Empreendedor incansável: fundador da Kaiser e Kero Coco se lança em nova empreitada, aos 81 anos


Mineiro Luiz Otávio Possas, filho de banqueiro, criou o caldo de cana engarrafado, hoje vendido em rede de supermercado em Minas Gerais

Por Lílian Cunha
Atualização:

Filho de um banqueiro de Minas Gerais, Luiz Otávio Possas Gonçalves, tinha tudo para ser só mais um herdeiro, um playboy que curte as altas rodas da sociedade. Não gostava de estudar e não queria saber de trabalhar na instituição financeira da família.

Mas mesmo hoje, depois de pelo menos dois grandes negócios que o tornaram (ainda mais) milionário – e de uma seca que lhe deu muito prejuízo – , ele não se dá bem com essa coisa de só curtir a vida, de viver de renda.

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“Tem gente que dedica a vida aos pobres, ou à arte, ou ao trabalho. Eu dediquei a minha a engarrafar coisas e agora eu continuo fazendo isso”, diz Possas. Mas há um detalhe que ele não gosta de ressaltar: Possas tem 81 anos. Em uma idade em que a maioria das pessoas só quer saber de descansar e curtir os netos, ele prefere sair engarrafando – desta vez – caldo de cana.

Há três meses Possas lançou numa cadeia de supermercados de Belo Horizonte garrafinhas de 300 ml do Caldo de Cana Vale Verde. “Eu não tinha uma meta. Eu não faço metas, nunca fiz. Mas estamos vendendo de 2 mil a 2,5 mil garrafas por mês. Se der certo, vamos expandindo. Se não der, paciência.”

Em vez de curtir a aposentadoria à beira-mar, Luiz Otávio Possas ainda está empreendendo Foto: Washington Alves/Estadão
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Esse estilo de administrar que ele chama de “foi fondo, foi fondo até que chegou” – como se diz em Minas -, é o que ele aprendeu desde pequeno, quando achou o que queria fazer na vida, aos 17 anos. Em Divinópolis (MG), conta o empresário, havia uma fábrica de guaraná chamada Guarapan. De tão mal administrada e afogada em dívidas, o Banco Mercantil (do pai de Possas) assumiu a pequena engarrafadora.

Foi nessa fábrica que Possas começou a trabalhar, carregando caixas, aos 17 anos. E foi ali que ele começou a gostar do negócio de bebidas e garrafas. Tanto que anos depois, ao assumir a direção da empresa, a tornou – nos anos 50 – a primeira franquia da Coca-Cola em Minas Gerais.

Os negócios iam bem até as concorrentes, Brahma e Antarctica (que mais tarde formaram a Ambev), começaram a fazer venda casada: só forneciam suas cervejas se o bar, supermercado ou restaurante comprassem também seus refrigerantes.

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“Eu digo que criei a Kaiser por necessidade porque eu já estava perto da falência nessa época. A Coca não tinha cerveja e estava perdendo mercado. A participação que a gente tinha, que era de 30%, 40%, caiu para 12% e não parava de encolher”, relembra. Possas, então, contratou um mestre cervejeiro que havia trabalhado para a Heineken em Angola para criar a Kaiser. Com a cerveja no portfólio, ele poderia fazer frente à venda casada da concorrência. E deu certo.

Tanto que, 20 anos depois ele vendeu, em 2002, 100% da Kaiser para a canadense Molson Coors – uma das maiores cervejarias do mundo – por US$ 765 milhões. De lambuja, Possas ainda assumiu um posto de conselheiro da Molson, no Canadá.

O problema é que os canadenses faziam planos e estipularam metas para um ano, cinco anos, 10 anos, 20 anos. “No Brasil, isso não dá certo, a não ser que você faça revisão das metas a cada dois meses”, diz. Em 2006, a mexicana Femsa, a maior engarrafadora de Coca-Cola do mundo, comprou a Kaiser. E mais tarde, em 2010, a Heineken comprou a divisão de cervejas da Femsa.

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Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas.

