos preços dependem das cotações internacionais) e o IPCA nos últimos20 anos é de 80%. Esses preços não respondem à uma elevação da Selic. Já a inflação de serviços, mais sensível aos juros altos que geram desemprego, tem uma correlação bem mais baixa, 47%.

Combater a inflação apenas através da taxa Selic exige, nas atuais condições, juros estratosféricos sempre que houver um choque de oferta. Os efeitos colaterais da terapia são conhecidos: baixo crescimento e aumento na concentração da renda.

Tudo leva a crer que os juros reais serão mais baixos quanto o Copom tiver a maioria de seus membros indicados pelo presidente Lula. O mercado que se prepare para suas inevitáveis cólicas. Sem ampliar o escopo da política anti-inflacionária isso pode significar apenas mais inflação. É preciso rediscutir os instrumentos de controle inflacionário, a começar por uma política fiscal mais responsável.

O mercado financeiro parece ter sido informado apenas agora, depois da última reunião do Copom, que o PT ganhou as eleições presidenciais de 2022. O Banco Central não dirá quando vai mudar a política monetária, mas haverá sinais. O dissenso na decisão do Copom, provocado justamente pelos votos dos diretores indicados pelo presidente Lula, desenha para quem não entendeu: o governo não gosta de juros altos. Sua prioridade absoluta é o crescimento. O combate à inflação pode até ser importante, mas se subordina ao objetivo do crescimento. Exatamente o inverso do que é a missão do Banco Central, que prioriza o combate à inflação, mesmo que isso provoque a estagnação da economia.

Reduzir a polêmica a um conflito entre decisões técnicas ou políticas é uma simplificação excessiva. Não houve intervenção política no Copom. É muito mais que isso. Seria estranho se o presidente da República escolhesse para o Bacen diretores contrários às suas crenças sobre política monetária – e, sim, ele as tem.

O fato é que criamos um sistema em que a única ferramenta para domar a inflação é a taxa Selic. Exaurimos os estoques reguladores da Conab, não há mais política de crédito através de depósitos compulsórios, a instabilidade do câmbio quase não é controlada e a meta da inflação é o IPCA cheio – e não uma medida de “núcleo” que dilua o impacto de choques de oferta, como acontece em muitos países. Para piorar, vivemos ainda em economia indexada e, o pior de tudo, os gastos públicos tendem a aumentar quando há elevação da Selic. Resulta disso tudo uma política monetária ineficaz.

A correlação entre a inflação anualizada dos produtos comercializáveis (cujos preços dependem das cotações internacionais) e o IPCA nos últimos20 anos é de 80%. Esses preços não respondem à uma elevação da Selic. Já a inflação de serviços, mais sensível aos juros altos que geram desemprego, tem uma correlação bem mais baixa, 47%.

Combater a inflação apenas através da taxa Selic exige, nas atuais condições, juros estratosféricos sempre que houver um choque de oferta. Os efeitos colaterais da terapia são conhecidos: baixo crescimento e aumento na concentração da renda.

Tudo leva a crer que os juros reais serão mais baixos quanto o Copom tiver a maioria de seus membros indicados pelo presidente Lula. O mercado que se prepare para suas inevitáveis cólicas. Sem ampliar o escopo da política anti-inflacionária isso pode significar apenas mais inflação. É preciso rediscutir os instrumentos de controle inflacionário, a começar por uma política fiscal mais responsável.

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Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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