Lula diz que ‘mercado não tem coração’ e que governo não deve usar palavra ‘gasto’


Presidente diz que nem banqueiros nem a Febraban fizeram investimentos sociais como financiar o desenvolvimento de vacinas e o socorro à população de rua e critica salários da Eletrobrás

Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas nesta quinta-feira, dia 12, a agentes do mercado financeiro e afirmou que não considera adequado classificar como “gasto” despesas do governo na área social. O presidente se disse irritado com reações de investidores a declarações suas a respeito de despesas do governo, que considera “investimentos”, e afirmou que o mercado “não tem coração”.

“Às vezes fico muito, mas muito irritado”, reconheceu Lula. “E peço desculpas às pessoas, porque o mercado não tem coração, não tem sensibilidade, não tem humanismo. O governo tem obrigação de cuidar das pessoas mais necessitadas e pronto.”

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Para Lula, o Estado passou a ser malvisto, mas que são os governos que devem socorrer a sociedade em momentos de crise, como na pandemia da covid-19. O presidente afirmou que o governo tem responsabilidades e deve fazer um “esforço” com o orçamento social, para eliminar a fome, embora saiba que as pessoas vão ficar “irritadas e nervosas”.

Lula disse que nem banqueiros nem a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) fizeram investimentos sociais como financiar o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus e o socorro à população em situação de rua.

“Nunca vi a Febraban se reunir e dizer que está preocupada, pegar uma parte dos juros que recebe para dedicar ao padre Júlio Lancelotti para cuidar dos moradores de rua, eu nunca vi. Quem tem que cuidar isso é o Estado ou as pessoas fazendo solidariedade”, queixou-se o presidente. Segundo ele, “comprar vacina logo custaria menos do que custou o negacionismo”. Também disse que foi o Estado quem socorreu durante a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

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Na verdade, no caso da pandemia os bancos tiveram papel ativo. O Itaú, por exemplo, anunciou doação superior a R$ 1 bilhão a iniciativas de combate à covid-19 que deram origem ao Instituto Todos pela Saúde. Em outra frente, Banco do Brasil e Bradesco repassaram R$ 20 milhões à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para produção de kits de diagnósticos rápidos para a doença. Também foram organizados programas para renegociação de dívidas de empresas que, por conta das restrições sociais, tiveram de interromper suas atividades.

Lula confirmou ter orientado os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simonte Tebet (Planejamento), em reunião da área econômica, a abandonar a palavra “gasto”, como o Estadão havia mostrado.

“É preciso a gente parar de utilizar a palavra gasto. O mercado construiu uma narrativa de que tudo que você faz no Brasil que não seja pagamento de juros é gasto. Qualquer dinheiro que vai para saúde, educação, aumento de salário é gasto, qualquer coisa que não seja pagamento da taxa de juros é gasto. Eles não falam: ‘O governo não pode pagar tanta taxa de juros como está pagando’. Isso o governo tem que fazer...”, afirmou Lula. “Temos que tratar como investimento. O Bolsa Família é um investimento. Colocar dinheiro na saúde é investimento. Quanto vale um trabalhador sadio trabalhando? Quando vale um trabalhador doente, sem perspectiva de trabalhar, em casa? Será que as pessoas são malucas de não entender que é investimento levar água na casa das pessoas que passam um ano sem ver um pingo d’água?”.

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O presidente Lula criticou nesta quinta-feira, 12, agentes do mercado financeiro  Foto: Adriano Machado/Reuters

“O Estado é responsável por quase tudo que acontece nesse País. Tem muita gente aprendeu a negar o Estado, acha que o Estado é ruim. Nos últimos dez anos as grandes crises que aconteceram no mundo quem salvou foi o Estado”, reagiu Lula. “Na pandemia nenhum banqueiro resolveu bancar vacina, quem resolveu foi o Estado. O Estado tem que colocar dinheiro para as pessoas terem alguma coisa para comer, tem que financiar vacina. Tivemos lamentavelmente um presidente que brincou com a doença não quis comprar vacina. É um disparate, mostra a irresponsabilidade de um governo que agiu quase como se fosse um genocida.”

Lula fez as comparações durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. O petista disse que perdeu companheiros de partido por ter feito superávit primário nos mandatos anteriores e que não é “marinheiro de primeira viagem”. Também afirmou ter reduzido a dívida e construído uma reserva em dólares. “Qual a preocupação as pessoas têm que ter com governo do PT? Nenhuma”, defendeu-se o presidente.

