Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Saldo comercial recorde: mercado internacional favoreceu, mas tivemos o mérito de extrair vantagem


Mar espelhado nas contas externas poderá inspirar a nova gestão do Banco Central a usar a taxa de câmbio de maneira mais agressiva para controlar a inflação

Por Luís Eduardo Assis

A fila dos pesadelos que assolam o presidente recém-eleito da Argentina é muito longa. Mas a crise do setor externo certamente tem um grande papel de destaque. É preciso desvalorizar o peso para gerar saldo comercial e pagar a dívida externa, sob risco de isolamento internacional. Mas a desvalorização faz a inflação explodir (211,4% em 2023), reduzindo o poder aquisitivo da população, o que traz duas consequências nefastas: a economia mergulha na recessão e, além disso, fica comprometida a sustentação política do governo, o que pode deixar o país no meio do pântano. Já vimos esse filme e morremos, várias vezes, no final.

Enquanto isso, o Brasil comemora o saldo recorde da balança comercial. Foram quase US$ 100 bilhões no ano passado, com crescimento de 58% em relação ao ano anterior. Mesmo os economistas rabugentos admitem que esse resultado é animador. Impulsionadas pelo saldo comercial, as reservas brasileiras fecharam o ano passado na marca dos US$ 355 bilhões. Elas já foram maiores (US$ 388 bilhões em junho de 2019), mas são mais que suficientes para tirar o setor externo do rol de problemas da economia brasileira. Podemos hoje ticar essa caixinha.

O saldo comercial gigantesco de 2023 não teve origem no aumento espetacular das exportações, como se poderia pensar. Elas subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados. Já as importações recuaram 11,7% (ou US$ 32 bilhões), também afetadas por uma queda expressiva de preços. A bonança nas contas externas gerou uma volatilidade cambial muito baixa (11,9%, a menor desde 2019), o que permitiu que o Bacen não interviesse no câmbio pela primeira vez neste século. O valor adicionado das exportações deve representar algo como 18,5% do PIB em 2023, contra 11,7% há dez anos. Em suma: o mercado internacional nos favoreceu, mas tivemos o mérito de extrair vantagens desse quadro favorável.

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Exportações subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os livros de autoajuda corporativa repetem sempre a patacoada de que para cada risco há uma oportunidade. Aqui, ao contrário, a oportunidade vem acompanhada de um risco. O mar espelhado nas contas externas poderá inspirar a nova gestão do Banco Central, com um novo presidente a partir de 2025, a usar a taxa de câmbio de maneira mais agressiva para controlar a inflação, ganhando espaço para novos cortes na taxa Selic. Já vimos isso acontecer. Entre o lançamento do Plano Real, em junho de 1994, e o fim do regime de câmbio semifixo, em janeiro de 1999, a moeda brasileira se valorizou 33,3% em termos reais. Usar a taxa de câmbio para controlar a inflação seria um grande erro.

A fila dos pesadelos que assolam o presidente recém-eleito da Argentina é muito longa. Mas a crise do setor externo certamente tem um grande papel de destaque. É preciso desvalorizar o peso para gerar saldo comercial e pagar a dívida externa, sob risco de isolamento internacional. Mas a desvalorização faz a inflação explodir (211,4% em 2023), reduzindo o poder aquisitivo da população, o que traz duas consequências nefastas: a economia mergulha na recessão e, além disso, fica comprometida a sustentação política do governo, o que pode deixar o país no meio do pântano. Já vimos esse filme e morremos, várias vezes, no final.

Enquanto isso, o Brasil comemora o saldo recorde da balança comercial. Foram quase US$ 100 bilhões no ano passado, com crescimento de 58% em relação ao ano anterior. Mesmo os economistas rabugentos admitem que esse resultado é animador. Impulsionadas pelo saldo comercial, as reservas brasileiras fecharam o ano passado na marca dos US$ 355 bilhões. Elas já foram maiores (US$ 388 bilhões em junho de 2019), mas são mais que suficientes para tirar o setor externo do rol de problemas da economia brasileira. Podemos hoje ticar essa caixinha.

O saldo comercial gigantesco de 2023 não teve origem no aumento espetacular das exportações, como se poderia pensar. Elas subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados. Já as importações recuaram 11,7% (ou US$ 32 bilhões), também afetadas por uma queda expressiva de preços. A bonança nas contas externas gerou uma volatilidade cambial muito baixa (11,9%, a menor desde 2019), o que permitiu que o Bacen não interviesse no câmbio pela primeira vez neste século. O valor adicionado das exportações deve representar algo como 18,5% do PIB em 2023, contra 11,7% há dez anos. Em suma: o mercado internacional nos favoreceu, mas tivemos o mérito de extrair vantagens desse quadro favorável.