Luiz Otávio Possas

A essa altura da vida, Possas já poderia se aposentar e viver à beira-mar, em uma mansão em Cabo Frio. Mas aí a vontade de engarrafar falou mais alto. Foi quando ele lançou, em parceria com a Universidade de Viçosa, a Kero Coco, a primeira água de coco industrializada do mundo. A universidade desenvolveu o método de pasteurização da bebida, que permitiu que ela fosse envasada em embalagens longa vida.

O sucesso foi tanto que em 2009 a marca foi vendida à Pepsico. “E eu entrei pelo cano”, diz Possas. Mesmo tendo feito um bom negócio financeiramente, Possas se arrepende do acordo que fez com a americana. Na venda, ficou acertado que as fazendas de coqueirais que o empresário mineiro tinha no Pará, em Petrolina (PE) e em São Mateus (ES) teriam prioridade de fornecimento no Brasil para a Pepsico.

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O que Possas não pôde prever era que a dona da Pepsi iria buscar água de coco na Tailândia, onde o produto era descartado. Além disso, a seca de 2014 e 2015 devastou os 265 mil coqueiros que Possas tinha. Por um tempo, então, o empresário – que também é dono da cachaça Vale Verde – se dedicou aos pássaros. Ele criou uma fábrica de ração para pássaros que também, mais tarde, foi vendida para a Royal Canin.

Aí veio a pandemia. E em vez de ficar quieto, Possas foi novamente procurar a Universidade de Viçosa para estudar como envasar caldo de cana. A ideia era aproveitar a cana-de-açúcar que ele já produzia para a cachaça Vale Verde e criar uma segunda linha de produtos. O problema, dessa vez, é que por conta do teor de sacarose da garapa, a embalagem em longa vida não era apropriada. O processo de pasteurização não deu certo.

Nesse ponto, entra na história o enólogo Daniel Fornari, que já trabalhava com Possas. Foi ele que desenvolveu o método que permitiu o engarrafamento do caldo de cana e assim o produto foi lançado. Agora Possas passa os dias administrando o novo negócio. “Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas. E eu estou engarrafando. Vamos ver no que dá.”

Filho de um banqueiro de Minas Gerais, Luiz Otávio Possas Gonçalves, tinha tudo para ser só mais um herdeiro, um playboy que curte as altas rodas da sociedade. Não gostava de estudar e não queria saber de trabalhar na instituição financeira da família.

Mas mesmo hoje, depois de pelo menos dois grandes negócios que o tornaram (ainda mais) milionário – e de uma seca que lhe deu muito prejuízo – , ele não se dá bem com essa coisa de só curtir a vida, de viver de renda.

“Tem gente que dedica a vida aos pobres, ou à arte, ou ao trabalho. Eu dediquei a minha a engarrafar coisas e agora eu continuo fazendo isso”, diz Possas. Mas há um detalhe que ele não gosta de ressaltar: Possas tem 81 anos. Em uma idade em que a maioria das pessoas só quer saber de descansar e curtir os netos, ele prefere sair engarrafando – desta vez – caldo de cana.

Há três meses Possas lançou numa cadeia de supermercados de Belo Horizonte garrafinhas de 300 ml do Caldo de Cana Vale Verde. “Eu não tinha uma meta. Eu não faço metas, nunca fiz. Mas estamos vendendo de 2 mil a 2,5 mil garrafas por mês. Se der certo, vamos expandindo. Se não der, paciência.”

Em vez de curtir a aposentadoria à beira-mar, Luiz Otávio Possas ainda está empreendendo Foto: Washington Alves/Estadão

Esse estilo de administrar que ele chama de “foi fondo, foi fondo até que chegou” – como se diz em Minas -, é o que ele aprendeu desde pequeno, quando achou o que queria fazer na vida, aos 17 anos. Em Divinópolis (MG), conta o empresário, havia uma fábrica de guaraná chamada Guarapan. De tão mal administrada e afogada em dívidas, o Banco Mercantil (do pai de Possas) assumiu a pequena engarrafadora.

Foi nessa fábrica que Possas começou a trabalhar, carregando caixas, aos 17 anos. E foi ali que ele começou a gostar do negócio de bebidas e garrafas. Tanto que anos depois, ao assumir a direção da empresa, a tornou – nos anos 50 – a primeira franquia da Coca-Cola em Minas Gerais.