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Eletrobrás e reforma tributária

O presidente também criticou o aumento de salários na Eletrobrás, empresa que foi privatizada no governo Jair Bolsonaro. Lula disse ter ficado impressionado com informações que recebeu nesta manhã, ao discutir a indicação de conselheiros da empresa, segundo as quais eles vão receber cerca de R$ 200 mil mensais, para participar de uma reunião. Ele também falou no aumento da remuneração de diretores da empresa.

“A Eletrobras foi privatizada. Parece que o salário ultrapassa R$ 300 mil por mês. Acho que era R$ 60 mil quando a empresa era pública”, afirmou Lula, sobre diretores da empresa. “Mais grave ainda, fiquei sabendo agora. Sabe quanto ganha um conselheiro da Eletrobras, depois que foi privatizada? R$ 200 mil por mês para participar de uma reunião. Isso não é gasto? Não é jogar dinheiro fora? Como vou colocar ministros ou secretário executivo de conselheiro? Vão ganhar cinco vezes mais que presidente da República. Cadê a seriedade nisso? Cadê as pessoas que cobram da gente seriedade?”.

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Lula defendeu uma reforma tributária: “É preciso fazer política tributária nova, que mais ricos paguem mais imposto que os pobres, que hoje pagam mais que os ricos comparativamente”.

Uso político do Bolsa Família

O presidente afirmou que uma de suas prioridades no governo será retomar um “cadastro sério” do programa Bolsa Família. Segundo Lula, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, está aprimorando os bancos de dados do governo sobre os benefícios sociais. O gabinete de transição já denunciou a perda de dados e suspeitas de erros e fraudes no pagamento de auxílios por Bolsonaro. O presidente indicou que os auxílios pagos durante o governo de seu antecessor passavam por critérios políticos e tinham intenções eleitoreiras.

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“Temos que ter um cadastro sério, e esse cadastro não é controlado pelo governo”, afirmou. “Era a prefeitura que cadastrava, a pessoa ia na Caixa pegava o seu dinheiro sem saber de conversar com qualquer vereador, deputado, gente da Presidência. Me parece que o cadastro foi utilizado para fazer campanha eleitoral com o zap (WhatsApp). A coisa mais importante do cadastro era o zap para que pudesse mandar fake news durante a campanha.”

Lula defendeu a volta de condições para recebimento do Bolsa Família como frequência de filhos na escola e vacinação, assim como acompanhamento pré-natal para gestantes.

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas nesta quinta-feira, dia 12, a agentes do mercado financeiro e afirmou que não considera adequado classificar como “gasto” despesas do governo na área social. O presidente se disse irritado com reações de investidores a declarações suas a respeito de despesas do governo, que considera “investimentos”, e afirmou que o mercado “não tem coração”.

“Às vezes fico muito, mas muito irritado”, reconheceu Lula. “E peço desculpas às pessoas, porque o mercado não tem coração, não tem sensibilidade, não tem humanismo. O governo tem obrigação de cuidar das pessoas mais necessitadas e pronto.”

Para Lula, o Estado passou a ser malvisto, mas que são os governos que devem socorrer a sociedade em momentos de crise, como na pandemia da covid-19. O presidente afirmou que o governo tem responsabilidades e deve fazer um “esforço” com o orçamento social, para eliminar a fome, embora saiba que as pessoas vão ficar “irritadas e nervosas”.

Lula disse que nem banqueiros nem a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) fizeram investimentos sociais como financiar o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus e o socorro à população em situação de rua.

“Nunca vi a Febraban se reunir e dizer que está preocupada, pegar uma parte dos juros que recebe para dedicar ao padre Júlio Lancelotti para cuidar dos moradores de rua, eu nunca vi. Quem tem que cuidar isso é o Estado ou as pessoas fazendo solidariedade”, queixou-se o presidente. Segundo ele, “comprar vacina logo custaria menos do que custou o negacionismo”. Também disse que foi o Estado quem socorreu durante a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

Na verdade, no caso da pandemia os bancos tiveram papel ativo. O Itaú, por exemplo, anunciou doação superior a R$ 1 bilhão a iniciativas de combate à covid-19 que deram origem ao Instituto Todos pela Saúde. Em outra frente, Banco do Brasil e Bradesco repassaram R$ 20 milhões à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para produção de kits de diagnósticos rápidos para a doença. Também foram organizados programas para renegociação de dívidas de empresas que, por conta das restrições sociais, tiveram de interromper suas atividades.

