Magda Chambriard, indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como próxima presidente da Petrobras, já teve papel de destaque no setor de petróleo em governos petistas anteriores. Em 2012, foi nomeada pela ex-presidente Dilma Rousseff como diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). À época, ela já era diretora da agência — havia sido indicada em 2008, ainda durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela é engenheira, especializada em Exploração e Produção de petróleo, com carreira na Petrobras, onde ingressou em 1980, como estagiária, e ficou até 2001. Em 2002 entrou na ANP, como assessora da diretoria — antes de se tornar diretora. Saiu da agência em 2016
Chambriard integrou a equipe de transição do atual governo Lula e chegou a disputar a vaga na estatal com o próprio Jean Paul Prates, no início da gestão.
Em 2022, durante o governo Jair Bolsonaro, Magda chegou a criticar as trocas constantes de presidente na estatal. Ouvida pelo Estadão para comentar a saída de José Mauro Ferreira Coelho, que ficou no cargo por pouco mais de dois meses, classificou a demissão como “espantosa” e disse que a posição da União, acionista majoritária da empresa, trazia risco “muito grande” ao corpo de acionistas por expor “total desorganização do País e falta de previsibilidade” no comando da estatal.
À época, ela afirmou que a decisão reforçava a tese de que o presidente Jair Bolsonaro agia com fins eleitoreiros na estatal.
“É espantoso sob qualquer ótica. Completamente espantoso. Mas só reforça uma impressão que vem de algum tempo. Isso aconteceu com (Joaquim) Silva e Luna e agora se repete com o atual presidente. Ambos deixaram claro, antes de assumir, que não interfeririam na política de preços. Mas foram indicados mesmo assim”, disse.
Para Magda Chambriard, Bolsonaro atuava politicamente para se antecipar a um lucro recorde da estatal, que estava a caminho, e buscaria abrir caminho para algum represamento do preço de derivados até as eleições de outubro.
Parque de refino
Nos últimos anos, a ex-presidente da ANP atuava como consultora de óleo e gás e ocupou o cargo de diretora da Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
A avaliação é que ela não deve enfrentar dificuldades em ter o nome aprovado pelas instâncias de governança da Petrobras e pelo conselho de administração da companhia. Com a recente declaração da constitucionalidade da lei das estatais pelo Supremo Tribunal Federal (STF), seu nome é até bastante aderente às exigências legais replicadas no estatuto da estatal, por conta de sua experiência no setor.
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Aos 67 anos, Chambriard tem visões claras a respeito do mercado de óleo e gás brasileiro. Foi uma das mentes por trás do formato de partilha de produção do pré-sal, em que a União recebe parte do óleo-lucro produzido pelas empresas concessionárias e acredita que o País, puxado pela Petrobras, deve aumentar significativamente sua capacidade de refino para produzir mais diesel e diminuir a dependência das importações do derivado, que variam entre 20% e 30% do volume consumido.
Na ANP, Chambriard chegou a promover estudos a fim de demonstrar a necessidade de se ampliar o parque de refino nacional.
Foz do Amazonas
Magda também defendeu, em artigos publicados recentemente, a exploração de petróleo na bacia da foz do Rio Amazonas — tema que dividiu a estatal e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva —, e a exclusão do petróleo do “imposto do pecado” da reforma tributária para evitar uma tributação maior sobre o produto.
No dia 8 de abril, em artigo publicado no portal Brasil Energia, a engenheira afirmou que o petróleo não poderia ser incluído no Imposto Seletivo. Para ela, a tributação e o fim do regime especial de incentivo a investimentos na exploração e produção de petróleo (Repetro) trariam riscos para a competitividade do País e para investimentos das petroleiras independentes. “Afinal, petróleo, longe de ser pecado, é a principal fonte de energia primária do Brasil e do mundo”, escreveu.
Sobre a exploração na Foz do Amazonas, Magda afirmou em artigo do dia 14 de junho do ano passado que o projeto não poderia ser inviabilizado por longos processos de licenciamento ambiental e defendeu uma intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no impasse. “É certo que não se pode ser inconsequente e licenciar a qualquer custo. Mas também é certo que se precisa estar mais preparado para enfrentar o desafio do licenciamento tempestivo, sob pena de condenar o Brasil à estagnação.”
Além disso, em novembro do ano passado, ela defendeu que o governo e a petrolífera direcionassem uma fatia de investimentos “um pouco maior do que a que vem sendo destinada” ao Rio de Janeiro, porque outros Estados que não produzem petróleo estavam tendo crescimento econômico e geração de empregos em níveis mais elevados.