Os negócios iam bem até as concorrentes, Brahma e Antarctica (que mais tarde formaram a Ambev), começaram a fazer venda casada: só forneciam suas cervejas se o bar, supermercado ou restaurante comprassem também seus refrigerantes.

“Eu digo que criei a Kaiser por necessidade porque eu já estava perto da falência nessa época. A Coca não tinha cerveja e estava perdendo mercado. A participação que a gente tinha, que era de 30%, 40%, caiu para 12% e não parava de encolher”, relembra. Possas, então, contratou um mestre cervejeiro que havia trabalhado para a Heineken em Angola para criar a Kaiser. Com a cerveja no portfólio, ele poderia fazer frente à venda casada da concorrência. E deu certo.

Tanto que, 20 anos depois ele vendeu, em 2002, 100% da Kaiser para a canadense Molson Coors – uma das maiores cervejarias do mundo – por US$ 765 milhões. De lambuja, Possas ainda assumiu um posto de conselheiro da Molson, no Canadá.

O problema é que os canadenses faziam planos e estipularam metas para um ano, cinco anos, 10 anos, 20 anos. “No Brasil, isso não dá certo, a não ser que você faça revisão das metas a cada dois meses”, diz. Em 2006, a mexicana Femsa, a maior engarrafadora de Coca-Cola do mundo, comprou a Kaiser. E mais tarde, em 2010, a Heineken comprou a divisão de cervejas da Femsa.

Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas.

Luiz Otávio Possas

A essa altura da vida, Possas já poderia se aposentar e viver à beira-mar, em uma mansão em Cabo Frio. Mas aí a vontade de engarrafar falou mais alto. Foi quando ele lançou, em parceria com a Universidade de Viçosa, a Kero Coco, a primeira água de coco industrializada do mundo. A universidade desenvolveu o método de pasteurização da bebida, que permitiu que ela fosse envasada em embalagens longa vida.

O sucesso foi tanto que em 2009 a marca foi vendida à Pepsico. “E eu entrei pelo cano”, diz Possas. Mesmo tendo feito um bom negócio financeiramente, Possas se arrepende do acordo que fez com a americana. Na venda, ficou acertado que as fazendas de coqueirais que o empresário mineiro tinha no Pará, em Petrolina (PE) e em São Mateus (ES) teriam prioridade de fornecimento no Brasil para a Pepsico.

O que Possas não pôde prever era que a dona da Pepsi iria buscar água de coco na Tailândia, onde o produto era descartado. Além disso, a seca de 2014 e 2015 devastou os 265 mil coqueiros que Possas tinha. Por um tempo, então, o empresário – que também é dono da cachaça Vale Verde – se dedicou aos pássaros. Ele criou uma fábrica de ração para pássaros que também, mais tarde, foi vendida para a Royal Canin.

Aí veio a pandemia. E em vez de ficar quieto, Possas foi novamente procurar a Universidade de Viçosa para estudar como envasar caldo de cana. A ideia era aproveitar a cana-de-açúcar que ele já produzia para a cachaça Vale Verde e criar uma segunda linha de produtos. O problema, dessa vez, é que por conta do teor de sacarose da garapa, a embalagem em longa vida não era apropriada. O processo de pasteurização não deu certo.

Nesse ponto, entra na história o enólogo Daniel Fornari, que já trabalhava com Possas. Foi ele que desenvolveu o método que permitiu o engarrafamento do caldo de cana e assim o produto foi lançado. Agora Possas passa os dias administrando o novo negócio. “Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas. E eu estou engarrafando. Vamos ver no que dá.”

Filho de um banqueiro de Minas Gerais, Luiz Otávio Possas Gonçalves, tinha tudo para ser só mais um herdeiro, um playboy que curte as altas rodas da sociedade. Não gostava de estudar e não queria saber de trabalhar na instituição financeira da família.

Mas mesmo hoje, depois de pelo menos dois grandes negócios que o tornaram (ainda mais) milionário – e de uma seca que lhe deu muito prejuízo – , ele não se dá bem com essa coisa de só curtir a vida, de viver de renda.