Lula confirmou ter orientado os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simonte Tebet (Planejamento), em reunião da área econômica, a abandonar a palavra “gasto”, como o Estadão havia mostrado.

“É preciso a gente parar de utilizar a palavra gasto. O mercado construiu uma narrativa de que tudo que você faz no Brasil que não seja pagamento de juros é gasto. Qualquer dinheiro que vai para saúde, educação, aumento de salário é gasto, qualquer coisa que não seja pagamento da taxa de juros é gasto. Eles não falam: ‘O governo não pode pagar tanta taxa de juros como está pagando’. Isso o governo tem que fazer...”, afirmou Lula. “Temos que tratar como investimento. O Bolsa Família é um investimento. Colocar dinheiro na saúde é investimento. Quanto vale um trabalhador sadio trabalhando? Quando vale um trabalhador doente, sem perspectiva de trabalhar, em casa? Será que as pessoas são malucas de não entender que é investimento levar água na casa das pessoas que passam um ano sem ver um pingo d’água?”.

O presidente Lula criticou nesta quinta-feira, 12, agentes do mercado financeiro  Foto: Adriano Machado/Reuters

“O Estado é responsável por quase tudo que acontece nesse País. Tem muita gente aprendeu a negar o Estado, acha que o Estado é ruim. Nos últimos dez anos as grandes crises que aconteceram no mundo quem salvou foi o Estado”, reagiu Lula. “Na pandemia nenhum banqueiro resolveu bancar vacina, quem resolveu foi o Estado. O Estado tem que colocar dinheiro para as pessoas terem alguma coisa para comer, tem que financiar vacina. Tivemos lamentavelmente um presidente que brincou com a doença não quis comprar vacina. É um disparate, mostra a irresponsabilidade de um governo que agiu quase como se fosse um genocida.”

Lula fez as comparações durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. O petista disse que perdeu companheiros de partido por ter feito superávit primário nos mandatos anteriores e que não é “marinheiro de primeira viagem”. Também afirmou ter reduzido a dívida e construído uma reserva em dólares. “Qual a preocupação as pessoas têm que ter com governo do PT? Nenhuma”, defendeu-se o presidente.

Eletrobrás e reforma tributária

O presidente também criticou o aumento de salários na Eletrobrás, empresa que foi privatizada no governo Jair Bolsonaro. Lula disse ter ficado impressionado com informações que recebeu nesta manhã, ao discutir a indicação de conselheiros da empresa, segundo as quais eles vão receber cerca de R$ 200 mil mensais, para participar de uma reunião. Ele também falou no aumento da remuneração de diretores da empresa.

“A Eletrobras foi privatizada. Parece que o salário ultrapassa R$ 300 mil por mês. Acho que era R$ 60 mil quando a empresa era pública”, afirmou Lula, sobre diretores da empresa. “Mais grave ainda, fiquei sabendo agora. Sabe quanto ganha um conselheiro da Eletrobras, depois que foi privatizada? R$ 200 mil por mês para participar de uma reunião. Isso não é gasto? Não é jogar dinheiro fora? Como vou colocar ministros ou secretário executivo de conselheiro? Vão ganhar cinco vezes mais que presidente da República. Cadê a seriedade nisso? Cadê as pessoas que cobram da gente seriedade?”.

Lula defendeu uma reforma tributária: “É preciso fazer política tributária nova, que mais ricos paguem mais imposto que os pobres, que hoje pagam mais que os ricos comparativamente”.

Uso político do Bolsa Família

O presidente afirmou que uma de suas prioridades no governo será retomar um “cadastro sério” do programa Bolsa Família. Segundo Lula, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, está aprimorando os bancos de dados do governo sobre os benefícios sociais. O gabinete de transição já denunciou a perda de dados e suspeitas de erros e fraudes no pagamento de auxílios por Bolsonaro. O presidente indicou que os auxílios pagos durante o governo de seu antecessor passavam por critérios políticos e tinham intenções eleitoreiras.

“Temos que ter um cadastro sério, e esse cadastro não é controlado pelo governo”, afirmou. “Era a prefeitura que cadastrava, a pessoa ia na Caixa pegava o seu dinheiro sem saber de conversar com qualquer vereador, deputado, gente da Presidência. Me parece que o cadastro foi utilizado para fazer campanha eleitoral com o zap (WhatsApp). A coisa mais importante do cadastro era o zap para que pudesse mandar fake news durante a campanha.”

