O presidente Lula e o Banco Central estão empatados – e sem perspectiva de solução nos pênaltis – num jogo muito custoso para a maioria dos brasileiros. Para frear uma inflação persistente e com risco de alta, os membros do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, aumentaram os juros básicos para 11,25% e ainda poderão elevá-los a 11,75% antes do fim do ano. Juros altos dificultam o crédito, o consumo, o investimento produtivo e a geração de empregos, mas podem ser indispensáveis quando os preços ameaçam disparar. Ao mesmo tempo, o governo insiste em gastar mais do que arrecada, arrebentando as contas públicas, encarecendo o financiamento do Tesouro e pressionando os preços para cima.
A inflação brasileira é alimentada por fatores externos, como os desarranjos e incertezas da economia americana, e por desajustes internos, como o desequilíbrio das contas públicas e a insegurança nos mercados. Citados habitualmente nos comunicados do Copom, esses desacertos novamente aparecem no informe divulgado ao anoitecer de quarta-feira, 6, depois da última reunião do comitê.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio”, segundo o comunicado. Em seguida: “o Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros (...)”.
No mesmo dia, numa entrevista à Rede TV, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou a ideia de cortar despesas sem o envolvimento do Congresso e do empresariado. “Se eu fizer um corte de gastos para diminuir a capacidade de investimento do Orçamento, o Congresso vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores (…)?” Depois: “os empresários que vivem de subsídio do governo vão aceitar abrir mão de um pouco de subsídio para a gente poder equilibrar a economia brasileira?”
Essas perguntas são relevantes, mas nenhuma delas anula a responsabilidade do Executivo pelo equilíbrio das contas públicas. O presidente só as mencionou, agora, diante da nova pressão a favor do equilíbrio fiscal. Sem ter sido pressionado politicamente, o ministro da Fazenda já vinha elaborando um programa de arrumação das finanças governamentais. A adoção desse programa dependeria, naturalmente, da aprovação presidencial. Quanto ao presidente, já expressou claramente, nessa entrevista, sua má vontade em relação à ideia de austeridade nos gastos.
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Não é justo, segundo observou, jogar sobre os mais necessitados o custo de uma redução das despesas oficiais. Um governante empenhado em combinar o equilíbrio fiscal e a proteção dos menos abonados já teria buscado, no entanto, uma forma de conciliar as duas preocupações.
Sem ter cuidado desses objetivos, o presidente Lula, surpreendido pela proposta de ajuste dos ministros da Fazenda e do Planejamento, acabou repetindo, em sua reação, velhas falas contra o mercado e contra a imprensa. “Conheço bem o discurso do mercado, a gana especulativa do mercado”, disse ele. “E eu, às vezes, acho que o mercado age com certa hipocrisia, com uma contribuição muito grande da imprensa brasileira, para tentar criar confusão na cabeça da sociedade.” Sem imprensa e mercado, tudo seria mais fácil, enfim, para um governo petista?