Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|O figurante rouba a cena: queda nas reservas internacionais não é principal tema


Não vale a pena desperdiçar pessimismo com as contas externas, vamos precisar dele para analisar a crise fiscal

Por Luís Eduardo Assis

Em tempos idos, eram as agruras do setor externo, não as contas públicas, que faziam as manchetes no Brasil. Ao longo de décadas, desde o choque de juros na década de 1970 até o fim de 2008, quando as reservas internacionais pela primeira vez superaram a dívida externa, o humor da economia brasileira gravitou em torno das relações com o resto do mundo. Isso ficou para trás. No fim do ano passado, no entanto, o figurante tentou virar protagonista.

Por conta do rebuliço no mercado financeiro, no rastro do fiasco do anúncio do ajuste fiscal, as reservas internacionais despencaram US$ 33,3 bilhões em dezembro último. Não foi pouca coisa: trata-se do maior tombo de toda a série histórica. A fuga de capital foi a contraface da valorização do dólar, 13,7% no último trimestre do ano, a mais alta desde o começo de 2020, quando irrompeu a pandemia.

As reservas internacionais devem ter fechado o ano abaixo da dívida externa, que estava em US$ 362 bilhões em novembro. Isso não acontecia há 17 anos. A balança comercial também não fez bonito. O saldo caiu quase 25% no ano passado.

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Mesmo assim, tudo somado, não vale a pena desperdiçar pessimismo com as contas externas – vamos precisar dele para analisar a crise fiscal. As exportações caíram no ano passado, mas estão muito próximas do recorde histórico de 2023. Da mesma forma, o saldo da balança comercial, mesmo tendo recuado, foi o segundo maior da série histórica e pode ser maior agora em 2025, já que o dólar mais caro estimula as exportações e a desaceleração da economia abranda as importações.

O protagonista do nosso drama, passado o susto, volta a ser o desequilíbrio das contas públicas Foto: André Dusek/Estadão

A queda nas reservas internacionais, por sua vez, teve até um impacto positivo (temporário, claro) na dívida pública, já que a contrapartida dessa contração na liquidez foi a diminuição de operações compromissadas com lastro em títulos públicos. O economista Fernando Montero, da corretora Tullett Prebon, estima que, por conta das menores reservas, a relação dívida/PIB tenha caído de 77,7% em novembro para 76,1% em dezembro.

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Seria uma parvoíce desmesurada tentar conter o aumento da dívida pública mediante redução de reservas internacionais, mas há esse efeito. Tudo somado, o cenário do setor externo em 2025 caminha para uma certa normalidade. O problema no fim de 2024 foi provocado pela ação do homem, antes de ser uma fatalidade. Foi o fracasso nas medidas de ajuste fiscal que geraram um retorno fugaz do setor externo ao centro do palco. O protagonista do nosso drama, passado o susto, volta a ser o desequilíbrio das contas públicas. Enquanto o governo desprezar a necessidade de austeridade nos gastos, esse será o personagem principal na cena econômica.

Em tempos idos, eram as agruras do setor externo, não as contas públicas, que faziam as manchetes no Brasil. Ao longo de décadas, desde o choque de juros na década de 1970 até o fim de 2008, quando as reservas internacionais pela primeira vez superaram a dívida externa, o humor da economia brasileira gravitou em torno das relações com o resto do mundo. Isso ficou para trás. No fim do ano passado, no entanto, o figurante tentou virar protagonista.

Por conta do rebuliço no mercado financeiro, no rastro do fiasco do anúncio do ajuste fiscal, as reservas internacionais despencaram US$ 33,3 bilhões em dezembro último. Não foi pouca coisa: trata-se do maior tombo de toda a série histórica. A fuga de capital foi a contraface da valorização do dólar, 13,7% no último trimestre do ano, a mais alta desde o começo de 2020, quando irrompeu a pandemia.

As reservas internacionais devem ter fechado o ano abaixo da dívida externa, que estava em US$ 362 bilhões em novembro. Isso não acontecia há 17 anos. A balança comercial também não fez bonito. O saldo caiu quase 25% no ano passado.