“Tem gente que dedica a vida aos pobres, ou à arte, ou ao trabalho. Eu dediquei a minha a engarrafar coisas e agora eu continuo fazendo isso”, diz Possas. Mas há um detalhe que ele não gosta de ressaltar: Possas tem 81 anos. Em uma idade em que a maioria das pessoas só quer saber de descansar e curtir os netos, ele prefere sair engarrafando – desta vez – caldo de cana.

Há três meses Possas lançou numa cadeia de supermercados de Belo Horizonte garrafinhas de 300 ml do Caldo de Cana Vale Verde. “Eu não tinha uma meta. Eu não faço metas, nunca fiz. Mas estamos vendendo de 2 mil a 2,5 mil garrafas por mês. Se der certo, vamos expandindo. Se não der, paciência.”

Em vez de curtir a aposentadoria à beira-mar, Luiz Otávio Possas ainda está empreendendo Foto: Washington Alves/Estadão

Esse estilo de administrar que ele chama de “foi fondo, foi fondo até que chegou” – como se diz em Minas -, é o que ele aprendeu desde pequeno, quando achou o que queria fazer na vida, aos 17 anos. Em Divinópolis (MG), conta o empresário, havia uma fábrica de guaraná chamada Guarapan. De tão mal administrada e afogada em dívidas, o Banco Mercantil (do pai de Possas) assumiu a pequena engarrafadora.

Foi nessa fábrica que Possas começou a trabalhar, carregando caixas, aos 17 anos. E foi ali que ele começou a gostar do negócio de bebidas e garrafas. Tanto que anos depois, ao assumir a direção da empresa, a tornou – nos anos 50 – a primeira franquia da Coca-Cola em Minas Gerais.

Os negócios iam bem até as concorrentes, Brahma e Antarctica (que mais tarde formaram a Ambev), começaram a fazer venda casada: só forneciam suas cervejas se o bar, supermercado ou restaurante comprassem também seus refrigerantes.

“Eu digo que criei a Kaiser por necessidade porque eu já estava perto da falência nessa época. A Coca não tinha cerveja e estava perdendo mercado. A participação que a gente tinha, que era de 30%, 40%, caiu para 12% e não parava de encolher”, relembra. Possas, então, contratou um mestre cervejeiro que havia trabalhado para a Heineken em Angola para criar a Kaiser. Com a cerveja no portfólio, ele poderia fazer frente à venda casada da concorrência. E deu certo.

Tanto que, 20 anos depois ele vendeu, em 2002, 100% da Kaiser para a canadense Molson Coors – uma das maiores cervejarias do mundo – por US$ 765 milhões. De lambuja, Possas ainda assumiu um posto de conselheiro da Molson, no Canadá.

O problema é que os canadenses faziam planos e estipularam metas para um ano, cinco anos, 10 anos, 20 anos. “No Brasil, isso não dá certo, a não ser que você faça revisão das metas a cada dois meses”, diz. Em 2006, a mexicana Femsa, a maior engarrafadora de Coca-Cola do mundo, comprou a Kaiser. E mais tarde, em 2010, a Heineken comprou a divisão de cervejas da Femsa.

Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas.

Luiz Otávio Possas

A essa altura da vida, Possas já poderia se aposentar e viver à beira-mar, em uma mansão em Cabo Frio. Mas aí a vontade de engarrafar falou mais alto. Foi quando ele lançou, em parceria com a Universidade de Viçosa, a Kero Coco, a primeira água de coco industrializada do mundo. A universidade desenvolveu o método de pasteurização da bebida, que permitiu que ela fosse envasada em embalagens longa vida.

O sucesso foi tanto que em 2009 a marca foi vendida à Pepsico. “E eu entrei pelo cano”, diz Possas. Mesmo tendo feito um bom negócio financeiramente, Possas se arrepende do acordo que fez com a americana. Na venda, ficou acertado que as fazendas de coqueirais que o empresário mineiro tinha no Pará, em Petrolina (PE) e em São Mateus (ES) teriam prioridade de fornecimento no Brasil para a Pepsico.

O que Possas não pôde prever era que a dona da Pepsi iria buscar água de coco na Tailândia, onde o produto era descartado. Além disso, a seca de 2014 e 2015 devastou os 265 mil coqueiros que Possas tinha. Por um tempo, então, o empresário – que também é dono da cachaça Vale Verde – se dedicou aos pássaros. Ele criou uma fábrica de ração para pássaros que também, mais tarde, foi vendida para a Royal Canin.