Lula defendeu a volta de condições para recebimento do Bolsa Família como frequência de filhos na escola e vacinação, assim como acompanhamento pré-natal para gestantes.

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas nesta quinta-feira, dia 12, a agentes do mercado financeiro e afirmou que não considera adequado classificar como “gasto” despesas do governo na área social. O presidente se disse irritado com reações de investidores a declarações suas a respeito de despesas do governo, que considera “investimentos”, e afirmou que o mercado “não tem coração”.

“Às vezes fico muito, mas muito irritado”, reconheceu Lula. “E peço desculpas às pessoas, porque o mercado não tem coração, não tem sensibilidade, não tem humanismo. O governo tem obrigação de cuidar das pessoas mais necessitadas e pronto.”

Para Lula, o Estado passou a ser malvisto, mas que são os governos que devem socorrer a sociedade em momentos de crise, como na pandemia da covid-19. O presidente afirmou que o governo tem responsabilidades e deve fazer um “esforço” com o orçamento social, para eliminar a fome, embora saiba que as pessoas vão ficar “irritadas e nervosas”.

Lula disse que nem banqueiros nem a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) fizeram investimentos sociais como financiar o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus e o socorro à população em situação de rua.

“Nunca vi a Febraban se reunir e dizer que está preocupada, pegar uma parte dos juros que recebe para dedicar ao padre Júlio Lancelotti para cuidar dos moradores de rua, eu nunca vi. Quem tem que cuidar isso é o Estado ou as pessoas fazendo solidariedade”, queixou-se o presidente. Segundo ele, “comprar vacina logo custaria menos do que custou o negacionismo”. Também disse que foi o Estado quem socorreu durante a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

Na verdade, no caso da pandemia os bancos tiveram papel ativo. O Itaú, por exemplo, anunciou doação superior a R$ 1 bilhão a iniciativas de combate à covid-19 que deram origem ao Instituto Todos pela Saúde. Em outra frente, Banco do Brasil e Bradesco repassaram R$ 20 milhões à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para produção de kits de diagnósticos rápidos para a doença. Também foram organizados programas para renegociação de dívidas de empresas que, por conta das restrições sociais, tiveram de interromper suas atividades.

Lula confirmou ter orientado os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simonte Tebet (Planejamento), em reunião da área econômica, a abandonar a palavra “gasto”, como o Estadão havia mostrado.

“É preciso a gente parar de utilizar a palavra gasto. O mercado construiu uma narrativa de que tudo que você faz no Brasil que não seja pagamento de juros é gasto. Qualquer dinheiro que vai para saúde, educação, aumento de salário é gasto, qualquer coisa que não seja pagamento da taxa de juros é gasto. Eles não falam: ‘O governo não pode pagar tanta taxa de juros como está pagando’. Isso o governo tem que fazer...”, afirmou Lula. “Temos que tratar como investimento. O Bolsa Família é um investimento. Colocar dinheiro na saúde é investimento. Quanto vale um trabalhador sadio trabalhando? Quando vale um trabalhador doente, sem perspectiva de trabalhar, em casa? Será que as pessoas são malucas de não entender que é investimento levar água na casa das pessoas que passam um ano sem ver um pingo d’água?”.

O presidente Lula criticou nesta quinta-feira, 12, agentes do mercado financeiro  Foto: Adriano Machado/Reuters

“O Estado é responsável por quase tudo que acontece nesse País. Tem muita gente aprendeu a negar o Estado, acha que o Estado é ruim. Nos últimos dez anos as grandes crises que aconteceram no mundo quem salvou foi o Estado”, reagiu Lula. “Na pandemia nenhum banqueiro resolveu bancar vacina, quem resolveu foi o Estado. O Estado tem que colocar dinheiro para as pessoas terem alguma coisa para comer, tem que financiar vacina. Tivemos lamentavelmente um presidente que brincou com a doença não quis comprar vacina. É um disparate, mostra a irresponsabilidade de um governo que agiu quase como se fosse um genocida.”

Lula fez as comparações durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. O petista disse que perdeu companheiros de partido por ter feito superávit primário nos mandatos anteriores e que não é “marinheiro de primeira viagem”. Também afirmou ter reduzido a dívida e construído uma reserva em dólares. “Qual a preocupação as pessoas têm que ter com governo do PT? Nenhuma”, defendeu-se o presidente.

