Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Promover desindexação de preços abriria caminho para juros menores


Governo poderia coordenar movimento através de legislação específica, alongando gradualmente prazos de reajustes para preços e salários

Por Luís Eduardo Assis

Vale a pena incluir na lista de coisas que só acontecem no Brasil o próprio hábito de pensar que algumas coisas só acontecem aqui. Não somos tão únicos assim. Mesmo as jabuticabas, sempre citadas, não são exclusividade nossa. Há jabuticabas em vários países da América Latina. Já a indexação de preços, sobejamente praticada entre nós, merece um lugar de maior destaque no rol das nossas esquisitices. É algo extraordinário que contratos e salários sejam reajustados todos os anos, com base na inflação passada, em um país onde os preços crescem a uma taxa anual inferior a 5%.

Trata-se, claro, de vício adquirido nos tempos da inflação muito alta. Esse hábito custa caro. Em uma economia indexada, os choques de oferta – provocados por condições climáticas, por exemplo – contaminam rapidamente os outros preços, propagando a inflação. Se houver uma praga qualquer que dizime as plantações de tomate, o preço explode e o reajuste do aluguel do mês seguinte será um pouco mais alto (e o dono do imóvel pode até não gostar de tomate). Isso torna a evolução da inflação mais “grudenta”.

Desatrelar inflação do passado seria benéfico para todos, inclusive para trabalhadores Foto: JF Diorio/Estadão
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Cálculo da autocorrelação temporal do IPCA (o nome é “correlograma”) entre janeiro de 2000 e outubro de 2024 mostra que aqui a correlação da inflação do mês em curso com o índice do mês anterior é de 62%, contra 51% nos EUA e apenas 9,7% no Reino Unido. Para uma defasagem de três meses, a correlação no Brasil é ainda de 26%, contra praticamente zero nos EUA e no Reino Unido. Outro tipo de indexação fica evidente no fato de que boa parte das aplicações financeiras está ainda atrelada à variação da taxa Selic.

Isso faz com que uma elevação de juros gere um efeito positivo instantâneo sobre a riqueza, reduzindo seu impacto sobre a contenção da demanda. A essa altura, LFTs e fundos DIs deveriam ser apenas memorabília de historiadores econômicos e colecionadores. Uma espécie de disco de vinil de economistas excêntricos. Mas não é assim. A indexação generalizada retroalimenta a inflação, diminuindo a potência da política monetária, o que exige juros ainda mais altos.

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Promover a desindexação, portanto, abriria caminho para juros menores. Isso não acontecerá espontaneamente; se assim fosse ela já teria ocorrido, 30 anos após o Plano Real. O governo poderia coordenar esse movimento através de uma legislação específica, alongando gradualmente os prazos de reajustes para preços e salários. Parece ilusório, no entanto, acreditar que a atual administração possa flexibilizar seus paradigmas sindicais e aceitar a ideia de que desatrelar a inflação do passado seja benéfico para todos, inclusive para os trabalhadores.

Vale a pena incluir na lista de coisas que só acontecem no Brasil o próprio hábito de pensar que algumas coisas só acontecem aqui. Não somos tão únicos assim. Mesmo as jabuticabas, sempre citadas, não são exclusividade nossa. Há jabuticabas em vários países da América Latina. Já a indexação de preços, sobejamente praticada entre nós, merece um lugar de maior destaque no rol das nossas esquisitices. É algo extraordinário que contratos e salários sejam reajustados todos os anos, com base na inflação passada, em um país onde os preços crescem a uma taxa anual inferior a 5%.

Trata-se, claro, de vício adquirido nos tempos da inflação muito alta. Esse hábito custa caro. Em uma economia indexada, os choques de oferta – provocados por condições climáticas, por exemplo – contaminam rapidamente os outros preços, propagando a inflação. Se houver uma praga qualquer que dizime as plantações de tomate, o preço explode e o reajuste do aluguel do mês seguinte será um pouco mais alto (e o dono do imóvel pode até não gostar de tomate). Isso torna a evolução da inflação mais “grudenta”.

Desatrelar inflação do passado seria benéfico para todos, inclusive para trabalhadores Foto: JF Diorio/Estadão

Cálculo da autocorrelação temporal do IPCA (o nome é “correlograma”) entre janeiro de 2000 e outubro de 2024 mostra que aqui a correlação da inflação do mês em curso com o índice do mês anterior é de 62%, contra 51% nos EUA e apenas 9,7% no Reino Unido. Para uma defasagem de três meses, a correlação no Brasil é ainda de 26%, contra praticamente zero nos EUA e no Reino Unido. Outro tipo de indexação fica evidente no fato de que boa parte das aplicações financeiras está ainda atrelada à variação da taxa Selic.