Aí veio a pandemia. E em vez de ficar quieto, Possas foi novamente procurar a Universidade de Viçosa para estudar como envasar caldo de cana. A ideia era aproveitar a cana-de-açúcar que ele já produzia para a cachaça Vale Verde e criar uma segunda linha de produtos. O problema, dessa vez, é que por conta do teor de sacarose da garapa, a embalagem em longa vida não era apropriada. O processo de pasteurização não deu certo.

Nesse ponto, entra na história o enólogo Daniel Fornari, que já trabalhava com Possas. Foi ele que desenvolveu o método que permitiu o engarrafamento do caldo de cana e assim o produto foi lançado. Agora Possas passa os dias administrando o novo negócio. “Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas. E eu estou engarrafando. Vamos ver no que dá.”

Filho de um banqueiro de Minas Gerais, Luiz Otávio Possas Gonçalves, tinha tudo para ser só mais um herdeiro, um playboy que curte as altas rodas da sociedade. Não gostava de estudar e não queria saber de trabalhar na instituição financeira da família.

Mas mesmo hoje, depois de pelo menos dois grandes negócios que o tornaram (ainda mais) milionário – e de uma seca que lhe deu muito prejuízo – , ele não se dá bem com essa coisa de só curtir a vida, de viver de renda.

“Tem gente que dedica a vida aos pobres, ou à arte, ou ao trabalho. Eu dediquei a minha a engarrafar coisas e agora eu continuo fazendo isso”, diz Possas. Mas há um detalhe que ele não gosta de ressaltar: Possas tem 81 anos. Em uma idade em que a maioria das pessoas só quer saber de descansar e curtir os netos, ele prefere sair engarrafando – desta vez – caldo de cana.

Há três meses Possas lançou numa cadeia de supermercados de Belo Horizonte garrafinhas de 300 ml do Caldo de Cana Vale Verde. “Eu não tinha uma meta. Eu não faço metas, nunca fiz. Mas estamos vendendo de 2 mil a 2,5 mil garrafas por mês. Se der certo, vamos expandindo. Se não der, paciência.”

Em vez de curtir a aposentadoria à beira-mar, Luiz Otávio Possas ainda está empreendendo Foto: Washington Alves/Estadão

Esse estilo de administrar que ele chama de “foi fondo, foi fondo até que chegou” – como se diz em Minas -, é o que ele aprendeu desde pequeno, quando achou o que queria fazer na vida, aos 17 anos. Em Divinópolis (MG), conta o empresário, havia uma fábrica de guaraná chamada Guarapan. De tão mal administrada e afogada em dívidas, o Banco Mercantil (do pai de Possas) assumiu a pequena engarrafadora.

Foi nessa fábrica que Possas começou a trabalhar, carregando caixas, aos 17 anos. E foi ali que ele começou a gostar do negócio de bebidas e garrafas. Tanto que anos depois, ao assumir a direção da empresa, a tornou – nos anos 50 – a primeira franquia da Coca-Cola em Minas Gerais.

Os negócios iam bem até as concorrentes, Brahma e Antarctica (que mais tarde formaram a Ambev), começaram a fazer venda casada: só forneciam suas cervejas se o bar, supermercado ou restaurante comprassem também seus refrigerantes.

“Eu digo que criei a Kaiser por necessidade porque eu já estava perto da falência nessa época. A Coca não tinha cerveja e estava perdendo mercado. A participação que a gente tinha, que era de 30%, 40%, caiu para 12% e não parava de encolher”, relembra. Possas, então, contratou um mestre cervejeiro que havia trabalhado para a Heineken em Angola para criar a Kaiser. Com a cerveja no portfólio, ele poderia fazer frente à venda casada da concorrência. E deu certo.

Tanto que, 20 anos depois ele vendeu, em 2002, 100% da Kaiser para a canadense Molson Coors – uma das maiores cervejarias do mundo – por US$ 765 milhões. De lambuja, Possas ainda assumiu um posto de conselheiro da Molson, no Canadá.