Eletrobrás e reforma tributária

O presidente também criticou o aumento de salários na Eletrobrás, empresa que foi privatizada no governo Jair Bolsonaro. Lula disse ter ficado impressionado com informações que recebeu nesta manhã, ao discutir a indicação de conselheiros da empresa, segundo as quais eles vão receber cerca de R$ 200 mil mensais, para participar de uma reunião. Ele também falou no aumento da remuneração de diretores da empresa.

“A Eletrobras foi privatizada. Parece que o salário ultrapassa R$ 300 mil por mês. Acho que era R$ 60 mil quando a empresa era pública”, afirmou Lula, sobre diretores da empresa. “Mais grave ainda, fiquei sabendo agora. Sabe quanto ganha um conselheiro da Eletrobras, depois que foi privatizada? R$ 200 mil por mês para participar de uma reunião. Isso não é gasto? Não é jogar dinheiro fora? Como vou colocar ministros ou secretário executivo de conselheiro? Vão ganhar cinco vezes mais que presidente da República. Cadê a seriedade nisso? Cadê as pessoas que cobram da gente seriedade?”.

Lula defendeu uma reforma tributária: “É preciso fazer política tributária nova, que mais ricos paguem mais imposto que os pobres, que hoje pagam mais que os ricos comparativamente”.

Uso político do Bolsa Família

O presidente afirmou que uma de suas prioridades no governo será retomar um “cadastro sério” do programa Bolsa Família. Segundo Lula, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, está aprimorando os bancos de dados do governo sobre os benefícios sociais. O gabinete de transição já denunciou a perda de dados e suspeitas de erros e fraudes no pagamento de auxílios por Bolsonaro. O presidente indicou que os auxílios pagos durante o governo de seu antecessor passavam por critérios políticos e tinham intenções eleitoreiras.

“Temos que ter um cadastro sério, e esse cadastro não é controlado pelo governo”, afirmou. “Era a prefeitura que cadastrava, a pessoa ia na Caixa pegava o seu dinheiro sem saber de conversar com qualquer vereador, deputado, gente da Presidência. Me parece que o cadastro foi utilizado para fazer campanha eleitoral com o zap (WhatsApp). A coisa mais importante do cadastro era o zap para que pudesse mandar fake news durante a campanha.”

Lula defendeu a volta de condições para recebimento do Bolsa Família como frequência de filhos na escola e vacinação, assim como acompanhamento pré-natal para gestantes.

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas nesta quinta-feira, dia 12, a agentes do mercado financeiro e afirmou que não considera adequado classificar como “gasto” despesas do governo na área social. O presidente se disse irritado com reações de investidores a declarações suas a respeito de despesas do governo, que considera “investimentos”, e afirmou que o mercado “não tem coração”.

“Às vezes fico muito, mas muito irritado”, reconheceu Lula. “E peço desculpas às pessoas, porque o mercado não tem coração, não tem sensibilidade, não tem humanismo. O governo tem obrigação de cuidar das pessoas mais necessitadas e pronto.”

Para Lula, o Estado passou a ser malvisto, mas que são os governos que devem socorrer a sociedade em momentos de crise, como na pandemia da covid-19. O presidente afirmou que o governo tem responsabilidades e deve fazer um “esforço” com o orçamento social, para eliminar a fome, embora saiba que as pessoas vão ficar “irritadas e nervosas”.

Lula disse que nem banqueiros nem a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) fizeram investimentos sociais como financiar o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus e o socorro à população em situação de rua.

“Nunca vi a Febraban se reunir e dizer que está preocupada, pegar uma parte dos juros que recebe para dedicar ao padre Júlio Lancelotti para cuidar dos moradores de rua, eu nunca vi. Quem tem que cuidar isso é o Estado ou as pessoas fazendo solidariedade”, queixou-se o presidente. Segundo ele, “comprar vacina logo custaria menos do que custou o negacionismo”. Também disse que foi o Estado quem socorreu durante a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

Na verdade, no caso da pandemia os bancos tiveram papel ativo. O Itaú, por exemplo, anunciou doação superior a R$ 1 bilhão a iniciativas de combate à covid-19 que deram origem ao Instituto Todos pela Saúde. Em outra frente, Banco do Brasil e Bradesco repassaram R$ 20 milhões à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para produção de kits de diagnósticos rápidos para a doença. Também foram organizados programas para renegociação de dívidas de empresas que, por conta das restrições sociais, tiveram de interromper suas atividades.