Mesmo assim, tudo somado, não vale a pena desperdiçar pessimismo com as contas externas – vamos precisar dele para analisar a crise fiscal. As exportações caíram no ano passado, mas estão muito próximas do recorde histórico de 2023. Da mesma forma, o saldo da balança comercial, mesmo tendo recuado, foi o segundo maior da série histórica e pode ser maior agora em 2025, já que o dólar mais caro estimula as exportações e a desaceleração da economia abranda as importações.

O protagonista do nosso drama, passado o susto, volta a ser o desequilíbrio das contas públicas Foto: André Dusek/Estadão

A queda nas reservas internacionais, por sua vez, teve até um impacto positivo (temporário, claro) na dívida pública, já que a contrapartida dessa contração na liquidez foi a diminuição de operações compromissadas com lastro em títulos públicos. O economista Fernando Montero, da corretora Tullett Prebon, estima que, por conta das menores reservas, a relação dívida/PIB tenha caído de 77,7% em novembro para 76,1% em dezembro.

Seria uma parvoíce desmesurada tentar conter o aumento da dívida pública mediante redução de reservas internacionais, mas há esse efeito. Tudo somado, o cenário do setor externo em 2025 caminha para uma certa normalidade. O problema no fim de 2024 foi provocado pela ação do homem, antes de ser uma fatalidade. Foi o fracasso nas medidas de ajuste fiscal que geraram um retorno fugaz do setor externo ao centro do palco. O protagonista do nosso drama, passado o susto, volta a ser o desequilíbrio das contas públicas. Enquanto o governo desprezar a necessidade de austeridade nos gastos, esse será o personagem principal na cena econômica.

Em tempos idos, eram as agruras do setor externo, não as contas públicas, que faziam as manchetes no Brasil. Ao longo de décadas, desde o choque de juros na década de 1970 até o fim de 2008, quando as reservas internacionais pela primeira vez superaram a dívida externa, o humor da economia brasileira gravitou em torno das relações com o resto do mundo. Isso ficou para trás. No fim do ano passado, no entanto, o figurante tentou virar protagonista.

Por conta do rebuliço no mercado financeiro, no rastro do fiasco do anúncio do ajuste fiscal, as reservas internacionais despencaram US$ 33,3 bilhões em dezembro último. Não foi pouca coisa: trata-se do maior tombo de toda a série histórica. A fuga de capital foi a contraface da valorização do dólar, 13,7% no último trimestre do ano, a mais alta desde o começo de 2020, quando irrompeu a pandemia.

As reservas internacionais devem ter fechado o ano abaixo da dívida externa, que estava em US$ 362 bilhões em novembro. Isso não acontecia há 17 anos. A balança comercial também não fez bonito. O saldo caiu quase 25% no ano passado.

Mesmo assim, tudo somado, não vale a pena desperdiçar pessimismo com as contas externas – vamos precisar dele para analisar a crise fiscal. As exportações caíram no ano passado, mas estão muito próximas do recorde histórico de 2023. Da mesma forma, o saldo da balança comercial, mesmo tendo recuado, foi o segundo maior da série histórica e pode ser maior agora em 2025, já que o dólar mais caro estimula as exportações e a desaceleração da economia abranda as importações.

O protagonista do nosso drama, passado o susto, volta a ser o desequilíbrio das contas públicas Foto: André Dusek/Estadão

A queda nas reservas internacionais, por sua vez, teve até um impacto positivo (temporário, claro) na dívida pública, já que a contrapartida dessa contração na liquidez foi a diminuição de operações compromissadas com lastro em títulos públicos. O economista Fernando Montero, da corretora Tullett Prebon, estima que, por conta das menores reservas, a relação dívida/PIB tenha caído de 77,7% em novembro para 76,1% em dezembro.

Seria uma parvoíce desmesurada tentar conter o aumento da dívida pública mediante redução de reservas internacionais, mas há esse efeito. Tudo somado, o cenário do setor externo em 2025 caminha para uma certa normalidade. O problema no fim de 2024 foi provocado pela ação do homem, antes de ser uma fatalidade. Foi o fracasso nas medidas de ajuste fiscal que geraram um retorno fugaz do setor externo ao centro do palco. O protagonista do nosso drama, passado o susto, volta a ser o desequilíbrio das contas públicas. Enquanto o governo desprezar a necessidade de austeridade nos gastos, esse será o personagem principal na cena econômica.

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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