O problema é que os canadenses faziam planos e estipularam metas para um ano, cinco anos, 10 anos, 20 anos. “No Brasil, isso não dá certo, a não ser que você faça revisão das metas a cada dois meses”, diz. Em 2006, a mexicana Femsa, a maior engarrafadora de Coca-Cola do mundo, comprou a Kaiser. E mais tarde, em 2010, a Heineken comprou a divisão de cervejas da Femsa.

Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas.

Luiz Otávio Possas

A essa altura da vida, Possas já poderia se aposentar e viver à beira-mar, em uma mansão em Cabo Frio. Mas aí a vontade de engarrafar falou mais alto. Foi quando ele lançou, em parceria com a Universidade de Viçosa, a Kero Coco, a primeira água de coco industrializada do mundo. A universidade desenvolveu o método de pasteurização da bebida, que permitiu que ela fosse envasada em embalagens longa vida.

O sucesso foi tanto que em 2009 a marca foi vendida à Pepsico. “E eu entrei pelo cano”, diz Possas. Mesmo tendo feito um bom negócio financeiramente, Possas se arrepende do acordo que fez com a americana. Na venda, ficou acertado que as fazendas de coqueirais que o empresário mineiro tinha no Pará, em Petrolina (PE) e em São Mateus (ES) teriam prioridade de fornecimento no Brasil para a Pepsico.

O que Possas não pôde prever era que a dona da Pepsi iria buscar água de coco na Tailândia, onde o produto era descartado. Além disso, a seca de 2014 e 2015 devastou os 265 mil coqueiros que Possas tinha. Por um tempo, então, o empresário – que também é dono da cachaça Vale Verde – se dedicou aos pássaros. Ele criou uma fábrica de ração para pássaros que também, mais tarde, foi vendida para a Royal Canin.

Aí veio a pandemia. E em vez de ficar quieto, Possas foi novamente procurar a Universidade de Viçosa para estudar como envasar caldo de cana. A ideia era aproveitar a cana-de-açúcar que ele já produzia para a cachaça Vale Verde e criar uma segunda linha de produtos. O problema, dessa vez, é que por conta do teor de sacarose da garapa, a embalagem em longa vida não era apropriada. O processo de pasteurização não deu certo.

Nesse ponto, entra na história o enólogo Daniel Fornari, que já trabalhava com Possas. Foi ele que desenvolveu o método que permitiu o engarrafamento do caldo de cana e assim o produto foi lançado. Agora Possas passa os dias administrando o novo negócio. “Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas. E eu estou engarrafando. Vamos ver no que dá.”

Filho de um banqueiro de Minas Gerais, Luiz Otávio Possas Gonçalves, tinha tudo para ser só mais um herdeiro, um playboy que curte as altas rodas da sociedade. Não gostava de estudar e não queria saber de trabalhar na instituição financeira da família.

Mas mesmo hoje, depois de pelo menos dois grandes negócios que o tornaram (ainda mais) milionário – e de uma seca que lhe deu muito prejuízo – , ele não se dá bem com essa coisa de só curtir a vida, de viver de renda.

“Tem gente que dedica a vida aos pobres, ou à arte, ou ao trabalho. Eu dediquei a minha a engarrafar coisas e agora eu continuo fazendo isso”, diz Possas. Mas há um detalhe que ele não gosta de ressaltar: Possas tem 81 anos. Em uma idade em que a maioria das pessoas só quer saber de descansar e curtir os netos, ele prefere sair engarrafando – desta vez – caldo de cana.

Há três meses Possas lançou numa cadeia de supermercados de Belo Horizonte garrafinhas de 300 ml do Caldo de Cana Vale Verde. “Eu não tinha uma meta. Eu não faço metas, nunca fiz. Mas estamos vendendo de 2 mil a 2,5 mil garrafas por mês. Se der certo, vamos expandindo. Se não der, paciência.”

Em vez de curtir a aposentadoria à beira-mar, Luiz Otávio Possas ainda está empreendendo Foto: Washington Alves/Estadão

Esse estilo de administrar que ele chama de “foi fondo, foi fondo até que chegou” – como se diz em Minas -, é o que ele aprendeu desde pequeno, quando achou o que queria fazer na vida, aos 17 anos. Em Divinópolis (MG), conta o empresário, havia uma fábrica de guaraná chamada Guarapan. De tão mal administrada e afogada em dívidas, o Banco Mercantil (do pai de Possas) assumiu a pequena engarrafadora.