Exportações subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os livros de autoajuda corporativa repetem sempre a patacoada de que para cada risco há uma oportunidade. Aqui, ao contrário, a oportunidade vem acompanhada de um risco. O mar espelhado nas contas externas poderá inspirar a nova gestão do Banco Central, com um novo presidente a partir de 2025, a usar a taxa de câmbio de maneira mais agressiva para controlar a inflação, ganhando espaço para novos cortes na taxa Selic. Já vimos isso acontecer. Entre o lançamento do Plano Real, em junho de 1994, e o fim do regime de câmbio semifixo, em janeiro de 1999, a moeda brasileira se valorizou 33,3% em termos reais. Usar a taxa de câmbio para controlar a inflação seria um grande erro.

A fila dos pesadelos que assolam o presidente recém-eleito da Argentina é muito longa. Mas a crise do setor externo certamente tem um grande papel de destaque. É preciso desvalorizar o peso para gerar saldo comercial e pagar a dívida externa, sob risco de isolamento internacional. Mas a desvalorização faz a inflação explodir (211,4% em 2023), reduzindo o poder aquisitivo da população, o que traz duas consequências nefastas: a economia mergulha na recessão e, além disso, fica comprometida a sustentação política do governo, o que pode deixar o país no meio do pântano. Já vimos esse filme e morremos, várias vezes, no final.

Enquanto isso, o Brasil comemora o saldo recorde da balança comercial. Foram quase US$ 100 bilhões no ano passado, com crescimento de 58% em relação ao ano anterior. Mesmo os economistas rabugentos admitem que esse resultado é animador. Impulsionadas pelo saldo comercial, as reservas brasileiras fecharam o ano passado na marca dos US$ 355 bilhões. Elas já foram maiores (US$ 388 bilhões em junho de 2019), mas são mais que suficientes para tirar o setor externo do rol de problemas da economia brasileira. Podemos hoje ticar essa caixinha.

O saldo comercial gigantesco de 2023 não teve origem no aumento espetacular das exportações, como se poderia pensar. Elas subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados. Já as importações recuaram 11,7% (ou US$ 32 bilhões), também afetadas por uma queda expressiva de preços. A bonança nas contas externas gerou uma volatilidade cambial muito baixa (11,9%, a menor desde 2019), o que permitiu que o Bacen não interviesse no câmbio pela primeira vez neste século. O valor adicionado das exportações deve representar algo como 18,5% do PIB em 2023, contra 11,7% há dez anos. Em suma: o mercado internacional nos favoreceu, mas tivemos o mérito de extrair vantagens desse quadro favorável.

Exportações subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os livros de autoajuda corporativa repetem sempre a patacoada de que para cada risco há uma oportunidade. Aqui, ao contrário, a oportunidade vem acompanhada de um risco. O mar espelhado nas contas externas poderá inspirar a nova gestão do Banco Central, com um novo presidente a partir de 2025, a usar a taxa de câmbio de maneira mais agressiva para controlar a inflação, ganhando espaço para novos cortes na taxa Selic. Já vimos isso acontecer. Entre o lançamento do Plano Real, em junho de 1994, e o fim do regime de câmbio semifixo, em janeiro de 1999, a moeda brasileira se valorizou 33,3% em termos reais. Usar a taxa de câmbio para controlar a inflação seria um grande erro.

A fila dos pesadelos que assolam o presidente recém-eleito da Argentina é muito longa. Mas a crise do setor externo certamente tem um grande papel de destaque. É preciso desvalorizar o peso para gerar saldo comercial e pagar a dívida externa, sob risco de isolamento internacional. Mas a desvalorização faz a inflação explodir (211,4% em 2023), reduzindo o poder aquisitivo da população, o que traz duas consequências nefastas: a economia mergulha na recessão e, além disso, fica comprometida a sustentação política do governo, o que pode deixar o país no meio do pântano. Já vimos esse filme e morremos, várias vezes, no final.

