Os pessimistas estão consternados, mas as notícias são boas. A inflação anual medida pelo IPCA-15 registrou 3,2% em julho, o menor índice desde setembro de 2020. As estimativas para o crescimento do PIB em 2023 são cada vez maiores. Para piorar a vida de quem previa o Armagedom, uma agência de rating elevou a classificação de risco do Brasil. É tempo de comemorar? Muita calma nessa hora.
Há ainda muito pela frente. Os pessimistas não têm razão para desanimar. Tomemos, por exemplo, o índice de nível de atividade calculado pelo Banco Central que serve como uma estimativa do PIB (a correlação entre ambos é de 98,9% para as variações trimestrais anualizadas). O IBC-Br de maio ficou 2% abaixo do registrado em abril. O pior é constatar que ele ainda está 0,8% menor que em maio de 2013. Dez anos e andamos para trás.
A indústria de transformação está bem pior. Em maio de 2023 a produção ficou 15,8% abaixo da verificada em maio de 2013. O rendimento médio real habitualmente recebido pelo brasileiro também foi menor; veio de R$ 2.904,00 em maio de 2013 para R$ 2.901,00 em maio último. A produção de veículos leves teve um desempenho calamitoso: de 199.943 unidades em junho de 2013 para 180.204 veículos em junho de 2023, recuo de 10%.
A trajetória do PIB per capita nesse prazo mais longo também é desoladora. Para 2013, o Banco Mundial estimou em US$ 15,53 mil a renda média brasileira levando em conta a paridade do poder de compra, contra US$ 14,59 mil para a média mundial, US$ 12,83 mil para Botsuana e US$ 20,13 mil para a Argentina.
No ano passado, nosso PIB per capita foi US$ 17,8 mil. Ficamos abaixo da média mundial (-13,7%), ainda mais abaixo do indicador da Argentina (-33%) e, vejam só, também abaixo do PIB per capita de Botsuana (-2,7%). Seguindo o ritmo de crescimento que tivemos entre 2010 e 2022, apenas no final da década chegaremos ao patamar que o país africano alcançou no ano passado. É mole?
Quando torturados, os números confessam o que queremos. Mas o fato é que o Brasil está parado há tempos — quando não recua. Deflagrar um novo ciclo de crescimento exigirá o comprometimento do governo com reformas cruciais.
Mais do que bafejar sinecuras aqui e ali para setores favorecidos, sair do atoleiro requer um grande projeto nacional que recupere as finanças públicas, reconstrua o sistema educacional, garanta o império da lei, estimule o investimento privado sem arbitrariedades e promova a eficiência da máquina estatal através de uma reforma administrativa. Não está claro que o governo de fato queira isso — para alento dos pessimistas.