Lula confirmou ter orientado os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simonte Tebet (Planejamento), em reunião da área econômica, a abandonar a palavra “gasto”, como o Estadão havia mostrado.

“É preciso a gente parar de utilizar a palavra gasto. O mercado construiu uma narrativa de que tudo que você faz no Brasil que não seja pagamento de juros é gasto. Qualquer dinheiro que vai para saúde, educação, aumento de salário é gasto, qualquer coisa que não seja pagamento da taxa de juros é gasto. Eles não falam: ‘O governo não pode pagar tanta taxa de juros como está pagando’. Isso o governo tem que fazer...”, afirmou Lula. “Temos que tratar como investimento. O Bolsa Família é um investimento. Colocar dinheiro na saúde é investimento. Quanto vale um trabalhador sadio trabalhando? Quando vale um trabalhador doente, sem perspectiva de trabalhar, em casa? Será que as pessoas são malucas de não entender que é investimento levar água na casa das pessoas que passam um ano sem ver um pingo d’água?”.

O presidente Lula criticou nesta quinta-feira, 12, agentes do mercado financeiro  Foto: Adriano Machado/Reuters

“O Estado é responsável por quase tudo que acontece nesse País. Tem muita gente aprendeu a negar o Estado, acha que o Estado é ruim. Nos últimos dez anos as grandes crises que aconteceram no mundo quem salvou foi o Estado”, reagiu Lula. “Na pandemia nenhum banqueiro resolveu bancar vacina, quem resolveu foi o Estado. O Estado tem que colocar dinheiro para as pessoas terem alguma coisa para comer, tem que financiar vacina. Tivemos lamentavelmente um presidente que brincou com a doença não quis comprar vacina. É um disparate, mostra a irresponsabilidade de um governo que agiu quase como se fosse um genocida.”

Lula fez as comparações durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. O petista disse que perdeu companheiros de partido por ter feito superávit primário nos mandatos anteriores e que não é “marinheiro de primeira viagem”. Também afirmou ter reduzido a dívida e construído uma reserva em dólares. “Qual a preocupação as pessoas têm que ter com governo do PT? Nenhuma”, defendeu-se o presidente.

Eletrobrás e reforma tributária

O presidente também criticou o aumento de salários na Eletrobrás, empresa que foi privatizada no governo Jair Bolsonaro. Lula disse ter ficado impressionado com informações que recebeu nesta manhã, ao discutir a indicação de conselheiros da empresa, segundo as quais eles vão receber cerca de R$ 200 mil mensais, para participar de uma reunião. Ele também falou no aumento da remuneração de diretores da empresa.

“A Eletrobras foi privatizada. Parece que o salário ultrapassa R$ 300 mil por mês. Acho que era R$ 60 mil quando a empresa era pública”, afirmou Lula, sobre diretores da empresa. “Mais grave ainda, fiquei sabendo agora. Sabe quanto ganha um conselheiro da Eletrobras, depois que foi privatizada? R$ 200 mil por mês para participar de uma reunião. Isso não é gasto? Não é jogar dinheiro fora? Como vou colocar ministros ou secretário executivo de conselheiro? Vão ganhar cinco vezes mais que presidente da República. Cadê a seriedade nisso? Cadê as pessoas que cobram da gente seriedade?”.

Lula defendeu uma reforma tributária: “É preciso fazer política tributária nova, que mais ricos paguem mais imposto que os pobres, que hoje pagam mais que os ricos comparativamente”.

Uso político do Bolsa Família

O presidente afirmou que uma de suas prioridades no governo será retomar um “cadastro sério” do programa Bolsa Família. Segundo Lula, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, está aprimorando os bancos de dados do governo sobre os benefícios sociais. O gabinete de transição já denunciou a perda de dados e suspeitas de erros e fraudes no pagamento de auxílios por Bolsonaro. O presidente indicou que os auxílios pagos durante o governo de seu antecessor passavam por critérios políticos e tinham intenções eleitoreiras.

“Temos que ter um cadastro sério, e esse cadastro não é controlado pelo governo”, afirmou. “Era a prefeitura que cadastrava, a pessoa ia na Caixa pegava o seu dinheiro sem saber de conversar com qualquer vereador, deputado, gente da Presidência. Me parece que o cadastro foi utilizado para fazer campanha eleitoral com o zap (WhatsApp). A coisa mais importante do cadastro era o zap para que pudesse mandar fake news durante a campanha.”

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