BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, 2, que a atual taxa básica de juros, a Selic, a 13,75% ao ano, “não tem explicação”. Em dia de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), ele se referiu ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como “esse rapaz” e disse que o dirigente não entende o País, além de não atender aos interesses do povo.
A fala de Lula ocorreu durante café da manhã com correspondentes da imprensa internacional no Palácio do Planalto. Ele e seus auxiliares têm criticado Campos Neto desde o começo do governo, mas a declaração desta quarta-feira tem peso extra porque acontece no mesmo dia em que o Copom se reúne para decidir sobre os juros. A expectativa é que haja uma redução.
“O Brasil tem a inflação caindo e os juros subindo. Quando a inflação cai e os juros não caem, significa que aumenta a taxa de juros. E o Brasil tem hoje a maior taxa de juros real do mundo. Sem nenhuma explicação”, declarou.
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Lula comparou a situação atual do País com a de quando ele trabalhava em fábricas no ABC Paulista, nos anos 1970 e 1980 — nessa época, começava a hiperinflação que atingiu o Brasil nos anos finais da ditadura militar.
“Com 4% de inflação ao ano dá para guardar dinheiro debaixo do colchão. Acontece que esse rapaz que está no Banco Central me parece que ele, não sei do que ele entende, mas ele não entende de Brasil e não entende de povo”, disse Lula.
“Eu não sei a quem ele está servindo. Eu sinceramente não sei. Aos interesses do Brasil, não é. À lógica pela qual foi aprovada a autonomia do Banco Central também não. Porque, se você pegar a lei, a lei diz que ele tem que estar preocupado com a inflação, com o crescimento econômico e com a geração de emprego”, declarou o presidente.
Lula disse que o que pode fazer é torcer. “Porque quem o indicou foi o Senado. Ele só pode sair quando acabar o mandato dele ou quando o Senado tirá-lo. Vamos aguardar”, declarou o petista. Segundo ele, o País vai crescer mesmo que a taxa de juros não baixe.
Campos Neto homenageia avô
Nesta quarta-feira, Campos Neto participou de uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem ao 106° aniversário de nascimento do economista e ex-deputado federal Roberto de Oliveira Campos, de quem é neto.
Em um discurso breve, ele relembrou a trajetória do avô e disse que, ao longo de sua vida pública, Roberto Campos foi um dos principais porta-vozes do pensamento liberal no Brasil. Campos Neto afirmou ainda que, desde a morte do economista, em 2001, o Congresso promoveu diversas alterações legislativas em direção à liberdade econômica e que o avô ficaria contente com aprovação recente, por exemplo, da reforma tributária e da lei de autonomia do Banco Central.
“Considerando o período mais recente, Roberto Campos ficaria contente em saber da aprovação da reforma tributária, especialmente da lei de autonomia do Banco Central, e mais recentemente da modernização da legislação cambial, algo que ele sempre defendeu”, disse o presidente da entidade.
Campos Neto relembrou que seu avô era, inclusive, um dos defensores da autonomia do BC em três dimensões: operacional, administrativa e financeira. “Aprovamos a autonomia com dimensão operacional. E, hoje, depois de algum tempo à frente do Banco Central com autonomia operacional, eu vejo a dificuldade que é ter autonomia operacional sem ter autonomia administrativa e financeira”, avaliou.
O presidente do BC também reforçou que os trabalhos conduzidos pelo órgão teriam sido exaltados pelo avô. “Como entusiasta da tecnologia, meu avô também ficaria satisfeito com resultados do Pix e do Open Finance, e com trabalhos em andamento para lançamento do real digital no âmbito da agenda de inovação que nós promovemos no Banco Central”, afirmou.
O Copom decide nesta quarta-feira a taxa Selic. Pesquisa do Projeções Broadcast com 88 casas aponta que 62 delas esperam corte na taxa de 0,25 ponto porcentual, e 26, de 0,50 ponto./Sofia Aguiar, Caio Spechoto, Giordanna Neves e Iander Porcella