Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Crer para não ver


É tempo de colocar uma ficha na aposta de que o BC poderá usar instrumentos para controlar a inflação

Por Luís Eduardo Assis

Pequeno exercício de imaginação: é difícil, mas imaginemos que o presidente Lula tenha sido convencido (por meio de hipnose ou alguma terapia alternativa do SUS) que é absolutamente fundamental conter os gastos públicos. Seria fácil? Certamente não.

Mesmo uma convicção férrea na austeridade fiscal encontraria enormes resistências para se materializar. Cortar gastos tributários, por exemplo, encontraria forte repúdio dos setores beneficiados. Desvincular benefícios da previdência do salário mínimo significa perder votos. O mesmo se o ganho real do salário mínimo fosse cancelado. Suspender aumentos salariais do funcionalismo exporia o governo a greves intermináveis. Cortar emendas parlamentares? Nem pensar. Ou seja, mesmo querendo, seria improvável.

Agora imaginemos, sem nenhuma dificuldade, que o governo não tem nenhuma convicção sobre o equilíbrio das finanças públicas. Aí fica ainda mais complicado. As ambiguidades nas declarações do presidente sobre o equilíbrio fiscal alimentam as desconfianças do mercado. É razoável.

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Agora pensemos na política monetária. Aqui não há nenhuma ambiguidade. O presidente tem sido muito claro. Em café da manhã com jornalistas, em 23 de abril, Lula afirmou que “quem perde dinheiro com esta taxa de juros alta é o povo brasileiro”. Em 28 de junho, em entrevista ao jornal O Tempo, acrescentou que “a gente vai construir uma nova filosofia quando eu puder indicar o presidente do BC”. Arrematou, em 16 de julho, em entrevista à Record TV, afirmando que “a única coisa que não está controlada no Brasil é a taxa de juros”.

Sede do Banco Central em Brasília; mercado não acredita que autoridade financeira possa mudar política de juros a partir de 2025, apesar das declarações do presidente Lula Foto: Wilton Junior/Estadão

Qual parte o mercado não entendeu? Ainda assim, as taxas de juros prefixadas para um e dois anos estão acima de 11%, pressupondo que a Selic vai subir, não cair, no início da nova gestão do Banco Central. No estreito arcabouço conceitual em torno do qual gravitam as cotações, a perspectiva de um problema se traduz automaticamente em expectativa de juros mais altos, ignorando a possibilidade de que os próprios juros, artificialmente baixos, possam ser o problema.

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O mercado não acredita no compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. As mensagens são dúbias, o que gera desconfiança. Mas também não acredita que a política de juros possa mudar a partir de 2025, apesar da clareza nas declarações. É tempo de colocar uma ficha na aposta de que o BC poderá usar outros instrumentos para controlar a inflação, como a elevação dos depósitos compulsórios dos bancos, entre vários outros exemplos, abrindo espaço para a queda da Selic. A chance de êxito é pequena, mas quem disse que tem que dar certo?

Pequeno exercício de imaginação: é difícil, mas imaginemos que o presidente Lula tenha sido convencido (por meio de hipnose ou alguma terapia alternativa do SUS) que é absolutamente fundamental conter os gastos públicos. Seria fácil? Certamente não.

Mesmo uma convicção férrea na austeridade fiscal encontraria enormes resistências para se materializar. Cortar gastos tributários, por exemplo, encontraria forte repúdio dos setores beneficiados. Desvincular benefícios da previdência do salário mínimo significa perder votos. O mesmo se o ganho real do salário mínimo fosse cancelado. Suspender aumentos salariais do funcionalismo exporia o governo a greves intermináveis. Cortar emendas parlamentares? Nem pensar. Ou seja, mesmo querendo, seria improvável.

Agora imaginemos, sem nenhuma dificuldade, que o governo não tem nenhuma convicção sobre o equilíbrio das finanças públicas. Aí fica ainda mais complicado. As ambiguidades nas declarações do presidente sobre o equilíbrio fiscal alimentam as desconfianças do mercado. É razoável.

Agora pensemos na política monetária. Aqui não há nenhuma ambiguidade. O presidente tem sido muito claro. Em café da manhã com jornalistas, em 23 de abril, Lula afirmou que “quem perde dinheiro com esta taxa de juros alta é o povo brasileiro”. Em 28 de junho, em entrevista ao jornal O Tempo, acrescentou que “a gente vai construir uma nova filosofia quando eu puder indicar o presidente do BC”. Arrematou, em 16 de julho, em entrevista à Record TV, afirmando que “a única coisa que não está controlada no Brasil é a taxa de juros”.

Sede do Banco Central em Brasília; mercado não acredita que autoridade financeira possa mudar política de juros a partir de 2025, apesar das declarações do presidente Lula Foto: Wilton Junior/Estadão

Qual parte o mercado não entendeu? Ainda assim, as taxas de juros prefixadas para um e dois anos estão acima de 11%, pressupondo que a Selic vai subir, não cair, no início da nova gestão do Banco Central. No estreito arcabouço conceitual em torno do qual gravitam as cotações, a perspectiva de um problema se traduz automaticamente em expectativa de juros mais altos, ignorando a possibilidade de que os próprios juros, artificialmente baixos, possam ser o problema.

O mercado não acredita no compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. As mensagens são dúbias, o que gera desconfiança. Mas também não acredita que a política de juros possa mudar a partir de 2025, apesar da clareza nas declarações. É tempo de colocar uma ficha na aposta de que o BC poderá usar outros instrumentos para controlar a inflação, como a elevação dos depósitos compulsórios dos bancos, entre vários outros exemplos, abrindo espaço para a queda da Selic. A chance de êxito é pequena, mas quem disse que tem que dar certo?