Isso faz com que uma elevação de juros gere um efeito positivo instantâneo sobre a riqueza, reduzindo seu impacto sobre a contenção da demanda. A essa altura, LFTs e fundos DIs deveriam ser apenas memorabília de historiadores econômicos e colecionadores. Uma espécie de disco de vinil de economistas excêntricos. Mas não é assim. A indexação generalizada retroalimenta a inflação, diminuindo a potência da política monetária, o que exige juros ainda mais altos.

Promover a desindexação, portanto, abriria caminho para juros menores. Isso não acontecerá espontaneamente; se assim fosse ela já teria ocorrido, 30 anos após o Plano Real. O governo poderia coordenar esse movimento através de uma legislação específica, alongando gradualmente os prazos de reajustes para preços e salários. Parece ilusório, no entanto, acreditar que a atual administração possa flexibilizar seus paradigmas sindicais e aceitar a ideia de que desatrelar a inflação do passado seja benéfico para todos, inclusive para os trabalhadores.

Vale a pena incluir na lista de coisas que só acontecem no Brasil o próprio hábito de pensar que algumas coisas só acontecem aqui. Não somos tão únicos assim. Mesmo as jabuticabas, sempre citadas, não são exclusividade nossa. Há jabuticabas em vários países da América Latina. Já a indexação de preços, sobejamente praticada entre nós, merece um lugar de maior destaque no rol das nossas esquisitices. É algo extraordinário que contratos e salários sejam reajustados todos os anos, com base na inflação passada, em um país onde os preços crescem a uma taxa anual inferior a 5%.

Trata-se, claro, de vício adquirido nos tempos da inflação muito alta. Esse hábito custa caro. Em uma economia indexada, os choques de oferta – provocados por condições climáticas, por exemplo – contaminam rapidamente os outros preços, propagando a inflação. Se houver uma praga qualquer que dizime as plantações de tomate, o preço explode e o reajuste do aluguel do mês seguinte será um pouco mais alto (e o dono do imóvel pode até não gostar de tomate). Isso torna a evolução da inflação mais “grudenta”.

Desatrelar inflação do passado seria benéfico para todos, inclusive para trabalhadores Foto: JF Diorio/Estadão

Cálculo da autocorrelação temporal do IPCA (o nome é “correlograma”) entre janeiro de 2000 e outubro de 2024 mostra que aqui a correlação da inflação do mês em curso com o índice do mês anterior é de 62%, contra 51% nos EUA e apenas 9,7% no Reino Unido. Para uma defasagem de três meses, a correlação no Brasil é ainda de 26%, contra praticamente zero nos EUA e no Reino Unido. Outro tipo de indexação fica evidente no fato de que boa parte das aplicações financeiras está ainda atrelada à variação da taxa Selic.

Isso faz com que uma elevação de juros gere um efeito positivo instantâneo sobre a riqueza, reduzindo seu impacto sobre a contenção da demanda. A essa altura, LFTs e fundos DIs deveriam ser apenas memorabília de historiadores econômicos e colecionadores. Uma espécie de disco de vinil de economistas excêntricos. Mas não é assim. A indexação generalizada retroalimenta a inflação, diminuindo a potência da política monetária, o que exige juros ainda mais altos.

Promover a desindexação, portanto, abriria caminho para juros menores. Isso não acontecerá espontaneamente; se assim fosse ela já teria ocorrido, 30 anos após o Plano Real. O governo poderia coordenar esse movimento através de uma legislação específica, alongando gradualmente os prazos de reajustes para preços e salários. Parece ilusório, no entanto, acreditar que a atual administração possa flexibilizar seus paradigmas sindicais e aceitar a ideia de que desatrelar a inflação do passado seja benéfico para todos, inclusive para os trabalhadores.

Vale a pena incluir na lista de coisas que só acontecem no Brasil o próprio hábito de pensar que algumas coisas só acontecem aqui. Não somos tão únicos assim. Mesmo as jabuticabas, sempre citadas, não são exclusividade nossa. Há jabuticabas em vários países da América Latina. Já a indexação de preços, sobejamente praticada entre nós, merece um lugar de maior destaque no rol das nossas esquisitices. É algo extraordinário que contratos e salários sejam reajustados todos os anos, com base na inflação passada, em um país onde os preços crescem a uma taxa anual inferior a 5%.

Trata-se, claro, de vício adquirido nos tempos da inflação muito alta. Esse hábito custa caro. Em uma economia indexada, os choques de oferta – provocados por condições climáticas, por exemplo – contaminam rapidamente os outros preços, propagando a inflação. Se houver uma praga qualquer que dizime as plantações de tomate, o preço explode e o reajuste do aluguel do mês seguinte será um pouco mais alto (e o dono do imóvel pode até não gostar de tomate). Isso torna a evolução da inflação mais “grudenta”.

