Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Um debate sério é necessário: como ampliar a política anti-inflacionária?


Mero aumento da Selic traz consequências danosas à economia e ao crescimento

Por Luís Eduardo Assis

É tempo de celebração. A revista internacional Central Banking escolheu o Banco Central brasileiro como o melhor banco central de 2024. Tipo campeão mundial. A publicação traz longo texto laudatório à instituição canarinha, que soube exercer seu mandato “de forma exemplar, apesar das pressões externas”. Cita também os esforços da instituição na inclusão de milhões de pessoas por meio da criação de um sistema pioneiro de pagamento digital, o Pix. De fato, trata-se de um feito de enorme alcance.

Já no combate à inflação, a avaliação não é tão certeira. Depois de bendizer a rápida ação na elevação dos juros – que se adiantou em relação aos bancos centrais de países ricos –, a revista lembra que a inflação brasileira bateu 12,3% em abril de 2022, mas, graças ao aperto monetário (ajudado pelo corte nos impostos sobre combustíveis com que Jair Bolsonaro tentou ganhar a eleição), recuou para 3,2% em junho de 2023. Muita calma nessa hora. No período citado pela revista, o item “Alimentação no Domicílio” do IPCA despencou de 16,1% para 2,9%. De forma parecida, a inflação dos produtos comercializáveis (cujos preços acompanham cotações internacionais) também se precipitou de 13,6% para 3,5%. Isso pouco ou nada tem a ver com os juros do Banco Central. Lembre-se aqui que a correlação desses dois indicadores com o IPCA é extremamente alta (mais de 80% no caso de comercializáveis). Já a inflação de serviços, que reflete, essa sim, o impacto dos juros altos no nível de emprego, recuou quase nada, de 6,9% para 6,2%.

Sede do Banco Central; taxa de juros é principal instrumento para combate à inflação Foto: ANDRÉ DUSEK / ESTADÃO
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O resumo da ópera é simples. A eficácia da alta da Selic sobre a inflação de uma economia como a brasileira é muito limitada, o que exige juros extremamente altos por um longo período para que os resultados – com sorte – apareçam. Alheio ao galardão do Banco Central, o ministro do Trabalho, encharcado de ideias equivocadas, declarou que o Banco Central precisa “estudar mais” porque aumentar juros é uma forma burra de controlar a inflação. Trata-se de uma maneira pouco inteligente de iniciar um debate que, justamente por ser importante, precisa se pautar por argumentos sérios. É preciso ampliar o escopo da política anti-inflacionária. O mero aumento da Selic, algo muito fácil de ser feito, traz consequências extremamente danosas, a começar pelo impacto na concentração de renda e na evolução da dívida pública – as despesas com juros do governo federal cresceram 130% nos últimos três anos. Mas acusações soltas ao Banco Central apenas criam uma babel de vozes que nada ajuda nesse debate.

É tempo de celebração. A revista internacional Central Banking escolheu o Banco Central brasileiro como o melhor banco central de 2024. Tipo campeão mundial. A publicação traz longo texto laudatório à instituição canarinha, que soube exercer seu mandato “de forma exemplar, apesar das pressões externas”. Cita também os esforços da instituição na inclusão de milhões de pessoas por meio da criação de um sistema pioneiro de pagamento digital, o Pix. De fato, trata-se de um feito de enorme alcance.

Já no combate à inflação, a avaliação não é tão certeira. Depois de bendizer a rápida ação na elevação dos juros – que se adiantou em relação aos bancos centrais de países ricos –, a revista lembra que a inflação brasileira bateu 12,3% em abril de 2022, mas, graças ao aperto monetário (ajudado pelo corte nos impostos sobre combustíveis com que Jair Bolsonaro tentou ganhar a eleição), recuou para 3,2% em junho de 2023. Muita calma nessa hora. No período citado pela revista, o item “Alimentação no Domicílio” do IPCA despencou de 16,1% para 2,9%. De forma parecida, a inflação dos produtos comercializáveis (cujos preços acompanham cotações internacionais) também se precipitou de 13,6% para 3,5%. Isso pouco ou nada tem a ver com os juros do Banco Central. Lembre-se aqui que a correlação desses dois indicadores com o IPCA é extremamente alta (mais de 80% no caso de comercializáveis). Já a inflação de serviços, que reflete, essa sim, o impacto dos juros altos no nível de emprego, recuou quase nada, de 6,9% para 6,2%.