Pequeno exercício de imaginação: é difícil, mas imaginemos que o presidente Lula tenha sido convencido (por meio de hipnose ou alguma terapia alternativa do SUS) que é absolutamente fundamental conter os gastos públicos. Seria fácil? Certamente não.

Mesmo uma convicção férrea na austeridade fiscal encontraria enormes resistências para se materializar. Cortar gastos tributários, por exemplo, encontraria forte repúdio dos setores beneficiados. Desvincular benefícios da previdência do salário mínimo significa perder votos. O mesmo se o ganho real do salário mínimo fosse cancelado. Suspender aumentos salariais do funcionalismo exporia o governo a greves intermináveis. Cortar emendas parlamentares? Nem pensar. Ou seja, mesmo querendo, seria improvável.

Agora imaginemos, sem nenhuma dificuldade, que o governo não tem nenhuma convicção sobre o equilíbrio das finanças públicas. Aí fica ainda mais complicado. As ambiguidades nas declarações do presidente sobre o equilíbrio fiscal alimentam as desconfianças do mercado. É razoável.

Agora pensemos na política monetária. Aqui não há nenhuma ambiguidade. O presidente tem sido muito claro. Em café da manhã com jornalistas, em 23 de abril, Lula afirmou que “quem perde dinheiro com esta taxa de juros alta é o povo brasileiro”. Em 28 de junho, em entrevista ao jornal O Tempo, acrescentou que “a gente vai construir uma nova filosofia quando eu puder indicar o presidente do BC”. Arrematou, em 16 de julho, em entrevista à Record TV, afirmando que “a única coisa que não está controlada no Brasil é a taxa de juros”.

Sede do Banco Central em Brasília; mercado não acredita que autoridade financeira possa mudar política de juros a partir de 2025, apesar das declarações do presidente Lula Foto: Wilton Junior/Estadão

Qual parte o mercado não entendeu? Ainda assim, as taxas de juros prefixadas para um e dois anos estão acima de 11%, pressupondo que a Selic vai subir, não cair, no início da nova gestão do Banco Central. No estreito arcabouço conceitual em torno do qual gravitam as cotações, a perspectiva de um problema se traduz automaticamente em expectativa de juros mais altos, ignorando a possibilidade de que os próprios juros, artificialmente baixos, possam ser o problema.

O mercado não acredita no compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. As mensagens são dúbias, o que gera desconfiança. Mas também não acredita que a política de juros possa mudar a partir de 2025, apesar da clareza nas declarações. É tempo de colocar uma ficha na aposta de que o BC poderá usar outros instrumentos para controlar a inflação, como a elevação dos depósitos compulsórios dos bancos, entre vários outros exemplos, abrindo espaço para a queda da Selic. A chance de êxito é pequena, mas quem disse que tem que dar certo?

Pequeno exercício de imaginação: é difícil, mas imaginemos que o presidente Lula tenha sido convencido (por meio de hipnose ou alguma terapia alternativa do SUS) que é absolutamente fundamental conter os gastos públicos. Seria fácil? Certamente não.

Mesmo uma convicção férrea na austeridade fiscal encontraria enormes resistências para se materializar. Cortar gastos tributários, por exemplo, encontraria forte repúdio dos setores beneficiados. Desvincular benefícios da previdência do salário mínimo significa perder votos. O mesmo se o ganho real do salário mínimo fosse cancelado. Suspender aumentos salariais do funcionalismo exporia o governo a greves intermináveis. Cortar emendas parlamentares? Nem pensar. Ou seja, mesmo querendo, seria improvável.

Agora imaginemos, sem nenhuma dificuldade, que o governo não tem nenhuma convicção sobre o equilíbrio das finanças públicas. Aí fica ainda mais complicado. As ambiguidades nas declarações do presidente sobre o equilíbrio fiscal alimentam as desconfianças do mercado. É razoável.

Agora pensemos na política monetária. Aqui não há nenhuma ambiguidade. O presidente tem sido muito claro. Em café da manhã com jornalistas, em 23 de abril, Lula afirmou que “quem perde dinheiro com esta taxa de juros alta é o povo brasileiro”. Em 28 de junho, em entrevista ao jornal O Tempo, acrescentou que “a gente vai construir uma nova filosofia quando eu puder indicar o presidente do BC”. Arrematou, em 16 de julho, em entrevista à Record TV, afirmando que “a única coisa que não está controlada no Brasil é a taxa de juros”.

Sede do Banco Central em Brasília; mercado não acredita que autoridade financeira possa mudar política de juros a partir de 2025, apesar das declarações do presidente Lula Foto: Wilton Junior/Estadão

Qual parte o mercado não entendeu? Ainda assim, as taxas de juros prefixadas para um e dois anos estão acima de 11%, pressupondo que a Selic vai subir, não cair, no início da nova gestão do Banco Central. No estreito arcabouço conceitual em torno do qual gravitam as cotações, a perspectiva de um problema se traduz automaticamente em expectativa de juros mais altos, ignorando a possibilidade de que os próprios juros, artificialmente baixos, possam ser o problema.

O mercado não acredita no compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. As mensagens são dúbias, o que gera desconfiança. Mas também não acredita que a política de juros possa mudar a partir de 2025, apesar da clareza nas declarações. É tempo de colocar uma ficha na aposta de que o BC poderá usar outros instrumentos para controlar a inflação, como a elevação dos depósitos compulsórios dos bancos, entre vários outros exemplos, abrindo espaço para a queda da Selic. A chance de êxito é pequena, mas quem disse que tem que dar certo?

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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