Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Javier Milei: um economista radical no controle de um país tem enorme poder de destruição


Não há um plano, há somente um mexidão de dogmas que não formam um conjunto minimamente crível

Por Luís Eduardo Assis

Vale a pena prestar atenção ao que acontece na Argentina. Já tivemos presidentes amalucados. Mas nada se compara ao poder destruidor de um presidente economista. Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.

Não é fácil equacionar a quadratura do círculo para retirar a Argentina do pântano onde se meteu. Ao contrário do Brasil, os nossos vizinhos ainda se engalfinham com a dívida externa. No segundo trimestre de 2023, a dívida argentina superou US$ 276 bilhões, enquanto as reservas internacionais estão estimadas em apenas US$ 21,5 bilhões. No Brasil, a dívida externa total é menor que as reservas internacionais desde 2008.

O peso deve se desvalorizar ainda mais, já que a crença cega do novo presidente nos mercados implicará a liberação do câmbio. Isso poderá estimular as exportações e reverter o déficit comercial, que já acumula US$ 4,9 bilhões nos últimos 12 meses até outubro (nova comparação: o saldo comercial brasileiro poderá alcançar US$ 93 bilhões em 2023, recorde histórico).

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Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.  Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Se o câmbio depreciado pode melhorar o saldo comercial, é certo também que ele causará mais inflação. Lá, os preços ao consumidor avançaram 142,7% nos últimos 12 meses, o equivalente à inflação brasileira acumulada entre março de 2008 e novembro de 2023. A inflação argentina também será alimentada pelo fim dos tabelamentos e pelo corte de subsídios. É pouco? Tem mais.

O presidente recém-eleito já avisou que quer cortar despesas do governo em montante equivalente a 5% do PIB (só um presidente economista nerd citaria essa estatística em seu discurso de posse, para uma multidão em praça aberta). Para ele, no seu delírio, o ônus recairá apenas sobre o próprio governo, esquecendo-se de que a contrapartida da despesa do governo é uma receita para o setor privado. É de esperar também que os juros subam para patamares estratosféricos, na vã expectativa de que isso poderá atrair recursos externos que ajudariam na recomposição de reservas.

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O resultado imediato disso será o aprofundamento da recessão e a explosão dos preços, com aumento significativo da pobreza e do desemprego. O fato é que não há um plano. Há somente um mexidão de dogmas que não formam um conjunto minimamente crível. Veremos que um economista radical com acesso ao painel de controle de um país tem enorme poder de destruição.

O clima de “vai ou racha” pode ser catastrófico no trato com forças políticas antagônicas, que reagirão. A persistir nessa micareta histriônica, serão pequenas as chances de Milei concluir seu mandato.

Vale a pena prestar atenção ao que acontece na Argentina. Já tivemos presidentes amalucados. Mas nada se compara ao poder destruidor de um presidente economista. Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.

Não é fácil equacionar a quadratura do círculo para retirar a Argentina do pântano onde se meteu. Ao contrário do Brasil, os nossos vizinhos ainda se engalfinham com a dívida externa. No segundo trimestre de 2023, a dívida argentina superou US$ 276 bilhões, enquanto as reservas internacionais estão estimadas em apenas US$ 21,5 bilhões. No Brasil, a dívida externa total é menor que as reservas internacionais desde 2008.

O peso deve se desvalorizar ainda mais, já que a crença cega do novo presidente nos mercados implicará a liberação do câmbio. Isso poderá estimular as exportações e reverter o déficit comercial, que já acumula US$ 4,9 bilhões nos últimos 12 meses até outubro (nova comparação: o saldo comercial brasileiro poderá alcançar US$ 93 bilhões em 2023, recorde histórico).

Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.  Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Se o câmbio depreciado pode melhorar o saldo comercial, é certo também que ele causará mais inflação. Lá, os preços ao consumidor avançaram 142,7% nos últimos 12 meses, o equivalente à inflação brasileira acumulada entre março de 2008 e novembro de 2023. A inflação argentina também será alimentada pelo fim dos tabelamentos e pelo corte de subsídios. É pouco? Tem mais.

O presidente recém-eleito já avisou que quer cortar despesas do governo em montante equivalente a 5% do PIB (só um presidente economista nerd citaria essa estatística em seu discurso de posse, para uma multidão em praça aberta). Para ele, no seu delírio, o ônus recairá apenas sobre o próprio governo, esquecendo-se de que a contrapartida da despesa do governo é uma receita para o setor privado. É de esperar também que os juros subam para patamares estratosféricos, na vã expectativa de que isso poderá atrair recursos externos que ajudariam na recomposição de reservas.

O resultado imediato disso será o aprofundamento da recessão e a explosão dos preços, com aumento significativo da pobreza e do desemprego. O fato é que não há um plano. Há somente um mexidão de dogmas que não formam um conjunto minimamente crível. Veremos que um economista radical com acesso ao painel de controle de um país tem enorme poder de destruição.

O clima de “vai ou racha” pode ser catastrófico no trato com forças políticas antagônicas, que reagirão. A persistir nessa micareta histriônica, serão pequenas as chances de Milei concluir seu mandato.