Foi nessa fábrica que Possas começou a trabalhar, carregando caixas, aos 17 anos. E foi ali que ele começou a gostar do negócio de bebidas e garrafas. Tanto que anos depois, ao assumir a direção da empresa, a tornou – nos anos 50 – a primeira franquia da Coca-Cola em Minas Gerais.

Os negócios iam bem até as concorrentes, Brahma e Antarctica (que mais tarde formaram a Ambev), começaram a fazer venda casada: só forneciam suas cervejas se o bar, supermercado ou restaurante comprassem também seus refrigerantes.

“Eu digo que criei a Kaiser por necessidade porque eu já estava perto da falência nessa época. A Coca não tinha cerveja e estava perdendo mercado. A participação que a gente tinha, que era de 30%, 40%, caiu para 12% e não parava de encolher”, relembra. Possas, então, contratou um mestre cervejeiro que havia trabalhado para a Heineken em Angola para criar a Kaiser. Com a cerveja no portfólio, ele poderia fazer frente à venda casada da concorrência. E deu certo.

Tanto que, 20 anos depois ele vendeu, em 2002, 100% da Kaiser para a canadense Molson Coors – uma das maiores cervejarias do mundo – por US$ 765 milhões. De lambuja, Possas ainda assumiu um posto de conselheiro da Molson, no Canadá.

O problema é que os canadenses faziam planos e estipularam metas para um ano, cinco anos, 10 anos, 20 anos. “No Brasil, isso não dá certo, a não ser que você faça revisão das metas a cada dois meses”, diz. Em 2006, a mexicana Femsa, a maior engarrafadora de Coca-Cola do mundo, comprou a Kaiser. E mais tarde, em 2010, a Heineken comprou a divisão de cervejas da Femsa.

Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas.

Luiz Otávio Possas

A essa altura da vida, Possas já poderia se aposentar e viver à beira-mar, em uma mansão em Cabo Frio. Mas aí a vontade de engarrafar falou mais alto. Foi quando ele lançou, em parceria com a Universidade de Viçosa, a Kero Coco, a primeira água de coco industrializada do mundo. A universidade desenvolveu o método de pasteurização da bebida, que permitiu que ela fosse envasada em embalagens longa vida.

O sucesso foi tanto que em 2009 a marca foi vendida à Pepsico. “E eu entrei pelo cano”, diz Possas. Mesmo tendo feito um bom negócio financeiramente, Possas se arrepende do acordo que fez com a americana. Na venda, ficou acertado que as fazendas de coqueirais que o empresário mineiro tinha no Pará, em Petrolina (PE) e em São Mateus (ES) teriam prioridade de fornecimento no Brasil para a Pepsico.

O que Possas não pôde prever era que a dona da Pepsi iria buscar água de coco na Tailândia, onde o produto era descartado. Além disso, a seca de 2014 e 2015 devastou os 265 mil coqueiros que Possas tinha. Por um tempo, então, o empresário – que também é dono da cachaça Vale Verde – se dedicou aos pássaros. Ele criou uma fábrica de ração para pássaros que também, mais tarde, foi vendida para a Royal Canin.

Aí veio a pandemia. E em vez de ficar quieto, Possas foi novamente procurar a Universidade de Viçosa para estudar como envasar caldo de cana. A ideia era aproveitar a cana-de-açúcar que ele já produzia para a cachaça Vale Verde e criar uma segunda linha de produtos. O problema, dessa vez, é que por conta do teor de sacarose da garapa, a embalagem em longa vida não era apropriada. O processo de pasteurização não deu certo.

Nesse ponto, entra na história o enólogo Daniel Fornari, que já trabalhava com Possas. Foi ele que desenvolveu o método que permitiu o engarrafamento do caldo de cana e assim o produto foi lançado. Agora Possas passa os dias administrando o novo negócio. “Golfe é coisa de velho. Eu não sou velho. E o que apareceu para mim, nessa vida, foi engarrafar coisas. E eu estou engarrafando. Vamos ver no que dá.”

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