Desatrelar inflação do passado seria benéfico para todos, inclusive para trabalhadores Foto: JF Diorio/Estadão

Cálculo da autocorrelação temporal do IPCA (o nome é “correlograma”) entre janeiro de 2000 e outubro de 2024 mostra que aqui a correlação da inflação do mês em curso com o índice do mês anterior é de 62%, contra 51% nos EUA e apenas 9,7% no Reino Unido. Para uma defasagem de três meses, a correlação no Brasil é ainda de 26%, contra praticamente zero nos EUA e no Reino Unido. Outro tipo de indexação fica evidente no fato de que boa parte das aplicações financeiras está ainda atrelada à variação da taxa Selic.

Isso faz com que uma elevação de juros gere um efeito positivo instantâneo sobre a riqueza, reduzindo seu impacto sobre a contenção da demanda. A essa altura, LFTs e fundos DIs deveriam ser apenas memorabília de historiadores econômicos e colecionadores. Uma espécie de disco de vinil de economistas excêntricos. Mas não é assim. A indexação generalizada retroalimenta a inflação, diminuindo a potência da política monetária, o que exige juros ainda mais altos.

Promover a desindexação, portanto, abriria caminho para juros menores. Isso não acontecerá espontaneamente; se assim fosse ela já teria ocorrido, 30 anos após o Plano Real. O governo poderia coordenar esse movimento através de uma legislação específica, alongando gradualmente os prazos de reajustes para preços e salários. Parece ilusório, no entanto, acreditar que a atual administração possa flexibilizar seus paradigmas sindicais e aceitar a ideia de que desatrelar a inflação do passado seja benéfico para todos, inclusive para os trabalhadores.

Vale a pena incluir na lista de coisas que só acontecem no Brasil o próprio hábito de pensar que algumas coisas só acontecem aqui. Não somos tão únicos assim. Mesmo as jabuticabas, sempre citadas, não são exclusividade nossa. Há jabuticabas em vários países da América Latina. Já a indexação de preços, sobejamente praticada entre nós, merece um lugar de maior destaque no rol das nossas esquisitices. É algo extraordinário que contratos e salários sejam reajustados todos os anos, com base na inflação passada, em um país onde os preços crescem a uma taxa anual inferior a 5%.

Trata-se, claro, de vício adquirido nos tempos da inflação muito alta. Esse hábito custa caro. Em uma economia indexada, os choques de oferta – provocados por condições climáticas, por exemplo – contaminam rapidamente os outros preços, propagando a inflação. Se houver uma praga qualquer que dizime as plantações de tomate, o preço explode e o reajuste do aluguel do mês seguinte será um pouco mais alto (e o dono do imóvel pode até não gostar de tomate). Isso torna a evolução da inflação mais “grudenta”.

Desatrelar inflação do passado seria benéfico para todos, inclusive para trabalhadores Foto: JF Diorio/Estadão

Cálculo da autocorrelação temporal do IPCA (o nome é “correlograma”) entre janeiro de 2000 e outubro de 2024 mostra que aqui a correlação da inflação do mês em curso com o índice do mês anterior é de 62%, contra 51% nos EUA e apenas 9,7% no Reino Unido. Para uma defasagem de três meses, a correlação no Brasil é ainda de 26%, contra praticamente zero nos EUA e no Reino Unido. Outro tipo de indexação fica evidente no fato de que boa parte das aplicações financeiras está ainda atrelada à variação da taxa Selic.

Isso faz com que uma elevação de juros gere um efeito positivo instantâneo sobre a riqueza, reduzindo seu impacto sobre a contenção da demanda. A essa altura, LFTs e fundos DIs deveriam ser apenas memorabília de historiadores econômicos e colecionadores. Uma espécie de disco de vinil de economistas excêntricos. Mas não é assim. A indexação generalizada retroalimenta a inflação, diminuindo a potência da política monetária, o que exige juros ainda mais altos.

Promover a desindexação, portanto, abriria caminho para juros menores. Isso não acontecerá espontaneamente; se assim fosse ela já teria ocorrido, 30 anos após o Plano Real. O governo poderia coordenar esse movimento através de uma legislação específica, alongando gradualmente os prazos de reajustes para preços e salários. Parece ilusório, no entanto, acreditar que a atual administração possa flexibilizar seus paradigmas sindicais e aceitar a ideia de que desatrelar a inflação do passado seja benéfico para todos, inclusive para os trabalhadores.

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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