Se Aloizio Mercadante (ou Miriam Belchior, ou Magda Chambriard, ou Ricardo Savini, ou qualquer outra pessoa) realmente substituir nos próximos dias o atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, se tornará o 43.º presidente em 70 anos de história da estatal. Praticamente um presidente a cada ano e meio. É impossível executar qualquer estratégia razoável em tão pouco tempo. Em vez de se dedicar à empresa, seus presidentes passam boa parte do tempo lidando com picuinhas políticas. É exasperador. E nesse governo que faz questão de tentar reescrever o passado, torna-se também temerário.
A Petrobras esteve muito perto de contrariar a máxima do bilionário americano John D. Rockfeller, de que o melhor negócio do mundo era uma empresa de petróleo bem administrada, e o segundo melhor, uma empresa de petróleo mal administrada. Pois a Petrobras, envolvida em escândalos de corrupção durante as gestões de Lula e Dilma Rousseff, esteve mais perto de quebrar - embora estatais nunca quebrem. Durante a gestão Dilma, foram espantosos prejuízos de R$ 21,6 bilhões em 2014 e de R$ 34,8 bilhões em 2015.
Foi um período assustador. O investimento na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, se tornou um símbolo da corrupção na empresa. Com um custo inicial previsto em R$ 7,5 bilhões, as obras do empreendimento consumiram quase R$ 60 bilhões - e não terminaram.
A Petrobras começou a voltar ao rumo após o impeachment de Dilma e a chegada de Michel Temer ao governo. Foi criado o mecanismo do preço de paridade de importação (PPI), que basicamente fazia com que os reajustes dos combustíveis seguissem a cotação do petróleo no exterior - já que é uma commodity global. Foi uma forma de tentar evitar que a empresa fosse usada, por exemplo, como instrumento para combater a inflação quando esta ameaçava a popularidade dos presidentes, como já havia sido feito tantas vezes.
Em 2016, a aprovação da Lei das Estatais, no rastro dos escândalos financeiros na Petrobras, também trazia mais um reforço para evitar a ingerência política desenfreada na petroleira, evitando a nomeação de pessoas completamente alheias à atividade da empresa, apenas para agradar a determinados partidos ou políticos específicos. A estatal poderia começar a deixar a ser uma mera moeda de troca.
Com a volta de Lula ao poder, tudo isso começou a ruir. O PPI foi logo abandonado, e a questão dos preços dos combustíveis passou a seguir uma fórmula que poucos conhecem. A pressão para manutenção dos preços em patamares baixos, principalmente em momentos em que a popularidade do governo está baixa, como agora, é sempre grande.
Não à toa, a Petrobras não reajusta o preço da gasolina há 154 dias nas suas refinarias. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina nas refinarias da estatal está 17% abaixo do praticado no Golfo do México, referência para importação de combustíveis, o que significaria um espaço de R$ 0,58 para aumento do litro do combustível no mercado brasileiro.
Em entrevista à GloboNews, o ex-presidente da estatal no governo Bolsonaro, Roberto Castello Branco, disse que a atual política de preços da petroleira já se mostrou prejudicial à companhia. “Ela não é uma boa para a sociedade brasileira, porque a empresa perde sua capacidade de investimento, perde sua capacidade de distribuir dividendos, e não vamos esquecer que 37% destes dividendos vão para o Tesouro Nacional.”
Em relação à Lei das Estatais, na verdade, ela nunca foi levada muito a sério. Os governos sempre dão um jeito de burlar. E, no ano passado, uma mudança no próprio estatuto da Petrobras, aprovada praticamente apenas com os votos do governo no conselho da empresa, flexibilizou um pouco mais as exigências para indicação de nomes para cargos na empresa.
Lula nunca fez questão de esconder que gostaria da Petrobras exatamente como era no seu primeiro governo. Investindo em refinarias, gasodutos, estaleiros, plataformas. Mesmo sem levar em conta as condições econômicas, mesmo que isso não faça sentido do ponto de vista da empresa. É a política do gasto é vida.
E fazendo questão de esquecer completamente que tudo isso já deu muito errado e é a gênese do maior escândalo de corrupção já visto nesse País. As obras de Abreu e Lima já foram retomadas - e na licitação para tocar essas novas obras, quem ganha? Andrade Gutierrez e Novonor, ex-Odebrecht - as empreiteiras atoladas em problemas investigados na Operação Lava Jato.
Como tudo no mundo é questão de perspectiva, a saída de Prates - um ex-senador petista - nesse momento provoca medo entre os investidores. Há um temor de que o próximo presidente, o 43.º, vá cumprir à risca a determinação de Lula, coisa que, pelo jeito, Prates não tem feito. E o que vem à memória disso tudo, definitivamente, não é bom.