BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a persistência da fome no mundo é por “falta de vergonha na cara” de quem governa os países, e não por falta de dinheiro. O chefe do Executivo brasileiro cobrou atuação de empresários no debate, alfinetando o empresário Elon Musk, e disse que a população mais rica terá que aprender a cuidar do planeta.
“A fome no mundo não é falta de dinheiro, é falta de vergonha na nossa cara que governamos o mundo. Porque, na hora que a gente tiver vergonha, que a gente assumir compromisso, a gente acaba com a fome”, comentou Lula, durante um evento da iniciativa Goalkeepers, da Fundação Bill e Melinda Gates, nos Estados Unidos, nesta segunda-feira, 23.
Na avaliação do petista, o problema do planeta não é a falta de dinheiro. “Existem trilhões e trilhões de dólares navegando pelo Oceano Atlântico, pelo espaço aéreo, gente vivendo cada vez mais rico sem produzir um copo, uma garrafa d’água, vivendo de especulação”, citou. Ele, então, questionou os gastos que foram feitos no ano passado para produzir armamentos. De acordo com ele, o dinheiro investido em armas, “se aplicado para combater a fome, na agricultura familiar, a ajudar os países pobres, a gente acabaria com a fome no mundo”.
Ao lado do bilionário Bill Gates, Lula criticou os empresários ricos. “Você tem hoje no planeta Terra cinco mega empresários que têm mais dinheiro que 10 países. Isso não tem explicação”, disse. “Não sou contra ninguém ser rico, sou contra as pessoas serem pobres. Agora não é possível uma pessoa sozinha ter mais dinheiro que o Reino Unido.”
Na fala, o presidente aproveitou para criticar o empresário Elon Musk. Segundo ele, os mais ricos estão fazendo foguete para “procurar espaço para morar”. “Vai ter de aprender a cuidar da Terra, do nosso planeta”, comentou.
O chefe do Executivo brasileiro disse que passou por uma avenida em Nova York e viu uma fila de pessoas na rua. Ele, então, falou que sua esposa, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, explicou que era uma fila para pessoas pegarem sopa.
“Fico indignado: como pode, no Estado mais rico do mundo, de mais competência tecnológica do mundo, como pode a gente saber que tem pessoas pobres obrigadas a pegar uma fila para pegar uma sopa para comer?”, questionou Lula. “Cadê o papel do Estado? O Estado tem de garantir a essas pessoas condições de sobreviver.”
Diante disso, o petista disse ser preciso haver uma “concertação mundial para rever o comportamento de todos. “Eu não quero miséria”, afirmou.
Brasil sem fome
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, até 2026, quer o Brasil “sem fome” e defendeu a incumbência do Estado para atender “os mais pobres”, em declaração durante um evento da iniciativa Goealkeepers, da Fundação Bill e Melinda Gates, nos Estados Unidos, nesta segunda-feira, 23. Na ocasião, Lula foi recebido como ganhador de um prêmio pela “Luta Contra a Fome e a Pobreza”.
“Já tiramos 24 milhões e 500 mil pessoas, e até 2026, quero outra vez apresentar ao mundo o Brasil sem fome”, declarou. Ele afirmou também que “cabe ao Estado, seja ele americano, brasileiro, ou chinês, ou finlandês, ou norueguês, ter como premissa básica atender necessidade do mais pobre”.
O presidente continuou: “O rico não precisa do Estado. A classe média alta não precisa do Estado. Quem precisa do Estado são as pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, que não têm uma profissão, que não conseguiram inventar uma Microsoft, que não têm condições”.
Lula também disse que “a fome não é fenômeno da natureza”, e sim, “irresponsabilidade dos governantes que não querem enxergar pessoas mais pobres”.
O presidente afirmou ainda que “é inadmissível que no século 21 ainda tenha crianças que vão dormir sem comer”. “A fome é irresponsabilidade dos governantes que não cuidam da necessidade de distribuição de alimentos”, disse. “Nunca sobra espaço para pobre no orçamento.”
Bolsa Família
O presidente afirmou que o programa Bolsa Família é a “experiência mais bem-sucedida do mundo” no combate à fome. “A minha tese é de que na hora que o dinheiro começa a circular e a passar na mão de muitas pessoas, elas começam a perceber que começa a gerar emprego, começa a melhorar salário, começa todo mundo a ganhar”, disse. “O Bolsa Família, eu diria, sem medo de errar, que é a experiência mais bem-sucedida de combate à fome no mundo”, prosseguiu.
O presidente também afirmou que tentou levar o programa para outros países, como no continente africano. “Esse programa, ele só pode ser executado se houver decisão política de governo”, disse.
Leia Também:
Lula também se dirigiu ao empresário Bill Gates e disse achar louvável a criação da Fundação, mas pontuou: “O que vai resolver o problema da miséria, efetivamente, não é através da doação de uma fundação, que é importante. É através de políticas públicas”.
Economia verde
Lula afirmou que o Brasil vai provar ao mundo que é possível não emitir gases de efeito estufa. Ao enaltecer a matriz energética nacional, o chefe do Executivo disse que o País será “imbatível” na transição energética. “Tenho muito orgulho em dizer que, na questão da transição energética, o Brasil será um país imbatível.”
“É importante vocês saberem que hoje a matriz elétrica mais limpa do mundo é a do Brasil: 90% da nossa matriz energética é renovável”, acrescentou o petista. Lula afirmou que o Brasil continuará produzindo etanol, biodiesel, hidrogênio verde, energia eólica, solar e de biomassa. “E a gente vai poder provar que o mundo pode ser limpo, pode não emitir gases de efeito estufa e que a gente pode prometer que nós, animais, seres humanos, não vamos continuar destruindo nossa Terra, nossa casa, nosso planeta.”