Sede do Banco Central; taxa de juros é principal instrumento para combate à inflação Foto: ANDRÉ DUSEK / ESTADÃO

O resumo da ópera é simples. A eficácia da alta da Selic sobre a inflação de uma economia como a brasileira é muito limitada, o que exige juros extremamente altos por um longo período para que os resultados – com sorte – apareçam. Alheio ao galardão do Banco Central, o ministro do Trabalho, encharcado de ideias equivocadas, declarou que o Banco Central precisa “estudar mais” porque aumentar juros é uma forma burra de controlar a inflação. Trata-se de uma maneira pouco inteligente de iniciar um debate que, justamente por ser importante, precisa se pautar por argumentos sérios. É preciso ampliar o escopo da política anti-inflacionária. O mero aumento da Selic, algo muito fácil de ser feito, traz consequências extremamente danosas, a começar pelo impacto na concentração de renda e na evolução da dívida pública – as despesas com juros do governo federal cresceram 130% nos últimos três anos. Mas acusações soltas ao Banco Central apenas criam uma babel de vozes que nada ajuda nesse debate.

É tempo de celebração. A revista internacional Central Banking escolheu o Banco Central brasileiro como o melhor banco central de 2024. Tipo campeão mundial. A publicação traz longo texto laudatório à instituição canarinha, que soube exercer seu mandato “de forma exemplar, apesar das pressões externas”. Cita também os esforços da instituição na inclusão de milhões de pessoas por meio da criação de um sistema pioneiro de pagamento digital, o Pix. De fato, trata-se de um feito de enorme alcance.

Já no combate à inflação, a avaliação não é tão certeira. Depois de bendizer a rápida ação na elevação dos juros – que se adiantou em relação aos bancos centrais de países ricos –, a revista lembra que a inflação brasileira bateu 12,3% em abril de 2022, mas, graças ao aperto monetário (ajudado pelo corte nos impostos sobre combustíveis com que Jair Bolsonaro tentou ganhar a eleição), recuou para 3,2% em junho de 2023. Muita calma nessa hora. No período citado pela revista, o item “Alimentação no Domicílio” do IPCA despencou de 16,1% para 2,9%. De forma parecida, a inflação dos produtos comercializáveis (cujos preços acompanham cotações internacionais) também se precipitou de 13,6% para 3,5%. Isso pouco ou nada tem a ver com os juros do Banco Central. Lembre-se aqui que a correlação desses dois indicadores com o IPCA é extremamente alta (mais de 80% no caso de comercializáveis). Já a inflação de serviços, que reflete, essa sim, o impacto dos juros altos no nível de emprego, recuou quase nada, de 6,9% para 6,2%.

Sede do Banco Central; taxa de juros é principal instrumento para combate à inflação Foto: ANDRÉ DUSEK / ESTADÃO

O resumo da ópera é simples. A eficácia da alta da Selic sobre a inflação de uma economia como a brasileira é muito limitada, o que exige juros extremamente altos por um longo período para que os resultados – com sorte – apareçam. Alheio ao galardão do Banco Central, o ministro do Trabalho, encharcado de ideias equivocadas, declarou que o Banco Central precisa “estudar mais” porque aumentar juros é uma forma burra de controlar a inflação. Trata-se de uma maneira pouco inteligente de iniciar um debate que, justamente por ser importante, precisa se pautar por argumentos sérios. É preciso ampliar o escopo da política anti-inflacionária. O mero aumento da Selic, algo muito fácil de ser feito, traz consequências extremamente danosas, a começar pelo impacto na concentração de renda e na evolução da dívida pública – as despesas com juros do governo federal cresceram 130% nos últimos três anos. Mas acusações soltas ao Banco Central apenas criam uma babel de vozes que nada ajuda nesse debate.

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Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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