Vale a pena prestar atenção ao que acontece na Argentina. Já tivemos presidentes amalucados. Mas nada se compara ao poder destruidor de um presidente economista. Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.

Não é fácil equacionar a quadratura do círculo para retirar a Argentina do pântano onde se meteu. Ao contrário do Brasil, os nossos vizinhos ainda se engalfinham com a dívida externa. No segundo trimestre de 2023, a dívida argentina superou US$ 276 bilhões, enquanto as reservas internacionais estão estimadas em apenas US$ 21,5 bilhões. No Brasil, a dívida externa total é menor que as reservas internacionais desde 2008.

O peso deve se desvalorizar ainda mais, já que a crença cega do novo presidente nos mercados implicará a liberação do câmbio. Isso poderá estimular as exportações e reverter o déficit comercial, que já acumula US$ 4,9 bilhões nos últimos 12 meses até outubro (nova comparação: o saldo comercial brasileiro poderá alcançar US$ 93 bilhões em 2023, recorde histórico).

Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.  Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Se o câmbio depreciado pode melhorar o saldo comercial, é certo também que ele causará mais inflação. Lá, os preços ao consumidor avançaram 142,7% nos últimos 12 meses, o equivalente à inflação brasileira acumulada entre março de 2008 e novembro de 2023. A inflação argentina também será alimentada pelo fim dos tabelamentos e pelo corte de subsídios. É pouco? Tem mais.

O presidente recém-eleito já avisou que quer cortar despesas do governo em montante equivalente a 5% do PIB (só um presidente economista nerd citaria essa estatística em seu discurso de posse, para uma multidão em praça aberta). Para ele, no seu delírio, o ônus recairá apenas sobre o próprio governo, esquecendo-se de que a contrapartida da despesa do governo é uma receita para o setor privado. É de esperar também que os juros subam para patamares estratosféricos, na vã expectativa de que isso poderá atrair recursos externos que ajudariam na recomposição de reservas.

O resultado imediato disso será o aprofundamento da recessão e a explosão dos preços, com aumento significativo da pobreza e do desemprego. O fato é que não há um plano. Há somente um mexidão de dogmas que não formam um conjunto minimamente crível. Veremos que um economista radical com acesso ao painel de controle de um país tem enorme poder de destruição.

O clima de “vai ou racha” pode ser catastrófico no trato com forças políticas antagônicas, que reagirão. A persistir nessa micareta histriônica, serão pequenas as chances de Milei concluir seu mandato.

Vale a pena prestar atenção ao que acontece na Argentina. Já tivemos presidentes amalucados. Mas nada se compara ao poder destruidor de um presidente economista. Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.

Não é fácil equacionar a quadratura do círculo para retirar a Argentina do pântano onde se meteu. Ao contrário do Brasil, os nossos vizinhos ainda se engalfinham com a dívida externa. No segundo trimestre de 2023, a dívida argentina superou US$ 276 bilhões, enquanto as reservas internacionais estão estimadas em apenas US$ 21,5 bilhões. No Brasil, a dívida externa total é menor que as reservas internacionais desde 2008.

O peso deve se desvalorizar ainda mais, já que a crença cega do novo presidente nos mercados implicará a liberação do câmbio. Isso poderá estimular as exportações e reverter o déficit comercial, que já acumula US$ 4,9 bilhões nos últimos 12 meses até outubro (nova comparação: o saldo comercial brasileiro poderá alcançar US$ 93 bilhões em 2023, recorde histórico).

Com sua feroz radicalidade, Javier Milei tem sintomas de que conduzirá seu país a uma experiência sem precedentes.  Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Se o câmbio depreciado pode melhorar o saldo comercial, é certo também que ele causará mais inflação. Lá, os preços ao consumidor avançaram 142,7% nos últimos 12 meses, o equivalente à inflação brasileira acumulada entre março de 2008 e novembro de 2023. A inflação argentina também será alimentada pelo fim dos tabelamentos e pelo corte de subsídios. É pouco? Tem mais.

O presidente recém-eleito já avisou que quer cortar despesas do governo em montante equivalente a 5% do PIB (só um presidente economista nerd citaria essa estatística em seu discurso de posse, para uma multidão em praça aberta). Para ele, no seu delírio, o ônus recairá apenas sobre o próprio governo, esquecendo-se de que a contrapartida da despesa do governo é uma receita para o setor privado. É de esperar também que os juros subam para patamares estratosféricos, na vã expectativa de que isso poderá atrair recursos externos que ajudariam na recomposição de reservas.

O resultado imediato disso será o aprofundamento da recessão e a explosão dos preços, com aumento significativo da pobreza e do desemprego. O fato é que não há um plano. Há somente um mexidão de dogmas que não formam um conjunto minimamente crível. Veremos que um economista radical com acesso ao painel de controle de um país tem enorme poder de destruição.

O clima de “vai ou racha” pode ser catastrófico no trato com forças políticas antagônicas, que reagirão. A persistir nessa micareta histriônica, serão pequenas as chances de Milei concluir seu mandato.

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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