Enquanto isso, o Brasil comemora o saldo recorde da balança comercial. Foram quase US$ 100 bilhões no ano passado, com crescimento de 58% em relação ao ano anterior. Mesmo os economistas rabugentos admitem que esse resultado é animador. Impulsionadas pelo saldo comercial, as reservas brasileiras fecharam o ano passado na marca dos US$ 355 bilhões. Elas já foram maiores (US$ 388 bilhões em junho de 2019), mas são mais que suficientes para tirar o setor externo do rol de problemas da economia brasileira. Podemos hoje ticar essa caixinha.

O saldo comercial gigantesco de 2023 não teve origem no aumento espetacular das exportações, como se poderia pensar. Elas subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados. Já as importações recuaram 11,7% (ou US$ 32 bilhões), também afetadas por uma queda expressiva de preços. A bonança nas contas externas gerou uma volatilidade cambial muito baixa (11,9%, a menor desde 2019), o que permitiu que o Bacen não interviesse no câmbio pela primeira vez neste século. O valor adicionado das exportações deve representar algo como 18,5% do PIB em 2023, contra 11,7% há dez anos. Em suma: o mercado internacional nos favoreceu, mas tivemos o mérito de extrair vantagens desse quadro favorável.

Exportações subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os livros de autoajuda corporativa repetem sempre a patacoada de que para cada risco há uma oportunidade. Aqui, ao contrário, a oportunidade vem acompanhada de um risco. O mar espelhado nas contas externas poderá inspirar a nova gestão do Banco Central, com um novo presidente a partir de 2025, a usar a taxa de câmbio de maneira mais agressiva para controlar a inflação, ganhando espaço para novos cortes na taxa Selic. Já vimos isso acontecer. Entre o lançamento do Plano Real, em junho de 1994, e o fim do regime de câmbio semifixo, em janeiro de 1999, a moeda brasileira se valorizou 33,3% em termos reais. Usar a taxa de câmbio para controlar a inflação seria um grande erro.

A fila dos pesadelos que assolam o presidente recém-eleito da Argentina é muito longa. Mas a crise do setor externo certamente tem um grande papel de destaque. É preciso desvalorizar o peso para gerar saldo comercial e pagar a dívida externa, sob risco de isolamento internacional. Mas a desvalorização faz a inflação explodir (211,4% em 2023), reduzindo o poder aquisitivo da população, o que traz duas consequências nefastas: a economia mergulha na recessão e, além disso, fica comprometida a sustentação política do governo, o que pode deixar o país no meio do pântano. Já vimos esse filme e morremos, várias vezes, no final.

Enquanto isso, o Brasil comemora o saldo recorde da balança comercial. Foram quase US$ 100 bilhões no ano passado, com crescimento de 58% em relação ao ano anterior. Mesmo os economistas rabugentos admitem que esse resultado é animador. Impulsionadas pelo saldo comercial, as reservas brasileiras fecharam o ano passado na marca dos US$ 355 bilhões. Elas já foram maiores (US$ 388 bilhões em junho de 2019), mas são mais que suficientes para tirar o setor externo do rol de problemas da economia brasileira. Podemos hoje ticar essa caixinha.

O saldo comercial gigantesco de 2023 não teve origem no aumento espetacular das exportações, como se poderia pensar. Elas subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados. Já as importações recuaram 11,7% (ou US$ 32 bilhões), também afetadas por uma queda expressiva de preços. A bonança nas contas externas gerou uma volatilidade cambial muito baixa (11,9%, a menor desde 2019), o que permitiu que o Bacen não interviesse no câmbio pela primeira vez neste século. O valor adicionado das exportações deve representar algo como 18,5% do PIB em 2023, contra 11,7% há dez anos. Em suma: o mercado internacional nos favoreceu, mas tivemos o mérito de extrair vantagens desse quadro favorável.

Exportações subiram apenas 1,3%, pressionadas pela queda dos preços dos produtos exportados Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os livros de autoajuda corporativa repetem sempre a patacoada de que para cada risco há uma oportunidade. Aqui, ao contrário, a oportunidade vem acompanhada de um risco. O mar espelhado nas contas externas poderá inspirar a nova gestão do Banco Central, com um novo presidente a partir de 2025, a usar a taxa de câmbio de maneira mais agressiva para controlar a inflação, ganhando espaço para novos cortes na taxa Selic. Já vimos isso acontecer. Entre o lançamento do Plano Real, em junho de 1994, e o fim do regime de câmbio semifixo, em janeiro de 1999, a moeda brasileira se valorizou 33,3% em termos reais. Usar a taxa de câmbio para controlar a inflação seria um grande erro.

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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